"Todas as drogas alucinógenas são consideradas sagradas pelos que as usam - mas ninguém jamais sugeriu que o junk fosse sagrada. Não existe nenhum culto ao ópio."
Trago para vocês mais um clássico da literatura beat: Almoço Nu, escrito em 1959, de autoria de William Burroughs. Confesso que chega a ser um desafio colocar em palavras as sensações que essa leitura me trouxe... A linguagem não chega a ser difícil, mas seu entendimento, sim... Talvez ele nem seja para entender, mas para sentir...
A obra é uma verdadeira viagem alucinógena pelo mundo dos viciados. Ler Almoço Nu é algo como estar num sanatório, rodeado de loucos conversando com você, e mesmo sem entender ou enxergar uma lógica nas palavras e diálogos, ao mesmo tempo o leitor não consegue abandonar a poltrona e quer ouvir aquele papo surreal sem pressa de findar... É quase uma viagem de ácido ou a alucinação que um pico pode causar [os viciados me perdoem a comparação, caso seja algo que passe longe...]...
Para aqueles que apreciam leituras limpas e românticas, aconselho passar longe desse livro. A narrativa confusa retrata um mundo junkie', repleto de situações que beiram o aterrador, situações que podem causar repugnância nas mentes mais sensíveis. Burroughs não poupa o leitor de trechos escatológicos e degradantes, escritos com uma maestria perturbadora e quase hipnótica...
A narrativa é feita pelo personagem William Lee, que percorre vários trechos entre Estados Unidos e México, contando suas experiências com vários tipos de drogas, encarnando personagens diversos. Há muito de autobiográfico no decorrer do livro. Considerada uma obra pós-moderna, Almoço Nu traz uma forte crítica ao espírito imperialista estadunidense, além de ser um depoimento de um ex-viciado em formato de delírio louco... Outra temática abordada ao longo do texto é a homossexualidade.
"O pau do garoto empina-se ao longo do estômago, pulsando livremente. Ali põe as mãos sobre a cabeça dele. Cospe no pau. O outro suspira profundamente enquanto Ali desliza para dentro dele. As bocas rangem, juntas, manchando-se de sangue. Cheiro forte e bolorento de reto penetrado. Nimum penetra como uma cunha, forçando o esperma a sair para fora do pau do outro em longos jorros quentes."
No apêndice do livro, Burroughs traz algumas notas explicativas sobre vários tipos de drogas, seus efeitos no organismo e as maneiras utilizadas para desintoxicar um viciado, baseado em relatos de pessoas que ele presenciou tais experiências e alguns sobre sua própria percepção como usuário...
A alegoria incompreensível de Burroughs faz parte do Movimento Beat, que surgiu em meados da década de 1950, tendo Jack Kerouac - o pai da bíblia beat On the Road - como condutor do 'carro-chefe'. Outro nome que fecha a tríade beat é o de Allen Ginsberg. Juntos, estes autores lutaram pela liberdade de expressão através da literatura, criticando ferrenhamente a moral do capitalismo consumista. A primeira obra de Burroughs, Junky, é um relato violento e poético de sua experiência tardia no mundo das drogas.
A edição que possuo é uma publicação da Editora Brasiliense. Para saber mais sobre o autor e relacionados ao post, é só clicar nos links do blog que disponibilizo abaixo...
Até o próximo post...