quinta-feira, julho 28, 2016

A invasão alienígena em A guerra dos mundos [#MLI2016]

Trago a resenha de mais um grande clássico de Ficção Científica, publicado pelo Selo Suma de Letras... Trata-se da obra A guerra dos mundos, do autor H. G. Wells, e esse título faz parte dos 1001 livros para ler antes de morrer... 


O narrador nos conta a invasão do planeta Terra por criaturas marcianas, e de como conseguiu sobreviver para nos contar o que passou... O pânico se instaurou em toda a Londres, e sua população ensandecida tentava em vão se ver longe da ameaça que cruzava os céus...

Dividido em duas partes, de início nos é apresentada a primeira aparição de um estranho disco em Horsell Common, Surrey. Com um raio de calor, os seres que saem desse disco acabam matando várias pessoas, que - ao se aproximarem curiosas - acabaram por fugir apavoradas quando descobrem o que aquele disco abrigava... Com uma narrativa ágil e de fácil compreensão, o leitor adentra na fuga junto com o protagonista e outros personagens que surgem em seu caminho...

O livro ficou famoso graças a uma transmissão de rádio feita por Orson Welles em 1938. Muitas pessoas, inclusive, acharam se tratar de uma verdadeira invasão alienígena, embora ele tenha deixado claro que descrevia uma obra fictícia. A linda edição da Suma traz ao final uma entrevista com Welles e o autor, além de nos introduzir ao cenário descrito por Wells com reflexões acerca da temática, fazendo uma alusão à fragilidade humana perante o desconhecido. Os terrores do ser Humano podem vir do espaço.... 


Outro ponto interessante é o fato do livro ser dividido pela narrativa do próprio protagonista, nos contando sobre os acontecimentos na zona rural e relatar o que houve com seu irmão, na perspectiva urbana. E o foco é sempre o mesmo, não há quebra de ritmo ao longo dos capítulos por essa modificação de ambiente...

Ainda no prefácio há uma referência aos Deuses antigos do universo criado por H. P. Lovecraft, entidades extraterrestres que enxergam na Humanidade apenas amebas a serem destruídas... O mesmo caso se aplica aos marcianos de H. G. Wells, que enxergam nos terráqueos meros insetos... Há certo teor provincial na escrita do autor, ao narrar os acontecimentos num campo já familiar seu - Londres e seus arredores, mas a impressão que nos dá é que a invasão ocorre naquele mesmo momento em outras partes do planeta... 


A Ficção de Wells é de renovação. Há que se derrubar/destruir um mundo para outro melhor surgir dali. Há uma dissolução social, de espaço, perspectivas de novos mundos enquanto os antigos são forçados a se adaptar... 

A edição é em capa dura, tem uma ótima diagramação e traz algumas ilustrações ao longo dos capítulos, que são curtos, dando mais agilidade à narrativa. Em suma, é uma leitura riquíssima e que mantém quem a lê preso até o seu desfecho, que - diga-se de passagem - foi orquestrado de forma coerente e sem espaço para falhas de enredo... 

terça-feira, julho 26, 2016

Top 5 - Livros que me fizeram chorar

Vi uma postagem no blog O reino encantado de uma Leitora e achei bacana elaborar uma lista de livros que já me fizeram derramar cântaros de lágrimas... Ela listou dez livros mas eu trarei apenas cinco para vocês, e espero que gostem..



A cidade do sol e O caçador de pipas - Khaled Hosseini

 

Lembro que quando li ambos os livros fiquei numa bad vibe por mais de uma semana... Tinha lido emprestado de um amigo e depois comprei minhas próprias edições... Pretendo reler pra resenhar aqui no Torpor... O autor tem uma escrita incrível, dolorida e tocante. Impossível não se emocionar e se indignar com os absurdos narrados nas duas histórias...

Perdidos na noite - James Leo Herlihy


É um livro que traz uma premissa de esperança mas acaba de forma muito triste... O próprio desenrolar da história desemboca nesse sentimento... Se quiser saber mais detalhes, clique aqui...

O pianista - Wladyslaw Szpilman


Li em poucas [e dilacerantes] horas... Baseado em fatos reais, é um dos retratos de guerra mais cruéis de que já tive notícia... Mais detalhes aqui...

O meu pé de laranja lima - José Mauro de Vasconcelos


A visão de um menino que amadurece cedo demais, passando por tantas agruras na vida... Também já resenhei aqui no blog... Aconselho a lerem, é um dos títulos nacionais mais lindos e tristes que já li...

Então é isso, caso tenham lido algum da minha lista, me falem aqui nos comentários... ou se tem vontade de ler algum deles, ou se leu e não sentiu emoção alguma [isso eu acho improvável, maaas...] 
Até a próxima postagem... beijos...


sábado, julho 23, 2016

Armadilha Mortal, um romance policial de um dos grandes nomes da literatura argentina


Ganhei de minha amiga Lilian Farias um exemplar de bolso da L&PM Editores, intitulado Armadilha Mortal, do autor argentino Roberto Arlt [1900/1942] e confesso que nunca tinha ouvido falar dele até aquele momento, mas me intriguei com seu conteúdo, por gostar de literatura policial e já pela capa notar um clima 'noir' na obra... Esses dias resolvi alternar uma leitura com ele, pois pretendia tragá-lo aos poucos... e acabei lendo em pouquíssimo tempo, tal a riqueza de sua narrativa...



Ao todo, são sete contos que compõem o livro... No primeiro deles, A pista dos dentes de ouro, um assassino usa da astúcia para cometer uma vingança. O elemento 'sedução' é o que acaba salvando sua identidade... No conto Um argentino entre gângsteres, temos um engenheiro 'contratado' por bandidos que o obrigam a fabricar uma roleta viciada, a fim de ganharem os jogos de maneira suja. Humberto Lacava precisa usar de astúcia para fugir de seus algozes, já que a morte é certa terminado o mecanismo...




"Não tinha ilusões. Quando terminasse de montar a roleta, aquela gente, ao invés de deixá-lo ir embora com vinte mil dólares, furaria sua cabeça com balas de aço. E ele jamais voltaria a projetar condutos elétricos."

Em A vingança do macaco um assassino meticuloso se vê em apuros depois de cometer um crime e um pequeno macaco estragar seus planos... A dupla armadilha mortal é sobre um homem chamado Ferrain, que recebe a missão de matar Estela, uma contra-espiã, durante um vôo... mas algo acaba dando errado e o tiro pode sair pela culatra... O mistério dos três sobretudos é sobre alguns furtos que acontecem num estabelecimento, e todos os funcionários são suspeitos. Uma delas, Ernestina, suspeita de uma pessoa e põe em prática um plano que pode ter consequencias mortais, mesmo que com isso se descubra o gatuno... 

O enigma das três cartas fala sobre um homem perseguido por alguém sem saber o motivo, o que ele tem de concreto é que alguém quer vê-lo morto... Quando a 'verdade' surge a porta, algo surpreendente acontece... Por último, mas em nenhum momento menos importante, temos o conto Um crime quase perfeito. Um investigador tem em mãos um caso de suicídio que pode ser na verdade um assassinato. Em busca de pistas, acaba descobrindo o assassino através de uma banalidade... 

Armadilha Mortal é um compilado de enredos articulados que não foram publicados numa obra única por parte de Arlt. São histórias curtas, com teor policial, que reúnem os elementos mais comuns desse tipo de trama, com um diferencial: fogem do clichê e não entregam o desfecho ao leitor logo de cara. Cada final é surpreendente. Arlt é um dos pioneiros no gênero na literatura argentina. Foi uma grata surpresa ter dedicado alguns momentos de meu dia nessa leitura tão envolvente e inédita para mim. Roberto Arlt já entrou em meu rol de 'escritores revelação' do ano... Certamente, uma boa pedida para fãs do gênero...


sexta-feira, julho 22, 2016

O Clic - A rendição do Sexo

 Recentemente ganhei de uma amiga a edição O Clic - A rendição do Sexo, do conhecido autor do gênero erótico italiano, Milo Manara. Essa edição pocket é uma publicação da Ed. Martins Fontes. Já tinha lido há uns anos a série completa, mas em pdf. Foi com grande deleite que revisitei a história segurando o quadrinho em mãos, e resolvi apresentar O Clic a vocês... 

A história se passa em torno de Claudia, uma senhora bem casada com um milionário, linda, fria e reservada. Um cientista bola um aparelho capaz de tratar a impotência sexual, mas um voyeur acaba roubando a invenção e por meio de um sequestro, implanta um chip em Claudia, e ela passa a 'obedecer' aos comandos do voyeur, que manipula a máquina conectada ao chip na cabeça dela. Agora, Claudia se vê como escrava dos fetiches insanos do inescrupuloso ladrão, e pode protagonizar escândalos sem precedentes...  A cada Clic que a máquina dá, algo violentamente voraz acende na mente de Claudia...

Dono de um traço marcante e único, Manara nos apresenta uma história que - acima do apelo sexual - pode render altas risadas com as confusões em que Claudia se mete devido a 'manipulação' do aparelho nas mãos do controlador. De frígida, ela passa a ninfomaníaca incontrolável e está disposta a pagar qualquer preço para tomar posse do aparelho, mas a cada investida, o problema só aumenta, e mais pessoas se envolvem no problema, inclusive seu marido que - tonto - não se dá conta da real situação... 

Interessante frisar que o tal aparelho tem voltagem, e quando ligado ao máximo, maior é o prazer sexual de Claudia... Apesar do conteúdo soar machista a princípio, acredito que existe uma crítica a liberdade sexual da mulher, que mascara seus desejos perante a sociedade, em nome dos 'bons costumes' e a máquina sexual funcionaria como uma espécie de 'justificativa' para liberar Claudia dessas falsas convenções...



Não preciso ressaltar [mas já fazendo] que a obra é apenas para maiores de 18 anos, e se você gosta de uma história erótica com bom conteúdo, além de um traço maravilhoso, O clic certamente vai agradar você... 

Postagem relacionada:

quinta-feira, julho 21, 2016

Tag dos 50% [Mid-Year Book Freak Out Tag] 2016

Peguei essa TAG no blog Senta aí, Leitor porque achei legal fazer esse 'balanço' das leituras do primeiros semestre do ano... 



1 - O melhor livro lido até o meio do ano de 2016.

Pssica, de Edyr Augusto Proença, publicado pela Boitempo. Visceral, alucinante e extremamente violento... Para mais detalhes, clique na resenha. 

2 - A melhor continuação que você leu até agora.

Até o momento não dei andamento a nenhuma das séries que estou lendo, por isso essa pergunta fica sem resposta...

3 - Algum lançamento do primeiro semestre que você ainda não leu, mas quer muito.

Menina Má e Donnie Darko, ambos lançados pela DarkSide Books...

4 - O livro mais aguardado do segundo semestre.

Evangelho de sangue, de Clive Barker...

5 - A maior decepção [até agora] do ano.

Onde cantam os pássaros, de Evie Wyld. Coloquei altas expectativas na trama e cheguei ao fim do livro como se tivesse apenas andado em círculos o tempo inteiro pra voltar ao mesmo lugar... 

6 - O livro que mais te surpreendeu esse ano.

Diário do Farol, de João Ubaldo Ribeiro. Li por curiosidade na escrita do autor e me apaixonei...

7 - Novo autor favorito (que lançou seu primeiro livro nesse semestre, ou que você conheceu recentemente).

George R. R. Martin. Finalmente dei início à Guerra dos Tronos e entendi o porquê dele ser tão lido, tão famoso e tão idolatrado. Eu vi a série mas ainda não conhecia os talentos do autor... E pretendo ler o segundo ainda esse ano...

8 - Personagem favorito mais recente.

Não tenho nenhum em específico... humm... Arya Stark, de A guerra dos tronos... é, acredito que ela seria minha queridinha [já era na série, mas com o livro ficou ainda mais...]


9 - Um livro que te arrancou lágrimas nesse primeiro semestre.

Joyland, de Stephen King. A leitura foi arrebatadora... 

10 - Um livro que te deixou feliz nesse primeiro semestre.

Difícil alguma leitura me deixar feliz... geralmente leio coisas que me deixam numa bad depressiva... e são desses que gosto...

11 - Sua quedinha por personagem fictício mais recente.

Jon Snow, de A guerra dos tronos.


12 - Melhor adaptação cinematográfica de um livro que você assistiu até agora, em 2016.

Mais uma pergunta que vai ficar sem resposta. Não vi nada adaptado e lido esse semestre...

13 - Resenha favorita escrita/em vídeo nesse primeiro semestre.

Só garotos, de Patti Smith. Você pode conferir clicando aqui.

14 - O livro mais bonito comprado ou que ganhou nesse primeiro semestre.

Vou escolher dois aqui: A guerra dos mundos, de H. G. Wells [pela Suma de Letras] e Sexta-feira 13 - Arquivos de Crystal Lake, pela Ed. Darkside Books...

15 - Quais livros você precisa ou quer muito ler até o final do ano?

A menina que brincava com fogo, de Stieg Larsson e Neuromancer, de William Gibson.

Então é isso. Espero que tenham curtido a TAG ;)

quarta-feira, julho 20, 2016

[Especial Dia da Amizade] - Escritores Amigos

No dia 20 de julho comemoramos o Dia do Amigo. Resolvi trazer a vocês, leitores do blog, alguns autores que eram amigos... 



Anne Sexton e Sylvia Plath

Foram amigas compartilhando até do mesmo tipo de morte. Anne sofria de transtorno bipolar e teve uma infância difícil. Seu casamento também não foi feliz... Encontrou na poesia uma companhia constante para aliviar sua tristeza... Num curso de poesia veio a conhecer sua estrela-guia, Sylvia Plath...  Em 1962 Sylvia descobriu a traição de seu marido e após um tempo acabou se suicidando, deixando Anne num estado ainda mais depressivo. 11 anos após a morte de sua amiga, Anne também comete suicidio...




C. S. Lewis e J. R. R. Tolkien

Os autores de Nárnia e da Terra Média eram amigos. Famosos por suas obras de Fantasia, a relação entre ambos contribuiu para a construção de seus mundos fantásticos. Se conheceram na Faculdade de Letras de Oxford e o elo em comum seria a paixão pela mitologia nórdica. Um era católico e o outro protestante, mas isso não impediu a boa relação afetuosa que nutriram por toda a vida...



Jack Kerouac,  Allen Ginsberg e William Burroughs

São considerados a tríade beat, que ditou toda uma ideologia literária marginal. Companheiros de longa data, partilharam cartas, drogas e escritos, além de um amor pelo desejo de aventura e liberdade na estrada. As obras On the Road, Uivo e Almoço nu são consideradas as bíblias do movimento beat, que surgiu graças a eles na década de 1950... 


Harper Lee e Truman Capote

Eram amigos de infância e Capote dedicou o livro A sangue frio a sua amiga. Devido a algumas decepções, a amizade dos dois acabou esfriando com o passar dos anos... 


Ernest Hemingway e F. Scott Fitzgerald

Ainda em inicio de carreira, Hemingway conheceu Fitzgerald enquanto trabalhava numa revista canadense, a Toronto Star Weekly. Compartilharam do movimento literário conhecido como Geração Perdida, período literário entre pós-primeira guerra e Grande Depressão... Eram americanos mas viveram em Paris por algum tempo, convivendo com outros escritores e artistas... 


Espero que tenham curtido a postagem... Até a próxima, beijos... ^.~

terça-feira, julho 19, 2016

Diário do Farol, minha incrível descoberta com João Ubaldo Ribeiro

Apesar de já ter ouvido falar do autor, nunca tinha lido nada dele antes, mas a sorte me sorriu e logo que vi a oportunidade, agarrei. Não poderia estar mais encantada com a escrita ágil, intensa e que me deixou horrorizada ao longo da leitura...

O protagonista narra toda a sua vida, desde que era maltratado pelo pai, até o final de seus dias, num farol... Ele culpa o pai pela morte de sua mãe. O espírito dela conversa com ele e juntos arquitetam uma vingança, e entre essas aparições, o narrador promete que seu pai nunca terá outro filho, já que ele é considerado um covarde e por isso, acaba sendo enviado para o seminário, pois o homem não o reconhece como um herdeiro homem que valha a pena...

E é no seminário que a índole e caráter do rapaz pioram. Ele passa anos arquitetando sua vingança, pondo em prática atos terríveis e manipulando/chantageando todos ao seu redor. Esse clérigo não mede esforços para por em prática os atos mais vis perpetrados por uma figura 'santa' aos olhos alheios... E mais: segundo sua narrativa, tudo é justificável, pois ele sofreu maus-tratos durante toda a infância, e que pioraram quando sua mãe morreu. É por ela que ele age dessa forma, chegando ao ponto de envenenar pessoas inocentes e deixando outras levarem a culpa dos assassinatos...

A partir do momento que ele percebe que não há motivos para ser um homem de bem, ele se entrega ao mal em seu pior nível. Dissimulado, calcula seus crimes sem remorso,  ao ponto das pessoas acharem que ele é um exemplo de generosidade vestindo batina, mas é cínico, desprovido de sentimentos de compaixão, e completamente calculista. Como se rastejasse, vai conquistando a confiança daqueles que pode tirar proveito, aniquilando os possíveis contratempos no caminho, usando as pessoas quando bem lhe convém. 


Em dado momento, ele narra as torturas feitas no período da Ditadura Militar, quando almeja se vingar de uma mulher com quem teve um romance proibido, e que quase o fez desistir da batina, mas acabou rejeitando-o para levar adiante seu casamento... E sua vingança foi perversa, cruel e rigorosamente planejada... As pessoas ao seu redor lhe davam asco, mas com paciência e muito autocontrole, ele conseguia transparecer um efeito contrário. Ninguém nunca supôs o quão terrível aquele clérigo poderia ser...




Aos moralistas e fracos de estômago, diversas passagens do livro irão lhe causar desconforto. Principalmente aos religiosos. É notável a crítica de Ubaldo as instituições religiosas com relação a [homo]ssexualidade, adultérios e afins. 

"Eu tinha envenenado o corpo do Cristo. Curiosa sensação: nunca havia acreditado em Deus e muito menos na divindade do Cristo, mas agora me sentia como uma espécie de vencedor, como se eu tivesse nocauteado Jesus numa luta de boxe, ou fosse um dos que o crucificaram. [...] Depois de ter envenenado uma hóstia, ninguém pode aspirar a transgressão maior. [...] Imitar o Cristo, como há gente sempre querendo, resulta em aleijões sociais ou, no mínimo, débeis mentais, cuja vida é cerceada de todas as formas imagináveis e submetida a torturas antinaturais." 

Alcançando seus intentos, o narrador se despede de maneira contundente e capaz de levar o leitor a questionar valores morais. Uma narrativa forte, precisa e de tirar o fôlego. Causa desconforto. E eu gosto disso...




domingo, julho 17, 2016

A cor púrpura - de Alice Walker

 2016 está sendo um ano de leituras interessantes, mas estou me permitindo revisitar livros que há muito tinha lido e que senti necessidade de trazer minhas impressões para o blog... A cor púrpura foi a última dessas obras... 

Escrito por Alice Walker, e recentemente publicado numa linda edição pela Editora Record, esse ganhador do Prêmio Pulitzer de 1983 foi escrito um ano antes e traz em suas páginas a história da personagem Celie, que desde muito cedo aprendeu que o mundo pode ser bem hostil quando se nasce mulher, pobre e negra numa região ao sul dos Estados Unidos, num período de segregação racial... 

Desde nova, Celie sofreu abusos por parte de seu pai e acabou tendo filhos desses abusos. Sua mãe acaba morrendo de desgosto por ver sua filha sendo mãe tão nova, mas logo seus filhos são apartados da jovem, e seus paradeiros são desconhecidos... Logo ela se vê forçada a casar com um viúvo, que já tem filhos e mais velho que ela, sendo separada da companhia de sua irmã Nettie. Sua vida se torna um pesadelo regado a surras e maus-tratos, mas Shug Avery aparece para minimizar a dor diária que Celie é submetida... Com a chegada dessa misteriosa mulher, as coisas parecem melhorar um pouco. Ainda assim, ela é constantemente torturada pelo destino, e passa a ditar cartas para Deus, numa tentativa de amenizar seus sofrimentos... 



A autora coloca em pauta temáticas de abuso sexual, patriarcalismo, Relação de poder, gravidez precoce, pedofilia, violência doméstica, machismo, enfim... assuntos que se interligam e todos tem como ponte a submissão da mulher perante o homem na sociedade. Distinção de classes sociais, de cor e homossexualidade [embora este último de maneira poética e sutil], também tem seu espaço nessa história comovente... 

Em várias passagens é evidente o discurso de poder do homem quando a mulher resolve se fazer ouvir, pois sua função é de cuidar de filhos e ser dona de casa, não sendo permitida questionar, sendo punida quando desobedece as ordens de seus maridos. E achei notória a maneira como as personagens em dado momento passam a querer mudar a situação...

Há um momento em que a fé de Celie já não é mais suficiente para se fazer ouvir por Deus, e suas cartas são direcionadas a sua irmã Nettie, que após ter fugido de casa, passa a viver com um casal de missionários na África, junto com os filhos de sua irmã, que ela julga mortos. E Nettie escreve várias cartas a Celie ao longo dos anos, mas o marido da irmã sempre as esconde e Celie não sabe delas por um bom tempo, até que Shug e ela descobrem as correspondências num baú trancado de 'Sinhô' e ela descobre como anda sua irmã... 

Em paralelo há outros personagens [secundários] ricamente trabalhados na trama, que não deixa margem para que caiam em esquecimento. Eles se mesclam ao fio principal da história, compondo uma colcha de retalhos bem distribuida, e que não deixa o leitor perdido em 'quem é quem' na obra... Todos se encaixam perfeitamente, com suas dores, dificuldades e amores... 

A narrativa tem uma escrita peculiar, se alternando entre as irmãs e alguns outros personagens, em forma de cartas e com a ortografia 'caipira' de alguém que não é alfabetizado, no caso de Celie e Shug. Quando são as cartas de Nettie, a escrita é de alguém que frequentou a escola... Outro fator importante é sobre o questionamento da fé, a imagem do Deus cristão [com sua imagem semelhante ao europeu], uma leve crítica ao pensamento catequista nas comunidades africanas na época do imperialismo [a história se passa no entre guerras] e quanto a segregação sulista, em que uma senhora branca não pode sentar-se no banco de um carro ao lado de uma negra, por exemplo...

"Os meninos agora aceitam Olivia e Tashi na classe e outras mães estão mandando suas filhas para a escola. Os homens não gostam disso: quem vai querer uma esposa que sabe tudo que o marido sabe? Eles se enfurecem." 

É impossível não se emocionar em alguns trechos, de se indignar em outros e principalmente identificar situações que até hoje acontecem, como se ainda estivéssemos vivendo com o pensamento aquém da atualidade, ainda regados de preconceitos, tanto com os negros quanto com as mulheres. É uma leitura forte, que por certo vai ecoar no pensamento de quem a ler, por vários dias, indo e retornando em momentos propícios à lembrança de suas páginas... 

"Os anos vieram e se foram sem uma palavra sua. Só o céu acima das nossas cabeças é o que temos em comum. Eu olho muitas vezes para ele como se, de alguma maneira, refletida na sua imensidão, um dia eu me encontrarei olhando nos seus olhos. Os seus queridos, grandes, límpidos e lindos olhos."

sexta-feira, julho 15, 2016

Brasil: [ditadura] Nunca Mais



Enfim concluí a leitura de Brasil: Nunca mais - um relato para a história, publicado pela Editora Vozes. Tinha escolhido esse livro para o desafio Poisonous [que andei flopando os últimos meses], por ser um título lançado no ano de meu nascimento, 1985. Mas a questão é que demorei bons meses para terminar a obra, não por ser maçante, mas pelo seu teor forte e desconfortante.

"Este era o meu estado físico: não podia me levantar, nem podia andar; hematoma generalizado dos ombros e costas até os dedos dos pés, inclusive os braços e as mãos, que ficaram quase pretas, saindo uma espécie de salmoura debaixo das unhas e das linhas de cada mão; ou ouvidos inflamados; uma costela do lado esquerdo, fraturada; o rim direito afetado; a perna direita com vários ligamentos da coxa rompidos, inclusive o joelho com o menisco fraturado, o que me deixou semi-paralítico por mais de dois meses. (...)". 

O livro trata de depoimentos de familiares e vítimas torturadas nos anos em que houve a Ditadura Militar aqui no Brasil. Professores, padres, intelectuais, políticos de esquerda, jornalistas - até crianças - tiveram suas vidas ameaçadas por um bando de homens fardados sem escrúpulos e de pensamento extremamente fundamentalista e conservador. 

Em tempos de pessoas que vão as ruas bater panelas e gritarem 'fora PT' e ao mesmo tempo, se calam perante a roubalheira da Direita, achei de suma importância trazer minhas impressões sobre essa leitura aqui. Porque, - pasmem, desinformados - a Direita também é corrupta. Se você é daqueles que acha que ter tirado Dilma do poder é o fim da corrupção no Brasil, e que se ajoelha em manifestações pedindo a volta dos militares, essa leitura deveria ser obrigatória pra você.

O livro é dividido em 6 partes, mais um anexo e um prefácio escrito por Dom Paulo Evaristo Arns. No início do livro temos conhecimento do tipo de tortura utilizado [inclusive em grávidas], em que os captores usavam, como choque elétrico, pau-de-arara, afogamento, 'geladeira', insetos e animais, produtos químicos entre outras formas de arrancar confissões forjadas e desconexas de vítimas que falariam qualquer coisa a fim de terem a tortura finalizada. Mulheres sofreram aborto, foram abusadas sexualmente, tiveram seus parentes ameaçados. Foram prisões arbitrárias, sem fundamento, apenas para punir pessoas que criticavam o fascismo do governo da época e lutavam pelos direitos da classe trabalhadora. 

Com o apoio dos americanos [se você não faltou às aulas de História, certamente saberá disso], os militares fizeram 'desaparecer' dezenas de pessoas, e famílias até hoje não sabem onde se encontram seus restos mortais a fim de lhes dar enterro digno. Famílias que ouviram de um senhor calhorda deputado que, hoje, alguns intitulam 'bolsomito' dizer que 'quem gosta de osso é cachorro', mostrando claramente o desrespeito com essas familias. 


Mas, voltando a Brasil: Nunca mais... O livro fala sobre o início do sistema repressivo que ceifou a liberdade do país num período de duas décadas. Dá 'um parecer' do perfil dos perseguidos, fala sobre organizações de esquerda, organizações ligadas ao 'Nacionalismo Revolucionário', sindicalistas, estudantes, como se formavam os processos judiciais, em sua maioria desrespeitando as leis contra tortura e interrogatórios fora de hora. Confissões, Intimidação por meio de tortura psicológica e física, depoimentos forjados, locais onde pessoas foram mantidas em cativeiros, e ao fim uma lista dos desaparecidos políticos, a lista do Araguaia. Cita personalidades que marcaram a história por suas mortes, como o pai de Marcelo Rubens Paiva [Rubens Paiva] e o jornalista Vladimir Herzog, que segundo consta nos autos, 'se enforcou' em sua cela... 

Eu poderia usar o texto como uma aula de História, mas seria demasiado longo escrever tudo que meus conhecimentos acadêmicos permitem aqui... Mas para os interessados no assunto, podem pedir material [sério] que fale a respeito desse período infeliz de nosso país, e eu prontamente terei prazer em disponibilizar... E sobre Brasil: Nunca mais, infelizmente a situação política atual está caminhando a passos largos para um precipício que, espero sinceramente - nós não despenquemos novamente...


segunda-feira, julho 11, 2016

As aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain


Estou lendo com afinco nos últimos dias, aproveitando meu primeiro fim de semana em recesso da escola, sem todas aquelas cadernetas a preencher e provas a corrigir... Com a Maratona Literária de Inverno, tive a chance de tirar a poeira de alguns títulos da estante e um deles acaba de ser concluído: trata-se de um clássico de ficção americana do já falado aqui antes Mark Twain - As aventuras de Tom Sawyer.

Eu já conhecia a história por ter lido sua versão adaptada em quadrinhos mas é sempre um deleite visitar a obra em seu contexto original. Tom é daqueles meninos travessos, que por mais confusões que arrume, a tia Polly não consegue ralhar com ele sem se sentir culpada por isso. Ele tem alguns amigos de sua idade, entre eles Huck Finn e Joe Harper. Juntos, esses meninos aprontam todas na pequena aldeia de São Petersburgo, às margens do rio Mississippi. Em vários momentos ele se encontra em farrapos, descalço, brigando com outras crianças ou aprontando na escola e igreja. Mas apesar das 'artes', ele é um menino de bom coração, e espírito extremamente aventureiro, como toda criança deve ser...

Cansado de só levar revés de sua tia pelas suas traquinagens, acaba fugindo de casa com seus dois amigos. Após passarem dias refugiados numa espécie de ilha do rio, voltam para suas casas e deixam a população da aldeia mais tranquila, já que àquela altura, davam pela morte das crianças... Durante esse tempo afastados, eles ousaram viver como piratas, dormindo ao relento e pescando o alimento de cada dia, mas a brincadeira começa a entediar os demais e logo Tom não vê outra alternativa a não ser voltar a realidade de casa...

Ele e Huckleberry - em uma de suas aventuras - acabam testemunhando um assassinato, e resolvem fazer um juramento de que nunca falariam sobre aquilo com ninguém... o problema é que alguém inocente pode ser enforcado no lugar do verdadeiro culpado... Até o julgamento e depois dele, os garotos passam por poucas e boas... Mas a consciência de Tom fala mais alto, embora o culpado tenha fugido... Os dias agora são tensos, pois a qualquer momento, ele pode voltar e se vingar dos garotos, em especial de Tom Sawyer...

A narrativa se dá em terceira pessoa e foca bem nos diálogos entre as crianças protagonistas. Outros personagens secundários também tem destaque onde convém melhor na história e possui uma escrita fluída. Escrito em 1876, é uma leitura com um herói criança mas que pode ser encantadora para o público adulto. É possível reconhecer-se na infância do menino e nas coisas simples que valem tesouros na imaginação dele... 

As aventuras de Tom Sawyer é uma obra que merece ser lida por todos os leitores, independente de faixa etária. O único adendo que faço com referência ao livro e que pode chocar o leitor é sobre o racismo incutido em alguns trechos. Em menor proporção do que em As aventuras de Huckleberry Finn [1884], mas ainda assim presentes, se faz necessário lembrar o período e local em que a história é ambientada, não significando que o autor seja racista, mas a maioria das pessoas que ali viviam era, e que era algo normal. Não estou dizendo que é certo, mas que o ato é fato. Mais a frente poderia falar a respeito dessa temática numa outra postagem...

Em suma, espero que tenham gostado da resenha. Alguém aqui já leu ou tem vontade de ler a obra de Mark Twain? Me falem nos comentários... Até a próxima, beijos... ^.~

domingo, julho 10, 2016

Condenada, de Chuck Palahniuk

"Está ai, Satã? Sou eu, Madison. Acabei de chegar aqui, o Inferno, mas não é minha culpa."

E mais uma vez escrevo com a sensação de ter sido socada no estômago. A leitura que me desconforta me atrai demais. Mas não esperava ver num livro aparentemente sobre uma guria que morre aos 13 anos por overdose de maconha e vai para o Inferno, as críticas tecidas de maneira tão inteligente e mordaz escritas pelo autor, Chuck Palahniuk [conhecido aqui no Brasil por Clube da Luta]...


Madison se encontra morta e no Inferno, mesmo sendo uma adolescente que tinha tudo pra viver ainda... Ela narra sua estadia por lá e encontra figuras bem distintas, de padrões bem familiares encontrados aqui na Terra, tais como o nerd, o punk de moicano azul, a líder de torcida 'cocotinha' e o valentão esportista. Ao fazer amizades, ela já vai se habituando e explorando o lugar além de sua cela mal-cheirosa, em que não seria legal encostar nas grades... E nesses passeios pelo reino de Hades, ela se depara com uma perseguição que quase lhe custa ser comida por um demônio, naquele ritual que fazemos ao comer tortuguita...

Digamos que a partir dessa cena B-I-Z-A-R-R-A EXTREME, ela ganha 'alguns pontos' por lá... Madison narra como era sua vida antes de ir parar ali. Filha de um casal de ricos famosos, extremamente narcisistas e desleixados com a atenção que deveriam dar a filha, são do tipo de ricos que adotam crianças esfomeadas do Nepal, da África ou Índia para fazer pose de bons samaritanos. A mãe é uma das personagens mais detestáveis que já vi na literatura, fútil e egoísta, com ares 'apavoneados' [isso existe?] de quem se importa [e acha] que faz algum bem a filha. 

"Uma das grandes convicções políticas de minha mãe é que, se as pessoas querem com tanto desespero vir para os Estados Unidos, arrastando-se pelo rio Grande e colocando a própria vida e membros do corpo em risco, apenas pela oportunidade de colher nossa alface e alisar nossos cabelos, bem, devemos permitir. Nações inteiras não desejam nada além de ter a oportunidade de esfregar o chão da nossa cozinha, ela diz, e impedi-las de fazê-lo seria uma violação dos direitos humanos mais básicos."

A crítica do autor é clara, e ele usa uma garota de treze anos sem reservas na língua e toda a carga psicológica que a adolescência nos traz nessa fase, para criticar a futilidade em que está mergulhada 'por tabela', já que viveu naquele meio a contragosto,  e lhe foi dessa forma descortinada a sociedade. A mãe de Madison seria a representação da classe rica que oprime a classe pobre, achando que lhes presta um grande favor. 

Madison possui um vocabulário sarcástico, e faz referências que vão de Tom Sawyer a'O Paciente Inglês. Sua linguagem é crua e de humor mordaz. A descrição do Inferno é feita com boas doses de escatologia. O nerd que ela conhece - Leonard - apresenta toda a hierarquia do local, como bom estudioso que é/foi. Há presente na obra uma alfinetada aos hábitos adolescentes que a cultura do 'você precisa agir assim para ser aceito' nos empurra goela abaixo. Num contexto geral, a religiosidade também ganha seu julgamento, em seus conceitos de certo, errado e moral. 

"Hoje em dia, se qualquer uma das minhas amigas vivas se sentar no quarto vomitando o dia todo, o diagnóstico será bulimia. Em vez de chamar um padre para confrontar a menina sobre seu comportamento, expressar amor e preocupação e desalojar o demônio que a possui, famílias contemporâneas entram em terapia comportamental. É esquisito pensar que até 1970 líderes religiosos jogavam água benta em meninas adolescentes com distúrbios alimentares."

Os pais eram hippies na adolescência e tentavam adotar um estilo de vida saudável que desse publicidade em frente aos  holofotes. Incentivavam a filha a se drogar, andavam nus, sem pudor algum dentro de casa, possuíam imóveis em várias partes do mundo, empregando somalianas em cada uma delas. Adotavam crianças para empurrá-las em internatos depois... Um deles, Goran, tem papel fundamental no destino de Madison e sua ida ao Reino dos Mortos... Ele foi o transgressor, considerado psicopata por permanecer à margem dos 'bons costumes da civilização' que todo adotado deveria por em prática. 

Palahniuk ousou em trazer ao leitor uma obra tão repleta de metáforas que podem ser analisadas sem perder a dosagem de 'leitura para entreter.' No fim das contas, a máscara do sarcasmo usada por Madison encobria a carência de uma garotinha que só desejou o amor e presença dos pais em vida. Como não conseguiu, suas atenções se voltaram para Satã. Talvez ele notasse a menina que ficou trabalhando no setor de telemarketing do inferno, ligando para pessoas doentes terminais e os incentivando a acabar com aquilo, pois do outro lado eles seriam mais felizes... E assim, mais almas eram angariadas para Satã. Qualquer pequena infração era motivo para condenação... por essas e outras o Inferno anda tão cheio...

Quanto ao desfecho, descobrimos o papel de Goran na morte de Mad. Há uma chance de visitar a Terra e ela se chama Halloween. E a garota e seu séquito saem fantasiados deles mesmos mas precisam voltar antes da meia-noite, senão ficarão presos por um ano inteiro sem que os vivos lhe sintam a presença... Vendo as crianças vivas se divertirem, a nostalgia/melancolia invadem o pensamento da protagonista, bem como sua desesperança no 'amanhã' daqueles futuros adultos...


Vem estimulante essa passagem, não é mesmo? 
O que acontece depois? Ainda não sei. Preciso ler Maldita para descobrir...


sábado, julho 09, 2016

#LendoSandman - Vidas Breves e Ramadã [8º arco]

imagem do google

Estamos caminhando para a reta final do Projeto de Leitura #LendoSandman, e confesso que o sentimento de tristeza por me despedir desses personagens me invadiu... Mas estou aproveitando cada quadro, cada mensagem que Neil Gaiman nos passa através de personagens tão complexos e extraordinários...

Delírio sai em busca do sétimo irmão, e pra isso pede a ajuda de seus irmãos mais velhos. Depois da recusa de Desejo, Desespero é a próxima consultada, e prontamente lhe diz não. Sem saber a quem mais recorrer Delírio vai procurar ajuda com Sonho... Nesse ínterim, temos um flashback de Desespero com o irmão Destruição em tempos remotos... 

Chegando ao reino do Sonhar, finalmente a pequena perpétua consegue a colaboração de seu irmão, depois de uma conversa deste com Desejo. Alertado por seu fiel Lucien, o bibliotecário, ele alega não estar indo atrás do irmão, mas seria uma espécie de fuga para sua própria tragédia romântica. Sendo assim, ambos partem para Dublin, em busca dos amigos que poderiam saber algo sobre o paradeiro de Destruição... O problema é que em busca de Destruição, coisas e pessoas se 'destroem' pelo caminho... 

Entre esses amigos está a dançarina Ishtar; trata-se na verdade da deusa do amor Astarte, que foi amante de Destruição, e hoje tem um pequeno séquito de clientes que pagam para vê-la dançar numa boate... Interessante encontrar aqui o mito de que os deuses antigos caíram no esquecimento e perderam seu poder e glória porque deixaram de acreditar neles... Depois da conversa com Morpheus, ela vai ao palco para mais uma - a última - apresentação de dança, onde seus clientes sucumbem ao amor fatal... Com isso, ela voltará ao reino do Sonho, como ocorre com os demais deuses há muito esquecidos? Uma referência interessante nesse ponto é o nome da boate: Suffragette City [fãs de David Bowie entenderão...]

Morpheus acaba voltando ao Sonhar, mas antes tranca Delírio em seu próprio reino. Por isso ele recebe a visita de Morte, que não está muito contente com as decisões tomadas pelo irmão... Então ele resolve se desculpar com Delírio e ambos partem novamente em sua jornada por Destruição... Ah, não poderia deixar de mencionar a visita que ele faz a deusa dos gatos, que não sabe onde o irmão dele se refugiou... E assim eles continuam na procura que parece não ter fim... 


Quando enfim conseguem atingir seu intento, a conversa dos três irmãos toma um desfecho de despedida... Uma das partes mais tocantes do diálogo entre Destruição e Morpheus é quando o primeiro fala de uma conversa que teve com Morte tempos atrás, em que ela cita Destino:

"Todos podem saber o que Destino sabe. E mais. Não só podemos saber tudo. Como sabemos mesmo. Só dizemos a nós mesmos que não, para poder suportar."

E nesse clima de despedidas, Destruição manda lembranças a Desespero, dá adeus a Morpheus e Delírio, que se entristece por ver o irmão partir, pois ela queria que ele ficasse com ela em seu reino. Mas ele já havia tomado a decisão e desistido de tudo aquilo...
"Eu gosto das estrelas. Acho que é a ilusão da perpetuidade. Quer dizer... elas estão sempre se queimando, piscando e desaparecendo. Mas daqui, eu posso fingir... Posso fingir que as coisas duram... Posso fingir que as vidas duram mais do que momentos... Deuses vêm e vão. Mortais lampejam, reluzem e se apagam. Mundos não duram. Estrelas e galáxias são coisas transitórias e fugidias que ficam como vaga-lumes e se desfazem em pó e frieza. Mas eu posso fingir.."

A partir daí, confesso que o arco me deixou ainda mais melancólica até a última imagem. Me senti como Morpheus naquela sala, sozinho, lembrando de seu filho e dos acontecimentos recentes com relação a ele... As palavras que ele disse ao filho acabaram servindo para si mesmo... [e para mim, como leitora]...
"Você vai ao funeral e se despede da morta.Você se enluta. Então continua com sua vida. E, às vezes, a ausência dela te atingirá como um soco no peito, e você irá chorar. Mas isto acontecerá cada vez menos com o passar do tempo. Ela morreu. Você vive. Viva. Então viva."


Ramadã é uma história das 1001 noites na visão/versão de Gaiman, se encontra no volume Fábulas e Reflexões. Haroun Al Raschid, depois de melancólica contemplação de sua cidade e ignorando os pedidos de companhia da esposa e amigos, adentra nos confins e masmorras de seu castelo, abrindo portas incrustadas de riquezas, uma após a outra, descendo cada vez mais fundo nas profundezas de seus domínios até chegar a uma sala com fogo, agarrando-se a uma esfera... 

Com ela, o califa resolve convocar o rei dos Sonhos. Dentro dela, há centenas de anos haviam sido aprisionados djins, ifrits e demônios, e ele ameaça soltá-los caso Morpheus não apareça. Quando se vê frente a frente com o Perpétuo, ele propõe uma troca, e prontamente é bem-sucedido... Mal sabia ele qual seria o preço a pagar por tal pedido... A história parece não ter ligação direta com os arcos principais, mas é bacana ver uma mini-trama a parte, mostrando o quanto nossos pedidos podem ter consequências além do que podemos suportar...


O próximo arco a ser discutido é Fim dos Mundos, que compreende as edições 51 a 56. Ainda esse mês eu volto com resenha dele aqui... Aguardem... Beijos e até lá...

sexta-feira, julho 08, 2016

TAG - Conhecendo o Meu Acervo

Vi no blog Leituras Diárias essa TAG super bacana e mais uma vez dei uma de 'enxerida' e postei aqui, mesmo sem alguém me marcar... Mas quem quiser ver a postagem dela, é só clicar no link aqui descrito... 




1 - Qual a lombada mais chamativa do seu acervo de livros?

Tenho algumas bem chamativas, mas acho que a que todo mudo bota logo o olho é a de Incesto, de Anais Nïn. Nem é por questão de atrativos, mas o título enorme dela chama logo a atenção de quem dá uma espiada na estante... 

2 - Quantos livros o seu acervo possui?

Bem, segundo o meu Skoob, possuo 881 livros, 616 quadrinhos/mangás e 260 revistas...

3 - Conte os livros em ordem até 15. Qual é o livro? Fale um pouquinho sobre ele. 

Crônica de um amor louco, de Charles Bukowski. Não foi o primeiro título do velho Buk que eu li, mas foi o primeiro que comprei. Uma colega minha de faculdade estava se desfazendo de uns livros e por apenas 10 pilas acrescentei o exemplar em meu acervo... É um livro bacana, embora não seja o melhor que já li dele... Tem uma lombada rosa, nunca resenhei ou falei dele aqui no blog, mas pretendo reler futuramente com esse intuito...

4 - Conte os livros em ordem até 20. Qual é o livro? Fale um pouquinho sobre ele.

Delta de Vênus, de Anais Nïn. Foi o primeiro contato que tive com a autora, em 2010. Um amigo deixou o livro dele comigo uns minutos e fui absorvida por 'Pierre' e sua luxúria esmiuçada na escrita da autora... Poucos dias depois, resolvi pedir a outro amigo que comprasse na Livraria Cultura meu próprio exemplar... Na época me custou 18 reais... É um de meus preferidos da estante e da vida...

5 - Escolha um livro com a lombada branca e fale um pouco sobre ele.

Fluam minhas lágrimas, disse o policial. De autoria de Philip K. Dick, ganhei esse título em um sorteio de fanpage, a editora iria me enviar ele e acabou mandando outro título [Flua!]. Entrei em contato com o dono do blog pra saber como devolver o livro errado pra Editora Aleph pra eles me enviarem o correto. Responderam que eu poderia ficar com ele e ainda mandaram o livro correto do sorteio... Infelizmente, até hoje não os li... Mas esse ano um deles será lido numa maratona...

6 - Como você costuma organizar os seus livros?

Bem, eu preciso aproveitar o espaço que possuo na estante, nem dá pra arrumar da maneira que quero realmente, então optei por organizá-la por autor[a], editora e gênero...

7- Qual foi o último livro que você adquiriu?

Sexta-feira 13, de David Grove, numa promoção da Editora DarkSide na Amazon...

8- Quais os livros mais antigos do seu acervo?


A expedição Kon-Tiki - 8.000 Km numa jangada através do Pacífico, que data de 1952. Mas possuo uns livros cartilha [gramática, álgebra, geografia e história] que foram publicados nos anos 1920... Ah, tenho o volume 3 de O homem que ri, de Victor Hugo, data de publicação dos anos 1940, mas não sei o ano exato...

9- De quais autores você tem mais livros?

Agatha Christie. São 40 títulos da Rainha do Crime... Em segundo lugar, Moacyr Scliar [13 volumes]. O bronze da estante fica com Machado de Assis [12 volumes]...

10- Tire uma foto do acervo.

Não só uma, mas várias, a fim de mostrar os detalhes... Lembrando que as revistas e quadrinhos não aparecem nestas imagens a seguir, mas se localizam na parte inferior da estante, em duas partes fechadas...

Partes I, II e III...


Parte IV - tem duas fileiras por trás dessas que aparecem...

Partes V e VI

Parte VII - Possui duas fileiras por trás dessa frente...

Sorte que arrumei a estante recentemente... Mas de certa forma, ela gera chaos aos incautos... Espero que tenham curtido a TAG. Indico os blogs Império Imaginário, Poesia na Alma e a equipe do Dose Literária para respondê-la...


Detalhe em destaque: livros recentes de parceria a serem lidos [e mangás Blade do meu marido]

Espero que tenham curtido a postagem... Até a próxima... beijos...

quarta-feira, julho 06, 2016

A sombra de Innsmouth, de H. P. Lovecraft

Geralmente costumo escolher para leituras noturnas e chuvosas algum exemplar de suspense ou terror de meu acervo... Aproveitando a Maratona Literária de Inverno, onde acrescentei o livro A sombra de Innsmouth a minha TBR, achei pertinente iniciar sua leitura aproveitando a noite fria e soturna do dia anterior ao qual escrevo essa resenha... E me entreguei a leitura, ficando absorta por boas horas...



Recebi esse exemplar da Editora Hedra em parceria com eles. De autoria do aclamado mestre do horror e do Mito de Cthulhu - H. P. Lovecraft -  trata-se de uma novela escrita em 1931 e única obra publicada em vida do escritor... Lovecraft andava frustrado depois de inúmeras recusas de seu trabalho no mercado editorial, que desejava aparar-lhe a liberdade de escrita, e acabou escrevendo o texto sem pretensões de publicá-lo, era apenas para satisfazer seus critério de escrever ficção. O que resultou desse trabalho foi uma obra marcante, perturbadora e cheia de detalhes que fascinam e horrorizam o leitor, como se o narrador contasse algo que aconteceu a nós mesmos...

Numa viagem a Nova Inglaterra, Robert [o narrador] resolve fazer uma parada numa cidade/vilarejo há muito abandonada pelo tempo... Além de não aparecer nos mapas, tem em suas sombras um mistério envolvendo seres estranhos, bizarros e que fogem à compreensão humana... O protagonista se vê obrigado a passar uma noite em Innsmouth, e esta acaba sendo a noite mais alucinante de sua vida... Em algumas passagens dessa noite infernal, fica a dúvida se o que o narrador nos revela é algo real ou se a loucura se apossou de sua mente e toda aquela paranóia tenha ocorrido apenas dentro de sua cabeça... Seriam delírios ou um perigo real e milenar?

Ele havia conversado com um homem da cidade que todos julgam como louco, e este lhe contou vários fatos ocorridos ali, envolvendo rituais e sacrifícios, entre outras bizarrices. A própria população do local se revela pouco amistosa com seu visitante e a todo momento, Robert se sente observado por aquelas figuras que o deixavam inquieto e apreensivo... 
"as pessoas eram ainda mais repugnantes e disformes  [...] que inúmeras vezes vi-me assolado por impressões ameaçadoras de algo absolutamente fantástico que eu não conseguia definir."

Dividida em poucos capítulos, a narrativa se encaminha para um final que deixa o leitor surpreso, e é necessário se atentar a um ou outro detalhe se quiser descobrir esse fator 'surpresa' antes que a história chegue ao fim... Nessa edição há uma carta do autor onde ele fala sobre as recusas das revistas que cercearam suas publicações, e uma árvore genealógica do protagonista da história...



Sobre a introdução, sugiro que leiam após concluir a leitura da obra. Ela traz informações importantes sobre a trama, bem como referências ocultas sobre as ideologias racistas do autor, como se numa espécie de alegoria escrita ele pudesse canalizar seus sentimentos simpatizantes a 'superioridade ariana' e 'miscigenação racial'... Em A sombra de Innsmouth, a miscigenação da população nativa com Criaturas Abissais seria uma espécie de aberração e degeneração da Humanidade, sendo este o motivo de serem repulsivos a habitantes de cidades vizinhas dali, onde só viviam homens que nunca 'se misturaram'... 

Afora esse pensamento [infeliz] do autor, o livro é uma pequena raridade, que possui peculiaridades típicas de seus escritos, o que o difere de outros autores do gênero por trazer a questão do contato do Homem com algo aterrorizante, vindos de outro planeta, de outra dimensão ou da própria mente do personagem... É uma leitura que recomendo aos fãs e aos que desejam começar mas não fazem ideia de como imergir em sua escrita...

Caso queira adquirir um exemplar, é só visitar esse link... 

A sombra de Innsmouth
H. P. Lovecraft
132 páginas
Preço: 29,90
Editora Hedra

terça-feira, julho 05, 2016

As narrativas pessoais de Primo Levi na Segunda Guerra Mundial: Os afogados e os sobreviventes

Delitos. Castigos. Penas. Impunidades. São termos que se encaixam nos horrores que ocorreram com os judeus, no período em que ficaram presos em vários campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. E Primo Levi, sobrevivente de um desses lugares horríveis traz em seu livro Os afogados e os sobreviventes relatos sobre tudo o que ele vivenciou e que foram registrados por outros desde a época... 

Uma das propostas da obra é desmistificar a romantização pós-guerra relacionada aos judeus sobreviventes, provenientes da literatura e do cinema. Tenta mostrar de forma mais crua e realista o quão 'perdida' estava aquela geração que sobreviveu fisicamente mas tiveram seu psicológico destruído, sofrendo as conseqüências anos depois... As notícias que se espalhavam sobre o holocausto beiravam o absurdo, a ponto de se tornarem inacreditáveis. Em vários momentos o mundo duvidou de tais testemunhos, por soarem cruéis, bizarros e desprovidos demais de humanidade... Mas foram reais...

A própria população alemã sabia exatamente o que ocorria com os judeus que eram levados aos campos de concentração? No que consistia a 'Solução Final'? Fingir não saber ou desviar-se dos fatos era uma maneira de aliviar a culpa do Holocausto? As indústrias lucravam fornecendo fornos crematórios aos campos nazistas, ignoravam deliberadamente sua utilidade pois o lucro era mais valioso. 

Levi discorre sobre as memórias que se perdem com o tempo. Eis um dos trechos mais interessantes a esse respeito:

"A maior parte das testemunhas, de defesa e de acusação, já desapareceram, e aqueles que restam e ainda (superando seus remorsos ou então suas feridas) concordam em testemunhar dispõem de lembranças cada vez mais desfocadas e estilizadas; frequentemente, sem que o saibam, lembranças influenciadas por notícias divulgadas mais tarde, por leituras ou por narrações alheias. Em alguns casos, naturalmente, a desmemória é simulada, mas os muitos anos transcorridos lhe dão crédito, mesmo em juízo: os "não sei" ou os "não sabia", proferidos hoje por muitos alemães, não mais escandalizam, ao passo que escandalizavam, ou deviam escandalizar, quando os fatos eram recentes."

A história vergonhosa das guerras ainda se repete nos dias atuais. Muda o palco, o cenário e atores, mas o contexto é o mesmo: ideologias religiosas e políticas...

O livro divide-se em capítulos em que o autor apresenta perspectivas diferentes ao leitor. Num deles, ele fala sobre a memória humana e os traumas que os sobreviventes carregam. A negação de má-fé e a negação a fim de se livrar da culpa, coletiva ou não -  dos alemães. Em outro capítulo, Levi fala sobre a zona cinzenta, o próprio Lager [campo de concentração] e sua 'funcionalidade'. O ingresso ao campo, "os chutes e os murros desde logo, muitas vezes no rosto; a orgia de ordens gritadas com cólera autêntica ou simulada; o desnudamento total; a raspagem dos cabelos; a vestimenta de farrapos." 

Sobre a desumanização, é notório ao longo da obra trechos que falam acerca disso. Sobre delegar aos judeus que queimem os corpos dos 'seus'. A parte suja' dos atos cometidos contra a 'sub-raça', servia em parte para tirar dos ombros dos membros da SS a responsabilidade de tais perversidades. Quanto a criação de "Esquadrões", "através dessa instituição, tentava-se transferir para outrem, e precisamente para as vítimas, o peso do crime, de tal sorte que para o consolo delas não ficasse nem a consciência de ser inocente." 

Os nazistas tiravam a identidade dos prisioneiros, tornando-os meramente anônimos, estatísticas, registros num livro. O coletivo o diminui a condição de 'apenas mais um corpo'. Outro questionamento interessante que Primo Levi coloca em evidência: o contexto histórico da época pode ter tornado muitos homens assassinos. Se não fosse a guerra, a ideologia nazista, tantos soldados seriam lembrados [ou não] por quaisquer outros motivos, e não por serem membros da SS, torturadores de judeus. Há que se pensar...

No capítulo que compete à vergonha, a pauta maior é sobre a romantização do fim do conflito. O fim não é como o fim de uma fome de horas, que se mata quando o pedido é trazido pelo garçom. O fim da guerra trouxe o desalento de não saber por onde retomar a vida, pois esta - junto com seus parentes e casa e bens - foi tirada. Muitos se suicidavam depois de anos libertos. Não suportavam o 'depois' que sobreveio a tragédia. 

Ter uma colher ou saber alemão poderia ser uma vantagem para sobreviver um pouco mais nos campos, que se tornavam uma verdadeira Babel - com tanta confusão de línguas - de pessoas que compartilhavam a linhagem mas viviam em países de língua distinta. A dignidade dos judeus era roubada, eram reduzidos a animais. Muitos questionam o porquê deles não terem fugido e Levi dá várias razões para que isto não tenha sido empreendido com sucesso... 

Grifei vários trechos das 168 páginas que compõem Os afogados e os sobreviventes. Seria necessário um artigo acadêmico para passar aos leitores do blog todas as impressões que me marcaram na obra. E talvez ainda não fosse o suficiente. Mas me vejo no dever de recomendar o livro a todos que se interessam pela temática de guerra e Holocausto, a todos que se importam com o cenário atual do mundo, em que tantos conflitos ainda se fazem presentes. Numa linguagem que nos instiga a pensar, a leitura é essencial para o enriquecimento do saber. A nível de curiosos ou estudiosos do tema, é bom saber o quanto ódio e intolerância podem matar. A fim de se evitar isso...

segunda-feira, julho 04, 2016

O ladrão de cadáveres, de Robert Louis Stevenson [#MLI2016]


Eis que trago a primeira resenha do primeiro livro lido na #MLI2016. Trata-se do livro de contos O ladrão de cadáveres, de Robert Louis Stevenson, publicado pela Clássicos Econômicos Newton. O primeiro conto - que dá nome ao livro - nos conta a história de Fettes, um bêbado que está sempre na companhia de alguns amigos na taberna de George. Ele possui alguns conhecimentos médicos, e volta e meia atende algum caso em Debenham

Certa vez, chega na taberna um médico que veio de Londres, chamado Wolfe McFarlane, e logo descobrimos que ele é um velho conhecido de Fettes, e compartilham de um passado sinistro envolvendo dissecação de corpos... Ambos eram alunos e assistentes do Professor K., e Fettes descobre que os corpos comprados pelo professor eram de pessoas assassinadas, e seu amigo sabia desse detalhe, sendo conivente com os crimes... 

Há quem diga que esse conto foi baseado numa história real, envolvendo um anatomista chamado Robert Knox, que conseguia cadáveres com dois imigrantes, William Hare e William Burke. Esse caso data do ano de 1828. 

A segunda história [e disparada minha preferida no livro] fala sobre o Reverendo Murdoch Soulis. O narrador nos conta sobre como ele chegou na paróquia de Balweary e de como um episódio funesto mudou de forma aterradora sua vida. Janet, a aleijada traz uma carga de suspense que envolve o leitor, com uma riqueza de detalhes que fazem com que visualizemos o cenário e suas nuances de tempo... Janet era uma figura tida como bruxa para a população da região, e depois que se compadeceu dela e veio em seu auxílio, quando um grupo de mulheres tentou lhe afogar, ele a leva para morar com ele na paróquia, em virtude dela já trabalhar pra ele, preparando suas refeições... Mas com o passar do tempo, fatos estranhos vão acontecendo e logo o sacerdote pressente que há algo errado com Janet...

O terceiro e último conto [mais extenso também] fala sobre uma história de amor entre primos, um tio insano entre ambos, e histórias locais daquela ilha, em que navios naufragaram e - supostamente - há um tesouro enterrado. Os Homens alegres também possui uma narrativa detalhista, prendendo o leitor, que imerso em suas páginas, se depara com um desfecho inesperado...

Em suma, foi uma leitura agradável e cumpriu o objetivo de prender minha atenção por algumas horas... O único livro que tinha lido do autor foi O médico e o Monstro. Mas em matéria de contos, ele também se sai maravilhosamente bem... 

Até a próxima leitura dessa maratona... ;*