Antigamente havia o costume de colocarem sinos próximo as catacumbas para no caso de serem tocados, alguém que ficava de vigia acima do túmulo desenterrar o 'defunto', que certamente tinha sido enterrado vivo... Devido a algumas causas que hoje em dia [mas não antigamente] a medicina explica, algumas pessoas passam por um processo de 'morte' aparente, mas na verdade se encontram vivas, e em alguns casos até conscientes de todo o ritual que precede um velório...
Esse hábito se tornou comum em várias cidades e vilarejos devido ao alto número de corpos encontrados em posições diferentes quando se havia a necessidade de reabrir os sepulcros ou tumbas. A verdade é que - antes desse artifício - muitos morreram uma segunda vez, ao serem enterrados vivos e despertarem para o horror de constatar que não havia como escapar de seus caixões...
"Podemos asseverar, sem hesitação, que nenhum acontecimento é tão horrivelmente capaz de inspirar o supremo desespero do corpo e do espírito como ser enterrado vivo. A insuportável opressão dos pulmões, os vapores sufocantes da terra úmida, o contato nos ornamentos fúnebres, o rígido aperto das tábuas do caixão, o negror da noite absoluta, o silêncio como um mar que nos afoga, a invisível, porém sensível, presença do Verme Conquistador, tudo isso com a ideia do ar e da relva lá em cima, a lembrança dos amigos que voariam a salvar-nos se informados de nosso destino e a consciência de que eles jamais poderão ser informados deste destino, e de que nossa desesperada sorte é a do realmente morto, essas considerações, digo, acarretam ao coração que ainda palpita um grau tal de horror espantoso e intolerável que a mais ousada imaginação recua diante dele."
O enterro prematuro é um conto de Edgar Allan Poe que expõe ao leitor - através de uma figura narrativa não identificada - vários casos de pessoas, mulheres ou homens, que padeceram de maneira tão infeliz, sem chance de escapar a cruel destino. Com uma grande aptidão de prender-nos a leitura por meio de um detalhismo quase sufocante, claustrofóbico, Poe nos compele a devorar avidamente cada parágrafo do conto, rumo ao desfecho surpreendente...
O narrador conta sobre os episódios em que foi acometido com catalepsia e seu medo beirando a paranoia de ser enterrado vivo... O leitor compartilha de sua angustia, enquanto ele descreve as sensações que tinha, as precauções que tomou para sair da tumba caso o enterrassem e ele retornasse... Somos imersos em sua quase loucura e pavor... Certamente foi uma das melhores leituras do desafio #12MesesDePoe. Já tinha lido esse conto anos atrás, mas essa revisita me impressionou como se tivesse sido a primeira vez... É o poder que a escrita do autor tem sobre quem se aventura em suas histórias...