"Estávamos em algum lugar perto de Barstow, à beira do deserto, quando as drogas começaram a fazem efeito."
O pai do jornalismo Gonzo nos presenteia com essa obra de cunho biográfico intitulada Medo e Delírio em Las Vegas. Alugando um conversível vermelho - o Grande Tubarão Vermelho - para cobrir uma matéria sobre a corrida Mint 400, e no meio do caminho muita droga é consumida pelo protagonista Raoul Duke e seu advogado samoano, o Dr. Gonzo. Eles vão do éter à cocaína, passando por comprimidos estimulantes, tranquilizantes multicoloridos...
Em meio ao deserto, se deparam com personagens loucamente inusitados, mas bem menos insanos que os dois protagonistas. Torram o dinheiro do pagamento dessa matéria que ainda não foi feita, fraudam cheques e cartões de crédito, trocam de automóvel e se hospedam em hotéis consumindo todo seu estoque de ácido e afins, além de usarem de artimanhas para se desvencilhar da polícia...
Ilustrado por Ralph Steadman e publicado pela L&PM Editores, Medo e Delírio em Las Vegas nos leva a uma [quase verdadeira] viagem de ácido. É como se o leitor experimentasse as alucinações dos personagens, devido a maestria da prosa jornalística de Hunther S. Thompson. O romance é baseado em situações vividas por seu autor. Teve sua primeira publicação em 1971 na revista Rolling Stone, dividido em duas partes. Posteriormente, em 1998 foi adaptado para os cinemas, estrelando Johnny Depp e Benício Del Toro.
Os eventos ocorridos durante o percurso no deserto podem ser classificados como fora do comum. Usando de boa argumentação Duke e Gonzo conseguiam se safar das malhas das autoridades, enquanto as dívidas se tornavam colossais à medida em que gastavam desenfreadamente para sobreviver em meio ao caos da cidade dos jogos... Graças ao efeito das drogas, a matéria nunca poderia ganhar vida.
A falta de responsabilidade dos protagonistas de certa forma, serve como crítica ao consumo exagerado americano, uma afronta ao modo tradicional imposto pela cultura do país, que mandava seus jovens para morrer na Guerra do Vietnã e prendia os manifestantes hippies e outsiders, que pregavam a liberdade e o amor livre.
As portas da percepção se abrem de maneira indefinida, mesclando o real e o irreal na visão de Duke e seu advogado. Trata-se de uma obra contemporânea hilária e entorpecente. A única forma de sobreviver ao caos inóspito do deserto e de Las Vegas é se dopando... e sem pensar nas consequências...
O estilo de vida de Thompson tem influências nos beats, na contracultura dos anos 1960 e em Ernest Hemingway, seu maior ídolo. Assim como o escritor da Geração Maldita, Thompson termina seus dias dando um tiro na cabeça, em 2005, deixando um bilhete suicida, falando sobre seu descontentamento e falando das dores que sentia depois de ter feito uma cirurgia. Seu corpo foi cremado numa cerimônia realizada pelo próprio Depp, amigo do escritor...
Hunter S. Thompson, Gramercy Park Hotel, NYC, 1977. |