segunda-feira, novembro 30, 2015

O fantasma de Canterville e O príncipe feliz - Oscar Wilde

Em 30 de novembro de 1900 morria Oscar Wilde, polêmico escritor do século XIX, que teve um conturbado relacionamento homoafetivo em plena era vitoriana e com seus escritos desafiou a aristocracia inglesa com suas críticas mordazes contra as falsas e moralistas convenções sociais da época...

Oscar é um de meus autores preferidos, e a primeira obra que li dele chama-se O Fantasma de Canterville, seguido de O príncipe Feliz. A Editora Paz e Terra lançou uma pequena edição com as duas histórias e são elas que trago hoje a vocês, numa pequena ode ao grande e refinado escritor que ele foi... 



A soberba de Wilde é inerente à seus escritos. Sua obra mais famosa é O retrato de Dorian Gray. Escreveu peças como Salomé - baseada na história do João Batista bíblico, entre outros contos magistrais... Mas em outra ocasião propícia falarei sobre estas outras obras. Vamos nos atentar à Canterville...


O ministro americano Sr. Hiram B. Otis comprou a Canterville Chase, não imaginaria que iria herdar junto com a propriedade um ilustre fantasma da família Canterville, que assombrava a propriedade há pelo menos 300 anos. Porém, sua racionalidade impedia-o de acreditar em alguma presença fantasmagórica e se mudou com sua família assim mesmo. Logo o fantasma se faz presente, e é recebido com desdém por parte de alguns membros da família em algumas situações inusitadas... 


"Meu querido senhor - disse o sr. Otis - , devo realmente insistir em que lubrifique essas correntes e para isso lhe trouxe um vidrinho do Lubrificante Sol Levante de Tammany. Dizem que é muito eficaz logo na primeira aplicação. [...] Com essas palavras, o ministro dos Estados Unidos colocou a garrafinha em uma mesa de mármore e, fechando a porta, voltou para a cama.
Por um instante, o fantasma de Canterville ficou imóvel de natural indignação, [...] disparou corredor afora, lançando gemidos cavernosos e emitindo uma sinistra luz verde. Porém, no instante em que chegou ao topo da grande escada de carvalho, uma porta abriu-se de repente, surgiram duas pequenas figuras vestidas de branco e um enorme travesseiro passou zuindo pela sua cabeça! [...] adotando às pressas a Quarta Dimensão do Espaço como meio de fuga, desapareceu por entre os lambris e a tranquilidade voltou a reinar na casa."

Dando pouca importância a Sir Simon - o fantasma - a família não teme suas investidas noturnas e logo o fantasma se vê frustrado com a atitude dos novos moradores. Logo, o casal de gêmeos começa a aprontar armadilhas para trapaceá-lo e ele resolve bolar um plano para assustá-los - sem sucesso. A única que parece ter algum respeito pela entidade é a jovial Virgínia e logo ela fica sabendo da história do fantasma e resolve ajudá-lo, causando verdadeira preocupação à seus pais, irmãos e criados. A história do fantasma foi violenta e triste, e só a garota poderá livrá-lo da maldição que o prende há tantos séculos...


O Príncipe Feliz é a triste estória de uma andorinha que faz amizade com a estátua de um príncipe, que ornamenta o centro de uma cidade. A andorinha deveria migrar com as de sua espécie ao Egito, mas acaba ficando na cidade, ajudando pessoas pobres que ali vivem, a pedido do menino-estátua... Mas o inverno se aproxima, e com o vento enregelante, a morte pode tomar a vida da pobre ave... À medida em que a estátua se desnuda de seus ornamentos a fim de tirar da pobreza os habitantes que a andorinha visita, vai ficando 'feia' aos olhos dos ilustres políticos da cidade, perdendo seu 'valor', restando apenas a iminência de acabar numa fornalha... 

O conto tem um desfecho poético, embora infeliz. E serve como crítica a uma sociedade vazia e ambiciosa, onde os poderosos se banqueteiam ao mesmo tempo em que nas sacadas de suas janelas gemem crianças a passar fome... A andorinha se sacrifica pela amizade do menino-estátua, e este, apesar de sua bondade, não resiste à futilidade humana... Logo ele, que humano já foi um dia...

Oscar Wilde é possuidor de uma escrita pungente e mordaz, ao mesmo tempo que traz leveza e profundidade à suas obras - um paradoxo a se analisar, refletir, saborear...

Espero que tenham gostado da resenha... Até o próximo post... 

sexta-feira, novembro 27, 2015

F-r-a-g-m-e-n-t-a-d-o-s, de Neal Shusterman

Fragmentados, uma distopia publicada pela Editora Novo Conceito, fala sobre 3 jovens diferentes que compartilham do mesmo futuro destino: eles serão fragmentados. Mas o que seria uma fragmentação?

Segundo a Lei-Da-Vida [um conjunto de emendas constitucionais], a vida humana jamais deve ser tocada até que o indivíduo complete 13 anos. Dos 13 aos 18, ela pode ser fragmentada, abortada... Tecnicamente falando, essa vida não terá fim, mas todas as partes do corpo irão ser transplantadas em outros indivíduos... E os fragmentados estariam vivos durante o processo...



Connor é um jovem problemático e seus pais assinaram o acordo com o governo para sua desfragmentação. Quando descobre, resolve fugir de casa. Ele tem apenas 16 anos. Durante sua fuga, encontra Risa, uma garota de 15 anos, que vivia numa espécie de creche, e para conter gastos, resolveram mandá-la para a 'Colheita', que é o local onde os jovens rejeitados por suas famílias e instituições passam pelo procedimento... 

Lev é um dízimo. Ele já nasceu destinado a ser fragmentado. E aceita seu destino, embora o tema. Mas é considerado um privilegiado, pois os dízimos são considerados uma classe 'alta' entre os fragmentários. Sua família religiosa o ofereceu para que seus pedaços habitem outras pessoas, e salvem vidas. Ele seria a parcela de 10% que os fieis entregam às suas igrejas, pois será entregue ao Governo para ser fragmentado. Ao contrário de Risa e Connor, ele não quer fugir a seu destino, e chega a atrapalhar os outros dois em alguns momentos.

Esses três adolescentes tem seus destinos selados e acabam como fugitivos, e após uma série de percalços durante a fuga, acabam 'salvos' por algumas pessoas que parecem fazer parte de uma organização que resgata fragmentários até que eles completem 18 anos e enfim possam se ver livres do Sistema. Se eles não forem aprisionados até lá, podem se considerar livres. 

Eles vão para um lugar chamado Cemitério, mas lá ocorrem várias intrigas e Connor precisa agir para não ser capturado, para sobreviver e proteger Risa, por quem já está apaixonado. Ele se depara com centenas de outros fragmentários, alguns bem hostis com relação a ele e é preciso agir com cautela para que não sejam descobertos e capturados...

A escrita do autor Neal Shusterman é densa, e deixa o leitor numa ânsia incontida durante boa parte do livro. Confesso que em certo momento, parecia que a história diminuiu de intensidade, mas logo retomei o ritmo da leitura e daí não consegui pausar até chegar ao fim de suas 320 páginas... Por se tratar de uma série, o livro não tem um final fechado, dando margem para sua continuação, e me encontro nesse momento ansiosa para que os outros livros sejam publicados. 

Fazia tempo que uma distopia não me prendia dessa forma. Ela traz várias críticas sociais incutidas em suas linhas; questões como o fanatismo religioso, hierarquias sociais, ética, aborto, os transplantes, entre outros. Me deu uma agonia descobrir como se dava o processo de fragmentação em um dos personagens secundários - porém importantes - da trama. Senti o drama do jovem ali, durante seu 'desmanche consciente'... 

Em suma, recomendo a leitura de Fragmentados àqueles que estão buscando uma leitura frenética, densa e de ótima construção de diálogos. Você não vai se arrepender de adquirir a obra... 


sábado, novembro 21, 2015

172 horas na lua, uma ficção norueguesa que me surpreendeu...

Ao ver vários comentários negativos sobre o livro 172 horas na lua, do autor Johan Harstad, publicado recentemente pela Editora Novo Conceito, fiquei receosa de não gostar da leitura ou me decepcionar com ela, e já tinha me arrependido de ter solicitado para leitura, mas pensei que 288 páginas não me cansariam, caso a história realmente não fosse legal. E dou graças aos céus por muitas vezes dar ouvidos aos meus instintos e não a opiniões que vejo pela internet...
O livro realmente me pegou de jeito.

A trama é sobre três adolescentes que são vencedores de um sorteio mundial que a NASA organizou para levá-los numa expedição à Lua. Eles vão passar 172 horas na base lunar DARLAH 2, que era até então, conhecida apenas por funcionários de altas patentes do governo dos Estados Unidos. Os três adolescentes são uma norueguesa chamada Mia, uma japonesa de nome Midori e Antoine, um francês que vive em Paris com seus pais.

Apesar de parecer uma grande chance de mudar suas vidas, há algo obscuro nessa empreitada, e viajar para um lugar onde ninguém poderá te socorrer caso algo saia errado, não se revela uma boa ideia...

"seguiu-se outro pensamento que ela nem tinha ideia de onde viera, mas abriu caminho à força em meio à sua consciência e deixou-a apavorada: no espaço, ninguém pode te ouvir gritar."

De início, a narrativa se mostra um pouco lenta, mas acredito que o capítulos curtos contribuem para que a leitura não se torne cansativa, caso o leitor esteja esperando 'ação' nos primeiros momentos... Essa ausência de ápices nas primeiras 100 páginas são necessárias para ambientar o cenário e os personagens. Os capítulos se dividem ora em Midori, ora em Mia ou em Antoine. Mas alguns deles se voltam para uma casa de repouso, onde um misterioso velhinho, que acompanha os noticiários cheios da notícia sobre a expedição, se desespera ao saber que a NASA vai enviar mais pessoas à Lua. Ele tem conhecimento do que houve décadas atrás, pois estava envolvido nesse projeto, mas será que alguém vai dar ouvidos ao que ele teria a revelar?



Ao longo da história, os adolescentes percebem sinais de que algo pode dar errado, mas pode ser o nervosismo por um passo tão importante na vida. Assim que chegam na base de treinamento, eles passam por inúmeros testes e aulas aliadas à treinamento intensivo, para que dê tudo certo na missão. Contei pontos positivos pro autor em juntar os fatos e desenrolar a história de maneira coerente, sem simplesmente jogar três jovens na lua como se fosse algo fácil e super comum...

O único fator negativo que tenho a ressaltar no livro é que em um dos capítulos finais, o título deste aponta todo o mistério. Então, aconselho aos leitores que não leiam o índice, a fim de não estragar a surpresa, que - confesso - me deixou sem palavras... A diagramação do livro está incrível, e possui algumas imagens e um mapa da base lunar. 

Em suma, se você gosta de uma leitura repleta de conspirações governamentais, suspense e teorias sobre vida fora da Terra, essa leitura vai te fazer arregalar os olhos... E aos que pensam se tratar de apenas mais uma história de et's, sinto desapontá-los, mas leiam para descobrir... Que segredos a base lunar DARLAH - 2 esconde? Os jovens e astronautas enviados pra lá correm perigo? Que segredos aquela terra cinza e poeirenta esconde? 

"A primeira coisa que ele percebeu foi o silêncio. Um silêncio morto, avassalador, como se o único som restante no espaço fosse o de sua própria respiração abafada. Isso lhe deu a sensação de ter saído do universo em si."

Leia e descubra. Você não vai se arrepender...



segunda-feira, novembro 16, 2015

Crimes do Tarô, de Leonardo Nóbrega

Recebi de parceria com o autor Leonardo Nóbrega seu livro Crimes do Tarô, publicado pela Premius Editora. Confesso que meu interessa no livro cresceu bastante depois de ver algumas opiniões de amigas sobre a obra e fiquei muito feliz quando Leonardo topou fechar a parceria e enviou um exemplar para mim... 

Conhecemos o policial Tomás, que vive numa cidadezinha de litoral, sossegada e tranquila. O trabalho dele é igualmente calmo, se resumindo a uma briga doméstica aqui, um roubo ali, mas isso está prestes a mudar. O principal banco da cidade é arrombado. O ladrão deixa para trás um cadáver, levando o dinheiro do banco e a cidade fica em estado de alerta. O ladrão, que o guarda noturno afirma ter sido uma mulher, deixa duas intrigantes cartas de tarô no local. Cabe a Tomás desvendar esse mistério...



Logo, outras invasões a importantes setores da cidade começam a acontecer e objetos incomuns são roubados. Logo, uma funcionária do banco procura Tomás e lhe passa informações valiosas, pondo na lista de suspeitos de um crime de falsificação na cidade, o próprio dono do banco, que pode estar espalhando dinheiro falso. Além dele, outras figuras importantes que parecem ser vítimas, na verdade, podem ser justamente os culpados pela série de arrombamentos, roubos, incêndios e ameaças que formam o caso, bem como uma série de corpos que vão caindo um a um, a fim de não entregarem seus 'superiores'... 

Tomás terá que resolver tudo e ao mesmo tempo lidar com o fato de estar se apaixonando por sua informante - Edith. Alguém a quer morta, e logo o leitor descobrirá o porquê... 

Leonardo Nóbrega soube criar um suspense cheio de reviravoltas e uma trama bem intricada, que levam o leitor à ultima página com extrema avidez, a fim de se descobrir o desfecho da história. Afora alguns pequenos erros na revisão, a diagramação do livro está bem-feita, os capítulos curtos dão mais ritmo à leitura e a escrita fluída fazem com que a história não fique monótona ou cansativa. 

A cada página, o mistério traz mais elementos que parecem interligados e que vão proporcionar uma carga de adrenalina no leitor. O final foi surpreendente, me deixou sem palavras. Em suma, Crimes do Tarô é um prato cheio para os leitores aficionados por boas histórias policiais, num cenário 'brazuca' e cheio de descrições que nos transportam para o interior de suas folhas. Vale a pena a pedida... 

sábado, novembro 14, 2015

Revezatona 24 horas

Bem, pessoas... Ando meio sumida daqui estes dias mas vim postar rapidinho sobre a Revezatona que está sendo organizada pelo Vitor Almeida do Geek Freak, em parceria com o Vitor Martins. Serão 24 horas de leitura intensa, e revezados pelos dois organizadores, tendo início das 12 horas à meia noite de 14 de novembro e da meia noite às 12 horas do dia 15. Meu plano era participar das 24 horas, mas só poderei iniciar a leitura na segunda rodada... 



Não haverão sorteios dessa vez, mas a ideia é tentar ler mais mesmo... 
Postando minha TBR, baseada nos desafios propostos:

• Começar e terminar um livro com menos de 200 páginas [Fome de amor - Anais Nïn]
• Ler um quadrinho / graphic novel / mangá / livro ilustrado [O incrível Hulk edição 54]
• Começar um livro que você enrolou o ano inteiro e ainda não pegou pra ler [Arrabal e a noiva do capitão - Marisa Ferrari]




Para mais informações, visite a página do grupo no Facebook. E boa Revezatona a todos!

terça-feira, novembro 10, 2015

Poesia de pai e filha: Meu passo, seus passos

Recebi da autora Camila Tapia um exemplar de seu livro, escrito em conjunto com o pai, Avenir Passo, intitulado Meu passo, Seus passos - 100 poemas de pai e filha, publicado pela Editora Alcance. Não posso deixar de informar que no título deveria haver o termo 'belos' entre o 100 e os poemas... 



O livro divide-se em duas partes, as primeiras páginas nos trazem os poemas de Avenir, repletos de delicadeza e profundidade. Em Tributos à sua mãe, vemos uma bela poesia sobre a importância de valorizar a figura materna. No poema Pataxó, o autor faz uma crítica em forma de poema ao caso do índio que foi queimado vivo por dormir numa calçada, um crime que gerou diversas opiniões revoltadas, num triste episódio da história social brasileira... 

Os poemas de Avenir são odes: ao amor, à mãe, à filha, à terra, aos tempos de infância longínqua. Um dos que mais gostei fala sobre a desilusão de não se despedir do amor e de quem se amou...

"Não encontro rimas e meus versos se dispersaram,
até a minha sombra amiga já me abandonou,
as fontes das lágrimas que chorava estancaram,
o poeta foi sem se despedir e nunca mais voltou."

Seu último poema é para a filha.

"Mas se acaso houver tristezas,
Conte sempre comigo, filha querida,
Para o abraço ou para a confissão,
Conte com este jovem pai amigo,
Que te viu nascer e te viu crescer,
Que te ama e te ofereceu a vida,
E quer viver para te ver vencer."
Já nos poemas da filha, encontramos versos sobre as dores do amor. Ela se declara também ao pai, em versos tocantes e sinceros... "Herdei também a cabeça dura, a teimosia de não se convencer..." Fala sobre a saudade, e o 'ser'. Traz a melancolia carregada em suas palavras... 

"Pedras e cimento,
falas e silêncio,
e eu só penso,
penso...
No vento de uma
maresia distante,
o pensamento errante.
Vagando entre
pedras e silêncio,
falas e cimento."
Camila Tapia nos presenteia com poemas de amores doloridos, perdidos, irremediáveis em seus fins... Seus passos são sobre a insegurança de um amor que talvez não retorne, sobre reerguer-se, sobre sentir falta... Karma afetivo, Sina e Vontade de você estão entre meus preferidos... 

Em suma, Meu passo, seus passos é uma leitura a ser degustada em pequenas doses, para divagar o pensamento e transportar-se a outros ares, sejam eles de deleite ou introspecção... Recomendo... 

segunda-feira, novembro 09, 2015

Um verdadeiro dossiê sobre assassinos reais: Serial Killers - Anatomia do Mal

Algumas pessoas conhecem meu fascínio mórbido por histórias de assassinatos em série. O primeiro contato com um deles me vem à mente ao ver qualquer notícia relacionada ao assunto, seja na internet, em livros, filmes ou TV... O canibal de Milwalkee, que matou e canibalizou corpos de jovens negros numa cidade americana... Jeffrey Dahmer seria a alavanca que impulsionou minhas horas intermináveis em sites especializados no assunto durante minha adolescência...



 Além dele, temos o nosso famoso Chico Estrela, assassino 'tupiniquim' que estuprou e estrangulou várias mulheres, após enganá-las com uma seção de fotos na mata, com a promessa de que elas ficariam famosas... Era criança na época mas lembro do noticiário como se fosse hoje... Assim como as cenas das cabeças no freezer de Dahmer, a trilha na mata em que o motoboy Francisco de Assis Pereira percorria com suas vítimas ainda é nítida na mente...

Sendo assim, não é espanto eu querer comprar qualquer livro interessante que aborde o tema. E quando vi a DarkSide Books lançando Serial Killers - Anatomia do Mal, de Harold Schechter, foi a primeira obra da editora que quis ter na estante... Não foi a primeira, mas é a melhor devorada até então... Fui sorvendo a obra em goles intensos, grifando, marcando, fazendo anotações, relembrando casos dos assassinos mais famosos, que já tinha visto em filmes e outros livros, absorvendo todo esse compilado de informações sobre centenas de vítimas que em um péssimo dia, cruzaram com esses maníacos...


Nomes como Ted Bundy, Richard Ramírez, Charles Manson, Zodíaco e Aileen Wuornos dão o ar de sua [des]graça... O livro é dividido em nove partes, explicando a origem do termo serial killer, categorias de assassinato, o sexo perverso e a psicologia que explica tais depravações em tantos assassinos, aos perfis criminais, áreas de caça e conjecturas sobre o porquê deles matarem...

H. H. Holmes
Existem tipos bizarros que praticavam necrofilia, envenenadores, filhos que - maltratados pelas mães - acabavam por matá-las, métodos padrões para escolher as vítimas... Em suma, uma série de fatores que levam o leitor a adentrar cada vez mais fundo na mente perturbada desses indivíduos... Algumas descrições são extremamente chocantes para os estômagos mais sensíveis...

"Uma puta se afogou no próprio vômito enquanto me via estripar a amiga." Gerard Schaefer.

"Excitado pela visão de vísceras humanas, Dahmer, segundo se diz, abria o ventre de suas vítimas e [...] fodia as entranhas." 

A obra é bem ilustrada, traz várias photos dos serial killers, de algumas vítimas e de símbolos que alguns utilizavam. Traz também vários trechos de cartas sobre os casos, e o mais hediondo deles seria a carta que Albert Fish escreveu para a mãe de Grace Budd, menina de 12 anos que ele matou e comeu...

"Eu a asfixiei até a morte, então a cortei em pedacinhos para poder levar a carne para meus aposentos. Como era doce e tenro seu pequeno lombo assado no forno. Levei nove dias para comer seu corpo inteiro."

Para os aficionados por assassinos em série, o livro é indispensável de ter na coleção. Alguns trechos me deixaram revoltada, outros me colocavam em reflexão, em praticamente todos me pus no lugar dos assassinados... E me pego pensando em como a mente humana pode ser doentia, no pior sentido do termo... E levando em conta o que a maioria dos psicopatas passaram na infância, é de se 'entender' o quão monstros eles se tornavam na idade adulta [embora alguns deles tenham já matado ainda adolescentes ou crianças]... É de sentir pena e asco ao mesmo tempo... 

O destino de alguns foi a prisão perpétua, outros, como Ed Gein, viver o resto da vida em clínicas psiquiátricas, mas muitos deles eram condenados à morte na cadeira elétrica, enforcamento ou decapitação, devido a sordidez e brutalidade de seus crimes. Haviam os que matavam em dupla, em grupos, os que jamais tiveram suas identidades descobertas. O livro dá ênfase aos mais notórios e explana os casos mais dignos de nota... 

John Wayne Gacy era um pai de família e cidadão respeitável, que se vestia de palhaço para alegrar crianças num hospital. Seu lado sombrio matou mais de 30 adolescentes meninos ao longo de seis anos. Ted Bundy matou dezenas de mulheres em vários estados americanos, e seu fim foi na cadeira elétrica. Mary Bell - uma menina que era estuprada pelos clientes da mãe e posteriormente se tornou uma assassina, matando dois meninos de 3 anos, Andrei Chikatilo, a besta russa que "cometia atrocidades tão grandes com suas vítimas - retalhava seus rostos, extraía seus olhos, removia suas línguas, arrancava suas entranhas, devorava seus órgãos genitais - que investigadores que trabalharam no caso tiveram que receber tratamento psicológico.", entre vários outros casos tem sua 'participação' nas quase 500 páginas que compõem o livro...


Finalizando, acho importante frisar as referências do livro na literatura e no cinema que trazem ao leitor/espectador esse lado cruel do ser humano. Contudo, esses monstros das telas e dos livros em nada se comparam à bestialidade desprovida de remorsos desses assassinos de carne e osso... Anatomia do Mal é uma leitura para quem tem estômago... 

domingo, novembro 08, 2015

Ode à Bram Stoker: Dracula no cinema






Há 168 anos, nascia Bram Stoker, o 'pai' de Dracula, um dos maiores personagens da literatura clássica mundial. Bram nasceu em Dublin, na Irlanda. Foi amigo de Oscar Wilde, apesar de ser formado em Matemática, trabalhou como jornalista, diretor de teatro e funcionário público. Durante toda sua vida, escreveu histórias.










Dracula é uma publicação de 1897, tem como base o folclore da Transilvânia e é inspirado na figura de Vlad Tepes, conhecido pela alcunha de "O empalador"...

estampa de uma camisa minha...



E para não deixar esse dia passar em branco, resolvi trazer alguns atores que deram vida ao conde misterioso e diabólico no cinema. 


Dracula, do romance epistolar escrito por Bram Stoker ganhou vida nas telas com Bela Lugosi, numa adaptação de 1931, foi encarnado por Christopher Lee em O vampiro da noite, em 1958 e por Gary Oldman, em Dracula de Bram Stocker, no início da década de 1990. Mas sua figura também já foi interpretada por Klaus Kinski, numa produção franco-alemã em 1979. Faço menção honrosa também a Marx Schrek, que deu vida ao conde Orlock, que devido a problemas com o título do livro e direitos autorais, teve o nome modificado para Nosferatu, adaptação alemã de 1922, muda e P&B, mas que conta a história do misterioso, enigmático e cruel vampiro do romance...


Bela Lugosi em 1931, na adaptação homônima de Tod Browning.



Em 1958, Christopher Lee dá vida ao lendário vampiro, em O Vampiro da noite, e em alguns outros filmes, distribuídos pela Hammer Films.


O ator alemão Klaus Kinski, dirigido por Werner Herzog em  Nosferatu: Phantom der Nacht [Nosferatu - o vampiro da noite], em 1979.



Gary Oldman na adaptação de 1992, dirigido por Francis Ford Coppola - Dracula de Bram Stoker.




Dirigido por F. W. Murnau, Marx dá vida ao vampiro baseado no romance de Stoker, mas com o nome de Conde Orlock, devido a problemas de direitos autorais. A película levou o nome de Nosferatu. 

Enfim... De qual Dracula você gosta mais? Me contem nos comentários... Particularmente eu prefiro Bela Lugosi, e o que menos gosto é o de Klaus Kinski, mas todos eles tiveram sua importância no cinema...

Dracula, 1931




sábado, novembro 07, 2015

Caixa de Correio Especial Bienal 2015

Olá, pessoas queridas. Bem, Venho trazer pra vocês minha Caixinha de Correio Especial Bienal 2015. Vocês poderão conferir tudo que eu consegui trazer nas sacolas, durante minhas duas idas ao evento esse ano... Sem mais enrolação, vamos lá...

1º dia de compras

2º dia de compras


Eu poderia separar as imagens pelo dia que comprei, mas resolvi organizar por preço/editora/temática... 

Logo no primeiro dia, foram 13 livros comprados. Havia um estande vendendo livros a partir de 3 reais, então resolvi 'garimpar' a mesa [que estava uma bagunça] e consegui títulos bem interessantes. A maioria deles já foi lida. São eles:

Eles eram muitos cavalos, Luiz Ruffalo.
Crime na Flora, Ferreira Gullar.
A quinta coluna, Ernest Hemingway.
50 crônicas escolhidas, Rubem Braga.
Cinco contos, Katherine Mensfield.
Snoopy - um advogado dos diabos, Charles M. Schulz.


Cada um deles me custou 3 reais, e todos foram lidos, alguns eu não gostei e resolvi trocar no Skoob. Mas pelo preço que paguei, não sai em desvantagem...

No mesmo estande, haviam livros por 5 reais, e comprei Filadelfia e A estrutura da bolha de sabão, de Lygia Fagundes Telles [ainda não foi lido]. Por esse preço no segundo dia que fui à bienal, comprei Poemas, de Lord Byron...


Na minha área, comprei dois livros: Civilizações fluviais e Religiosidades populares e multiculturalismo: Intolerâncias, Diálogos, Interpretações, de Luiz Carlos Marques. O primeiro me custou apenas 10 reais e o outro R$15.00. Ainda não li, mas pretendo fazer isso nas férias... e eventualmente, usá-los como consulta em trabalhos acadêmicos ou em sala de aula...


Resolvi encarar a compra de biografias para meu acervo particular, e trouxe uma de Angelina Jolie e outra de Marlon Brando. Ambas custaram 10 reais... Ainda não tive tempo de ler, mas pretendo tão logo possa...


Já me despedindo do evento, no domingo, encontrei por acaso um estande que estava vendendo alguns títulos dessa coleção DVDteca e acabei comprando 6:

O iluminado
O sexto sentido
Butch Cassidy
Ligações perigosas
Los Angeles - Cidade Proibida
Fale com ela

Os dois últimos só serão lidos quando eu assistir os filmes, os demais eu pretendo [re]ver quando der vontade... E acreditem, eles me custaram ao todo 15 reais... 6 títulos por 15 pilas...


Minha primeira compra [1º dia] foi Modigliani. ele me custou 10 reais. Pretendo comprar outros títulos dessa coleção, mas isso fica para a bienal de 2017... Alfred Hitchcock e os bastidores de Psicose também me custou o mesmo valor. Estava louca atrás desse livro e não hesitei quando o vi numa estante...




Podem não acreditar mas consegui encontrar dois livros interessantes pelo preço de 1 real... Livro das bestas, de Lúlio e Brumas do Tibete, de Aldo Pereira. Trata-se de uma reportagem que deu base ao livro, sobre o contraste entre realidades tibetanas e a imagem construída para a mídia. Assim que der, eu lerei. O Livro das Bestas eu li assim que cheguei em casa...



Há alguns anos eu penei atrás do livro Perfil de uma mente criminosa e não tinha mais esperanças de encontrá-lo na Bienal, e quando estou indo embora, ele grita do estande: 'olha pra mim! Vem me comprar!'. Ele custou 10 reais. Como alguns sabem, tenho um fascínio mórbido por histórias de Assassinos em série, e essa leitura é obrigatória para os interessados nessa temática. Além dele, trouxe um dos meus sonhos de consumo da Editora DarkSide Books: Serial Killers - Anatomia do Mal. É minha leitura atual [de cabeceira]... O preço foi salgado mas nada como o cartão do marido pra resolver esse problema... *risos*


Por último, mas não menos importante: as compras que fiz no Estande da Editora Aleph. Quis trazer todos, mas o limite do cartão não permitiria. Então, escolhi três títulos que estava louca para ter na estante: Alien, de Allan Dean Foster. Já tinha lido uma edição antiga que era emprestada; Laranja Mecânica edição especial 50 anos. Mesmo já tendo uma edição [que ganhei numa promoção] e de ter lido a obra há um bom tempo, resolvi ter essa edição linda na estante, e pretendo reler a obra... E Neuromancer, que ainda não li mas quero devorar em breve... 


Então, eis o saldo da Bienal 2015: 28 títulos ao todo. 
Então, algo das minhas compras atraíram sua atenção? Me conta nos comentários ^.~ 


quinta-feira, novembro 05, 2015

Uma narrativa policial e sacana de tirar o fôlego: A comédia mundana, de Luiz Biajoni

A comédia mundana é um livro composto de três novelas ao longo de suas pouco mais de 500 páginas. Escrito por Luiz Biajoni e publicado pela Editora Chiado, traz uma narrativa bastante fluida, e que apesar do tamanho, pode ser concluída em pouco tempo. Trata-se na verdade, de 'três novelas policiais sacanas', como o próprio autor denomina...

Em Sexo Ana* - uma novela marrom, Virgínia namora Luiz, e diz que vai operar as hemorroidas depois de uma boa transa com seu namorado. Mas algo muito estranho e indevido acontece quando ela vai a um consultório médico e seu namoro acaba indo por água abaixo... Virgínia trabalha numa redação de jornal e logo tem a  chance de participar de um caso de estupro e morte envolvendo dois menores e um tal de Santos. Nesse paralelo, Luiz conhece um amigo [também Luiz] do escritório onde trabalha e que tem uma filha, Luciana. Há também Ana, uma amiga de Virgínia que vive dando em cima dela mas ela foge da garota como o diabo foge da cruz. Mas precisa desabafar o que houve com alguém, e ela escolhe Ana...

A narrativa vai se entremeando entre o caso de polícia, o afastamento [e posterior tentativa de reconciliação] do casal protagonista, as investidas do dr. Júlio em Virgínia e  Ana tentando trapacear a própria amiga, quando dá em cima de Luiz, mesmo sendo lésbica. Sem contar a aproximação de Luiz com Luciana, que está metida numa encrenca e na fuga de e Carlinhos, os dois menores assassinos que protagonizam as partes mais 'vingativas' da história. Vírginia tem que lidar com um patrão que dá em cima dela, um médico obcecado por sexo anal, a tara da amiga e com a frustração do seu romance descendo pelo ralo. O autor consegue juntar as tramas paralelas com uma maestria sem precedentes, e o leitor vai se sentindo enredado e sem ter ideia de como a novela vai acabar...

Com relação ao desfecho, inesperado. Cru até.

Em Bocet* - uma novela cor-de-rosa, alguém anuncia que vai operar. Na cena seguinte, nos deparamos com uma família na qual ocorre uma tragédia. Esses fatos estão ligados à Geraldo Assis, do jornal que a personagem Virgínia [da primeira história] trabalhava. Valéria agora é responsável pelas matérias policiais e Beto pede para que ela investigue uma denúncia sobre um desmanche de carros. Entra em cena um escrivão que vai ajudá-la, e logo surge uma série de mortes, que podem ter ligação com o acidente narrado no início. Monique é uma mulher poderosa e tem no marido um capacho drogado que se submete a todas as suas vontades e frequenta uma casa de travestis, onde Assis também visita... Logo, notamos que os personagens estão enredados numa trama de assassinatos, operações ilegais e a polícia e o jornal estão trabalhando para desvendar esses crimes. O autor consegue fazer o leitor devorar com avidez toda a história a fim de conhecer o desfecho surpreendente... Eu me senti indignada, e infelizmente não é algo que fuja da realidade que estamos vivendo... O poder corrompe e compra o silêncio de muitos...

Na trama que fecha o livro, Boquet* - Uma novela vermelha, Virgínia reaparece, vinte anos mais velha e com uma filha adolescente. Carol [a filha de Virgínia] está prestes a se casar com o pastor Fraguinha, mas parece que ele não gosta muito de mulher... Em paralelo, alguém do passado de Assis retorna querendo vingança, e acaba se unindo ao pastor num negócio escuso de drogas... Mais uma vez o leitor se vê hipnotizado pela trama, que culmina em crimes, mortes, relacionamentos proibidos e toda uma sorte de tragédias, recheadas de sexo, crueza e  alienação religiosa. A trama traz críticas as instituições evangélicas que vivem de enganar os fiéis, a polícia e a imprensa, que chegam a ser tão sujas quanto um ponto de tráfico, e dá relevância mais uma vez aos transsexuais que se prostituem, bem como à difícil vida que a sociedade lhes relega. Confesso que os meus personagens preferidos estão no núcleo trans da obra... É através desse personagem marginalizado que o melhor das ações acontece...

As histórias estão entremeadas e existem várias críticas sociais por trás do livro. O sexo inserido na trama não é de forma alguma apelativo, mas serve como pano de fundo para histórias cotidianas que são plausíveis e poderiam acontecer com qualquer um, com seu vizinho, um colega de repartição ou com você mesmo... a homossexualidade é tratada como a sociedade a enxerga, os personagens sofrem os medos e paranoias de um mundo preconceituoso e decisões importantes a serem tomadas conduzem o fio que dá vida ao enredo de A comédia mundana. A tensão está presente em todo o livro. O ritmo da narrativa faz com que o leitor devore as mais de 500 páginas de forma alucinante, numa escrita jornalística deliciosa. Interessante notar a figura do 'herói' Assis, que possui segredos obscuros em sua vida e ainda assim funciona como uma espécie de justiceiro da 'verdade', ele quer que as matérias venham à tona, embora se arrisque bastante nisso...

Relações de poder são marca registrada na narrativa. Personagens que usam e abusam de sua autoridade a fim de conseguirem o que almejam. A imprensa é criticada. A religiosidade e repartições públicas são criticadas. Apesar do clima de suspense policial dos anos 50, a trama nos parece tão atual como o que vivemos hoje em dia.

Aviso aos leitores mais sensíveis: o livro contém trechos violentos, crus, excitantes, entre outras coisas do gênero. Se você curte romances bonitinhos e cheios de 'mimimi', A comédia mundana não é pra você. Mas pra quem quiser sair da zona de conforto, caia de corpo inteiro... É deleite na certa...

quarta-feira, novembro 04, 2015

Correios - Compras e recebidos [Outubro] Parte I

Como o mês de outubro foi de Bienal, resolvi dividir a postagem em duas partes, senão ficaria muito extenso e vocês não leriam... *risos* Com relação a compras, fiz o de sempre, mas recebi livros bem legais... confiram!

Recebi o livro Poseidon, que ganhei numa promoção do blog A fábrica Diversão e Arte.



Recebi da Editora nVersos os livros Choque de Tropicalismo e Tiro de Misericórdia, a serem resenhados em primeira mão para o blog Poesia na Alma, no qual sou resenhista... Mas em breve haverá resenha deles aqui também...



Chegou um pacote do Ministério da Educação com um kit de material sobre o Programa Nacional de Cultura, com DVD, revistas, panfletos e informativos. Será um material que irei utilizar em minhas rodas de leitura em minha cidade...



Minha amiga Mara Vanessa me enviou um exemplar de seu livro Jurema e outras historietas sem tempo. E já tem resenha dele aqui.



E recebi da autora Camila Tapia um exemplar de Meu passo, seus passos, para resenha aqui no blog... Esses dias vocês podem conferir o post...



Com relação às compras, mais uma vez as novas edições de:



Comics Star Wars 11 e 12 [não li ainda]
Kill la Kill Volume 3 [coloquei para troca no Skoob as 3 edições]
Yuyu Hakusho 12 [lido]
Hellsing 4 [não li ainda]
Sailor V Volume II [lido]



Revistas:
Mundo Nerd #5
História em foco - Holocausto
Mundo estranho Especial Star Wars
Mundo Estranho Especial Os bastidores secretos do rock



livro: 
Elevador 16



Tinha prometido não comprar livros além dos que comprei na Bienal, mas não resisti ao preço desse na banca de revistas... Já foi lido e resenhado aqui. Então, foi isso que outubro me trouxe... Espero que tenham curtido... Até a próxima caixinha de correio... ;D


terça-feira, novembro 03, 2015

Os sonhos de Jurema e outras historietas sem tempo...

Recebi como cortesia de uma querida amiga sua publicação recente intitulada Os sonhos de Jurema e outras historietas sem tempo, e garanto que o único defeito do livro é que ele poderia ter mais contos, pois a escrita de Mara Vanessa é deliciosa, e ao mesmo tempo que massageia, nos dá aquela breve sensação de desconforto seguido de soluço... O livro foi publicado de maneira artesanal, como a autora intitulou o formato, publicado pela Infinitum Editora... a diagramação é singular. E para adquirir seu exemplar, é só entrar em contato com a autora por e-mail: maravanessa@gmail.com



Com uma maestria impressionante, ela baila com as palavras, nos brindando com contos breves, bem ao estilo do 'vampiro de Curitiba' - Dalton Trevisan - expondo cenários do cotidiano de pessoas comuns, mas que fazem o leitor se identificar em alguma[s] delas...

Os contos falam sobre um novo amor, sobre as labutas diárias de uma vida sem esperança, sobre nunca se abater perante as dificuldades, e - acreditem - fugindo do clichê de parecer autoajuda. As historietas são realistas, metafóricas, falam de urbanidade - eis alguns dos elementos que o livro carrega consigo. O amor se encontra nas entrelinhas...

"Eu como minhas unhas, detono meu pulmão, ferro com meu corpo. Sou fedorento como um gambá e o libertário dos libertinos. Mas ainda não sei como olhar para os seus olhos com todas essas cores de azul e verde. Ainda não sei..."

Em certos momentos, é quase palpável a crueza visceral com que a autora ambienta seus personagens. 

"Lavando os pés na água barrenta, corpo molhado pela chuva e bucho morrendo de fome, resolve perguntar à mãe onde ela conheceu o pai. Olhando o esgoto no meio da rua, ela responde:
- Aí mesmo, ó."

O livro também fala sobre as superficialidades das relações modernas, numa era em que os celulares se tornam mais que aparatos e parecem ser elementos essenciais para sobreviver nesse mundo de aparências... No conto Insone, a tragédia da vida recai sobre os lugares que ninguém espera. Em Revista sagrada, o cansaço do dia-a-dia se reflete na mesmice dos relacionamentos, já exauridos; Em Ata, corre a hipocrisia santa e a ingenuidade cega... 

Em Refluxos, as lembranças de alguém que partiu são o foco da historieta...

"A cozinha ainda estava lá, com aquele aspecto gordurento que se confundia com os cabelos dela. Olhou para o ralo da pia fixamente. Ainda hoje continua olhando. Quem sabe a encontre lá, presa entre os restos de comida entupidos."

Os sonhos de Jurema e outras historietas sem tempo é para aqueles que sabem encontrar poesia em todo lugar... Seja numa repartição pública, num ponto de ônibus após o cursinho ou entre pombos se alimentando da pipoca de alguém num banco de praça... É sobre[vivências], dores, humanos...