Os judeus estão presentes na Cultura e Sociedade Pernambucanas desde o período colonial. Conhecidos como cristãos-novos, por terem se convertido ao Cristianismo, foram na verdade forçados a isso devido à perseguição aos judeus há muito existente. Entre os judeus mais 'famosos' que pairaram em terras pernambucanas, temos Branca Dias e Diogo Fernandes. José Luiz Mota Menezes discorre sobre eles e tantos outros no livro A recriação do paraíso - Judeus e cristãos-novos em Olinda e no Recife nos séculos 16 e 17, uma publicação da CEPE Editora.
Na História urbana, nos deparamos com as origens de povoados, vilarejos, monumentos históricos, instituições religiosas e povoamento, levando em conta não só a parte física-arquitetônica, mas também aspectos sócio-antropológicos da Urbanidade.
As cidades de Recife e Olinda tem um histórico interessante com relação ao povoamento da etnia judaica, bem como de seus costumes e tradições, enraizados no coração das capitais [antiga e atual] pernambucanas.
A obra em questão traz um apanhado de dados históricos que remontam ao período do 'descobrimento', perpassando pela colonização e à produção açucareira enquanto capitania hereditária, além da contribuição judaica na formação da nova sociedade que aqui se estabeleceu.
Ricamente ilustrada com imagens de documentação, pinturas cartográficas e paisagens urbanas, A recriação do paraíso tem como função desvelar ao leitor fatos importantes que em muito contribuíram para a formação geográfica e social de Olinda e Recife durante os períodos de 1600 e 1700.
Os "batizados em pé", como denominados pelo historiador E. Lipiner¹, se encontraram presos numa condição religiosa que lhes era diferente de seus costumes usuais na doutrina judaica. "Os batizar à força era mais do que isto. Constituía um desrespeito à condição humana. em nome de um Deus cometia-se o maior dos crimes e contra a consciência!"
Branca Dias é considerada um símbolo da presença judaica em terras pernambucanas. Juntamente com seu marido Diogo Fernandes, se estabeleceram na capitania em 1542. Além deles, vários outros eram atuantes de sua fé às escondidas, embora se soubesse de suas práticas judaicas. Assistiam os rituais litúrgicos católicos para disfarçar mas acabaram denunciados, devido à uma sinagoga clandestina, instalada em sua propriedade rural, onde se situa o Engenho Camaragibe.
Engenho Camaragibe, às margens do lago da Prata |
Bento Teixeira foi outro judeu denunciado por suas práticas religiosas, chegando a sofrer interrogação por parte do Tribunal da Inquisição em 1594. Além dele, Manoel Dias e João Nunes Correia foram delatados.
Os cenários urbanos possuíam uma boa administração donatária, com boa produtividade açucareira. Convivendo nesses espaços, cristãos e judeus conversos. José Luiz Mota reconstitui estes cenários à partir da pesquisa em documentação de época, cartografias e outras fontes que sobreviveram até os dias atuais.
Com a chega dos holandeses na província, os judeus foram agraciados por um período com liberdade religiosa que até então não possuíam. Se deslocaram para o Recife em grande número.
Nessa povoação, construíram uma rua, que logo ficou conhecida como Rua dos Judeus. Nela instalaram uma sinagoga, a Kahal Zur Israel (Rochedo de Israel), e um mercado para a venda de escravos comprados nos navios pelos então comerciantes de origem judaica e moradores daquela rua.
Com a retirada do poder holandês da capitania, os judeus voltaram a sofrer perseguição.
O número de judeus e de cristãos-novos que retornavam à fé dos seus antepassados era então muito grande. As práticas judaicas na Rua dos Judeus chamavam a atenção pelo fervor e animação, a ponto de sofrer censura dos Calvinistas. Nessa mesma época um enorme cemitério foi construído no Recife pelos judeus.
A sinagoga ainda existe, bem como a Rua dos judeus, onde se localiza, sendo um dos grandes cartões-postais da capital de Pernambuco. Sua estrutura passou por restaurações, além das ampliações verticais que outras estruturas da rua sofreram.
A maioria dos judeus que hoje mora no Recife e demais partes de Pernambuco é de origem ashkenazi. Vieram nos últimos anos do século 19 e, em sua maior parte, na primeira metade dos 20. Residiram no Recife, em sua maioria no bairro da Boa Vista, chegando o lugar escolhido por eles a configurar uma judiaria.
A recriação do Paraíso conta ainda com uma Bibliografia, que pode ser consultada em suas páginas finais. Trata-se, portanto, de uma obra riquíssima e que certamente vai agradar aos leitores curiosos com a História pernambucana, dos judeus no Brasil e amantes de Arquitetura/Urbanidade.