sexta-feira, outubro 31, 2014

9 e 1/2 Semanas de Amor, uma autobiografia de Elizabeth McNeill

Fiz uma compra no último mês de um livro chamado 9 e 1/2 Semanas de Amor, obra que inspirou o filme homônimo que foi sucesso na década de 80, trazendo Mickey Rourke em sua melhor forma, fazendo par com a atriz Kim Bassinger. Eu sou apaixonada pelo filme e nem sonhava que havia o livro, então, quando vi uma pessoa vendendo, resolvi comprar, e não me arrependi da leitura... 





Escrito por Elizabeth McNeill, um pseudônimo, 9 e 1/2 Semanas de Amor é o relato de uma experiência amorosa/sexual que aconteceu com a autora na década de 1970, em que ela conhece um homem, por acaso, e se envolve numa aventura sexual de jamais apagar da memória... Ela era uma executiva bem-sucedida na carreira que em uma bela manhã, numa feira livre, se depara com um homem charmoso que tempestuou sua vida por mais de dois meses. Ela vai morar com ele e se entrega a um jogo sadomasoquista feroz, onde nunca havia se imaginado antes. Em momento algum do livro ela o denomina, o conhecemos apenas por Ele. 

A escrita de Elizabeth hipnotiza o leitor. Você se sente totalmente inserido nas páginas, como se estivesse envolvido também com o casal. Jogos de sedução e dominação estão presentes em toda a narrativa, dando um gosto de êxtase ao leitor... A história chocou o público quando publicada e mesmo tendo se passado trinta anos, a impressão que a obra nos passa ainda é de fazer corar e ao mesmo tempo curiosidade em saber onde essa aventura vai dar... O livro excita. Os diálogos são quentes sem pecar por exagero ou clichês...

"Na primeira vez em que estávamos na cama juntos, ele segurou minhas mãos acima da minha cabeça. Eu gostei. Gostei dele. Ele era mal-humorado de um jeito que me pareceu romântico; era engraçado, inteligente, interessante e me dava prazer." 

Publicado originalmente em 1978, sua repercussão foi tão alta que logo havia um filme sendo produzido, e deixo o conselho a vocês que aqui leem, que o melhor é ver o filme depois da leitura. A química entre os dois atores realmente me pareceu familiar e fidedigna com a obra escrita. Eu via Rourke e Bassinger enquanto lia... Devo confessar que após terminar o livro fiquei com uma sensação estranha, de não ter 'visualizado' enquanto lia, alguns trechos apaixonantes do filme. Existem situações que vi no filme que não aparecem na obra, e isso acabou me frustrando um pouco, mas não interfere na qualidade do livro, isso é apenas uma impressão minha. 




Foram mais de dois meses compartilhando experiências bizarras, orgásticas e difíceis de se repetir algum dia. A executiva com ares de poder e liberdade se via acorrentada e algemada durante a noite... e gostava disso... ao mesmo tempo em que era surrada e cedia aos caprichos Dele, era também tratada com ternura, alimentada, vestida, banhada e embalada. Eram duas mulheres em uma só. Durante o dia, vestia a capa de executiva competente, a noite era entregue, submissa e feliz...

"- Como você sabia? Como sabia que eu ia me entregar a você como me entreguei? 

- Eu me vi em você."

O filme é bem mais romantizado, mas no livro é possível perceber traços de patologia na relação dos protagonistas. Até que ponto pode chegar uma paixão avassaladora e o quanto ela mexe com nosso psicológico e com nossas decisões? Em suma, é um livro a ser saboreado de maneira extasiante, mas com um toque de reflexão acerca das interações humanas mais profundas... 


Deixo com vocês um clipe da música-tema. Sintam-se embalados com essa música ao lerem 9 e 1/2 Semanas de amor... Há quem prefira o livro e deteste o filme, há o inverso... me deleitei com ambos... 








terça-feira, outubro 28, 2014

V Roda de Leitura Paudalho - PE



Olá, pessoal. E vamos a mais um post sobre a última Roda de Leitura que houve aqui em Paudalho. Sei que ando bem ausente daqui, mas pc está com problemas e dá até desânimo postar enquanto ele está assim.. Mas aos poucos, tudo vai normalizando... 
Bem, a temática de outubro foi literatura de horror. Trabalhamos algumas obras em específico, como The Walking Dead e Stephen King, mas deixamos a discussão bem diversificada. O pessoal curtiu bastante essa quinta edição, tivemos gente novata e que nos próximos eventos já marcaram presença.
Depois do debate, sorteamos uns livros, fizemos competição, teve 'teatro' de The Walking Dead e a diversão foi garantida a tarde inteira. O evento foi no dia 19 deste mês...



E os organizadores ganharam mais um membro, Alisson. Infelizmente, dois deles não puderam comparecer neste dia, mas os demais estavam lá segurando 'a onda' hehe...

Alisson, Carlos, Natália, eu, Danilo e Douglas [DH]


Estreamos também o banner oficial do evento, e ele teve a aprovação de todos. Queria agradecer aos meus amigos por terem me ajudado com a idéia, e em especial a Diego, que fez tudo no Photoshop. 
Se quiserem conferir mais detalhes sobre o encontro, acesse a FanPage do evento no Facebook. Em breve, postarei todas as photos por lá... 


debate
alguns dos participantes dessa edição...
A edição VI já tem data marcada: 23 de novembro, na Praça do Rosário, e o tema discutido será o primeiro livro de As crônicas de Nárnia: O leão, a feiticeira e o guarda-roupa, bem como sua versão cinematográfica... Quem quiser participar, pode comparecer. 





Então é isso. Espero que tenham gostado. E prometo não demorar muitos dias pra voltar aqui... Abração a todos...
hora de Quiz...

Débora, uma das ganhadoras...
um dos livros sorteados antes de ir pra mão do ganhador...

quinta-feira, outubro 23, 2014

Ode aos livros em estampas de camisa...

Quem aqui não curte umas estampas de camisa lindas, criativas e originais, deixando sua personalidade mais autêntica? Pensando nisso, resolvi preparar este post pra vocês com estampas de camisas em homenagem a livros. Nada como unir o útil ao agradável. Então vamos lá...


Amei essa camisa de Lolita, do autor Vladimir Nabokov.


 Essa de 1984, obra maravilhosa de George Orwell não poderia ficar de fora...



Ainda de Orwell, uma pequena ode ao livro A revolução dos bichos... 



Aos fãs de O senhor das moscas, eis uma ótima opção de estampa...


Lindíssima essa camisa de Laranja mecânica, de Anthony Burgess...


 Adorei essa camisa com estampa de Outsiders - Vidas sem rumo. Gostei tanto que em breve farei uma pra mim, pois sou apaixonada por essa obra de Susan E. Hinton...




E pra fechar o post com chave de ouro, eis a primeira estampa [de muitas que ainda farei] que mandei fazer recentemente... 


Fiquei apaixonada por essa imagem assim que vi pela internet e resolvi estampá-la em uma camisa... O que acharam? Já leram Admirável Mundo novo, de Aldous Huxley?



Por hoje é só, até breve... ;) 

quarta-feira, outubro 22, 2014

Coleção Histórica Marvel: Os X-Men Vol. 4

Encerrando A Coleção Histórica Marvel, eis que trago as minhas impressões dessa última edição de Os X-Men enfrentando o grupo dos Vingadores. De antemão, a 4ª edição foi a mais fraquinha pra mim, mas não é ruim de forma alguma, só não achei que foi tão legal como as edições anteriores... Mas é super válida a leitura do quadrinho... 

Na primeira história, temos um encontro de Anjo com o Homem de ferro, logo na segunda história os heróis enfrentam a ameaça de Lúcifer, que quer a todo custo destruir o Professor Xavier. Mas os alunos dedicados do mestre mutante não vão permitir que isso aconteça... E nesse episódio, os heróis Vingadores acabam 'metendo o bedelho' e ajudando os alunos da Mansão X...

Lorna e Alex fazem sua aparição na terceira história, dando brecha para os ciúmes de Bob - Homem de gelo, que não sai de perto de sua amada... Xavier está em coma, e os X-Men precisam trazê-lo de volta antes que ele morra, e vão contar com a 'ajuda' de ninguém menos que o 'pistache valentão' Hulk... O problema será enfrentar a fera verde... 

Magneto dá o ar da graça novamente, maltratando seus subordinados [pra variar] e seu plano é jogar os x-Men contra Os vingadores, a fim de que se destruam, pois ambos os grupos são seus inimigos... Mas tanta sede de vingança acaba prejudicando nosso vilão... 

Há vários outros confrontos desses grupos de heróis e em um deles surge Vampira, Mística e até o Demolidor tem sua participação. São 164 páginas com a melhor compilação que poderiam ter feito sobre o encontro dos X-Men com o grupo de Thor... Para os fãs dos quadrinhos clássicos, é uma boa pedida... 

Consegui completar minha coleção sem problemas e vocês podem conferir na imagem abaixo como ficaram na estante... A caixa vem com a primeira edição e assim que montei, guardei as quatro edições dentro... 

Em suma, a essa edição com os vingadores, dei três estrelas. Gostei mais das outras mas não poderia deixar de ter minha coleção completa... 




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sexta-feira, outubro 17, 2014

Escritores também foram crianças...

Bem, comemoramos em outubro o dia do Escritor no dia 13. E sabemos que um dia antes é dia das crianças, então resolvi trazer para vocês alguns dos meus escritores favoritos quando ainda eram pequenos. Espero que gostem da seleção...

Oscar Wilde
Autor de uma de minhas obras preferidas, O retrato de Dorian Gray, não poderia deixar de citá-lo aqui. Ele parecia uma menininha...


A Rainha do Crime Agatha Christie também não poderia deixar de aparecer neste post. Ela era uma gracinha, não acham?


 Meu adorado Franz Kafka, que viria a se tornar famoso graças a sua obra-prima A metamorfose. Sem dúvida, é um dos meus autores preferidos.


Anne Frank pode ser considerada uma escritora criança, pois seu único livro, O diário de Anne Frank foi escrito quando era uma menina, e ela não chegou a ver seu diário publicado, por ter morrido num campo de concentração nazista. Um livro que chocou e encantou o mundo. Não dava pra deixar a pequena Anne fora deste post... 



A tão séria Clarice Lispector é outra a quem devo uma postagem aqui no blog. Nascida na Ucrânia, veio ao Brasil ainda pequena e naturalizou-se aqui. Uma de suas obras mais conhecidas é A hora da estrela. 


 Vejam como o autor de On the Road era um fofo quando pequeno. Jack Kerouac ficou conhecido como o criador da geração beat, e eu sou completamente apaixonada por seus livros. Queria um Jack lindo desses pra mim. *risos*



O meu querido velho Buk já foi novinho. Charles Bukowski, conhecido por sua escrita suja e grotesca foi uma criança muito fofinha também, não acham? Pena que quando cresceu ficou feiosinho, mas o seu talento é indiscutível. Apesar de não ter possuído uma beleza notável era um tremendo 'pegador', tendo uma vida repleta de mulheres, álcool e corridas de cavalos... 



Bem, espero que tenham curtido o post. Até a próxima...

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Jack Kerouac



quarta-feira, outubro 15, 2014

15 de Outubro - Dia do Professor

Bem, sei que ando sumida do blog mas estou com uns probleminhas no pc, por isso não estou postando como queria, mas não posso deixar passar em branco o dia do Professor, sendo eu mesma professora. Então, deixo com essa tirinha de Snoopy, publicada pela L&PM Editores minha singela homenagem a todos os colegas de profissão. 





Uma graça, não é? Em breve apareço aqui novamente. Beijos a todos...

sábado, outubro 11, 2014

Livros que comprei em Setembro/2014

Nem vou tentar remediar, mas a verdade é que o desafio de não comprar tantos livros foi 'pras cucuias' há tempos. Seguindo a linha de compras do mês passado, também exagerei esse mês. Foram 23 títulos ao todo. A lista:

  1. A maldição do espelho - Agatha Christie [3 estrelas]
  2. O mistério do trem azul - Agatha Christie [não li ainda]
  3. Um pressentimento Funesto - Agatha Christie [não li ainda]
  4. A duquesa de Langeais - Honoré de Balzac [não li ainda]
  5. Um estudo em vermelho - Conan Doyle [5 estrelas]
  6. O meu pé de laranja lima - José Mauro de Vasconcelos [5 estrelas]
  7. Trem-Bala - Martha Medeiros [3 estrelas]
  8. Histórias Completas - Machado de Assis [não li ainda]
  9. Prometeu Acorrentado - Ésquilo [5 estrelas]
  10. Histórias de robôs vol. 3 - Isaac Asimov [não li ainda]
  11. Mississippi em chamas - Joel Norst [5 estrelas]
  12. Moll Flanders - Daniel Defoe [não li ainda]
  13. A idade da razão - Sartre [não li ainda]
  14. As vinhas da Ira - John Steinbeck [não li ainda]
  15. O egípcio - Mika Waltari [lendo]
  16. A casa - André Vianco [5 estrelas]
  17. Eu gosto de uma coisa errada - Pedro Doria [3 estrelas]
  18. Lord Jim - Joseph Conrad [não li ainda]
  19. A volta ao mundo em oitenta dias - Júlio Verne [4 estrelas]
  20. As aventuras de Tom Sawyer - Mark Twain [não li ainda]
  21. Édipo Rei - Sófocles [5 estrelas]
  22. Grandes Batalhas - Termópilas 480 a.C. - A resistência dos 300 - John Warry
  23. Grandes Batalhas - As campanhas de Alexandre 334-323 a.C. - Alexandre conquista a Ásia - John Warry


A primeira visita ao sebo me rendeu edições de Agatha Christie, Conan Doyle, Balzac e o já resenhado aqui no blog O meu pé de laranja lima, uma das melhores leituras da vida. Trem-bala foi comprado na banca de revistas...


Comprei algumas edições de um amigo, entre eles meu segundo livro de André Vianco e um livro que fala sobre sexualidade nas redes sociais. Bem interessante a leitura... 


Além deles, trouxe pra casa meu primeiro Asimov [que espero gostar], meu primeiro Sartre, mais um de Daniel Defoe e Joseph Conrad e O egípcio [leitura atual], pois gostei do filme e o livro é um clássico. Me custou apenas 5 reais... As vinhas da ira foi uma recomendação de minha querida e saudosa Eni, e preciso da edição 1, porque essa minha é a número 2. Mississippi em chamas eu já tinha lido e acabei convencendo meu amigo a me vender, pretendo resenhá-lo aqui qualquer dia desses... 


Prometeu Acorrentado e Histórias sem data foram comprados de uma amiga minha, Bia. Prometeu já foi lido em meus tempos de faculdade, o de Machado será lido assim que bater a vontade... 




Passando no sebo em outra semana, consegui me controlar e comprei apenas três livros. Eu já tinha A volta ao mundo em oitenta dias mas peguei a edição que tinha e doei para sortear na Roda de Leitura, ficando com essa de bolso da L&PM Editores pra mim... 



Na reta final de setembro, passei na banca de revistas e comprei esses dois que estavam por 15 reais na promoção. Não resisti... 

Bem, foram essas as minhas aquisições. Já leram algum desses? Me falem nos comentários. ;D
Beijos e até a próxima comprinha do mês...




Faltam dois na pilha, esqueci e só lembrei depois de ter guardado todos na estante. 


sexta-feira, outubro 10, 2014

A morte de Ivan Ilitch, de Léon Tolstói





- "Assim como a dor piora cada vez mais, minha vida toda foi progressivamente piorando. Há um ponto de luz, lá longe, no início da vida, mas, depois disso, tudo foi ficando cada vez mais negro e afastando-se cada vez mais, em proporção inversa à distância que me separa da morte, pensou Ivan Ilitch. E a imagem de uma pedra caindo em velocidade crescente tomou conta de sua mente. A vida, uma série de sofrimentos cada vez maiores, acelera rapidamente para o final e este final é o sofrimento mais terrível. "Eu estou caindo..."." 

A morte de Ivan Ilitch, Tolstói.



Considerada por muitos como a novela mais perfeita da literatura mundia, A morte de Ivan Ilitch fala sobre a vida insossa de um burocrata russo, que em busca de viver de forma correta e perfeita, de acordo com as convenções sociais é acometido de uma enfermidade que o leva à morte. O livro narra a trajetória de Ivan desde seu último suspiro.

Decerto um dos melhores livros que tive o prazer de conhecer esse ano, A morte de Ivan Ilitch traz críticas à sociedade do século XIX, em que as pessoas buscavam viver da maneira como a sociedade impunha, mesmo que pra isso suas próprias convicções e felicidade fossem para o ralo. A começar pelo enterro de Ivan, pessoas que se diziam suas amigas em vida pensavam em como lidar com o enfastioso ritual fúnebre e todas as suas etapas obrigatórias de prestar pêsames à viúva, velar o morto e seguir no cortejo até o cemitério.

"Agora era ele quem tinha de morrer. Comigo vai ser diferente - eu estou vivo", pensava cada um deles, enquanto as pessoas mais próximas, os assim chamados amigos, lembravam que agora teriam de cumprir todos aqueles cansativos rituais que exigiam as normas de bom comportamento, assistindo ao funeral e fazendo uma visita de condolências para a viúva." 

Mas quem foi Ivan Ilitch? Outrora um membro do Tribunal de Justiça, filho de um oficial em Petersburgo, conselheiro de um membro de uma instituição qualquer, dessas que nada servem a não ser para pagar salários nada supérfluos para pessoas supérfluas que mantinham além do cargo supérfluo e alto uma grande patente de status na sociedade. Ivan e seus 'amigos' eram homens da nata, detentores de títulos vazios que os envolviam em reuniões com outros de sua espécie e suas damas pavoneadas, em festas e banquetes regadas a futilidade e fofocas sobre o mais recente escândalo do momento.

Percebe-se uma ironia refinada na escrita de Leon Tolstói, gênio e autor dessa grande obra. Ele discorre sobre o cotidiano insosso da sociedade russa daquele período, do qual ele próprio fez parte. Mas, voltando a Ivan: era o filho do meio, seu irmão mais novo era dado à jogatina, o mais velho já seguiria os passos do pai, de não fazer nada e ganhar o suficiente por isso para bancar uma vida de estabilidade. Ivan não possuía a rebeldia do caçula, tampouco a formalidade do primogênito. Educado para o Direito, acabou sendo ajudado pelo pai para ocupar o cargo de secretário particular do governador e depois de juntar seus pertences, se mudou para uma província.

Ivan seguia a vida sem dificuldades, cumprindo suas obrigações, avançando na carreira e gozando de um alto padrão social. Teve algumas mulheres na vida, mas veio a casar com uma que assegurasse um bom casamento, mesmo sem amor ou afinidades. Subindo cargo a cargo, mudando-se com freqüência, Ivan levava a vida de forma medíocre, na realidade. À vista de todos, tinha uma estrutura perfeita e adequada, mas será que era o suficiente viver nesses moldes e ser feliz?

Seu modo de vida era respeitável e aprovado pela sociedade. Para ele isso bastava. A esposa organizava a cama, a casa, lhe deu prole, de acordo com o que o senso comum exigia. Mas Ivan gostaria de inovar um pouco trazendo para sua casa coisas que pareciam originais e únicos, mas que o tornavam apenas mais do mesmo. Na sua tentativa de manter as aparências de refinamento tão cobiçados pela elite, enfeitava sua residência de forma que ela ficasse original, mas no fim acabava sendo mais uma das tantas casas de ricos e falsos ricos, que pretendiam mostrar uma imagem que não correspondia a realidade, na maioria das vezes.

"O maior prazer de Ivan Ilitch era dar pequenos jantares, para os quais convidava pessoas de boa posição social e, assim como sua sala de visitas parecia-se com todas as outras, também suas agradáveis festinhas nada tinham de originais." 
Quando ele se dá por doente, logo sua vida vai declinando e se esvaindo. Buscava com amigos médicos alguma informação sobre sua enfermidade [nunca definida], e a medida que o tempo passa, ele piora. Cai acamado, e daí para a morte é apenas um passo... E o tempo que lhe resta passado na cama é que faz com que Ivan finalmente perceba o quão medíocre foi sua vida. Ele entra numa espécie de reflexão sobre suas convicções, seus planejamentos, e o desespero toma conta dele. Ele não aceita que está morrendo. E se sente amargurado em ver que a vida dos outros está normal, ninguém tem pena de sua condição e isso o deixa ainda pior.

"Morte. Sim, morte. E nenhum deles entende, ou quer entender. E não sentem pena nenhuma de mim. Estão todos se divertindo." (Podia ouvir, mesmo com a porta fechada, distante, a cadência de uma música e seu acompanhamento.) "Eles não se importam. No entanto eles também vão morrer. Idiotas! A única diferença é que acontecerá um pouquinho mais cedo pra mim e um pouquinho mais tarde para eles. Só isso. Mas a vez deles vai chegar. Agora, porém, estão se divertindo. Insensíveis!" A raiva cortava-lhe a respiração. Sentia-se insuportavelmente infeliz. "Não pode ser que todos os homens sejam sempre condenados a passar por esse horror!". 

E a cada semana, Ivan percebia que os parentes, empregados e amigos ficavam numa torcida silenciosa, de que ele morresse de uma vez e os poupasse de suportar mais aquilo. Injeções de morfina para aliviar suas dores não eram suficientes. Dormia pouco. Um de seus empregados, bastante leal, o ajudava em situações que beiravam o constrangimento, pois Ivan se sentia humilhado de precisar de alguém para ajudá-lo nas necessidades humanas mais básicas. Mas Gerassim nunca reclamava e não abandonou seu patrão em momento algum.

A lembrança de dias felizes se encontrava na primeira infância. Mas quando Ivan olhava pra trás, a vida de adulto já não lhe parecia agradável e perfeita como julgava na época vivida. Seus momentos finais foram dolorosos, Ivan gritou por três dias antes de expirar. E no final, ele sentiu pena de sua família, e viu que deveria mesmo partir, a fim de acabar com aquilo, e também com sua dor... E no fim, ele já não temia a morte, e pôde enfim, compreender a vida...


domingo, outubro 05, 2014

IV Roda de Leitura em Paudalho - PE

Dia 28 de setembro ocorreu a quarta edição da Roda de Leitura aqui em Paudalho. Confesso que dessa vez tivemos alguns imprevistos e tivemos que mudar o local de última hora, mas foi uma tarde maravilhosa e cheia de livros para sortear entre os participantes. 


Discutimos dessa vez o primeiro livro da série Percy Jackson, O ladrão de raios, e a interação do pessoal esquentou quando os dividimos em duas equipes para participar de um Quiz sobre a obra valendo prêmios, que iam de kits de marcadores e livros, claro. .-.




Confiram abaixo as photos de alguns dos sorteados. Teve gente que ganhou no sorteio de etapa [por equipe vencedora] e no sorteio geral. Alguns não levaram prêmios para casa, mas ganharam marcadores que eu e Nathy confeccionamos. 


Teve quadrinho sorteado também, e o prêmio final da disputa foi um DVD do filme Percy Jackson. 


Gostaria de agradecer às pessoas que ajudaram na divulgação do evento, desde compartilhamentos no Facebook até o famoso 'boca-a-boca' aqui da cidade. Meu amigo Danilo imprimiu uns folhetos de divulgação que deixamos em alguns pontos da cidade. Gostaria de agradecer também às pessoas que doaram livros para serem sorteados, e minha amiga Cecy que doou o DVD original do filme. 



Se você quiser enviar alguma doação, seja ela de marcadores, livros, livretos, chaveiros, bottons ou qualquer coisa relacionada ao universo literário, envie um e-mail para mim ou mande mensagem na Caixa de Contato aqui do blog, ou me contacte pelo Facebook. Podem ser livros usados também. 

Incentivando meu sobrinho à leitura desde cedo...
E o próximo encontro já tem data marcada. Será no dia 19 de outubro, e em homenagem ao Halloween a temática escolhida foi literatura de horror, em livros e/ou quadrinhos.

parte da organização na mesma photo...

Selfie no fim do encontro com alguns dos participantes...

Para mais informações sobre a quinta edição, visite a página do Evento no Facebook.



sexta-feira, outubro 03, 2014

Crimes, espiões e show com travestis numa Cuba depravada: Nosso GG em Havana

Bem, volto com mais uma obra de Pedro Juan Gutiérrez, mas dessa vez a trama é um pouco diferente da costumeira. Enquanto nos outros livros que já resenhei aqui e aqui conhecemos o cotidiano de Havana de uma forma meio autobiográfica, Nosso GG em Havana é uma prosa ficcional, mas com a essência da escrita de Gutiérrez em cada um de seus parágrafos...





"Assim brincaram mais um pouco. Para Caridad foi uma bobagem de meia hora por vinte dólares. A rotina diária com esses americanos. Branquelos estúpidos que não imaginam como é a vida e como é preciso lutar para não morrer de fome. Para GG foi a experiência mais forte de sua vida."






Publicado pela Editora Alfaguara, Nosso GG em Havana traz elementos de espionagem, sexo depravado [como não poderia deixar de ter] com seus travestis e prostitutas, e... um crime. Isso mesmo. Um assassinato em que o personagem que dá entrada no início do livro acaba se envolvendo... Na verdade, GG é um 'turista' que se sente surpreso quando, ao chegar ao hotel e dar seu sobrenome na recepção, o atendente diz que é fã de seus livros e pede um autógrafo. Greene acaba concedendo o pedido do atendente e recebe algumas regalias do hotel. À noite, parte em busca de diversão e vai até um bar, onde o barman [que pelas características, suponho ser inspirado no autor] sugere que ele procure um local chamado Teatro Shangai, no bairro chinês. Greene parte pra lá e encontra um lugar cheio de homens loucos por uma noite nos braços de alguém, muita sacanagem e bolinagens no escuro da platéia. Após a apresentação de Madame Vishnu, uma senhora de uns sessenta anos, vem a atração principal da noite: o Super-homem. Ele tem um órgão gigantesco e a platéia se vê extasiada quando recebe no rosto a 'chuva láctea' [sim, é aquilo mesmo que você está pensando...].

GG fica curioso e atraído por aquele negro forte e viril e vai até seu camarim. O resto da noite, você pode imaginar no que deu... No dia seguinte, ele vai novamente ao encontro do Super-Homem, ou Caridad, como é mais conhecido. E de repente, eles encontram um corpo no camarim do artista...

"Deve ser paranóico viver assim. Um pouco homem e um pouco mulher... ou talvez... talvez seja a perfeição... Viver no meio do caminho".

Nesse ínterim, nos deparamos com Graham Greene em sua residência numa ilha italiana, que recebe um telefonema dizendo que ele se encontrava preso em Havana, suspeito por assassinato... Viajando para a ilha cubana, GG, o verdadeiro escritor de "O americano tranquilo" descobre que alguém tomou seu nome e acabou preso. Mas os problemas dele ainda vão piorar quando o FBI o procura para dizer que ele se encontra em perigo naquela ilha, gangsteres caçadores de nazistas oferecem uma proposta dele escrever um livro sobre eles, a KGB o ameaça para que ele vire agente duplo e ele se vê perdido e sozinho numa cidade sem lei, conhecida pelo mundo além-ilha como 'o paraíso do Caribe'... Mesmo em meio a essa confusão, ele quer conhecer o 'impostor' que foi preso com seu nome e descobrir o motivo daquilo... 

Gutiérrez possui uma narrativa deliciosa, que enlaça o leitor na trama de maneira frenética. Os capítulos do livro são curtos, dando essa impressão de 'preciso ler o próximo pra saber no que vai dar isso'. Com menos de 130 páginas, o autor tece uma trama ágil, entremeada com cenas de sexo, apostas em corridas de cavalos e conversas de bar. Tudo isso situado na estrelada capital cubana, mais precisamente no submundo das relações humanas, em contraste com ambientes de luxo. Bebidas, sexo, mulheres, noites quentes caribenhas e becos escuros em ruas esquisitas compõem o cenário dessa história... 

Recomendado para aqueles que buscam uma leitura despretensiosa nas horas vagas, e não desmerecida por tal despretensão... 

Pedro Juan Gutiérrez, seu lindo

quinta-feira, outubro 02, 2014

Uma biblioteca dentro de uma maçã Parte #5, Evento de Três contra Todos

Bem, estou eu aqui novamente com mais uma etapa do Desafio Literário Uma biblioteca dentro de uma maçã. Consegui cumprir até agora, o último livro sorteado foi A filha do louco. Agora em outubro, mais um livro nacional foi sorteado, e o título que terei o mês de outubro inteiro para ler é Inocência, de Visconde de Taunay. Mais uma de minhas aquisições de Bienal, essa obra foi comprada por apenas R$2,50, no dia 02 de outubro de 2011. Coincidência ele ter sido sorteado no mesmo mês em que comprei, há três anos...



Continuando o post, quero deixar divulgado aqui um evento que será realizado em Porto Alegre, no dia 10 de outubro, com o autor parceiro Deco Rodrigues. Trata-se de um bate-papo falando sobre o livro Três contra Todos e está em pauta também o Poliamor, temática abordada no livro. Então, se você é de Porto Alegre, não custa dar uma conferida, não é? Gostaria muito de estar presente, mas milhares de quilômetros me impedem disso... Será às 19:00 na livraria Sapere Aude! Livros.
Mais informações, consulte a Página do Evento no Facebook. 




quarta-feira, outubro 01, 2014

O meu pé de laranja lima - José Mauro de Vasconcelos

E na reta final do mês de setembro, eu achava que não leria uma obra melhor que A morte de Ivan Ilitch, um clássico russo de Tolstói, que li no começo do mês. Mas aí me veio a vontade de pegar o recém-adquirido O meu pé de laranja lima, de José Mauro de Vasconcelos, comprado em um sebo por apenas cinco reais. Sabia que tinha uma adaptação em filme, novela de televisão, mas não fazia idéia do que tratava a história. 

Então resolvi conhecer as aventuras que o pequeno Zezé, de apenas 5 anos quis me mostrar... Zezé é um menino muito traquina, que volta e meia leva uma sova pelas suas peraltices. De família muito pobre, ele tem uma irmã que sempre o protege das surras, Glória, seu pai está desempregado e sua mãe trabalha o dia inteiro numa fábrica, como operária. Numa noite de natal, Zezé fica triste porque não ganha nem um presentinho, mas como a família é pobre demais, não poderia comprar nada pra ele nem para seus irmãos. Ele tem um irmão caçula chamado Luís, a quem chama de rei, pois ele tem nome de um rei. 

Por ser muito travesso e esperto, Zezé acaba aprendendo a ler muito rápido, sem a ajuda de ninguém. Seu tio Edmundo acha que ele deveria estar na escola, então a família o matricula como se ele tivesse seis anos. Na escola, ele tem afeição por dona Cecília, sua professora, que gosta do menino mesmo sabendo que em casa ele é um pestinha. A rua onde Zezé mora conhece sua fama de menino que apronta todas, e quando sua família muda de uma rua pra outra, ele ganha uma árvore no quintal, um pé de laranja lima. No começo ele não gosta muito da árvore, mas logo vê nela um amigo, e lhe dá o nome de Minguinho. Os animais do quintal ganham nomes, e Zezé fantasia várias aventuras com amigos imaginários e seu pé de laranja. 


Numa de suas tantas traquinagens, leva umas palmadas de Manuel Valadares, um portuga do bairro. Mas o destino brinca com Zezé e eles se tornam muito amigos, mas por vergonha de ter apanhado dele não conta pra ninguém sobre essa amizade. O portuga tem muito amor pelo menino, e volta e meia o leva pra comer um lanche e passear em seu carro. Além desse amigo, temos o Seu Ariovaldo, que sai com Zezé pra cantar na rua e ganhar uns trocados. Zezé também engraxa sapatos para ajudar na renda da família. Pela pobreza de seus pais, o menino se lamenta bastante por não poder ganhar um presente de natal, e acha que é porque não se comporta durante o ano, e sendo assim, Deus lhe castiga. 

A inteligência de Zezé é acompanhada de extrema curiosidade das coisas do mundo. Sua inocência em meio a um ambiente adulto sofrido e cheio de problemas, em que ele vive apanhando por ter aprontado alguma me cativou de forma impressionante. Em um dos trechos [que logo identifiquei como um dos textos que li na infância nos livros didáticos de português] foi quando a professora de Zezé descobre que as flores que ele levava para ela eram roubadas. Com muita naturalidade ele confessa que realmente furtava as flores, e com a mesma naturalidade explica o porquê. Ele é tão 'puro', apesar de travesso, que não percebe que roubar é um ato feio em si, seja lá de que forma for. A professora diz pra ele que se ele não roubar mais, ela vai fingir que sempre haverá uma flor no vaso, mesmo não havendo nenhuma. E ela diz pra ele que aquela rosa será a mais linda do mundo pra ela. Isso deixa o menino satisfeito.

Outro ponto que me deixou com um nó na garganta foi quando ele fala para a própria mãe, depois de uma surra que o deixou todo machucado, que não deveria ter nascido porque é uma criança ruim. Na mente dele, ele é uma pessoa ruim e por esse motivo é que apanha tanto. Numa das queixas que faz ao seu amigo Portuga, ele se despede dele, dizendo que essa última surra que levou foi injusta demais, porque ele vinha se comportando. Com raiva de seu pai ele resolve matá-lo [como havia dito sobre o portuga quando ainda eram 'inimigos']. 

"Matar não quer dizer a gente pegar o revólver de Buck Jones e fazer bum! Não é isso. A gente mata no coração. Vai deixando de querer bem. E um dia a pessoa morreu." [Buck Jones é um de seus personagens nas brincadeiras pelo quintal de casa]

Logo depois, em um dos trechos mais tocantes:

Eu vim dizer adeus para você.

- Adeus?

- Sério. Você vê, eu não presto para nada, estou cansado de sofrer pancada e puxões de orelha. Vou deixar de ser uma boca a mais...
Comecei a sentir um nó doloroso na garganta. Precisava muito de coragem para contar o resto.
- Vais fugir então?
- Não. Eu passei essa semana toda pensando nisso. Hoje de noite eu vou me atirar debaixo do Mangaratiba..
Ele nem falou. Me apertou fortemente nos braços e me confortou do jeito que só ele sabia fazer." 

Esse diálogo é com Manuel Valadares, o Portuga. E o Mangaratiba é um trem que passa pelo bairro. E Zezé tem apenas SEIS anos. Notaram o quão forte é a coisa?

Ele sente um apreço pelo Portuga que não tem pelo próprio pai, já que é um dos que vive lhe batendo. Em uma parte do livro, ele pede para que o Portuga lhe compre.

"Se não quiserem dar, você me compra. Papai está sem dinheiro nenhum. Garanto que ele me vende. Se pedir muito caro, você pode me comprar a prestações, do jeito que seu Jacob vende..." 

Para Zezé, as coisas podem ser resolvidas de maneira muito simples, sua alma de criança não enxerga maldade em suas soluções, como se fossem a coisa mais natural do mundo. Mas aí, ele recebe uma notícia terrível sobre o futuro do seu pé de laranja lima, e em cima disso, um golpe do destino faz com que ele deseje morrer, passando muito tempo numa cama, as pessoas creditam sua condição ao pé de laranja, sem nem desconfiar que ele sofre por seu amigo Portuga... 

Mas quis o destino que Zezé levantasse da cama, e vivesse...

"- Já cortaram, Papai, faz mais de uma semana que cortaram o meu pé de laranja lima." 

O pai não compreende a metáfora...

Anos já haviam passado, Zezé não mais imaginava sua árvore falando, nem seus animais conversando e brincando com ele. A inocência da criança fora perdida. Já adulto, ele relembra com saudade de seu amigo Portuga. A maior lição que seu amigo deixou, foi a ternura que o menino levado praticamente não teve em casa. E essa ternura, Zezé levaria para sempre no peito...