quinta-feira, março 14, 2024

Antologia Pornográfica: de Gregório de Matos a Glauco Mattoso


Organizada por Alexei Bueno e publicada pela Editora Nova Fronteira, Antologia pornográfica: de Gregório de Mattos a Glauco Mattoso é uma coletânea de poemas de cunho pornográfico, chulo propositadamente. Não se trata de versos suaves, sutis, que carregam resquícios subjetivos de erotismo, mas de linguagem obscena, depravada, escrita em língua portuguesa desde meados do século 17, em que a poesia de Gregório de Matos representa o movimento Barroco no Brasil. 

Além de Gregório, o livro conta com poemas de Caetano Souto-Maior, Antônio Lobo de Carvalho, um soneto de Filinto Elísio e Nicolau Tolentino. Bocage, poeta português familiarmente conhecido aqui no Brasil, possui alguns textos de sua produção poética selecionados para o livro. Nascido em 1765, foi um dos poetas mais importantes do século XVIII e inicio do século XIX, sua poesia circulava em manuscritos clandestinos. 

Bernardo Guimarães representa o Brasil do século XIX. Autor de A escrava Isaura, importante clássico da literatura brasileira, temos os poemas O elixir do pajé e A origem do mênstruo. Estes e vários outros nomes de Portugal e Brasil se fazem presentes na Antologia pornográfica.


Então, cheio de raiva, aperta o dente,
E na gostosa, feminil masmorra, 
Alargando-lhe as pernas novamente,
Com estrondosos ais encaixa a porra:
Ela, que já no corpo o fogo sente
Do marsapo, lhe diz: "Queres que eu morra?
Tu não vês que me engasgo, e que estou rouca,
Porque o cruel tesão me chega à boca?

Certamente é uma obra para leitores menos sensíveis que ousem adentrar numa escrita poética densa, crua, e ainda assim - poética.

Compre um exemplar no link abaixo e ajude a contribuir com este blog. Viele Danke!

 

quinta-feira, março 07, 2024

Um corpo de mulher - Fernando Sabino

 O personagem dessa breve novela escrita por Fernando Sabino décadas atrás se depara com uma cena inusitada a partir de sua vista numa janela de quarto de hotel: o corpo de uma mulher caindo de algum andar acima em direção ao asfalto da rua. Suicidio ou alguém teria assassinado aquela mulher?

Jaques Olivério adentra então em uma investigação pessoal a fim de descobrir detalhes sobre aquela morte misteriosa. Mas a partir desse evento inusitado, ele parte também numa jornada de encontro ao seu passado. 

Uma infeliz coincidência com a vida real é que em meados dos anos 1940, o autor presenciou um suicidio quando esteve em um hotel no Rio de Janeiro, quando uma mulher se jogou de uma sacada. Ele era jornalista, vivendo num período em que o mundo voltava os olhos para a guerra que findava na Europa, e em nosso país havia um sentimento de  renascimento do poder democrático, que lutava e resistia contra a ditadura de Getúlio Vargas. 



A novela flui de maneira soturna rumo ao desfecho e possui ares de filmes noir. A escrita de Fernando Sabino conduz o leitor vorazmente pela trama e investigações do Jaques que busca respostas para aqueles acontecimentos tão inesperados. 

Para aqueles já habituados com a obra do contista, é fácil enveredar-se por sua aura de suspense e drama. E para os leitores que sequer conheciam seus escritos, eis uma bela porta de entrada, que proporciona momentos de absorção numa história que traz à tona um enredo comovente e sensível.