Bom dia, Sr. Mandela é a história de um homem pela perspectiva da autora, Zelda la Grange, que dedicou boa parte de sua vida ao seu lado, e teve sua vida transformada, graças aos seus ensinamentos e esforços para dar ao seu povo uma vida mais digna e sem segregação. Nelson Mandela foi presidente da África do Sul, passou quase trinta anos preso por lutar contra o regime do Apartheid, que inferiorizava os negros que viviam no país, os excluindo de lugares que apenas a população branca tinha acesso.
Zelda veio de uma dessas famílias que apoiavam o regime do Apartheid, por achar que os negros eram inferiores e consistiam num perigo para a população africâner. Em fins da década de 1980, quando ela teve conhecimento da existência desse senhor, mal sabia ela que ele entraria em sua vida de maneira tão profunda e cheia de reviravoltas. Zelda perdeu contato com amigos que - ao descobrirem que ela trabalhava para um negro, servindo-o - passaram a evitá-la. De início ela teve medo que ele e os demais negros do país fossem se vingar pelos muitos anos de segregação racial e intolerância à seus costumes.
Inicialmente, ela começa como datilógrafa no gabinete do presidente, e logo ganha um lugar especial no coração desse homem bondoso, justo e disciplinado, que procurava combater a fome e miséria de seu país, buscando com os ricos empresários e artistas várias contribuições para a construção de escolas e hospitais em lugares distantes em que a população não possuía tais direitos básicos assegurados. O contraste da África branca com a negra era alto [até hoje é] e Mandela - ou Madiba, como era chamado por Zelda - lutava para a melhoria de vida de seu povo.
Logo no início do livro, Zelda narra sua infância, desde o dia de seu nascimento - que coincidia com o dia em que Nelson Mandela ia para a prisão] até a adolescência, discorrendo sobre a política segregativa da época e seu envolvimento [quase nulo] com a política. Zelda era do tipo de pessoa que tinha uma opinião pré-concebida a partir do que os brancos divulgavam. Ela tinha pavor dos negros, apesar de ter uma empregada negra em casa. Para ela e sua família, a empregada era menos 'perigosa' que os demais de sua cor.
"As pessoas brancas e as negras era separadas; não era permitido se casar, ter amigos, fazer sexo ou viver nas mesmas cidades. Eram as normas da chamada "Lei de Áreas de Grupo" na África do Sul, uma tentativa de impedir que as pessoas se movimentassem livremente e levassem suas vidas dentro dos mesmos limites. Os negros não podiam andar nos mesmos ônibus nem nadar no mesmo mar que os brancos."
Apesar de não possuir ligações com a política do Apartheid, os pais de Zelda seguiam o regime. Eram uma família de classe média, branca, que apoiavam a Igreja e o governo de maneira exemplar para bons cidadãos africâneres. Os brancos não poderiam tocar em uma pessoa negra. A crença de sua família e de tantas outras era de que os negros eram sujos e possuíam o cheiro diferente. Zelda ainda conta que acredita que o racismo não é algo que vem de berço, e sim, que é enraizado na mentalidade humana devido à aculturação... Não poderia de forma alguma discordar dessa afirmação...
Ela fala da dificuldade de seus pais quando pequenos, de como os negros e indianos eram impossibilitados de votar. Aos poucos ela ia digerindo essas regras sociais e se questionava em alguns momentos sobre tudo aquilo...
Na segunda parte do livro, ela fala de quando Nelson Mandela foi solto e chegou à presidência, o fim do regime Apartheid e de como os brancos passaram a temer retaliações, agora que os negros estavam 'livres'. Ela estranhou quando Mandela não a dispensou do emprego por causa de sua cor. Com o passar dos anos, ela foi compreendendo as intenções daquele homem, e percebeu que tinha muito a aprender com ele, e sacrificar uma possível vida pessoal em prol de lealdade e dedicação para com seu presidente não a faria se arrepender.
Ela o seguia a todos os lugares, era seu braço direito em reuniões, palestras e viagens. Conheceu artistas, reis e figuras importantes da política mundial. Acompanhou de perto o casamento de Mandela com a Senhora Machel, moçambicana. Era seu segundo casamento, e ele não tinha uma relação muito próxima com seus filhos do primeiro casamento, que teve um rompimento difícil...
"Ele derrubava minhas defesas dia a dia, quebrando meus preconceitos e as camadas de apartheid que haviam crescido sobre mim, do mesmo modo como cinzelava o calcário enquanto esteve preso na Ilha Robben."
Mesmo quando Madiba se aposentou e outro homem assumiu o poder do país, sua influência a nível global contribuiu para continuar na luta em prol dos menos afortunados. De todos os lugares chegavam pedidos de ajuda e assistência. As pessoas o abordavam onde quer que fosse a fim de pegar um autógrafo ou até mesmo apertar sua mão. Zeldina, como Mandela a chamava, tinha sérias dificuldades em evitar tumultos nessas saídas de Mandela a locais públicos...
Ela conta de seus hábitos simples e manias, e a medida em que ele vai envelhecendo, o laço entre os dois só aumenta e é com pesar que chega o momento de se despedir para sempre de seu 'Khulu'... Confesso que fiquei indignada nas últimas partes do livro, em que a família dele a tratou mal, excluindo Zelda e a senhora Machel dos momentos finais com Madiba...
Eu poderia me estender sobre a obra mas não caberia numa resenha citar os pontos mais cruciais da vida de Mandela ou dos trechos que me fizeram chorar, mas o que posso falar é que Bom dia, Sr. Mandela é uma obra que fala sobre lealdade, transformação, dedicação e dogmas quebrados... Sem sombra de dúvidas, uma leitura rica e fascinante, que vai trazer ao leitor importantes lições para a vida inteira... Nelson Mandela foi um grande exemplo, imortalizado na escrita de Zelda la Grange, e - principalmente - em suas boas ações pelo mundo...