segunda-feira, julho 30, 2018

As pequenas memórias - José Saramago

Dei início à obra de José Saramago através da narrativa sobre sua própria infância e primeiros anos da adolescência. As pequenas memórias possui uma escrita fluída que nos transporta para uma Portugal do início da década de 1920, em que o aclamado escritor ainda era conhecido por Zezinho.


A prosa de Saramago é carregada de poesia. Em sua narrativa, nos deparamos com histórias divertidas, doloridas, tempos difíceis e intensos. Da criação de porcos junto com seu avô, figura importante de sua trajetória, passamos por momentos em que a sexualidade do menino José dá ares de despontar...

Um dia, um vizinho nosso (...), homen novo, talvez de uns vinte e poucos anos, enlouqueceu. Dizia-se que se lhe tinha varrido o juízo de muito ler e muito estudar. Como Dom Quixote.

Saramago fala da origem de seu sobrenome, de um irmão que veio a falecer quando pequeno, das mudanças que fez durante a infância, entre outros acontecimentos, de maneira solta e despretensiosa, íntima, com um tom de simplicidade que encanta o leitor pela suavidade de seu relato... Em suma, ler Saramago em sua essência mais singela se revelou uma experiência atrativa, emocionante e com toques de frescor de primavera de anos longínquos...

quinta-feira, julho 26, 2018

Fogo nas entranhas, uma divertida novela espanhola pelas mente do magistral Almodóvar

Pedro Almodóvar é considerado um dos grandes nomes do cinema europeu. Mas é improvável imaginá-lo como sendo escritor de novelas e ter tido uma carreira no cinema pornô, antes de fazer sucesso com produções carregadas de cores fortes, fotografias impregnadas de vermelho e mensagens de poesia e transcendência. 

Pois bem. Almodóvar desvela uma aventura digna de ser filmada em Fogo nas Entranhas, com personagens de características facilmente encontradas em seus filmes, trama carregada de comédia, perversidade e amoralidade. Transportando o leitor por uma teia de acontecimentos hilários que bem poderiam sair de cotidianos crus e reais. 
Fogo nas entranhas conta a história de um chinês apaixonado e abandonado - por cinco mulheres - que logo vêem seus destinos traçados devido a uma marca nova de absorventes criada por Chu Ming Ho. Entre uma série de confusões e desenlaces, homens se veem acometidos numa estranha epidemia, e parece ser apenas Raimunda que consegue ligar os fatos ocorridos ao uso dos absorventes.

Pedro Almodóvar

Considerando que tudo pode terminar em café numa mesa de cozinha, Almodóvar entremeia as vidas de personagens nos entregando uma história mirabolante e frenética. Não há pausas para possíveis para o leitor. Publicado pela Ed. Rio Gráfica, é um livreto de pouco mais de cem páginas que cumpre bem a sua proposta, trazendo o que há de melhor na ficção espanhola. Divertido, escatológico e por que não? - Almodovariano. 

sábado, julho 21, 2018

~ sobre a ausência no blog

Olá, queridos leitores! [ainda tem alguém por aí?]

Venho através desta postagem explicar o porquê do meu sumiço das redes sociais, que se encontram meio que abandonadas nas últimas semanas... Eu passei por uma série de situações que resultaram nessa falta de material no blog... 


No começo de maio eu me mudei. A mudança se deu de maneira física e afetou inclusive meu lado psicológico. Falo de uma ruptura que mexeu com meu cotidiano, meu trabalho e tive que me adaptar [embora tenha me saído bem nessa questão], às novas condições de moradia... 

Não me separei. Mas vivo hoje num 'namoro dentro do casamento.' Não saí do emprego. Continuo lecionando para o Ensino Fundamental II. Continuo lendo em ritmo oscilante e discutindo minhas leituras com algumas pessoas. Meu cabelo continua se modificando. Então, o que raios aconteceu para que eu parasse de escrever no Torpor?

Eu fiquei sem computador. Ainda não levei para a nova residência o meu prático elemento de trabalho com o blog. Ele vai ser instalado mas não sei em que momento, espero que não tão longe de agora. Dependo da boa vontade de um amigo para digitar e programar as postagens [inclusive essa] ou do notebook da escola, em meus breves períodos de descanso por lá... 

Mas confesso que nos últimos tempos não venho tendo entusiasmo para as redes sociais. Meio que me desconectei da vida virtual e me conectei à coisas e pessoas palpáveis. Ainda acompanho e posto pelo Instagram, ainda vejo meus booktubers preferidos pelo youtube [e estou devendo vídeos pra lá também, sorry], mas venho tendo momentos mais 'reais' que web nenhuma é capaz de nos proporcionar. 

Ainda posto pelo skoob as minhas leituras, ando vendo minhas séries e filmes pela Netflix e uma vez perdida - perdida mesmo - posto algo no Twitter. A Fanpage está bem escanteada mas assim que tiver meu pc em casa, atualizarei as redes do blog... 

Aproveitei para programar resenhas das minhas últimas leituras. Foram muitas. Para quem ainda visita aqui, vezemquando vai se deparar com uma nova atualização. Sou grata pela visita de vocês aqui no blog, que é uma das coisas que mais amo fazer e não penso em 'desligar'. 

Mas pretendo fazer uma mudança que vai além do visual, já realizado uns meses atrás e que deu esse novo ar para o site. Ele atualmente representa o que sou, com resquícios do que fui e do que almejo ainda ser. Porém, chegou o momento de rebatizá-lo... O título Torpor Niilista fala mais de mim do que do próprio blog, eu sempre dizia isso ao me questionarem sobre a origem do nome... O visual dele já faz esse papel. Quero um título que represente o que eu leio/ouço/vejo. Quero um nome que mostre ao visitante do que se trata esse espaço. Quem está por trás dele não é o foco. Embora em vários momentos ele tenha sido, e ainda se mescle ao que vou publicando...

Ainda não me decidi pelo novo nome do blog mas tenho algumas opções na mesa... Desculpem, mas não peço [novas] sugestões. Ninguém pede a terceiros para colocar nome nos filhos e o blog É meu filho. 

Em suma, espero que compreendam meu sumiço. Eu estou bem, na medida do possível. O novo lar fez muito bem a mim. Estou perto da minha família. O que ainda preciso consertar são os pensamentos conturbados mas ajuda especializada está aí pra isso. [Super indico a terapia]

Sou grata por todo o carinho de quem vem ler os meus posts, de quem compartilha dos mesmos gostos comigo, de quem me segue nas redes sociais e interage nas publicações. E mesmo aqueles que vem aqui e não mostram 'a cara', agradeço do mesmo jeito, pois se você volta aqui protegido pelo anonimato, é sinal de que algo que eu faço por aqui é útil a sua vida. Esse pensamento me conforta e me deixa feliz. 


Com amor, afeto, abraços e doçura...


Uma publicação compartilhada por Maria Valéria - TorporNiilista (@valzita1985) em


sexta-feira, julho 20, 2018

Joaquim Nabuco, a voz da abolição

A HQ conta a história de Joaquim Nabuco, desde os primeiros anos no Engenho Massangana, até sua morte 1910. Desde menino, Joaquim já possuía um espírito de inquietação e contestação sobre a política escravista existente na sociedade brasileira.

Viajou por vários anos para fora do Brasil, escreveu inúmeras publicações em defesa de suas ideias e chegou a advogar por alguns períodos. Mas ardia dentro de si uma chama de luta pela abolição, causa que abraçou ao longo de sua carreira política. 


O quadrinho foi publicado em 2010, em razão do centenário de morte de Joaquim. Publicado pela Editora Massangana, Fundação que leva o seu nome, traz os desenhos e cores de Lailson de Holanda Cavalcanti, e em vários quadros temos cenários recifenses dando o ar de graça à história, como o tetro Santa Isabel e a Faculdade de Direito do Recife, dois lugares de extrema importância na trajetória de Joaquim Nabuco.

Trata-se de uma leitura agradável e informativa, sem ares didáticos, embora se apresente inicialmente com essa proposta. Ao fim da obra, contamos com uma cronologia sobre sua vida, uma ficha das personalidades importantes descritas na história.Uma breve e interessante obra sobre um dos grandes personagens da história brasileira. 




segunda-feira, julho 09, 2018

a poesia lírica de Safo

Variações sobre a lírica de Safo é uma publicação da Estação Liberdade e brinda o leitor com a poética grega da antiguidade. Ao longo de vários séculos, os versos de Safo ecoam e nos chegam em mãos graças à tradução de Joaquim Brasil Fontes. 



A edição bilíngue, em grego e português, possui gravuras de Fúlvia Gonçalves, e variações de transcrição/tradução sem perder o tom poético existente nos trechos. Foram resgatados poemas e fragmentos, e 'infelizmente' "ruínas" de versos incompletos, de difícil compreensão.

Safo de Lesbos foi uma poetisa que carregou em seus versos todo o lirismo do pensamento grego da Antiguidade. Nascida em cerca de 625 a. C, viveu até 580 a. C., ressurgindo viva através de sua bela e inefável poesia.


quinta-feira, julho 05, 2018

Na volta da esquina, de Mário Quintana


Há duas espécies de livros: uns que os leitores esgotam,
outros que esgotam os leitores.

Numa coleção de bolso da Ed. Globo foram reunidos pequenos fragmentos da escrita poética de Mário Quintana. Na volta da esquina é um apanhado de frases de efeito, reflexivas e com ares poéticos de um dos grande escritores da literatura e poesia brasileira.
a data
Sim, o mais triste das dedicatórias são as datas.


Sua leitura remete a um passeio de bonde pelas nostálgicas ruas de alguma cidade perdida no tempo.Ao longo do livro, permeia uma sensação de pertencimento aos locais ali [não]descritos, às situações [não]vividas e certa identificação com seus personagens [ir]reais, absurdamente passíveis de existir em alguma esquina da vida...

Todos esses que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão...Eu passarinho!
A obra traz temas como o acaso, o amor, desamor, morte, eternidade, livros, catástrofes, solidão, poesia... São intensos aforismos que nos contemplam com enlevo, calmaria e saudade de um tempo [ou algo] desconhecido...

Quintana possui um jeito único e simplista de dizer o indizível, de dar tonalidade às cenas em cinza do nosso cotidiano...