quarta-feira, agosto 31, 2016

A escrita envolvente de Pedro Juan Gutiérrez em Trilogia Suja de Havana

Acabei me apaixonando pela escrita de Pedro Juán Gutierrez há alguns anos, um escritor Cubano, de 63 anos, que me fascinou desde o primeiro conto de seu livro Trilogia Suja de Havana...

Nascido em Matanzas - Cuba, em 1950, Gutiérrez é um famoso escritor, pintor e jornalista. Famoso por sua forma de narrativa, já trabalhou em diversas funções ao longo da vida, antes de se tornar escritor, inclusive já cortou cana e foi  locutor de rádio. No jornalismo, tem 26 anos de carreira. Apesar das dificuldades pelas quais passou, é um grande escritor de prosa e poesia. Vive em Havana e suas atividades hoje são exclusivamente a pintura e literatura. Além de Trilogia suja de Havana, outros livros publicados seus são: O Rei de Havana, Animal tropical, O insaciável homem-aranha, Carne de cão, Nosso GG em Havana, O ninho da serpente: memórias do filho do sorveteiro e Coração mestiço. Há ainda o conto Melancolia dos leões e umas obras em Poesia. Seu mais novo lançamento é Fábian e o caos, e em breve eu trago resenha dele também...

Com uma linguagem suja [como o título sugere], perversa, cheia de sexualidade depravada e decadente dos habitantes de um prédio com risco de demolição, na cidade de Havana, Pedro Juán nos faz embarcar num universo cheio de degradação, pobreza, desesperança e, apesar de tudo - aceitação. As pessoas que lá convivem sabem que suas vidas não vão melhorar, mas dão um jeito de ser felizes mesmo assim... Com alguns copos de álcool, cigarros ou charutos, maconha, sexo pago, à 2, à 3 ou mesmo solitário, o estômago gemendo de fome e formas [i]morais de se ganhar a vida, eles vão se virando... 

Pedro Juán se coloca entre seus personagens.  O livro é uma espécie de autobiografia, os contos são breves, em sua maioria, e são experiências do próprio autor, relatadas de forma subversiva, e, embora não pareça, despertam o interesse do leitor justamente por essa desesperança decadente... 
Achei a forma de escrever de Pedro Juán semelhante a de Charles Bukowski, então acredito que, quem gosta do velho estilo bêbado/sujo do 'velho Buk', irá apreciar a obra de Gutiérrez...








"Sexo não é para gente escrupulosa. Sexo é um intercâmbio de líquidos, de fluídos, de saliva, hálito e cheiros fortes, urina, sêmen, merda, suor, micróbios, bactérias. Ou não é. Se é só ternura e espiritualidade etérea, reduz-se a uma paródia estéril do que poderia ser.



Nada."

[Trilogia Suja de Havana - Pedro Juán Gutiérrez]

Recebi um exemplar em parceria com a Editora Companhia das Letras pelo selo Alfaguara, e ainda pretendo ter outras obras dele em meu acervo, pois é um autor a quem muito prezo e por quem sou apaixonada. A 'subversão-literária-sexual-decadente-de-Cuba' de sua obra é crua e visceral, e indico a qualquer um que goste de ter suas emoções afloradas ao longo de uma [suja ] leitura... 

Pedro Juán Gutiérrez

Então é isso, por hoje é só...
Se alguém conhece a obra do autor, fique a vontade para comentar sobre ela, e quem nunca ouviu falar mas despertou a curiosidade, se manifeste também... Beijos e até a próxima...

terça-feira, agosto 30, 2016

O Céu é logo ali, de Lilian Farias


Lilian Farias nos convida a visitar o céu de duas mulheres: Dolores e Clarice. Suas histórias entremeiam-se de maneira subjetiva ao longo das 115 páginas que compõem o livro, e outros personagens vão dando corpo a suas aventuras...

Toda a liberdade aprisionada se esvai quando a portinha da gaiola é aberta... Há quem deseje ardentemente a vida, há quem se recuse a despertar para outra realidade... O céu é logo ali é uma história de transições. Repleto de metáforas e personagens tão reais e que em contrapartida, nos são tão absurdos que parecem não existir. Mas cada um deles representa uma passagem, suas trajetórias são carregadas de simbolismo...

Dolores seria a mulher adulta, que em dado momento da vida estranha a juventude indo embora e precisa se adaptar a condição de maturidade. Com Clarice se dá a mesma situação, mas num divisor de águas anterior, que seria a passagem da adolescência para a vida adulta. Clarice e Dolores representam a nós, mulheres, que passamos por tantas fases ao longo da existência, e com medo de cruzá-las... Algumas são Dolores, que aceitam o desafio de se adaptar, outras - como Clarice - não enxergam perspectiva no que vai além, e entram numa espécie de coma, a fim de se agarrar a segurança dos dias anteriores... e quando ninguém mais tem esperança de que ela desperte desse estado de torpor, ela retorna, mas a realidade não é algo que ela almejava, e se implanta ali um estado vegetativo, uma vida rejeitada, uma não-vida...

"Como saber o que se passava em uma mente anestesiada pela dor? A mente entorpecida, que preferia calar-se para ter forças e rastejar diante da mutilação do viver. Imposta, diariamente, a um sufoco matinal de ter que acordar e sentir o oxigênio em seus pulmões."

A escrita de Lilian é profunda e simbólica. Não espere algo menor que complexidade nas poucas páginas que compõem a obra. Ela soube como poucos representar vários arquétipos humanos em figuras igualmente humanas, mas trazendo nelas a leveza do voo de uma borboleta recém saída de seu casulo...

Para ler resenha de outros títulos da autora, clique nos links abaixo...
Mulheres que não sabem chorar
Fome

sexta-feira, agosto 26, 2016

E os hipopótamos foram cozidos em seus tanques...

"Comecei a pensar sobre quando eu ficava imaginando como seria matar alguém e eu escrevia milhares de palavras para criar esse tipo de emoção. Agora ali estava Phillip ao meu lado, e ele de fato tinha feito aquilo."

É estranho, diria até que ninguém poderia imaginar que provavelmente o incêndio  de um circo no momento que esta obra era escrita, foi noticiado num rádio e seria responsável por dar nome a esta obra - uma ficção americana escrita a quatro mãos por William Burroughs e Jack Kerouac, baseados num caso real de homicídio ocorrido na década de 1940. E mais absurdo ainda: crime cometido por um amigo de ambos os escritores beats...


E os hipopótamos foram cozidos em seus tanques foi escrito antes do sucesso estrondoso de On the Road. Publicado pela Editora Companhia das Letras, trata-se de uma história narrada com intercalação de capítulos - ora por Kerouac, ora por Burroughs - dando ao leitor suas versões sobre o assassinato de David Kammerer por Lucien Carr, em 1944, em que o próprio Jack foi preso por não ter entregue o amigo à polícia assim que soube do crime, ao contrário de Will que aconselhou a Lucien de se entregar à polícia, tão logo soube do ocorrido...

Com uma narrativa ágil e de capítulos curtos, ambos os escritores tecem um panorama real com ares ficcionais, emprestando suas personalidades aos personagens Dennison [barman encarnado por Burroughs] e Mike Ryko [Kerouac como marinheiro]. O mundo em que viviam, infestado de bebidas, drogas, viciados, prostituição, gays e desempregados, verdadeiras almas desoladas na imensidão da metrópole novaiorquina, formam o corpo da obra, entremeando-se ao enredo que passou décadas sem ser publicado, devido a uma promessa feita por James W. Grauerholz de só publicar a história depois que Lucien Carr tivesse morrido. E em 2008 parte do espólio de ambos os autores foi trazido à tona aos leitores [beats]...

"Todos eles se foram agora: Dave, Jack, Allen, Bill - e Lucien também, há dois anos, em 2005... de modo que aqui estão os Hipopótamos,finalmente prontos para ser cozidos." 
É interessante ler a obra que traz uma escrita sem arremedos de fluxo de consciência, tão habituais nos livros dos autores, e que revelam traços de amizade, sexo e drogas com pitadas de poesia. É uma prosa que prende o leitor até suas páginas finais, com a maestria que só dois mitos da literatura subversiva americana poderiam nos trazer; símbolos de uma geração considerada perdida, mas que imortalizaram toda uma era... 

quinta-feira, agosto 25, 2016

Lilian Farias na Bienal do Livro SP 2016

Olha que notícia maravilhosa. Com o boom do livro Mulheres que não sabem chorar, recentemente lançado pela Giz Editorial, a querida parceira Lilian Farias estará presente no evento autografando e você pode bater um papo legal com ela, além de poder adquirir sua edição do Mulheres, que está com roupa nova, revisado e promete arrancar lágrimas de emoção em quem ler... 

Não perca a chance de estar no evento e prestigiar a obra e autora... Para acompanhar o trabalho de Lilian, você pode curtir sua fanpage no facebook e demais redes sociais... 


quarta-feira, agosto 24, 2016

O Clic 2 - Manara está de volta...

Neste segundo volume de O Clic, Claudia se vê em apuros mais uma vez por causa da máquina do sexo. Depois do desfecho na edição anterior, ela está trabalhando como jornalista num programa de TV, apadrinhada por um tio, pois o escândalo que ocorreu anteriormente fechou muitas portas para a burguesa. E alguém que vê seu programa na televisão parece estar disposto a desenterrar o passado da jornalista... 

Um homem chamado Faust aparece no trabalho de Claudia mostrando estar em posse do aparelho sexual que tanto lhe custou a imagem no passado. Claudia acaba se submetendo a algumas humilhações a fim de recuperar o aparelho, mas seu possuidor não parece estar interessado em devolver o brinquedo tão apressadamente...


Logo aquelo jogo perverso deixa a mulher em clima de alerta no trabalho, e tentam afastá-la antes que o escândalo aumente, mas a situação já se tornou pública, inclusive ao seu tio, que resolve castigar a sobrinha indecente na frente de seu patrão... Não preciso dizer que confusão isso vai dar, não é mesmo? Só lendo para descobrir e dar boas risadas...

Mais uma aventura de Claudia e o aparelho transmissor que faz clic e a deixa insaciável é narrada através de desenhos belíssimos nessa continuação da série O Clic. Por mais que ela tente fugir, o aparelho pode ativar o chip em seu cérebro se colocado próximo a TV, durante a exibição de seu programa... 

Está cada vez mais difícil se safar do possuidor do aparelho... Ela vai ceder aos seus caprichos e implorar pelo que ele tem a oferecer, a fim de recuperar o transmissor? 


Mais uma divertidíssima HQ do mestre dos quadrinhos eróticos italianos, Milo Manara. Apesar de ser a continuação, você pode ler a história desta edição sem ter lido a anterior, embora seja melhor iniciar pela número 01... Mais uma vez vale ressaltar o talento do artista com seu traço bem característico, e que é necessário ter mais de 18 anos para apreciar a obra... 

Para leitores conservadores, acredito que a leitura não vá agradar. O Clic é para leitores ousados, que não temem o que vão encontrar de bizarro em suas páginas... A crítica à liberdade sexual feminina é válida e mais uma vez se faz presente na narrativa, embora de maneira mais sutil que sua antecessora... 

Em suma, se você gosta do gênero, não há porque torcer a cara pra esse tipo de publicação. Recomendo, sem dúvidas... 

terça-feira, agosto 23, 2016

a Poética de Ana Cristina Cesar...

Sempre me deleito ao revisitar a obra de poetas que admiro, e com Ana Cristina Cesar - ou Ana C. - não seria diferente... A Editora Companhia das Letras trouxe aos seus leitores uma obra que se trata de um compilado de sua obra marginal. E é esse livro que tenho agora em mãos, e com grande deleite trago as impressões dele a vocês, leitores do blog...

Armando Freitas Filho, também poeta e amigo de Ana C. nos fala na apresentação sobre os paradoxos que permeiam os versos da autora. Ela traz pudor e ousadia numa mesma frase, é singular e anônima, é escrita que interpela a si mesma e a quem a lê. 

"Preciso voltar e olhar de novo aqueles dois quartos vazios."

Cenas de Abril foi publicado em 1979 e é a primeira obra que Poética nos apresenta. Há textos em verso e textos em prosa, mas ambos os tipos nos revelam a genialidade marginal e despretensiosa de Ana na construção de seus devaneios... Ela se permite encaixar no leitor e nós nos encaixamos nas palavras dela... Correspondência Completa também é de 1979; é um texto denso e com toques de melancolia. 

Luvas de Pelica foi publicado no ano seguinte... A poética entremeada em uma conversa íntima com o leitor se faz presente e suntuosa, mas ao mesmo tempo nos parece jogada ao acaso, num despropósito... A teus pés tem uma linguagem simbólica, onde o subjetivo permeia por entre os versos... 

"Não é automatismo. Juro. É jazz do coração."

Em Inéditos e Dispersos a voracidade de Ana transpõe a poesia. Antigos e soltos é uma reunião de material publicado após a sua morte, considerados rejeitados e que foram organizados por Viviana Bosi. Graças a ela temos acesso a esses poemas que há muito perdidos em poeira de baús, nos vem à tona mais de 30 anos depois de escritos... 

"A biblioteca não é moderna. Na estante velha não tem romances incertos, só certos. Bolor. Calor. Lombo, lombada, lambida, relida. Eu quero aquele livro que dá tesão, não?"

Ao longo do livro temos algumas imagens de rascunhos de Ana C., bem como alguns de seus desenhos... Há uma cronologia de sua vida e um apêndice com várias informações na perspectiva de pessoas próximas sobre as inspirações da autora, como os beats e Walt Whitman, e a obra de Emily Dickinson, que serviram de base para a sua própria. 


Ana Cristina desconcerta, quebra paradigmas e reconstrói uma literatura que a deixou em evidência entre os poetas da Geração Mimeógrafo... Ela une elementos como o lirismo carregado de nostalgia, a metafísica e certa afetação personificando indivíduos reais ou [re]inventados, que se revelam aos olhos do leitor, que figura no papel de voyeur ao invadir a intimidade minimalista de seus escritos... 

Sua morte abrupta [ela se suicidou em outubro de 1983], fez com que tudo relacionado a ela ficasse em suspenso, como se no momento de seu pulo na janela, flutuasse sem encontrar o fim da queda. Marcando a geração dos anos 1970, eu ousaria abusar de certa dicotomia ao definir sua personalidade e escrita: elegante e suja. Decadente e glamourosa. Pudica e visceral. A marginal Ana é - convenhamos - figura única da literatura brasileira... Ela foi tudo, menos ordinária e intransitiva... 

Parafraseando a própria, diria que sua obra fecundou os campos de melancolia... 

domingo, agosto 14, 2016

Destino: Poesia

Ao receber a visita do carteiro me trazendo alguns títulos da Editora Record, não resisti a beleza do livro Destino: Poesia e devorei seu conteúdo pelas duas horas seguintes, em que - compenetrada -  me entreguei a sua apreciação... 

Organizado por Italo Moriconi, trata-se de uma coletânea de grandes poemas dos grandes nomes da poesia marginal - ou Geração Mimiógrafo - que produziu um grande tesouro na década de 1970 para a literatura nacional... Em meio a censura da ditadura militar, esses versos serviam, muitas vezes, como resistência ao movimento cultural do país naqueles anos de chumbo... 


Ana Cristina César, Cacaso, Paulo Leminski, Torquato Neto e Waly Salomão ilustram as 160 páginas de Destino: Poesia com o melhor de suas obras. Os anos 70 foram tempos de contracultura e comportamento transgressor, por vezes chamado marginal. As convenções sociais e instituições religiosas eram afrontadas por jovens 'a frente de seu tempo'. Poetas que surgiram nesse período, confeccionavam seus livros de forma artesanal e vendiam de porta em porta, nos teatros, bares e ruas. Onde os encontros e interações sociais ocorriam. Os cinco poetas reunidos nesse livro estão mortos, dois deles tiraram a própria vida, no auge de suas produções literárias. Viveram e queimaram intensamente: um sonho utópico e afrontador por meio de suas composições estético-literárias. 

Torquato Neto foi um anjo maldito suicida que marcou a década de 1970. Ana Cristina - ou Ana C. para os mais íntimos de sua obra - se joga do apartamento em que morava com os pais no início da década de 80. Morto o corpo, sua poesia vive. E serve de influência/referência para poetas mulheres de nossa geração... Salomão foi o último da lista a falecer. Paulo Leminski nos deixou em 1989. Antônio Carlos, o Cacaso - partiu dois anos antes do curitibano Leminski. Mas seus versos foram imortalizados, e nos chegam em fragmentos por meio dessa antologia publicada pela José Olympio Editora. 

A poesia lírica de Ana C. et all compilada aqui é capaz de encantar o leitor habituado aos versos e também aos iniciantes. Basta ter sensibilidade ao toque invisível das palavras tão intensamente entremeadas, cadenciadas e viscerais. Acidez, ironia e desencanto se mesclam nas linhas escritas. Um paraíso de versos que venceram o tempo...

"A poesia não - telegráfica - ocasional -
me deixe sola - solta -
à mercê do impossível -
- do real."Ana C.

"Minha pátria é minha infância:
Por isso vivo no exílio."
Cacaso.

"morreu o periquito
a gaiola vazia
esconde um grito."
Leminski.

"eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível."
Torquato Neto.

"Entra mar adentro
Deixa o marulho das ondas lhe envolver
Até apagar o blá-blá-blá humano.
Maré que puxa com força, hoje. É a luz cheia, talvez..
As retinas correm a cadeia de montanhas que circunda a praia."
Waly Salomão.


sexta-feira, agosto 12, 2016

Uma história veneziana na poesia inglesa de Lord Byron...

 Recentemente adquiri a edição bilíngue Beppo: Uma história veneziana; um livro de poesia de Lord Byron, autor inglês que teve uma vida curta mas com obras que se perpetuaram até os dias atuais, dada a polêmica de sua vida e escritos...

O livro é uma versão da Saraiva de Bolso e traz um texto de apresentação falando sobre a vida de Byron e seu estilo de poesia, bem como uma carta ao final, destinada a John Murray, seu editor e amigo... Já na apresentação, há vários detalhes sobre o processo de criação de Beppo e de algumas de suas outras obras... Para entender Beppo, é necessário conhecer Byron, o homem e poeta. O texto fala sobre a introdução do escritor na literatura brasileira, e sua influência mórbida na obra de Álvares de Azevedo. O fato de Byron em certa ocasião ter usado como taça de vinho um crânio humano, fez com que se criasse em torno de seu nome um 'romantismo de sepulcros', e seu nome figura como lenda orgiástica-fantástica entre os escritores do gênero que lhe sobrevieram... Mas já na Primeira Guerra Mundial, a poesia de Byron se torna anacrônica, devido aos movimentos da escola Moderna que surgiram nos primeiros anos do século XX. 


Ele se tornou conhecido devido aos poemas satíricos Don Juan, The vision of Judgment e Beppo, o qual tenho em mãos. Sua obra teve impacto sobre gênios da literatura mas o seu legado maior se deve ao fato de que sua vida mesclou-se aos escritos, como um sendo parte do outro, pois para ele era impossível criar algo que não fosse espelhado em algum aspecto de si mesmo. A vida e a arte de Byron estavam indesatavelmente ligadas. Há um poder descritivo e irônico em suas narrativas, embora o 'lugar-comum' se faça presente. 

Fazendo uma analogia com Shakespeare, o texto faz um paralelo entre ambos, em que Shakespeare recria de maneira poética experiências e sensibilidades humanas de maneira diversificada, e Byron não concebia experiências que não estivessem ligadas a ele. Ele não permitia vivências alheias em sua obra. Havia um pouco de si em cada verso ou linha... Para compreendermos e apreciarmos Byron, faz-se necessário conhecer o homem por trás do livro... No caso de Shakespeare, saber sobre sua vida pessoal era irrelevante para apreciação de sua obra...

Melancolia, morte e ironia são constantes na obra de Byron. A desestrutura familiar dos primeiros anos, amores inconstantes - com mulheres e homens-  [e até um incesto com sua meia-irmã Augusta] podem ter servido como pano-de-fundo para a profundidade de seus poemas.  Outro fator interessante que descobri sobre o autor é que ele pode ter sido um dos precursores que utilizaram o clichê do personagem "renegado" que se redime de paixão pela 'mocinha', que descobre o segredo ou passado tenebroso do personagem mas o perdoa  - arquétipo presente em várias obras do que chamamos literatura popular e que - asseguro com firmeza, - já é fórmula gasta no mercado literário. Essa construção de personagem, longe do criativo e original, não passa de uma sombra do herói byroniano, criado na época em que o Romantismo aflorava na literatura.

Escândalos povoaram os últimos anos do poeta. Um casamento desfeito, foi amante de dezenas de mulheres quando saiu da Inglaterra em definitivo e estabeleceu-se na Itália. Foi nesse período que surgiu Beppo, diferindo das narrativas anteriores, com um quê a mais de satírica e nada romanesca. O narrador tece um panorama da sociedade que habitava em Veneza, mesclando farpas dirigidas à sua pátria mãe e as suas instituições, bem como aos poetas ingleses, seus contemporâneos. Já em Beppo podemos encontrar elementos presentes na futura narrativa de Don Juan: rimas cômicas, tom coloquial, tendo na voz do narrador uma língua ferina e que se perde em evasivas... 

Em parte de sua curta vida foi amigo do casal Shelley, mas depois de um tempo a convivência se tornou insustentável; e com a morte de Percy, se viu obrigado a ajudar a viúva, Mary... [sim, a criadora de Frankenstein...] Após um período de calmaria e estabilidade financeira e vivendo na Grécia, Byron se vê apaixonado de maneira não correspondida por um rapaz, seu pajem. Seus amigos adoecem, inclusive Loukas, seu objeto de afeição. Quando ele mesmo contrai uma febre, percebe que é o fim. Em 19 de abril de 1824, enquanto lutava na guerra pela independência da Grécia, falece. Seu corpo foi transladado para a Inglaterra e seus restos mortais encontram-se na abadia de Newstead, que outrora pertenceu a sua família... 

Lord Byron foi um poeta ao qual o ato de escrever era o mesmo que dizer algo de si próprio, e que viveu entre duas eras de pensamentos paradoxais. Como Sade o foi antes, possuía um espírito libertino, mas soava tardio se comparado a vanguarda da liberdade sexual moderna-contemporânea... Entretanto, não podemos negar a exuberância incomum de seus escritos, que encontra-se em escassez nos poetas atuais... 

Postagem relacionada:

quinta-feira, agosto 11, 2016

Eu sobrevivi ao Holocausto, um relato dolorido e emocionante de Nanette Blitz Konig...

 

Histórias de guerra sempre mexem comigo. O Holocausto Judeu foi um dos acontecimentos mais infames da história mundial mas com o passar dos anos, tudo o que aconteceu nos parece cada vez mais distante... e é por meio de relatos de pessoas que viveram aqueles horrores que a tragédia chega até nossa geração, e soa tão impactante como se tivesse ocorrido no ano anterior... Mas saber mesmo o que aconteceu, imaginar o sofrimento dos judeus naqueles anos é impossível. Apenas aqueles que presenciaram suas famílias e amigos serem mortos, humilhados, passaram fome, frio e desesperança é que podem falar com propriedade sobre o assunto...

Na biografia Eu sobrevivi ao Holocausto, de uma sobrevivente chamada Nanette Blitz Konig, conhecemos uma parcela do que houve a partir de sua perspectiva. Na época, uma garota no início da adolescência teve sua vida transformada para o pior de forma abrupta, e essa mudança repercute em sua vida até os dias atuais... Aos 86 anos, ainda dá palestras contando seu emocionante relato, a fim de conscientizar as pessoas de que a intolerância político-religiosa é um mal que não pode tomar grandes proporções como aconteceu naqueles anos... 

Nanette foi amiga de outra judia conhecida mundialmente pelo diário em que registrou seus meses escondida dos nazistas: falo de Anne Frank. E em várias passagens do livro ela é citada, embora não seja o foco principal do livro, pois se trata - obviamente - dos infortúnios de Nanette...

É difícil escrever no calor da emoção, e não escondo que escrevo esse texto com um sentimento negativo de falta de esperança na humanidade. A intolerância, o ódio ao 'outro' é algo que causa mortes no mundo inteiro até os dias atuais. Quantos não estão tombando sem vida nesse exato momento por pertencerem a alguma minoria étnica, social ou econômica? Quantos não estão sendo explorados sexualmente, psicologicamente ou em trabalhos forçados sem esperança por um dia de paz? Quantas bombas não caem agora destruindo famílias, vivências e futuros? O mundo vive eternamente em guerra... Mas evitar falar delas não fará com que elas deixem de acontecer... Contudo, falar a respeito pode ter um efeito de evitar que mais pessoas recorram a ela, e quem sabe num futuro [não muito próximo, infelizmente] isso não dê resultados?

Publicado pela Editora Universo dos Livros, 'O comovente relato de uma das últimas amigas vivas de Anne Frank' é sobre uma judia holandesa que passou meses presa num campo de transição na Holanda, foi separada de sua família e sozinha teve que enfrentar a tirania de seus algozes. Lutou contra o tifo, quando uma pequena centelha de liberdade se fez visível, já nos meses finais da Segunda Guerra... Ela sobreviveu, sim. Mas a fim de quê? O que lhe restou no mundo que valesse a pena viver por isso? 

A memória é sua amiga/inimiga. É com ela que Nanette conta sua história ao mundo, representando aqueles que pereceram e hoje não passam de números estatísticos entre mais de 6 milhões de judeus mortos. Mas é justamente a memória que traz a dor daqueles dias terríveis. É a memória que não a permite esquecer a angústia sofrida no campo de concentração de Bergen-Belsen, na Alemanha.

Após a guerra, ela conseguiu se reestruturar e seu destino foi selado quando conheceu um rapaz e eles casaram, e Nanette deixou o pouco que lhe restou para trás para vir morar com ele no Brasil. Constituiu sua própria família mas o incômodo de não existir a geração anterior a ela é um desconforto que seus filhos, netos e bisnetos tem que carregar...

No dia 16 de agosto, ela estará na livraria Cultura do RioMar em Recife, e eu não perderei a chance de encontrá-la e se possível lhe dar um abraço. Confesso estar ansiosa pois Anne Frank e o Holocausto tiveram uma importância colossal em minha vida, pois foi a partir do conhecimento disso que eu desejei me tornar o que sou hoje. Mexe demais comigo qualquer coisa relacionada a Segunda Guerra, e até dando aula eu preciso parar às vezes, respirar fundo e tomar fôlego para continuar... Então imaginem minha emoção ao chegar perto de alguém que vivenciou tudo aquilo, e sobreviveu para nos contar sua história? 

Em suma, espero que tenham gostado da postagem. E me perdoem se ela foi por demais parcial, mas com histórias de guerra, meus textos sempre serão... não há como mudar isso...


terça-feira, agosto 09, 2016

Compras e recebidos [Julho]

Voltando com mais uma caixa de correio, dessa vez do mês de julho... Deveria ter postado no fim dele ou no começo de Agosto, mas tive uns contratempos... De qualquer forma, o que vai ser mostrado aqui foi recebido em julho mesmo, as coisas que chegaram nos últimos dias entrarão na caixa respectiva... Vamos lá? 

Ganhei numa promoção do blog Pipoca Musical o livro Cyberstorm, de Matthew Mather e publicado pela Editora Aleph. Ainda veio um marcador personalizado do Pipoca, que está sendo mais usado que tudo na minha vida haha Tentarei não demorar tanto pra fazer a leitura dele... 


Alguns dias depois chegou meu exemplar de O orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares, de Ramson Riggs. Comprei numa promoção da Amazon. Logo farei a leitura dele...


Comprei de um amigo o livro O circo Mecânico Tresaulti, de Genevieve Valentine, mais um título da DarkSide no acervo... Também será lido em breve, espero curtir a história...


Ganhei alguns livros da minha amiga Tamara Costa, e ela ainda mandou algumas coisas que eu não sabia, então foi uma bela surpresa abrir o pacote e me deparar com o que tinha dentro...

A vagabunda, de Colette.
Quando os Adams saíram de férias - Mendal W. Johnson [pretendo reler pra resenhar]
Modigliani - Victor Civita 
O clic volume I e II - Milo Manara. Resenha da edição 1 aqui. Em breve sai resenha do segundo volume...

Ela ainda me enviou lindos marcadores e uma cartinha super cute...


Em parceria com a Companhia das Letras recebi os livros E os hipopótamos foram cozidos em seus tanques [Jack Kerouac e William Burroughs], Poética [pelo Dose Literária] e Crítica e Tradução, ambos de Ana Cristina César... Aguardem que logo sai resenha deles por aqui...



Uma guria de Recife estava doando exemplares de sua coleção e eu acabei indo encontrar com ela e ganhei os livros A dança dos dragões e O cavaleiro dos sete reinos [George R. R. Martin] e a HQ Preacher: Até o fim do mundo [Garth Ennis e Steve Dillon]... 


Fiz umas trocas no sebo onde costumo frequentar e trouxe 4 livros pra casa:

O lobo da estepe - Hermann Hesse
Mistério no Caribe - Agatha Christie
A cama desfeita - Françoise Sagan 
O escravismo antigo - Mario José Maestri Filho [trabalhei com este último na faculdade]
Nariz de vidro - Mário Quintana. 



Fui a dois eventos nas livrarias Cultura e Saraiva do Shopping RioMar em Recife e ganhei alguns brindes. Infelizmente não ganhei sorteios que rolaram por lá, mas o dia foi divertido...


Em parceria com a Novo Conceito recebi o lançamento O ano em que te conheci, de Cecelia Ahern. Veio com um lápis que possui sementes na ponta, e dá pra plantar quando ele tiver um 'cotoco' hehe Estou lendo e logo tem resenha pra vocês...


Na visita às livrarias aproveitei pra comprar três livros que estavam em promoção, por metade do preço: Beppo: uma história veneziana [Lord Byron], Demian [Hermann Hesse] e A falecida [Nelson Rodrigues]. Quando findar as leituras trago as resenhas... A de Lord Byron já está programada... 


A Amazon ainda vai me fazer falir... Comprei numa outra promoção os livros No sufoco e Clímax, de Chuck Palahniuk e a HQ A piada Mortal, de Alan Moore e Brian Bolland. Estou louca pra ler os dois livros, pois há anos venho querendo comprar tudo que for publicado do autor aqui no Brasil... A HQ será relida qualquer hora dessas...


Fechando a Caixa de Correio, comprei a HQ Coleção Histórica Marvel X-Men Edição 6. Foi a primeira leitura de agosto, inclusive...


Bem, então é isso. Espero que tenham curtido... Ficou meio gigante, mas fazer o que se não controlei o bolso e recebi muita coisa bacana, né? Beijos e até a próxima... ;)



segunda-feira, agosto 08, 2016

#Lendo Sandman - Fim dos Mundos [9º arco]

 Já estamos chegando à conclusão do Projeto de Leitura #LendoSandman e é com muita satisfação - apesar da tristeza de me despedir dos personagens - que rumo ao desfecho, que promete deixar um vácuo inexplicável... Na verdade, sempre me sinto assim quando concluo um arco da história, mas ao mesmo tempo também me surge a sensação de que aprendi algo ao longo das páginas, algo que torna-se intrínseco a mim...


Fim dos Mundos compreende as edições 51 a 56. Logo no início da HQ, me deparo com uma relevante referência ao universo de H. P. Lovecraft e sua 'criação de universos'... Um homem está viajando numa estrada rumo a Chicago, na companhia de sua colega de trabalho, que se encontra dormindo no banco do carona... Ele deveria acordá-la, pois é seu turno para dirigir mas ele não sente sono e não quer interromper o sono de Charlene. Mas, [in]felizmente um acidente acontece e eles perdem o caminho [literalmente]... Acabam chegando a uma estalagem chamada Fim dos Mundos e são acolhidos de maneira gentil por estranhos seres, incluindo um centauro... Após algumas horas de descanso nessa paragem, e se abrigando da tempestade que ocasionou o acidente, Brant e Charlene escutam atentamente as estórias contadas por aquelas pessoas, que também esperam a tempestade de realidades passar para assim, seguirem seus caminhos...




Na primeira delas, Robert é um homem que observa seu 'ao redor' todos os dias, enquanto vai para o trabalho. Ele conhece bem as nuances da cidade onde vive, sua rotina nunca se abala... Mas certo dia, algo diferente acontece e ele se depara com uma parte da cidade que não é familiar a seus olhos... A experiência deixou alguns traumas e quando ele volta a realidade, acaba se isolando no campo, de onde não quer mais sair... Ele teme que a cidade 'acorde'...

Um personagem que já havia aparecido num arco anterior [não lembro agora qual deles, sorry] aparece na estalagem, e conta sua história de 'fadas'. Trata-se de Cluracan. Em sua história, temos a participação de Sonho, que a pedido da irmã de Cluracan, o tira da prisão em que foi encarcerado... A areia do tempo escorre para os viajantes presos na taverna e a tempestade não dá sinais de acabar tão cedo... E mais histórias são contadas...

Jim é um marujo, que aos 13 anos pulou a janela do quarto para não voltar mais para casa... Ele não conheceu o pai mas herdou dele a sede por aventuras no mar... Numa dessas viagens a bordo de navios, ele conhece um homem [também já conhecido do leitor de Sandman], que acaba descobrindo seu segredo... E quando Jim se dá conta, percebe que não mais poderá seguir viagem sob o risco de alguém descobrir sua identidade...

Seguindo o arco, há uma história sobre um rapaz destinado a se tornar presidente dos Estados Unidos. Prez Rickard representa uma espécie de figura divinizada e em alguns pontos da trama encontrei alusões a Cristo, como por exemplo nas tentações oferecidas por um estranho senhor  Smiley, que seria o diabo que tentou Cristo no alto da montanha, lhe prometendo riquezas... Outro ponto que me fez lembrar certo trecho bíblico é quando Prez 'se perde' dos pais [com 13 anos] e é encontrado posteriormente numa conversa ao lado de homens importantes. [Jesus se perdeu da caravana que levava seus pais e foi encontrado dias depois num templo, conversando com sacerdotes e sábios...]...

Sua figura opera 'milagres' econômicos, ele prega a igualdade entre ricos e pobres, menor miséria entre os desfavorecidos, discursos de paz etc... Mais a frente, sua noiva é morta num atentado... Já vi isso antes mas não consegui lembrar a que isso faz referência... 

A próxima história também me tocou de forma assombrosa, é sobre funerais e rituais aos corpos que são velados de maneiras distintas em algumas culturas... Algumas cenas desse arco são viscerais... grotescas mas com um toque de seriedade que os sepultamentos 'exigem'... Há também uma espécie de 'cartilha da AIDS' protagonizada por Morte ao fim dessa edição... 

Há ainda outra história fechando Fim dos Mundos, que fala da Morte como algo inescapável. É a sina de todos... E o passo-a-passo que vai da morte em si até o momento de despedida final não serve na verdade aos mortos, e sim a quem está vivo, vivenciando o processo e se faz necessário a fim de aceitar/se conformar com a perda... É o luto vivido etapa por etapa... Esse trecho me foi intenso, devido a perda que tive recentemente, e ainda me sinto desconectada, como se algo me faltasse e eu não soubesse bem como seguir sem ele... Vocês não tem noção do quanto esse final do arco me impactou... 

 A tempestade cessa e as pessoas rumam de volta a seus mundos, a suas eras... Brant precisa seguir, mas Charlene tem outros planos para si... Outros Perpétuos dão o ar da graça na maioria das edições que compreendem Fim dos Mundos. Mais uma vez a genialidade de Neil Gaiman se faz presente ao contemplar o leitor com analogias filosóficas, mesclando o fantástico com a cultura pop com maestria...




Em breve trarei a vocês a postagem sobre o arco Entes Queridos, espero que tenham curtido a resenha de hoje... Até a próxima, beijos...

sábado, agosto 06, 2016

[Crônicas] Histórias de duas cidades

Histórias de duas cidades - O melhor e o pior da Nova York de hoje é uma publicação organizada por John Freeman e ilustrado por Molly Crabapple e traz dezenas de crônicas que falam sobre os absurdos do cotidiano da grande metrópole americana, com suas tragédias anônimas, situações bizarras, peculiares e enraizadas na vida de quem se locomove pela loucura de seus becos, bairros negros e marginalizados em contraste com os arranha-céus de famílias de classe alta.

Publicado pela Bertrand Brasil, as crônicas de Histórias de duas cidades transportam o leitor para as vielas do glamour e do não-glamour escondido pela mídia e cinema. Mostram a Nova York que ninguém acredita ser, pois a pintura que nos chega é de uma cidade rica cultural e visualmente, lotada de turistas gastando seus dólares em butiques e cruzando as pontes de Manhattan em busca de diversão noturna. Mas Nova York não vive apenas de museus, compras na Times Square e musicais na Broadway. Nova York é também a cidade de marginalizados que são expulsos de seus apartamentos alugados a fim de serem reformados e alugados por preços abusivos pra gente branca e rica, é a cidade de taxistas que devolvem o celular esquecido no banco de trás a clientes que vivem de trabalho e não tem vida afetuosa com os filhos. É a cidade em que muitos vivem em abrigos por não terem lugar onde dormir e dependem do governo para sobreviver dia após dia, a fim de não voltarem como fracassados a suas cidades de origem...

A linguagem das crônicas - em sua maioria - conectam o leitor ao ambiente. É possível visualizar os encanamentos dos banheiros compartilhados, o cheiro da sujeira dos lixeiros e o perfume dos executivos nos prédios empresariais. "Viver em Nova York sem dinheiro pode ser particularmente cruel, pois os indícios de riqueza estão por toda parte." Chega a ser surreal imaginar a divisão social encontrada nas ruas de Nova York, em que o pobre se mescla ao rico apenas para nos mostrar o quão díspares são um do outro...

As próprias interações entre os indivíduos soam frias, quando pensamos haver companheirismo, pelo fato de se dividir a vizinhança ou o quarto de um prédio no subúrbio. 

"quando eu estava prestes a retornar à cidade de Nova York, [...] e na última hora fiquei sem ter onde me hospedar, ele me mandou uma mensagem dizendo que eu seria bem-vindo à casa dele a qualquer hora. Uma das outras hóspedes, Naquele Último Ano em Nova York, também me enviou uma mensagem dizendo a mesma coisa. Para retribuir o favor, escreveu ela. Como se fosse um toma lá dá cá, simples assim. Não respondi a nenhum dos dois."
Na crônica Toma lá dá cá, simples assim, de Jeanne Thornton.

Nomes como Sarah Jaffe, Hannah Tinti, Jonathan Dee e até o cofundador do Talking Heads [David Byrne] assinam os textos que compõem este livro. Certamente é uma leitura para quem busca algo diferente, fora de sua zona de conforto e que cumpre bem o papel a que se propõe: entretenimento inteligente, com pitadas de crítica social. Que não caem na mesmice ou monotonia. Uma leitura que foge ao estereótipo de 'mais do mesmo' ou 'lugar comum'...

quinta-feira, agosto 04, 2016

12 Meses de Poe: O escaravelho de ouro

  Acabei atrasando a leitura desse conto por uns dias, mas cá estou tentando voltar à normalidade... Sétimo conto lido do Desafio 12 Meses de  Poe, O escaravelho de ouro traz um narrador que conta a história de um amigo que ele julgou por um momento estar louco, devido a algumas ideias malucas que ele lhe segreda, mas que na verdade trouxe uma aventura inesperada para ambos...

O protagonista vai visitar um amigo e encontra sua casa vazia, acomoda-se e espera por seu retorno. William Legrand vive sozinho, e tem por companhia um servo negro de nome Júpiter. Vivendo há muito na Ilha Sullivan, Legrand tem um jeito excêntrico mas que agrada seu amigo... Durante sua estadia na ilha, ele toma conhecimento de uma nova descoberta de Legrand: um escaravelho em ouro que ele adquiriu recentemente, e que causa certo receio no negro Júpiter... 


Ao desenhar num papel o tal escaravelho, a imagem se assemelha a uma caveira. Tempo depois, ele recebe a visita de Júpiter - já em sua residência, e este lhe confessa que seu patrão anda perturbado e pede que este venha a seu encontro novamente. Preocupado com o fato de que seu amigo possa estar doente, ele volta a visitá-lo... Lá chegando, se depara com uma situação que vai levá-lo a embarcar numa 'jornada' misteriosa, sem muitos detalhes... Receando que Legrand esteja louco, ainda assim ele e Júpiter o acompanham as cegas até uma árvore gigante... A pedido do patrão, o servo sobre nos galhos orientado pelo perturbado homem e seguindo suas instruções encontra um crânio fixado no topo da árvore. Insere o escaravelho no olho - de acordo com o que lhe é ordenado, mas acaba fazendo confusão, descoberta posteriormente quando - cavando em terreno errado, e quase desistindo de sua empreitada, Legrand se dá conta do erro de Jup...




Não espere encontrar o horror característico de Edgar Allan Poe nesse conto, apesar da narrativa ágil e teor mórbido se fazer presente... Eu consideraria a história uma aventura nos moldes de A ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson, mas com uma pegada mais soturna... E em momento algum a narrativa perde a habilidade de prender o leitor a cada parágrafo... O desfecho se dá de maneira coerente - apesar do absurdo genial de seu trajeto pra se chegar até ele... 

O escaravelho de ouro é um de meus contos favoritos e foi um prazer revisitar esta leitura através do Projeto criado por Anna Costa... Espero que tenham gostado e ainda esse mês irei falar de minhas impressões sobre o conto O coração delator... Até a próxima... beijos...

quarta-feira, agosto 03, 2016

Bowie: a Biografia, por Wendy Leigh... [#MLI2016]


Após alguns dias de molho, consegui concluir a leitura de mais um título da Maratona Literária de Inverno. Em 08 de janeiro desse ano, acordei com aquela vontade de ouvir a voz do aniversariante do dia. E Let's dance abriu a playlist... Dias depois eu chorava, pouco mais de sete da manhã, ainda incrédula com a notícia. David Bowie havia partido, exatos três dias após seu aniversário de 69 anos...

Tive o prazer de receber a biografia escrita por Wendy Leigh, publicada pela Editora Best-Seller, do Grupo Editorial Record. E graças a essa publicação, pude conhecer um pouco mais do homem que por muitos anos povoou minhas listas de música e que me embalava nas viagens ao passado dos anos 80, quando ainda na infância, já ouvia sua voz na rádio... 



 A figura enigmática, andrógina e de roupas chamativas nasceu na Inglaterra, não teve o afeto devido de sua mãe, levou um soco que ocasionou um problema permanente deixando um olho com a cor diferente do outro, manteve um casamento aberto onde orgias aconteciam em sua mansão, teve um filho que praticamente não teve contato nos primeiros anos pois vivia em turnês pelo mundo, conheceu e conviveu com gente famosa, se frustrou, foi lesado financeiramente, dormiu com mulheres, homens, transexuais, se drogou, atuou, ditou moda... Viveu por anos assombrado com a esquizofrenia que se manifestava em membros de sua família, inclusive de um meio-irmão, que por anos viveu numa espécie de sanatório e aos 47 anos, em 1985, deitou num trilho de trem e esperou a morte instantes depois...


Confesso que pouco sabia da vida conturbada do artista, e apesar de gostar de sua figura, me atentava apenas às músicas, sem me aprofundar em sua vida por trás dos bastidores, e de como atuava a frente deles... Bowie, antes de se transformar num mito do rock, era um homem. Foi um rapaz reservado e gentil, e foi ainda um garotinho de sorriso doce, que já dava passos mostrando a que veio no mundo artístico, pelo brilho que trazia em sua personalidade em formação...

A bela edição da Best-Seller inclui algumas imagens de sua infância e carreira, com algumas mulheres importantes de sua vida pessoal e profissional. Ao longo dos anos, Bowie passou por uma fase de amadurecimento, depois de todo o glamour que a fama lhe trouxe... Ao conhecer Iman, sua esposa até o fim da vida, ele deixa o David Jones renascer das cinzas, como uma fênix... Com ela teve uma filha, Alexandria... O livro é repleto de declarações de pessoas próximas ao artista, que conviveram com o melhor e o pior do homem por trás do Starman... Mas algo que muitas dessas pessoas falam em comum sobre Bowie é o quão cavalheiro ele era, bem como generoso... 

A título de curiosidade, é uma excelente leitura. Para os fãs, um presente, assim como foi o último álbum deixado por ele ao mundo - Blackstar. Assim como o clipe Lazarus, em que ele se despede caminhando em direção a morte liberdade...





Postagem relacionada:


terça-feira, agosto 02, 2016

Conclusão de alguns desafios e maratonas literárias...

De umas semanas pra cá vim tentando participar ativamente de alguns desafios e maratonas de leitura, a fim de desencalhar alguns títulos da estante, interagir com leitores participantes e afins... As experiências serviram para encontrar títulos interessantes que aumentaram consideravelmente minha listinha de desejados... Mas o desfecho de algumas não me foi satisfatório, e a culpa nem foi por preguiça minha, já que estava empenhada em todas, mas a alguns acasos do destino nos períodos determinados de leituras... Vamos por partes...


Na Maratona Dark me propus a ler o livro Onde cantam os pássaros, de Evie Wyld e fazer duas releituras: O corvo [Edgar Allan Poe] e O hóspede de Drácula [Bram Stoker]. O tempo não lembro exatamente, mas creio que foram dois dias, ou pouco mais que isso... Consegui concluir com sucesso e ainda resenhei as três leituras... 

Houve também a Ressacatona e minha TBR ficou assim: Lobo Solitário volumes 4 e 5, A obscena Senhora D [Hilda Hilst] e Só Garotos [Patti Smith]. Esse último se tratava de uma releitura, pois precisava resenhar por ser de parceria... Concluída com sucesso...

Depois tentei a Vedatona, e minha TBR foi pequena também: Sidarta [Hermann Hesse], Lobo Solitário volume 6, Medeia [Eurípedes] e Notas de um velho safado [Charles Bukowski]. esse último título fez com que eu flopasse o desafio, pois só li umas dez páginas dele...

Em abril houve a Maratona 24 horas e eu fui infeliz mais uma vez. Coloquei na TBR o livro Brasil: Nunca mais, para ler apenas até a página 100. Ele faz parte de um Desafio de Leituras proposto por algumas blogueiras e eu no início do ano... era pra ter sido concluído em abril mas devido a densidade do texto, só terminei mês passado...

Por último, mas não menos importante... Entrei novamente na Maratona Literária de Inverno 2016, já que participei da edição do ano passado, e escolhi 13 livros em minha TBR. Mas devido a alguns contratempos infelizes e a perda de um amigo na última semana da maratona, passei uns dias sem sequer folhear alguma coisa, e por esse motivo não obtive sucesso e deixei 4 títulos 'na mão'... Quanto aos demais, só não resenhei os mangás... Mas dei continuidade em um dos livros que eu estou lendo ainda e logo trago minhas impressões sobre ele aqui...

Títulos resenhados:

Em breve sairão as resenhas de:
Bowie - Wendy Leigh
O sol também se levanta - Ernest Hemingway

Lidos e não resenhados:
Lobo Solitário volumes 8, 9 e 10. 

Acabei me atrapalhando na cronologia dos Desafios Lendo Sandman [Fim dos Mundos] e 12 Meses de Poe [O escaravelho de ouro], mas nos próximos dias trarei as resenhas aqui... O primeiro está quase no fim e o de Poe se encontra na metade da meta...

O Poisonous Bloggers Challenge ia bem mas atrasei dois meses. Agora em Agosto tentarei repor a leitura de um mês e em setembro o outro... Demais projetos estão em andamento e creio que conseguirei concluir ao menos metade de cada um deles, será um avanço, em virtude de eu ter leituras de parceria que mesclo com esses desafios...

Então é isso... se vocês vem acompanhando minhas leituras, estão situados em todos com esse post... Me acompanhem no Instagram, pois estou participando de um Projeto Instagram Literário, onde postarei uma foto por dia ao longo do mês de Agosto...

Sem mais, as postagens voltarão ao normal a partir daqui... Até mais... Beijos...