sábado, março 16, 2013

o Morango mofado da literatura brasileira...

Caio f. 

Eu deveria ter feito esse post no dia 25 de Fevereiro, mas por algumas razões pessoais, não me foi possível... Então, passei os dias amadurecendo as idéias, refletindo sobre o que eu poderia falar... Mas sinceramente, não há palavras para expressar minha admiração por esse homem. A escrita de Caio Fernando Abreu fala sobre amor, finais [in]felizes, dramas, noites de chuva, dor, leveza, paixão... Caio falava de forma poética, profunda, pungente, e assim como eu, acredito que muitas pessoas se identificam com seus escritos... 

E já são 17 anos sem novas palavras, sem novos pensamentos que fazem enternecer o mais frio coração, há 17 anos partia Caio Abreu, vítima do vírus HIV, com quase 50 anos de idade...  Engraçado que, na época em que ele morreu, muitos dos que admiram seus livros ainda nem tinham nascido... [eu já era, mas não o conhecia]. A febre 'Caio Abreu no Facebook' contribuiu bastante para dividir em 'ame ou odeie' os que falam sobre ele. De um lado, os que admiram seu trabalho e defendem sua popularidade, e de outro os que depreciam sua obra justamente por essa popularização. O que complica ainda mais as coisas são as frases creditadas e ele [e a tantos outros escritores, como Tati Bernardi e Clarice Lispector] que na verdade não são de sua autoria... 

'Popular ou não' à parte, eu falo por mim: muito antes dessa 'febre' eu já conhecia o trabalho de Caio. Encontrei por acaso umas frases suas na net, e até postava em meu fotolog, pouco tempo depois, tive acesso a seus contos por meio do bom [nem tanto assim] pdf e li alguns de seus livros nesse formato. Posteriormente, encontrei volumes em bibliotecas e pude [re]ler da forma convencional [e mais agradável de se ler um livro].

Nascido em Santiago, em 12 de setembro de 1948 e falecido em 25 de Fevereiro de 1996, Caio foi jornalista, escritor e dramaturgo. Sua obra fala de sexo, amor, morte, medo, conflitos existenciais e coisas do gênero. Sua narrativa tinha o dom de falar sobre a dor de forma bonita. Eis uma das coisas que mais me encantam em seus escritos... através de seus contos e cartas, percebe-se uma naturalidade em falar de tais coisas, como se nos fossem familiares. Por vezes, eu senti que ele escrevia pra mim, descrevendo o que eu sinto e como se nos conhecêssemos. Essa aproximação com o autor é quase lírica. E carregada de simplicidade, em que ao mesmo tempo é tão complexa... 

Assumiu sua homossexualidade em pleno período da Ditadura Militar. Chegou a se refugiar no sítio de uma amiga [Hilda Hilst], em São Paulo, e posteriormente foi morar na Europa. Descobriu poucos anos antes de falecer que estava com AIDS. Dedicou seus últimos meses a jardinagem, morando próximo aos pais. Quando faleceu, seu corpo foi enterrado no Cemitério São Miguel e Almas, em Porto Alegre - RS. 

Existem vários livros publicados em forma de Contos, prosa e Cartas [que ele mantinha com amigos próximos], foi amigo de Clarice Lispector, Hilda Hilst e Cazuza, dentre outros nomes famosos da época. Existe uma entrevista/documentário bem interessante, em que seu amigo e secretário de Caio F. fala sobre sua amizade com o autor, seu cotidiano, e seus últimos meses atribulados pela doença... Você pode conferir o vídeo completo aqui. O documentário é doce, suave, lindo e emocionante... É uma forma de adentrarmos no universo além-profissional do autor. Gil fala com uma devoção tocante sobre seu amigo, mostra diversos objetos e escritos de Caio, suvenires que lhe foram confiados pelo próprio Caio... Assistam, vale muito a pena ver...
O primeiro livro que li de Caio F. foi Fragmentos. Meus contos preferidos nesse livro são Sargento García e Aqueles Dois. Existem também curtas baseados na obra do autor, e podem ser encontrados na internet. Uma adaptação maravilhosa de Sargento García é esse curta

"Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da
gente, sempre sabe exatamente quando termina - ela repetiu olhando-se
bem nos olhos em frente ao espelho. Ou quando começa: certos sustos na
boca do estômago. Como carrinho de montanha-russa, naquele momento
lá no alto, justo antes de despencar em direção. Em direção a quê? Depois
de subidas e descidas, em direção àquele insuportável ponto seco de
agora." Trecho do conto Os Sapatinhos Vermelhos [Fragmentos]

Depois tive o prazer de ler O ovo Apunhalado, também em pdf. 

"Recompôs-se, brusco. Não, melhor não falar nada. Admitia que não conseguisse
controlar seus pensamentos, mas admitir que não conseguisse controlar também o que
dizia lançava-o perigosamente próximo daquela zona que alguns haviam convencionado
chamar loucura. E essa era a primeira vez que se descobria assim, tão perto dessas
coisas incompreensíveis que sempre julgara acontecerem aos outros — àqueles outros
distanciados, melancólicos e enigmáticos, que costumava chamar de os-sensíveis —
jamais a ele. Pois se sempre fora tão objetivo. Suportava apenas as superfícies onde o ar
era plenamente respirável, e principalmente onde os sentidos todos sentiam apenas o
que era corriqueiro e normal sentir. Subitamente pensava e sentia e dizia coisas que
nunca tinham sido suas." Trecho do conto Gravatas [O ovo apunhalado]


 Inventário do Ir-remediável é um livro que me chamou a atenção pela grafia do título... acho interessante utilizar certos artifícios incomuns na escrita, a fim de diferenciar e dar um aspecto criativo ao texto. A quem interessar possa foi um dos contos que mais gostei no livro. A forma corrida de alguns dos seus textos também me impressionam, ele não se utiliza muito de vírgulas e quando lemos, dá a impressão que aquilo tudo foi falado às pressas, sem coerência e de forma abrupta. Mas a cada palavra as frases ganham sentidos profundos. 

"Eu queria contar toda a minha vida para se alguém lesse visse que não sou
louco, que sempre foi tudo normal comigo, que eu fiz e disse as coisas que todo o
mundo faz e diz," Trecho do conto O ovo [Inventário do Ir-remediável]

Li também Morangos Mofados, um dos meus títulos preferidos, tanto pelo título quanto por seu conteúdo. Os títulos dos livros de Caio são bem criativos, a meu ver... 


"Eu queria aquele corpo de homem sambando suado bonito ali na minha frente. Quero você, ele
disse. Eu disse quero você também. Mas quero agora já neste instante imediato, ele disse e eu repeti
quase ao mesmo tempo também, também eu quero. Sorriu mais largo, uns dentes claros. Passou a
mão pela minha barriga. Passei a mão pela barriga dele. Apertou, apertamos. As nossas carnes
duras tinham pêlos na superfície e músculos sob as peles morenas de sol." 
Trecho do conto Terça-feira gorda [Morangos mofados]

Outros que li dele foram Além do ponto e outros contos, As frangas e Girassóis. Tenho em e-book pra ler ainda Pedras de Calcutá, Estranhos estrangeiros, Os dragões não conhecem o paraíso, Limite Branco e Cartas, além de uma coletânea dos seus contos O essencial da década de 1970. Ovelhas negras é outro título que penso em ler, mas não tenho o livro físico, nem o pdf. Outros títulos dele: Mel e Girassóis, Triângulo das águas e Pequenas epifanias. Mesmo adorando seus livros, não possuo nenhum deles [ainda]. Sempre que procuro em sebos, nunca encontro... Nem em livrarias. Espero na Bienal do livro esse ano, poder comprar pelo menos os 4 títulos lançados pela L&PM Editores [abaixo na photo].

Deixo aqui para quem se interessar em ver, links de alguns curtas baseados em seus contos... uns bem dignos dos textos, outros nem tanto... cabe a vocês assistirem e tirarem suas próprias conclusões...

Dama da noite, DIR. Mário Diamante [2000]
Morangos Mofados DIR: Rubem Corveto [1988]

Infelizmente não encontrei o excelente A mulher biônica [link espirado], mas se alguém conseguir encontrar, é uma boa adaptação... E Sargento Garcia, o link está acima, no post... 


Alguns títulos publicados na L&PM Editores .
'Caio f.' é um dos meus escritores preferidos e dos nacionais, é o meu preferido... mesmo que sua obra tenha virado 'modinha', que muitos sejam do contra por achá-lo 'popular', 'clichê'  etc,  nada disso importa pra mim, porque me identifico com a sensibilidade dos textos que ele escreveu, e acho que isso é mais do que suficiente pra ignorar qualquer tipo de comentário maldoso a respeito de sua obra/'fama'. Pra mim, Caio é excelente, e deve ter sido uma experiência maravilhosa de seus amigos, terem convivido com ele, e com sua riqueza poética...


Espero que tenham gostado do post...

segunda-feira, março 11, 2013

R.I.P. - Descansando em paz...

Através desse post mórbido vim falar sobre algumas das personalidades que admiro e que estão sepultadas no Cemitério de Père-Lachaise, em Paris, França. Certamente irei visitar esse local, caso um dia eu tenha a oportunidade de visitar a capital francesa... Tenho um fascínio absurdo por esse cemitério, então vamos lá:

Começando por Oscar Wilde, dono de uma lápide linda que eu desejo MUITO poder conhecer um dia... 

Uma das coisas que chamam atenção no túmulo são as marcas de beijos das pessoas que visitam o local. O túmulo é uma obra de arte do escultor americano Jacob Epstein, que representa um anjo voando. Oscar Wilde, autor de obras famosas como Salomé e O retrato de Dorian Gray, faleceu em 30 de novembro de 1900, vítima de meningite. Foi enterrado no Cemitério de Bagneux, e posteriormente teve seus restos mortais transladados para o Cemitério Père-Lachaise, onde repousa atualmente...




Além de Wilde, repousam também os restos mortais de Jim Morrison, vocalista da banda The Doors,  morto aos 27 anos, em 1971, por overdose. Dono de uma voz profunda e com composições cheias de misticismo, xamanismo e poesia, conquistou o mundo e revolucionou o Rock N' Roll nos anos 60. 




Um pintor/escultor que admiro bastante chama-se Amedeo Modigliani, nascido em 1884 e falecido em 1920. Foi um grande artista, autor de obras como O violoncelista e O grande nu, foi amigo de Kiki de Montparnasse e de vários artistas parisienses da época. Morreu de tuberculose, aos 35 anos. No dia seguinte à sua morte, sua companheira, grávida de 9 meses, se suicida, atirando-se do 5º andar de um prédio. 



Seguindo na lista de sepultados em Père-Lachaise, encontra-se ainda a atriz que ficou mundialmente conhecida pela cena da manteiga, numa obra prima de Bernardo Bertolucci, Último Tango em Paris, onde contracenou com Marlon Brando, a atriz Maria Schneider. Falecida em 2011, protagonizou ao lado de Brando cenas pra lá de polêmicas em Último Tango em Paris, filme mais conhecido dela, embora tenha atuado em outras películas. A causa de sua morte foi câncer. Infelizmente não encontrei photo de seu túmulo. 


Além destes, ainda se encontram lá sepultados: Honoré de Balzac, Maria Callas, Frédéric Chopin, Colette, Auguste Comte, Allan Kardec, Molière, Yves Montand, Édith Piaf, Marcel Proust, entre outros...

Espero que gostem do post... em breve, postarei outros túmulos de famosos, em outros cemitérios pelo mundo...


sexta-feira, março 08, 2013

Quadrinhos - Tex

Hoje eu vim falar de quadrinhos novamente e dessa vez trago Tex a vocês, leitores do blog... confesso que coleciono esse gibi há pouco mais de um ano, já o conhecia mas nunca tive a oportunidade de ter, até que resolvi comprar num sebo pra ver se eu gostaria... afinal, com a roupagem do 'Velho Oeste' ele tinha que me chamar a atenção de alguma forma... E está tudo lá: cowboys, foras-da-lei, índios e escalpos, xerife, atiradores, saloons, roubos de trens e diligências e o que mais sua imaginação permitir... 

Bem, vamos à ficha técnica de Tex:

Criado em 1948, é um quadrinho italiano, criado por Aurelio Gallepini e Giovanni Gian Bonelli. O quadrinho era publicado originalmente em tiras, e posteriormente ganhou o formato em revista. Existem versões em cores e em preto e branco, mas as histórias são recheadas de intriga, tiroteios e as habilidades do Ranger Tex Willer, personagem principal que dá nome ao gibi. 
Outros personagens notórios são seu filho Kit Willer, Kit Carson e o índio Jack Tigre. 


A história é ambientada no período da Guerra Civil Americana, e os criadores tiveram todo o cuidado de ambientar de forma bem fiel as histórias de Tex, inserindo elementos tanto da cultura indígena, quanto o cotidiano dos pioneiros, se utilizando, inclusive, de episódios reais da história norte-americana...


Algumas das minhas edições de Tex [uma de Chacal e outra de Zagor no meio delas...]


Tex é publicado no Brasil no estilo formatinho, desde 1971. Existem várias séries das histórias, entre elas Almanaque Tex, Tex Coleção, Tex Ouro, Tex Edição histórica, entre outros... Eu coleciono Tex Reedição e comprei alguns números avulsos... 
Quem curte um bom Western, não deixe de conferir esse clássico dos quadrinhos... Hoje em dia ainda é possível encontrar exemplares lançados atualmente, não apenas edições antigas em sebos... Mas eu compro em sebos porque saem mais baratos. Geralmente, as publicações de Tex tem um preço meio salgado... Os mais raros de encontrar são vendidos na Estante Virtual por um preço nada amigável...


Existe um filme sobre Tex chamado Tex e o senhor do abismo, mas eu não vi [ainda], mas quem se interessar e conseguir um link, mandem pra mim que eu agradeço... 
Não deixem de se deliciar com as aventuras desse Ranger habilidoso, com forte senso de justiça, e cheio de nostalgia, que deve ter feito a mente de algum vovô de vocês viajar no mundo do Western americano...