domingo, novembro 06, 2011

luzes de roda-gigante...



Gosto de rodas-gigantes e suas luzes bucólicas e decadentes, do tique-taque das horas...
do ir e vir das ondas [na sua incerteza de permanecer no mesmo lugar],
do céu e suas nuances [com todas as suas estrelas e nuvens], de girassóis e do murmúrio do vento.
Cores do crepúsculo...

domingo, junho 26, 2011


queria voltar àqueles dias... à maciez de teu abraço, à firmeza de teus ossos perfeitamente moldados...

lágrimas de chuva...


Chove, chuva... chove sem parar... e derrama sobre a terra tuas lágrimas de descontentamento...

quarta-feira, junho 22, 2011


E eles se agarraram, sôfregos, naquele banco traseiro desconfortável do ônibus, num fim de tarde, onde pessoas voltavam do trabalho... beijando-se como se fossem engolir um ao outro, misturando saliva, suor, areia do mar, enquanto suas mãos urgentes trocavam carícias despudoradas, exibicionistas, um buscando no corpo do outro o próprio prazer... e o vento que passava pela janela semi-aberta bagunçava seus cabelos... as pessoas olhavam, alguma sorrindo, outras contrariadas... mas para os dois, não haviam outros, não havia um 'ao redor'... só havia uma aura envolvendo dois corpos sedentos e urgentes de fluídos...

sexta-feira, junho 17, 2011


Tenho toda a liberdade do mundo aprisionada dentro de mim...

quarta-feira, maio 11, 2011

encontro de lábios e cheiros...


Após três luas de encontros furtivos as mãos se entrelaçaram, selando uma união mágica e infinda... até que os passos decisivos rumo à despedida culminassem num encontro sufocado de corpos e roupas, fluídos e cheiros... Vozes estremecidas e lábios conectados... e dispersassem promessas ao vento da noite, entre lágrimas de pesar e dor de saudades...

sexta-feira, abril 29, 2011

Na estação de trem...


Contando os minutos ela sentou ansiosa no banco da plataforma... àquela hora a estação não tinha tantas pessoas esperando pelo trem... Ela olhava para os lados, consultava seu relógio de bolso, um desses antigos que se acham hoje em dia apenas em antiquários... Ela ganhara do padrinho, falecido a muitos anos, a quem estimava...
Maria Eva não conseguia conter-se e de meio em meio minuto, olhava novamente o relógio... Passou a vista no relógio da estação, levantou e foi até o bilheteiro, na esperança de quem alguém tivesse deixado ao menos um bilhete pra ela, justificando essa demora... Mas o bilheteiro não parecia se importar ou fingia não vê-la... Não podia ser verdade, mais de três horas nessa espera infinda... Ele não a deixaria esperando... não a abandonaria...

Pessoas vão e vem na estação, a plataforma aos poucos se enche de burburinhos intermináveis, conversas sem sentido e desconexas para Maria Eva... e Fabrício não aparece... Mais uma vez o velho relógio é consultado, um último olhar à plataforma é lançado... Lentamente, ela pega sua única mala e embarca no trem, que apita sua saída...
Já em movimento, observa seu reflexo na janela e mal enxerga o próprio rosto, embargado de lágrimas... Lágrimas estas que lhe turvavam a vista...
Fabrício não veio...
A plataforma se distancia ainda mais de sua linha de visão... A chuva cai...
Pôs a mão no bolso, o relógio havia parado... o trem continuava em movimento... suas lágrimas cessaram... No ar pesava apenas aquele vazio...
e um eco de angústia...

engoliu em seco...

segunda-feira, abril 11, 2011

Flerte pelo retrovisor...

Era uma garota que gostava de flertar... Flertava com um transeunte na rua, com o atendente da loja, com os funcionários de sua repartição... Flertar era sentir-se viva, embora não almejasse ir pra cama com todos aqueles estranhos que passavam tão comumente por sua vida... Flertava por simples prazer, por capricho de alguém recém-saído da adolescência... O ato consistia em chama que fazia arder seu corpo, um apelo sensual de seu cérebro, mais que um orgasmo corporal...
Todos os dias, no caminho do trabalho para casa, sentia os olhos do motorista pousarem sobre ela... Instigava-o, fazendo gestos provocativos, enquanto ele a admirava, ávido, pelo espelho retrovisor... Cruzava as pernas, e não mostrava nada, apenas pela satisfação de sentir o olhar lascivo daquele homem rude, grosseiro e sem modos sobre si... Ele, que até então a achava fria, esquiva, e não se misturava com os demais companheiros de serviço, notou certo charme naquela criatura tão arredia... Eis um ponto em comum: ele também mal suportava aquela gente fedida e previsível, de brincadeiras sem graça e conversas desprovidas de conteúdo inteligente. Ele não era lá inteligente, mas admirava pessoas assim, queria aprender com elas. E aquela garota misteriosa... Sua inteligência e arrogância o excitavam... Seu pensamento era "como ela gemia na cama?". Pensava com seus botões, em meio ao volante, marchas e pára-brisas... Taciturna, atrevida em seus mínimos gestos, essa garota excitava-o... Batia punheta todos os dias, após seu itinerário...
Ele queria mais do que ela sequer imaginava, queria partir para a investida... Mas ela sempre cortava, embora delicadamente, disfarçadamente... Para ela, não havia necessidade de contato físico. O flerte bastava. O flerte alimentava mais e mais o seu ego... O motorista?
Punheta era o que lhe restava... era uma migalha de amor, o máximo que daquela garota poderia receber... Todos os dias, depois do expediente, era o que fazia, enquanto ela, já em sua casa, com um leve sorriso nos lábios, exausta caía na cama... e adormecia...