quinta-feira, maio 30, 2019

[HQ] Fahrenheit 451

 Certamente você já leu ou ouviu falar de Ray Bradbury e sua obra-prima distópica Fahrenheit 451, que nos apresenta uma sociedade em que livros e conhecimento são proibidos e os bombeiros existem para queimar livros. 

O responsável pela adaptação em formato de Graphic Novel desse clássico moderno é o artista Tim Hamilton, com autorização do próprio Bradbury e com traços marcantes e sombrios, revela ao leitor o cenário de alienação que a sociedade se encontra.

Montag é um bombeiro que passa a questionar sua profissão depois de conversar aleatoriamente com uma garota da vizinhança chamada Clarice. Quando a garota some misteriosamente e chamado durante seu turno, e ele se depara com uma cena trágica e perturbadora, Montag começa a enxergar aquelas ações por um prisma inquiridor, e isso vai trazer consequências para sua vida, casamento e emprego. 



Fahrenheit 451 Graphic Novel é um convite provocador que simboliza bem o pensamento crítico sendo controlado por um governo que não aceita contestações e que incute na população a ideia de que a literatura e filosofia são um mal que precisa ser jogado às chamas.
 
O governo controla o conhecimento, porque conhecimento gera questionamentos, senso crítico. E uma população crítica derruba um regime totalitário. 


quarta-feira, maio 29, 2019

A Prosa Morena de Jessier

Hoje eu sei o que é saudade
Parêia da solidão
É furada de espeto
Que deixa um sangueiro preto
Pisado no coração.


A poética de Jessier Quirino, paraibano natural de Campina Grande, é verso cantado no ouvido do leitor. Publicado pelas Edições Bagaço, Prosa Morena é um balaio místico cheio de [en]cantos, descrevendo os [re]cantos de nossa pátria nordestina. Sua visão peculiar de descrever os cenários de sua terra tem o poder de enfeitiçar o leitor, que vai adentrando na Cultura, na gente do Sertão, nas praias que acariciam nosso litoral, nos costumes e linguagens dessa bela porção do brasil.

A cultura popular nordestina é bem representada nos versos de Jessier. O linguajar do povo, ritmado a ponto de se declamar, é uma alegoria que nos deixa familiarizados com sua ambientação. E se o leitor for daqui, tanto melhor, vai encontrar-se nas historietas de Quirino, identificar-se nos narradores crus, palpáveis, detentores de um realismo que beira o mágico.

Jessier Quirino é um mago da poesia, de quebrantos e desmantelos, da arte de contar estórias com magistral sabedoria...




segunda-feira, maio 27, 2019

[Coluna Arte Selvagem] Edouard Manet

Dando inicio a essa coluna falando sobre arte, venho trazer a vocês um livro da Coleção de Arte publicada pela Editora Globo, que fala sobre o pintor Edouard Manet. Nascido em Paris no ano de 1832, ainda na adolescência teve experiencias a bordo de um cargueiro, mas a carreira naval - apesar do gosto de seu pai - não estava nos seus planos. Ele almejava a arte.


Passou a frequentar o estúdio de Thomas Couture, mas algum tempo depois se desvinculou de suas pinturas, por terem concepções de cor distintas. Fez várias viagens pela Europa à partir de 1861. OS intelectuais fervilhavam em Paris naquela época, e logo se mostraram interessados pela obra de Manet. 


Foi considerado o pintor da vida moderna, e teve em seu círculo de amizades figuras como Charles Baudelaire, Degas e Stephanie Mallarmé. Olympia é considerada sua obra de arte mais importante, e também como sendo uma das mais escandalizadoras. Trata-se de um nu posado por Victorine Meurent. 

Olympia não era representação enêmica. Era de um nu de realismo atestado por detalhes intencionais, como a gargantilha preta, a flor vermelha no cabelo, um chinelo descalçado, o outro encaixado um tanto frouxamente no pé; esses detalhes de adereços conferem à nudez da figura um ar de indiferença prosaica e de insolente provocação.


O livro ainda fala sobre os anos finais do pintor, até o ano de sua morte em 1882, devido a complicações da sífilis e a gangrena que agravou seu estado, vindo a amputar sua perna, numa última tentativa de os médicos salvarem sua vida. Olympia se encontra hoje em exibição permanente no Museu do Louvre, em Paris. A edição conta ainda com imagens de seus quadros e uma breve descrição deles. 

Almoço na Relva - 1863 [Musée d'Orsay - Paris]

Toureiro Morto - 1864 [National Galery of Art - Washington D.C.]
Bar do Folies - Bergère - 1881-1882. Courtauld Institute Galleries, Londres.

domingo, maio 26, 2019

Os haikais de Millôr

 


Ler Millôr é sempre uma bela surpresa. A L&PM Editores nos apresenta a obra Hai-Kais, poesias curtas de apenas três versos em sua composição, que possuem críticas inteligentes e mordazes a respeito de temas como religião, política e existencialismo. 

Millôr Fernandes foi um jornalista carioca. Chegou a trabalhar nas revistas O cruzeiro e Pif Paf. Passou pelo Diário da noite e Correio da Manhã. Durante a ditadura, teve vários de seus textos censurados . Além de Hai-kais, a L&PM também publicou outros de seus títulos, tais como Millôr definitivo - a bíblia do caos e Crítica da Razão impressa. 

O hai-kai [também chamado Hai-ku] é m poema de origem japonesa em que não há necessidade de rima, embora nas traduções ocidentais, haja esse hábito por parte dos tradutores. No caso de Millôr e de outros autores [como Jack Kerouac], utilizam uma maneira mais solta de se construir os versos sem se prender a métrica de sílabas usadas pelos japoneses [três versos, sendo dois de cinco silabas e o central constando sete].

O livro possui ilustrações em cada hai-kai, dando um ar mais gracioso à obra. Hai-kais é uma leitura rápida, de fácil compreensão e que ao mesmo tempo levanta questionamentos importantes ao leitor. Para ser devorado aos poucos, ou num ritmo frenético - wherever - Mas a cada lida, novas percepções são passíveis de ocorrer...


quarta-feira, maio 22, 2019

Buk e textos autobiográficos...

hoje caminho pelo sol e pelas ruas da cidade: vendo nada, aprendendo nada, sendo nada.

Textos Autobiográficos reúne escritos de Charles Bukowski, que vão desde sua infância até seus momentos finais, na casa dos 70 anos. São mais de vinte romances, poesias e contos selecionados por John Martin, amigo e editor de longa data do Old Buk, e que nos chega em mãos através da publicação pela L&PM Editores.


Os temas recorrentes de sua obra já conhecidos de seu público leitor, como sexo, jogatina, bebida e mulheres, são descritos com a costumeira crueza e um vigor feroz. Seu alter ego Henry Chinaski se depara com situações absurdas, turbulentas, convive com personagens tão ou mais fracassados que ele, nessa obra que tem um quê de livro de memórias, uma espécie de diário do Velho Safado, em que ele traz à tona vivências apaixonadas e desprovidas de senso-comum. 

O livro possui material já publicado em outras edições mas que não custam em nada serem revisitados por seus leitores. Reler os versos e contos de Bukowski sempre nos revela uma faceta até então despercebida do autor, que num primeiro momento não nos traz identificação com ele, mas numa releitura, pode assumir um caráter de similaridade.


e eu levei minha boca a sua e o amor era iluminação e lembrança.


neste quarto
as horas de amor
ainda fazem sombras.
quando você se foi
levou quase
tudo junto. (...)
o que você foi
não voltará a se repetir.

Acho que sem amor, sexo não é nada. As coisas só podem representar alguma coisa quando existe algum sentimento entre os participantes.


Ler Bukowski é um convite à melancolia e pessimismos, descritos de maneira poética e insolente...




quarta-feira, maio 15, 2019

Sobre a Leitura, por Marcel Proust...

A Coleção 96 Páginas da L&PM Editores traz alguns títulos interessantes e o último que li dela foi o texto Sobre a Leitura, de Marcel Proust, seguido de um depoimento de Célest Albaret, governanta que cuidou do escritor em seus últimos dez anos de vida, até sua morte em 1922. 



Célest acabou se tornando amiga e confidente de Monsier Proust e desvela detalhes de seus hábitos tido como esquisitos por quem conhecia o autor. Seu depoimento soa como uma espécie de ode ao seu relacionamento com Proust.

Famoso pela obra Em busca do tempo perdido, Proust faz uma curiosa reflexão sobre o ato de leitura. Ele referencia nomes importantes da literatura, como Racine, Shakespeare e Homero a fim de explorar as relações entre livros e leitor. 

Originalmente, esse texto foi publicado como prefácio da obra Sésane et le Lyz, de John Ruskin, no ano de 1905. Certamente é uma leitura rápida e que oferece uma visão de Proust acerca da importância da leitura e de como nos relacionamos com as obras e seus escritores. 

Sempre gostamos de sair um pouco de nós mesmos, de viajar, quando lemos.


sexta-feira, maio 10, 2019

O falecido Mattia Pascal, de Luigi Pirandello

Em 1904 foi lançado na Itália O falecido Mattia Pascal, do escritor Luigi Pirandelo.  Trata-se de um romance que conta a história de um homem que, após perder tudo que possuía resolve se aventurar num cassino. Matias havia passado por algumas infelizes situações, chegando a perder sua família, e ao apostar nos jogos do cassino, acaba por conseguir uma pequena fortuna.

Quando Pascal resolve retornar para a cidade onde morava, descobre que os jornais locais divulgaram a notícia de que ele havia se suicidado, sendo que sua própria sogra e 'viúva' haviam reconhecido seu corpo. Diante dessa inesperada situação, ele enxerga uma possibilidade de ir viver como um novo homem, utilizando-se de uma outra identidade, como se numa oportunidade de 'começar de novo'. 

Chamando a si de Adriano Meis, Pascal precisa criar/incorporar um novo homem. Muda o visual, se hospeda de maneira discreta numa pensão mas acaba por se apaixonar pela filha do dono do estabelecimento, Adriana. Pascal - agora Adriano - chega a fazer uma cirurgia para consertar seu 'estrabismo' a fim de que ninguém possa lhe reconhecer. 





Mas por uma desventura do destino, a Pascal/Meis as coisas não sairão como ele havia planejado. Ambições, amores, rivais e uma série de outros fatores vão complicar ainda mais a vida 'dupla' que ele tenta por em prática...

É visível apontar na obra características de tragédia contadas de maneira cômica ao leitor, que se depara com temas como identidade, liberdade, morte, angústia, e em como uma mentira pode tomar proporções que fogem à compreensão do indivíduo. 

A vida de Mattia Pascal se torna uma mentira que o protagonista precisa dar ares de verdade. E o personagem sente o peso da angústia de carregar um segredo desse porte sozinho. É uma obra que traz uma série de questionamentos a respeito de identidade e de como o ser humano é [in]capaz de segurar máscaras convenientes por um longo período de tempo...

Em determinado momento, é necessário vermos um Adriano que precisa morrer sem sequer ter existido para que um morto retorne ao mundo dos vivos, sem jamais ter morrido... A obra possui uma narrativa sucinta e que nos apresenta uma reviravolta em torno de Pascal, e um retorno às origens, embora não se encontre nesse retorno o que havia sido deixado para trás, pois tudo havia se modificado... Eis a terceira vida do protagonista, que já não tinha um lar para chamar de seu e precisou seguir adiante numa nova perspectiva...

Essa leitura foi feita em conjunto com o Clube Literário que faço parte, a Confraria Colombo. Mais um belo tesouro que encontrei pelas paragens italianas...






segunda-feira, maio 06, 2019

Catimbó, a obra poética de Ascenso Ferreira.

Ascenso Ferreira pode não ser um nome familiar para o cidadão pernambucano - ainda mais recifense - mas a estátua que contempla o por-do-sol em frente ao rio próximo ao Paço Alfândega certamente é popular entre aqueles que por ali circundam.

Grande poeta natural de Palmares, em 1895, Ascenso [cujo nome verdadeiro é Aníbal Torres] foi perseguido por causa de seu envolvimento na política. Desde cedo mostra aptidão para as letras. Conviveu com figuras tradicionais do início do século XX, como Joaquim Cardozo e Luís da Câmara Cascudo. 


Seu primeiro poema data de 1926 no livro Catimbó, lançado no ano seguinte. Sua poesia é de fácil entendimento, retratando com maestria o povo, as tragédias sociais e tornou-se patrimônio cultural do Movimento Modernista da década de 1920. É considerado um dos maiores poetas de seu tempo. Sua poesia não se baseia em modelos europeus. Possui saudosismo, desvela a identidade do indivíduo nordestino, e nos transporta para uma Recife de quase cem anos, nos mostrando que o sentimento de pertencimento à terra pernambucana, com todo seu rico folclore e fascínio, não nos deixou com o passar dos anos.

Seus versos possuem vigor, são emblemáticos, nostálgicos e enriquecedores. Catimbó é um marco de tradições, é a alma do pernambucano revelada ao mundo. Um descortinar que anuncia o espetáculo de nascer e viver numa terra de encantos mil... 


(A José Pereira de Araújo - "Doutorzinho de Escada")


Hora de comer — comer!
Hora de dormir — dormir!
Hora de vadiar — vadiar!
Hora de trabalhar?
— Pernas pro ar que ninguém é de ferro!