domingo, agosto 30, 2015

Flicts - Ziraldo



Trago para vocês a resenha de um livrinho infantil que li há muitos anos e recentemente tive o prazer de refazer a leitura dele... Trata-se de Flicts, do nosso autor Ziraldo, mais conhecido pelo personagem O menino maluquinho...




Flicts não tem nada a ver com o menino de panela na cabeça e sorriso faltando dentes. Flicts é uma cor... Mas você já notou Flicts na caixa de lápis de colorir? Já notou Flicts na natureza? Não? Pois é. Muitos não notavam Flicts. E Flicts se sentia muito triste, isolada pelas outras cores, pelas bandeiras, pela natureza... Parecia não haver lugar para a pobre Flicts na terra... 




Por ser um livro infantil e de ter poucas páginas, é meio difícil resenhar tão breve obra, mas ela traz uma reflexão intensa ao leitor de percepção mais apurada: a criança. Talvez a criança que leu anos atrás não tenha notado a moral da história, mas sentiu o peso da rejeição da sociedade como a pobre Flicts. E hoje, a adulta que o releu, se sente capaz de mostrar a outros o quanto Flicts poderia ser você, alguém que você conhece ou ouviu falar... Flicts pode ser qualquer um, que não se encaixe na sociedade, que não se encontre em lugar algum... Mas sempre haverá um espaço para Flicts, mesmo que não seja numa caixa de lápis de cor...



Flicts queria estar presente no arco-íris. As outras cores não deixaram. Flicts quis colorir alguma bandeira, afinal, tem tantos países com seus brasões no mundo. Ninguém a quis... Mas afinal, houve um lugar longínquo para Flicts...




A edição que li foi publicada em 1986, pela Editora Melhoramentos. São apenas 48 páginas, que podem ser lidas em poucos minutos, mas vão marcar o leitor por toda uma existência... 

sábado, agosto 29, 2015

Parceria - Leonardo Nóbrega

Olá, leitores queridos. Venho através deste post anunciar parceria com o autor de Crimes do Tarô e Outros Tempos, Leonardo Nóbrega. Estou muito feliz por ter sido escolhida por ele e em breve trarei resenha de Crimes do Tarô para vocês. O autor enviou alguns marcadores autografados [em breve farei sorteio] e um exemplar do livro. Estou ansiosa para fazer a leitura, que estou quase passando à frente de umas outras... 

Conheçam um pouco de Leonardo. 

Nascido em 1960, natural de Fortaleza - CE, é o quinto de seis filhos. Cresceu no seio de uma família de leitores e desde pequeno teve contato com livros de diversos gêneros. Além de pai, marido e filho, ainda é professor, geógrafo, psicanalista e escritor.


Então é isso, quem quiser mais informações sobre a obra dele, pode adicionar os livros na estante do Skoob e visitar a página no Facebook. Até a próxima postagem... ;*

sexta-feira, agosto 28, 2015

Minha 6ª Tattoo - Símbolo do Clã Lasombra

Fazia um bom tempo que eu não atualizava essa coluna e resolvi trazer pra você a história de mais uma de minhas tatuagens. Bem, dessa vez falarei da sexta a ser feita, no dia 28 de setembro de 2010. Foi no mesmo dia em que fiz a egípcia no braço e o Carpe Noctem, já falados aqui e aqui...


coroa no tornozelo esquerdo...

Essa coroa é o símbolo do Clã Lasombra, um dos grupos de vampiros que compõem o universo Storyteller, de RPG. Comecei a jogar RPG [Role Playing Game - Jogo de Interpretação de Personagem] em meados de 2003. Existem vários sistemas de jogo, de fantasia medieval a futuristas punk ou de temática policial. Ingressei com o suplemento Vampiro: A máscara, jogando com um clã chamado Tremere. Seriam uma espécie de vampiros que mexiam com ocultismo, e minha personagem era uma sombria bibliotecária... :v

Vampira Lasombra

Mas, apesar de não ter iniciado com uma personagem Lasombra, por ser um clã pertencente ao Sabá, e a campanha era com vampiros da Camarilla [daí a escolha Tremere], quem mais me chamou atenção na hora de montar personagens foram os vampiros que manipulam as sombras ao seu redor e todo o contexto apresentando a espécie...

Bem, não vou me estender falando sobre o que é RPG, como funciona a jogabilidade e afins, pois renderia um post apropriado [penso em fazer futuramente], mas o fato é que decidi tatuar o símbolo de meu clã preferido, pois foi uma época importante em minha vida, quando eu jogava com amigos, e tenho lembranças boas desse período. Me diverti, aprendi algumas coisas lendo vários livros do jogo, me aprofundei em literatura de horror e sobrenatural, minha paixão por vampiros aumentou, enfim...  foi uma etapa importante da minha vida e que resolvi simbolizar em minha pele, em forma de tatuagem...

Apesar de ser um desenho simples e pequeno, tem muito significado pra mim, e é mais um pedacinho da minha pele que ganhou minha estima...



Para saber mais a respeito do Clã Lasombra, você pode clicar na página do Wikipedia e conhecer a história desses vampiros, sua organização, e daí adentrar ainda mais no universo do RPG... 


Me conte nos comentários se já jogou, se já ouviu falar, se deu interesse em jogar a partir desse post, enfim... 


Até o próximo post sobre minhas queridas tattoos...


quarta-feira, agosto 26, 2015

Teus pés toco na sombra e outros poemas inéditos...


Recebi o livro Teus pés toco na sombra e outros poemas inéditos como cortesia da José Olympio Editora e confesso que é difícil pôr em palavras as sensações que os versos de Pablo Neruda me fazem sentir... Essa linda edição bilíngue traz uma coletânea de vinte e um apaixonantes poemas, que retratam o amor de maneira única, que só Pablito poderia descrever... 

"Matilde, com os beijos que aprendi de tua boca
meus lábios aprenderam a conhecer o fogo."

O livro é uma ode à sua terra, com versos profundos, pungentes, recobertos com uma 'casca' de saudosismo, orgulho e naturalismo, que fazem o leitor visualizar os detalhes contidos nas palavras do autor...

"Cordilheiras,
nevadas,
Andes
brancos,
paredes
de minha pátria,
quanto
silêncio
rodeia
a vontade, as lutas
de meu povo.
Acima as montanhas
prateadas,
embaixo o trovão verde
do oceano."

Neruda era um poeta a frente de seu tempo. Deixou inúmeros escritos, dentre eles os versos que compões este livro. A inspiração de Neruda o levou a escrever alguns deles inclusive em cardápios, e nós é quem nos banqueteamos com eles... Além de poemas de amor, encontramos poemas que exaltam sua pátria, poemas que falam de trabalho, cotidiano e críticas subjetivas. 

Ganhador do prêmio nobel de 1971, dois anos antes de sua morte, aos 69 anos, Pablo Neruda é um poeta que todos deveriam ler, pois a beleza que emprega nas palavras é tão profunda que enaltece nossos sentimentos mais modestos... 

Teus pés toco na sombra é um compilado de textos encontrados datilografados ou escritos à mão, datando de meados da década de 1950 até pouco antes de sua morte. Ao fim do livro, há um capítulo destinado à Notas sobre cada um dos poemas expostos ao longo da obra... E para o deleite final, as últimas páginas do livro trazem imagens dos textos originais, escritos à próprio punho do autor. 

"e caminho, cadencio meus passos por meu desvario"

Teus pés toco na sombra é uma leitura sensível, que desperta a alma de quem o lê de maneira apaixonante... Para ser sorvido aos poucos, como um bom vinho, lido em silêncio ou em voz alta, ou declamado para o vento de um fim de tarde... 

quarta-feira, agosto 19, 2015

Swing: Eu,Tu... Eles... Um estudo antropológico sobre a prática do Swing...

Escrito por Maria Silvério, Swing: Eu, Tu... Eles, publicado pela Chiado Editora aborda o 'universo' da prática de swing, de acordo com uma pesquisa realizada pela autora em clubes noturnos de Portugal, por meio de uma pesquisa de campo, depoimentos e muita observação do comportamento dos frequentadores destes locais e praticadores assíduos desse estilo de vida que é permeado de tabus e preconceitos...

Dividido em cinco partes, ela dá início à obra discorrendo sobre o início de sua pesquisa, quando precisou investigar os endereços desses locais na internet e sua dificuldade em consegui-lo, devido ao extremo sigilo desses ambientes em preservar a identidade de seus clientes/membros. Com a ajuda de seu namorado, ela consegue alguns contatos, através de poucas informações na internet e finalmente visita um desses locais. 



Ainda na parte inicial do livro, a antropóloga nos apresenta uma ideia do espaço físico de um clube de swing, o perfil dos membros e os valores que costumam pagar para entrar e usufruir do espaço, as investidas por telefone e pessoalmente pra conseguir escrever o trabalho, e algumas tentativas [frustradas] por parte de alguns indivíduos de convidá-la a participar das relações sexuais. Em momento algum ela foi para a parte prática da pesquisa, e teve receio de dizer seu propósito por medo que fechassem as portas para ela e os contatos que tinha conseguido se sentissem vigiados, usados ou coisa do tipo...

Silvério também nos apresenta as regras do swing, desmistificando alguns pré-conceitos formados  pela sociedade, que apontam a prática como algo completamente desorganizado e sem limites. Existe todo um conjunto de princípios a seguir para quem se aventura nesses clubes. O principal deles é saber ouvir um 'não' de algum casal ou single [solteiros que frequentam o ambiente], sem insistir na abordagem. Ela também fala sobre a prática aqui no Brasil, fazendo vários comparativos entre os dois países, e conhecemos as diferenças entre os espaços físicos e casais adeptos daqui e de Portugal. 

Uma parte do livro é toda dedicada à compreensão da origem dos relacionamentos conjugais, a fim de - talvez - explicar/esclarecer o fenômeno na contemporaneidade. O foco swing não tem tanta ênfase nesses capítulos, e a abordagem se concentra em questões como união familiar, amor/paixão, industrialização e sexualidade, patriarcalismo, feminismo, aspectos patológicos estudados ao longo dos anos para denominar práticas sexuais que saiam da linha 'sexo para procriar' e convergem no campo da 'perversão ou desvio de conduta sexual', psicanálise, entre outros pontos interessantes acerca do casamento/sexo/religiosidade. 

Destacam-se também os capítulos falando sobre a liberdade sexual, e como ela se encaixa nos estereótipos de gênero. Ela referencia nomes importantes no campo da psicologia e sociologia, como Sigmund Freud, Michel Foucault e Zigmunt Bauman, faz paralelos com opiniões divergentes de vários antropólogos sem dar um diagnostico de quem está 'certo ou errado', fazendo com que o leitor enxergue mais de uma perspectiva do assunto em pauta e possa tirar suas próprias conclusões...

Voltando ao swing, ela mantém no anonimato as pessoas que contribuíram com sua pesquisa ao longo das semanas, preservando suas identidades, atribuindo-lhes nomes fictícios no decorrer do livro. Conceitos como homossexualidade, ciúme e infidelidade são citados nos capítulos finais, e servem como uma forma de entendermos os casais que se iniciam nessa prática sexual. 

Em suma, o livro se revelou um excelente estudo antropológico sobre a prática do swing, trazendo características pertinentes a esse estilo de vida, satisfazendo os curiosos acerca do tema e aprofundando o conhecimento de quem já pesquisa algo relacionado à sexualidade. Como ponto negativo, a única coisa que me incomodou um pouco ao longo da obra foram alguns erros ortográficos, mas nenhum deles comprometeu a leitura, e são bem poucos espalhados ao longo de quase 300 páginas... Aos leigos e estudiosos da história da sexualidade, eis uma boa e interessante leitura... 


segunda-feira, agosto 17, 2015

Prometo Falhar, a escrita intensa e apaixonante de Pedro Chagas Freitas





Publicado pela Editora Novo Conceito, recebi o livro como cortesia a fim de fazer a resenha... A princípio, achei tratar-se de um livro qualquer de amor, mas ele foi bem além disso... Trata-se realmente de um amor [eu diria vários, na verdade], mas daquele amor dolorido, confuso, arredio, selvagem e ao mesmo tempo delicado, dolorido, e bonito de se sentir... 

"Adormeço para te encontrar e sou feliz."

Sim, porque a tristeza por vezes pode ser linda, e Pedro Chagas faz isso com os amores doloridos. Ele deixa a dor bonita. Desde a primeira página até seu desfecho fui tomada por choros convulsivos, uma sensação de desalento que me colocava em estado de melancolia, mas em momento algum eu quis largar o livro. Era como se eu precisasse sentir o sofrimento daquela narrativa até esgotar a dor... Fazia um bom tempo que um romance não me alterava a esse ponto... Foi uma sensação incrível e inexplicável que a leitura me proporcionou... 

"e só então, depois do primeiro
toque dos seus lábios nos meus, entendi que
havia um adeus na união de nossas bocas."

Senti identificação em muitos trechos, de coisas que vivi, que ainda vivo e que provavelmente ainda viverei... O livro fala através de pequenas crônicas, que vão se enlaçando entre si, personagens que não se identificam de cara, mas que muitas páginas depois, você os percebe novamente... Por vezes a narrativa não deixa logo claro se o personagem é uma mulher ou um homem, isso foi um ponto positivo, a meu ver... 

Grifei páginas inteiras, seria impossível transcrever aqui todas as partes que me tocaram... Mas não poderia me abster de escolher algumas delas para aguçar a curiosidade de vocês sobre o fato de ser um livro intenso, denso, profundo, cheio de metáforas que falam sobre mim, sobre você, sobre o autor, sobre quem nem existe ou sobre quem já partiu daqui... É como se Pedro Chagas tivesse escrito alguns trechos pra mim e me quisesse ver com um nó na garganta que se desmancha no peito, num eco de soluço e amargura e tristeza infinda no olhar... E eu o amei por isso... 

"Você não voltou. Ainda não voltou. E parece que desta vez foi de vez."

Despedidas, [des]ilusões, morte, [des]esperança, eternidade são alguns dos conceitos que encontramos no livro. E apesar de parecer um livro que só fala no 'fim do amor', temos crônicas que falam justamente o contrário, sobre o absurdo de se encontrar um 'felizes para sempre', e há trechos assim... e igualmente contados de forma pungente e bela...

"Trinta mil dias, minha velha resmungona e adorável. Eu e você e o mundo, e todos os velhos que um dia conhecemos já se foram com a velhice. Nós ainda aqui estamos, trinta mil dias depois, juntos como sempre. Juntos para sempre. Trinta mil dias em que desaprendi tanta coisa, meu amor. Menos a te amar."

Prometo Falhar é sobre a vida, sobre o amor, sobre a cumplicidade entre duas pessoas que desejam ficar juntas mesmo quando o universo inteiro conspira ao contrário, é sobre ter que ver alguém querido partir [com outro[a], com a morte, para outro lugar], é sobre [re]encontro, perdão, tristeza, solidão. É sobre tocar o coração de quem se quer bem, e sobre tocar a própria alma. Prometi não chorar, Pedro... 

Falhei. 

sábado, agosto 08, 2015

Noturna e outros poemas...

Finalizei a breve leitura de Noturna e outros poemas, do autor parceiro Cláudio Duffrayer. Publicado pela Editora Multifoco, o livro conta com apenas 57 páginas, tendo vinte e dois contos inseridos nelas...





Os textos que mais gostei foram Cobra-coral, A esfinge, Veneno, A rapina e Mortalha. Em cada um deles, percebe-se um detalhe funesto, desesperançoso e ao mesmo tempo ardente e voraz... O protagonista dos poemas se entrega ao júbilo de dor e sensualidade, com figuras imaginárias permeando a narrativa...

"Provoca-me teu sibilar que sobrepuja os passos quando as sombras insinuam um levante e te desnudo aos poucos, disposto a tudo, menos a lutar."

Cláudio Duffrayer utiliza um vocabulário repleto de sentimentalismo e mistério, conduzindo o leitor a uma narrativa entorpecente e poética, que passa longe do que podemos chamar de 'lugar-comum'. Não há sintetismo nem artificialidade em sua obra, que usa e abusa do elemento místico/enigmático para prender a atenção do leitor. Repleto de simbolismos e metáforas, Noturna e outros poemas foi uma leitura que há muito eu não fazia, e lembrei de autores como Alphonsus de Guimaraens e Cruz e Sousa em seus escritos...

"reina o mais absoluto silêncio; onde minha voz não consegue se erguer, devorada pelo escuro, onde não há dor ou júbilo, onde não há sofrimento, onde não há dimensões."

Angústia e lirismo permeiam suas páginas. Cláudio entremeia numa colcha de retalhos todo um universo sombrio e permite que o leitor se delicie com sua narrativa fluída e assustadoramente romântica. Sem cair no clichê, é uma boa alternativa para quem procura leituras de fácil compreensão, apesar de seu vocabulário por vezes rebuscado... 

"Não ouso dizer "Basta!", não agora, quando me foram negadas todas as coisas, quando um dilúvio não poderia me purificar; sucumbo uma vez mais, sucumbo uma última vez, pois é por demais escura a noite à minha frente, e ainda mais escura é a noite que trago comigo."

Noturna e outros poemas foi cedido em parceria com o autor. É seu primeiro livro publicado.

Post relacionado:
Parceria - Cláudio Duffrayer

sexta-feira, agosto 07, 2015

A emocionante história de Nelson Mandela, por Zelda la Grange...

Bom dia, Sr. Mandela é a história de um homem pela perspectiva da autora, Zelda la Grange, que dedicou boa parte de sua vida ao seu lado, e teve sua vida transformada, graças aos seus ensinamentos e esforços para dar ao seu povo uma vida mais digna e sem segregação. Nelson Mandela foi presidente da África do Sul, passou quase trinta anos preso por lutar contra o regime do Apartheid, que inferiorizava os negros que viviam no país, os excluindo de lugares que apenas a população branca tinha acesso.

Zelda veio de uma dessas famílias que apoiavam o regime do Apartheid, por achar que os negros eram inferiores e consistiam num perigo para a população africâner. Em fins da década de 1980, quando ela teve conhecimento da existência desse senhor, mal sabia ela que ele entraria em sua vida de maneira tão profunda e cheia de reviravoltas. Zelda perdeu contato com amigos que - ao descobrirem que ela trabalhava para um negro, servindo-o - passaram a evitá-la. De início ela teve medo que ele e os demais negros do país fossem se vingar pelos muitos anos de segregação racial e intolerância à seus costumes. 



Inicialmente, ela começa como datilógrafa no gabinete do presidente, e logo ganha um lugar especial no coração desse homem bondoso, justo e disciplinado, que procurava combater a fome e miséria de seu país, buscando com os ricos empresários e artistas várias contribuições para a construção de escolas e hospitais em lugares distantes em que a população não possuía tais direitos básicos assegurados. O contraste da África branca com a negra era alto [até hoje é] e Mandela - ou Madiba, como era chamado por Zelda - lutava para a melhoria de vida de seu povo. 

Logo no início do livro, Zelda narra sua infância, desde o dia de seu nascimento - que coincidia com o dia em que Nelson Mandela ia para a prisão] até a adolescência, discorrendo sobre a política segregativa da época e seu envolvimento [quase nulo] com a política. Zelda era do tipo de pessoa que tinha uma opinião pré-concebida a partir do que os brancos divulgavam. Ela tinha pavor dos negros, apesar de ter uma empregada negra em casa. Para ela e sua família, a empregada era menos 'perigosa' que os demais de sua cor.

"As pessoas brancas e as negras era separadas; não era permitido se casar, ter amigos, fazer sexo ou viver nas mesmas cidades. Eram as normas da chamada "Lei de Áreas de Grupo" na África do Sul, uma tentativa de impedir que as pessoas se movimentassem livremente e levassem suas vidas dentro dos mesmos limites. Os negros não podiam andar nos mesmos ônibus nem nadar no mesmo mar que os brancos." 

Apesar de não possuir ligações com a política do Apartheid, os pais de Zelda seguiam o regime. Eram uma família de classe média, branca, que apoiavam a Igreja e o governo de maneira exemplar para bons cidadãos africâneres. Os brancos não poderiam tocar em uma pessoa negra. A crença de sua família e de tantas outras era de que os negros eram sujos e possuíam o cheiro diferente. Zelda ainda conta que acredita que o racismo não é algo que vem de berço, e sim, que é enraizado na mentalidade humana devido à aculturação... Não poderia de forma alguma discordar dessa afirmação...

Ela fala da dificuldade de seus pais quando pequenos, de como os negros e indianos eram impossibilitados de votar. Aos poucos ela ia digerindo essas regras sociais e se questionava em alguns momentos sobre tudo aquilo... 

Na segunda parte do livro, ela fala de quando Nelson Mandela foi solto e chegou à presidência, o fim do regime Apartheid e de como os brancos passaram a temer retaliações, agora que os negros estavam 'livres'. Ela estranhou quando Mandela não a dispensou do emprego por causa de sua cor. Com o passar dos anos, ela foi compreendendo as intenções daquele homem, e percebeu que tinha muito a aprender com ele, e sacrificar uma possível vida pessoal em prol de lealdade e dedicação para com seu presidente não a faria se arrepender.

Ela o seguia a todos os lugares, era seu braço direito em reuniões, palestras e viagens. Conheceu artistas, reis e figuras importantes da política mundial. Acompanhou de perto o casamento de Mandela com a Senhora Machel, moçambicana. Era seu segundo casamento, e ele não tinha uma relação muito próxima com seus filhos do primeiro casamento, que teve um rompimento difícil... 

"Ele derrubava minhas defesas dia a dia, quebrando meus preconceitos e as camadas de apartheid que haviam crescido sobre mim, do mesmo modo como cinzelava o calcário enquanto esteve preso na Ilha Robben."

Mesmo quando Madiba se aposentou e outro homem assumiu o poder do país, sua influência a nível global contribuiu para continuar na luta em prol dos menos afortunados. De todos os lugares chegavam pedidos de ajuda e assistência. As pessoas o abordavam onde quer que fosse a fim de pegar um autógrafo ou até mesmo apertar sua mão. Zeldina, como Mandela a chamava, tinha sérias dificuldades em evitar tumultos nessas saídas de Mandela a locais públicos... 

Ela conta de seus hábitos simples e manias, e a medida em que ele vai envelhecendo, o laço entre os dois só aumenta e é com pesar que chega o momento de se despedir para sempre de seu 'Khulu'... Confesso que fiquei indignada nas últimas partes do livro, em que a família dele a tratou mal, excluindo Zelda e a senhora Machel dos momentos finais com Madiba... 

Eu poderia me estender sobre a obra mas não caberia numa resenha citar os pontos mais cruciais da vida de Mandela ou dos trechos que me fizeram chorar, mas o que posso falar é que Bom dia, Sr. Mandela é uma obra que fala sobre lealdade, transformação, dedicação e dogmas quebrados... Sem sombra de dúvidas, uma leitura rica e fascinante, que vai trazer ao leitor importantes lições para a vida inteira... Nelson Mandela foi um grande exemplo, imortalizado na escrita de Zelda la Grange, e - principalmente - em suas boas ações pelo mundo... 

quarta-feira, agosto 05, 2015

lo. lee. ta.


Lolita, do autor russo Vladimir Nabokov, foi minha nona leitura na Maratona Literária de Inverno 2015. Lolita foi uma obra que chocou a sociedade na época em que foi escrita e até hoje é famosa por sua polêmica história, em que um homem, com quase quarenta anos, narra suas 'aventuras amorosas' com a enteada, a ninfeta Lolita, que tinha apenas doze anos... 


início do livro... 


O narrador, Mr. Humbert, ou H. H., narra desde sua infância até o envolvimento com uma mulher chamada Valéria, que acabou por deixá-lo por um taxista, e daí ele parte para outro local onde fica como inquilino na casa da mãe de Lolita, Charlotte. Ele vê na aproximação da mãe uma chance de chegar até a filha, e acabam se relacionando. Ao longo das semanas, ele sente a árdua tarefa de fugir das investidas amorosas da esposa, pois ele não se sente sexualmente atraído por ela e tudo o que ele mais deseja é a pequena Dolores.




Em vários momentos do livro ele se intitula como um monstro, por não conseguir ou simplesmente não se esforçar para suprimir seu desejo. Por vários momentos, o instinto pedófilo do protagonista se apresenta como patológico. Não sou Expert nesse campo, mas tive a sensação de que a atração que determinados homens sentem por meninas púberes é algo implícito em seus inconscientes, algo como um indivíduo psicopata [mas longe de mim querer aliviar o crime desses indivíduos, e sim tentar enxergar suas ações doentias' por outra perspectiva...] 

Por outro lado, não encontramos aqui uma criança tola e inocente por completo. Lolita possui um gênio indomável para a pouca idade. Seu corpo não possui atrativos para um homem considerado normal. Ela não tem seios nem quadris desenvolvidos, suas pernas são finas, suas roupas condizem com a idade de uma criança [bem, ao menos para os padrões de uns anos atrás...] e em paradoxo, percebe-se uma certa malícia em seus trejeitos, quase como se provocativos, deixando o leitor na dúvida, se ela provoca H. H. ou é apenas nossa imaginação culpabilizando a vítima... Estamos falando de um personagem-narrador não-confiável, eis a visão de Lolita pela perspectiva DELE. 

"Mal o carro parou, Lolita lançou-se em meus braços. Não ousando, não ousando abandonar-me aos meus impulsos -  não ousando sequer imaginar que aquilo (doce umidade e trêmulo fogo) era o começo da inefável vida que, habilmente assistido pelo destino, eu havia, finalmente, permitido que surgisse; não ousando, na verdade, beijá-la, toquei-lhe os lábios quentes, entreabertos, com infinita piedade, em minúsculos sorvos, nada lascivos; mas ela, num movimento sinuoso, comprimiu tão fortemente a boca de encontro a minha, que lhe senti os grandes dentes da frente e participei do gosto de hortelã de sua saliva."

Após um incidente com Charlotte, o homem vê a chance que desejava de estar a sós com Lolita, e parte com ela numa viagem de carro, percorrendo várias cidades ao longo dos Estados Unidos e pernoitando em hotéis, motéis, drive-in e nesse momento, se dá a consumação da pedofilia com Lolita... 

Em várias brigas, ele tenta suborná-la ou puni-la, de acordo com seu comportamento/temperamento. As descrições das relações entre padrasto e enteada são sutis, mas [de acordo com H.,] nota-se o desconforto e até mesmo 'abandono' de Lolita quando está nos braços de seu 'papai'... Ao longo do livro, o narrador descreve seus medos de perder sua preciosidade, tanto para a justiça quanto para o tempo, pois ele sabe que à medida que ela vai crescendo, chegando à 'desagradável idade dos quinze anos'... os encantos que ela possui e que o atraem já não mais existirão... 

Existem duas adaptações para o cinema, sendo uma delas de Stanley Kubrick, e pretendo assisti-las tão logo possa... Se você gosta de livros que te tirem de sua zona de conforto, de escrita fluída e densa, repleta de elementos psicológicos, Lolita é uma boa pedida... 

Em suma, é um livro que abala o psicológico do leitor e o põe numa zona de desconforto e ao mesmo tempo curiosidade para saber no que a história vai dar... A narrativa é tão detalhista que por vezes, pensamos se tratar de um caso real, mas o autor deixa bem claro que se trata de uma obra fictícia... Não pretendo me estender sobre os pormenores da obra a fim de não tirar o elemento de 'descoberta' de quem for ler... Afora a polêmica trata-se de um clássico, e só por isso, já vale a leitura... 



terça-feira, agosto 04, 2015

Conclusão da Maratona Literária de Inverno 2015...



Bem, a Maratona Literária de Inverno 2015 chegou ao fim, e como não dei update nenhum ao longo do mês, eis o post de encerramento para que vocês saibam como foi o meu desempenho...

O que eu pretendi ler...
Bem, a lista de livros escolhidos me rendeu ótimos momentos e algumas resenhas... Posso dizer que dos 12 títulos escolhidos, conclui 9 leituras... Gostei de todas elas. [Ainda bem que minhas escolhas foram boas, pois apostei no escuro com a maioria delas...] 

Teresa Filósofa - Anônimo do Século XVIII
O prisioneiro da árvore - As brumas de Avalon - Marion Z. Bradley
Lolita - Vladimir Nabokov [em breve sai resenha]


O que foi lido... 

Se escolhi doze e só li nove, é sinal de que eu flopei, certo?

Sim e Não.

Sim, porque não li a lista inteira pré-determinada  e Não porque - com relação aos desafios, todos foram cumpridos. Os livros que não li foram Fugitivos [livro nacional], Anna Karênina [livro com mais de 400 páginas] e A professora de piano [livro que ganhei]... 

Acabei lendo alguns livros que não estavam na lista e sem querer, eles contemplaram os três desafios restantes... Li Mário Prata entrevista uns brasileiros [nacional], Bom dia, Sr. Mandela [mais de 400 páginas e já tem resenha programada] e Pequenos deuses [ganhei]... 

Além do mais, acabei lendo duas HQ's dentro do tempo destinado à maratona, que foram Yu Yu hakusho #9 e Hellsing #1, totalizando 11 livros e 3 quadrinhos... 

Em suma, considero uma maratona concluída com sucesso... E como acabei me empolgando com minha participação nessa maratona, já entrei em outra para o mês de Agosto... Em breve, sai o post de apresentação por aqui...

E vocês, conseguiram concluir a MLI2015 com sucesso ou o Flop reinou? Me contem nos comentários ^^
Beijos... 

segunda-feira, agosto 03, 2015

Carol, de Patricia Highsmith

Carol foi meu primeiro contato com a autora Patricia Highsmith e posso dizer que foi amor que senti ao fechar a última página do livro... São 296 páginas que envolvem o leitor num romance que foge o convencional, narrado numa época em que o relacionamento entre duas mulheres era visto [embora ainda hoje seja por muitos, infelizmente] como uma abominação...



Therese tem apenas 19 anos e trabalha como vendedora numa loja de departamentos. Está na sessão de bonecas em período de festas natalinas e se depara com a beleza estonteante de uma mulher loira e elegantemente vestida, que a aborda no balcão a fim de comprar uma boneca para sua filha. A atração que a garota sente é imediata. E logo ela age de forma meio que impulsiva para atar o fio que vai conduzir o romance de Highsmith...

Carol está à beira do divórcio, tem 32 anos e seu relacionamento com o marido anda mal das pernas, a ponto e trazer alguns embaraços por causa da criança que eles tem. Seu encontro com Therese é natural, e logo ela se vê envolvida pelo jeito tímido da garota. Seus laços se estreitam, e ela resolve fazer uma viagem de algumas semanas pela estrada, com Therese, claro... 

Essa viagem romântica vai trazer algumas conseqüências nada agradáveis para a vida pessoal de Carol. Até onde as pessoas abdicam de tudo pra dar uma chance a si mesmas e ao amor incompreendido por todos?



Em vários momentos da leitura eu me senti um pouco como Carol. E ao mesmo tempo senti que mais parecia Therese, com seus medos e falta de perspectivas. Therese vive de maneira modesta, é cenógrafa e busca um emprego em sua área. Tem um amigo com quem sai de vez em quando - Richard - mas não o ama, embora ele visualize a ambos como marido e mulher. Seu envolvimento com Carol faz com que Richard se irrite, fique enciumado e ache um absurdo o que Therese anda fazendo com sua vida. Therese vai amadurecendo com o passar dos capítulos e podemos acompanhar esse crescimento dela, embora ela sofra por temer perder Carol em algum momento...

"Sinto que estou de pé num deserto com as mãos estendidas, e você chove torrencialmente sobre mim..."
Carol é a mulher rica, casada e infeliz. Não amava o marido, apesar de adorar sua filha. Tem uma amiga - Abby - que tem muita intimidade com ela, fazendo com que Therese enxergue nela uma possível ameaça da afeição de Carol. Carol vê na figura de Therese uma jovem que pode dar ânimo a seus dias conturbados, 'caída do céu' e possuidora de uma aura misteriosa. E isso encanta Carol. Ela é "uma mulher com uma filha e um marido, com sardas nas mãos e um hábito de praguejar, de ficar melancólica em momentos inesperados, com o mau hábito de sempre ceder ao próprio desejo" e é o que mais se aproxima de ideal de perfeição para Therese. Sua paixão é imediata, e ambas caminham para um desfecho até 'feliz', desconsiderando o 'ao redor' das personagens...

A autora publicou o livro em 1952, sob o pseudônimo de Claire Morgan, e chegou a receber dezenas de cartas de fãs elogiando a publicação, gays que se sentiram representados de forma feliz na ficção - que os empaturrava de histórias trágicas com pulsos cortados na banheira, cordas enroladas ao redor do pescoço e decadência, punindo-se por seus 'desvios'. Carol foi o romance que deu uma nova perspectiva e até esperança de viver aos homossexuais. 

O romance se dá de forma rápida e arrebatadora. Ao mesmo tempo é sutil, não beira o explícito. Possui um teor de produções noir, devido ao estilo próprio da autora, na maioria de seus escritos. A aura noir, a ambientação da história e o psicológico meio conturbado dos personagens faz com que o leitor mergulhe numa obra profunda e alucinante... Não conseguia parar de ler, e devorei capítulo após capítulo, de tão enredada pela trama... 

Carol é - sem sombra de dúvidas, umas das melhores leituras que tive o prazer de fazer e não poderia deixar de compartilhar as sensações que ela me passou com vocês, meus leitores... É uma publicação da L&PM Editores e faz parte das leituras da Maratona Literária de Inverno 2015, contemplando o Desafio 'ler um livro que foi ou será adaptado para o cinema.' Estou ansiosa para ver o filme, que traz Cate Blanchett como Carol e [minha queridinha] Rooney Mara no papel de Therese...  

Em suma, espero que tenham gostado da resenha... Já leram ou conheciam o livro? Me falem nos comentários. ^.~