"Ou a lembrança da felicidade passada é a angústia de hoje, ou as amarguras que existem agora têm sua origem nas alegrias que podiam ter existido."
Berenice foi escrito em 1835 por Edgar Allan Poe e faz parte do Projeto 12 meses de Poe, que consiste em ler um conto do autor por mês, ao longo de um ano...
O conto é narrado pelo personagem Egeu, que de início nos relata como era sua personalidade e de como viveu boa parte de sua vida no solar da família. A partir disso ele fala da prima e de quão diferentes eles eram... Passava o tempo confinado na biblioteca enquanto a garota vivia ao ar livre, contemplando o campo... Egeu é um homem de frágil constituição, ao contrário de sua prima Berenice, desde cedo dotada de extrema saúde e beleza.
Ambos estavam prestes a se casar quando a moça descobre-se acometida de uma doença, e logo ela enfraquece a olhos vistos... A única parte saudável de Berenice são seus dentes, que despertam estranha adoração em Egeu... O próprio parece isolar-se do mundo, caindo em períodos de 'desligamento' do que ocorre ao seu redor... E eis que muito em breve a notícia da morte de Berenice lhe chega aos ouvidos...
A partir daí nos perdemos na linearidade da trama, que envolve o leitor num horror psicológico presente nos devaneios de Egeu, e que conduzem o personagem a atos violadores, beirando o profano... Edgar Allan Poe prende o leitor de maneira intensa nesse conto, que possui uma aura horrorífica e ruma para um desfecho aterrador e surpreendente... Sem sombra de dúvidas, um dos mais icônicos de seus escritos...
Leneide Duarte-Plon é uma jornalista brasileira que vive em Paris e escreveu A tortura como Arma de Guerra pela Editora Civilização Brasileira. Essa obra é um verdadeiro objeto de estudos sobre omo os franceses exportaram o terrorismo de Estado para outros países, principalmente para as nações latino-americanas que entre os anos 1960 e 1980 instauraram os horrores da Ditadura com métodos de tortura para suas vítimas...
Há uma entrevista com um dos nomes mais polêmicos das forças armadas francesas: Paul Aussaresses, responsável pela tortura e morte de vários presos políticos na guerra da Argélia, bem como por treinar o Esquadrão da Morte. Declaradamente de Direita, também se proclamava anti-comunista e pró-americano, Aussaresses afirmou que "a tortura se justifica quando pode evitar a morte de inocentes." Mas em sua mente doentia, os torturados faziam parte da classe trabalhadora, estudantil e independentista.
Aussaresses publicou o livro Je n'ai pas tout dit em 2008, alguns anos antes de sua morte em que revela a maioria de suas táticas de treinamento e acontecimentos durante seu período como militar, inclusive de sua estada no Brasil como adido, onde fez palestras na Escola Nacional de Informação e foi professor no Centro de Instrução de Guerra na Selva em Manaus.
A autora de A tortura como Arma de Guerra une em sua escrita jornalística informações importantes com um olhar historiador sobre episódios tão sinistros de nossa História. Sua obra denuncia a violência institucionalizada que o Brasil vivenciou no período da Ditadura Militar e que atualmente se manifesta através da repressão de um governo golpista alavancado por manifestantes que gritam por intervenção militar e caça aos comunistas no auge de suas ignorâncias.
O livro traz referências bibliográficas, uma cronologia e mais entrevistas com pessoas que sobreviveram aos horrores das torturas realizadas nas ditaduras... Faz comparações com a política brasileira atual no que concerne ao estupro da democracia quando em pleno vigor da ditadura, o país dos Direitos Humanos se alia aos militares brasileiros. Havia no país potenciais que interessavam aos franceses...
Em alguns capítulos é abordada a maneira de se usar a tortura como arma de combate, quem seriam os inimigos e como a influência francesa fez com que a figura do inimigo interno fosse representada por comunistas, intelectuais, operários e camponeses, bem como estudantes, artistas e líderes sindicais, que eram chamados de subversivos. Havia uma forte propaganda contra o comunismo, a fim de se incutir medo e ódio na população. Notícias de morte nos jornais eram publicadas antes da morte dos prisioneiros da ditadura. A lista de desaparecidos subia de forma assustadora. Familiares eram torturados física e psicologicamente a fim de delatar o paradeiro de seus entes procurados pelos militares. Inclua aí crianças e grávidas, que não tinham suas condições respeitadas pelos homens de alta patente...
Mídias como a Veja reportavam que o presidente não admitia torturas, numa tentativa ignóbil de enganar a população, que acreditava que o país estava prosperando...
Uma das descobertas mais impressionantes durante a leitura do livro foi o capítulo sobre Rubens Paiva e Vladimir Herzog, 'desaparecido' e 'suicidado' durante a ditadura no Brasil, casos bem semelhantes com os que houveram na guerra da Argélia em 1957: Jean Moulin, morto sob tortura pela Gestapo teve sua morte atribuída por enforcamento na prisão, e o professor de matemática Maurice Audin foi tido como desaparecido por 'evasão'. Seu corpo, assim como o de Rubens Paiva, jamais foi encontrado... O modus-operandi dos casos ocorridos na Argélia foi o mesmo aplicado a estas duas vítimas da ditadura no Brasil, que chocou a população na época, e até hoje causa revolta por parte de familiares, amigos e quem ouve falar da história...
A arma como tortura de Guerra é um livro importante a ser lido e estudado, a fim de se entender o que houve no período da ditadura no Brasil, e claro - conhecer mais a fundo sobre a Guerra de independência da Argélia, que vitimou milhares de pessoas que lutavam para se ver livres do domínio francês... É um tapa na cara dos desinformados que acreditam nas mentiras da mídia golpista, em depoimentos falaciosos de pseudo-jornalistas/intelectuais e ignorantes políticos. Mas acredito ser inocente demais de minha parte acreditar que seres ['leitores' interessados na política atual] desprovidos de cérebro operante reconheçam a importância do livro, ou que sua 'inteligência' possua os níveis mínimos de funcionalidade para interpretar bem a leitura da obra, os tais que tem os fatos em mãos e ainda assim continuam a sustentar sua ignorância, pautada apenas por um sentimento de ódio propagado por uma Direita raivosa e sem escrúpulos, que mantém governantes claramente sujos e seus juízes 'heróis' igualmente corrompidos semelhante a Propaganda realizada contra os independentistas argelinos na década de 1950...
Por fim, acho pertinente frisar sobre as entrevistas realizadas com os envolvidos nos processos de tortura e 'neutralização' dos interrogados [neutralização leia-se queima de arquivo, eliminação], como eles se evadiam de perguntas feitas por Leneide e outros jornalistas/historiadores, em que - por fata de argumentos plausíveis - fugiam do tema da entrevista ou davam respostas falaciosas e ao fim, acabavam confessando as arbitrariedades cometidas, após tentativas falhas em esconder a verdade...
"Era raro que prisioneiros interrogados durante a noite se encontrassem ainda vivos de manhã. Tendo falado ou não, eram geralmente neutralizados. Era impossível enviá-los à Justiça. Eles eram muito numerosos e a engrenagem judiciária teria ficado emperrada.".
Difícil ser pernambucano e não conhecer o trabalho de Alceu Valença como cantor/compositor... Mas nem todos sabem de sua faceta como escritor/poeta, embora seus versos cantados sejam por si mesmos pura poesia... O poeta da madrugada foi escrito em 2015 e nos soa como um presente aos fãs de sua música e uma ode à terra abençoada em que vivemos...
Passeando por Lisboa, o artista declama versos que refletem sua saudade das ladeiras olindenses, da Veneza brasileira e das terras cariocas. São poesias profundas, com sabor de nostalgia, tendo a madrugada como inspiradora em suas linhas, e que causam ao leitor profundo estado de contemplação...
"A solidão é fera, a solidão devora,
É amiga das horas, prima irmã do tempo
E faz nossos relógios caminharem lentos,
Causando um descompasso no meu coração.
A solidão dos Astros, a solidão da lua,
A solidão da noite, a solidão da rua."
Alceu veio do Agreste de Pernambuco, de uma cidade chamada São Bento do Una. Vivenciando de perto a cultura pertencente ao nordeste, dos aboiadores aos tocadores de sanfona e triângulo, declamadores da literatura de cordel e artistas circenses, ele reproduz ao máximo em suas canções toda a efervescência cultural dessas paragens, tornando sua obra rica e única. Enaltece as tradições, tece críticas aos males da sociedade, dá calor as palavras que soam em suas apresentações... Na poesia de O poeta da madrugada, nada seria diferente...
"Aonde é que tu vais, senhora estrada,
Companheira fiel do meu destino
E do tempo que corre em disparada
Sobre ti e teu solo agrestino?
Onde é que vamos fazer parada?
Pois o sol está quente quase a pino.
Vou deixar o meu tempo de menino
Qualquer dia retorno para casa.
Sob a lua, vamos nós na madrugada,
Sob um sol causticante e cristalino."
O livro se divide em duas partes. Numa delas, há um compilado de poesias com notas autobiográficas, e a segunda é sobre as cidades onde o poeta passou, sobre a solidão, amor, tempo e saudade, elementos presentes ao longo dos textos, escritos em épocas distintas da vida de Alceu... A fim de finalizar minhas considerações sobre O poeta da madrugada, deixo a vocês parte do poema que mais gostei ao longo da leitura... Ele fala da linda capital pernambucana, com suas dualidades/paradoxos, uma urbanidade tão plena de beleza e encantamento, embora esconda em suas ruas, profunda dor, abandono e melancolia... puro pernambucolismo...
"Açucarada,
Doce e amarga
Em um só tempo.
Como puta de bordel!
De dubio temperamento:
Um dia para a alegria
E outro para lamento.
Por um lado eras Veneza
Com teus canais, tuas pontes,
Mauricéia Portuguesa,
Cidade dos navegantes
Com teus rios, tuas fontes,
Teus sobrados seculares
De um tempo tão distante,
Cheia de encanto e de charme.
Do outro lado, Recífilis,
Pobre, triste, de má fama,
Abandonada ao leu,
Meretriz jogada a lama.
Ainda hoje te vejo,
Tu és partida ao meio,
Teus sobrados,
Teus mocambos
E palafitas tão feios."
Já faz algum tempo que não procuro parceria com autores, a fim de evitar alguns problemas...Não que tenha ocorrido com os que já possuo, mas vendo algumas confusões internet afora, preferi adquirir uma conduta de neutralidade em várias situações a fim de não me sujar com pouca coisa... Acreditem, isso também traz paz de espírito...
Mas volta e meia encontro algum livro interessante, costumo acompanhar o trabalho de alguns autores que possuem uma linha de escrita de meu agrado... Nesse contexto, encaixo Zeka Sixx, autor de obras como A era de Ouro do Pornô e O Caminho dos excessos... Fechada a parceria, recebi o primeiro título citado em poucos dias, li e logo trarei resenha dele para vocês... O que posso adiantar é que a leitura foi maravilhosa.
O autor se mostrou uma pessoa gentil e agradável, acredito que foi sorte minha conseguir tal parceria... Nascido em 21 de março de 1983, esse gaúcho é advogado, escritor e DJ nas horas vagas... Combinação peculiar, não acham? ^.~
Sua escrita traz influências de autores como Pedro Juan Gutierrez, Charles Bukowski, Henry Miller e Dalton Trevisan... Para saber mais sobre seu trabalho literário, você pode acompanhar suas redes sociais...
Muitos já ouviram falar de O morro dos ventos uivantes, clássico da literatura universal escrito por Emily Brontë. E muitos também desconhecem que a autora escreveu poesias durante sua curta vida... O vento da noite é uma compilação de alguns desses poemas, publicado na década de 1940 aqui no Brasil, traduzidos por Lúcio Cardoso...
A Editora Civilização Brasileira pertencente ao Grupo Editorial Record nos contempla com uma nova edição dessa obra composta de 33 belos poemas, que tratam de temas sombrios, góticos, líricos e que fazem ressonância a sua obra mais conhecida... A escrita de Brontë é dramática, dolorosa, profunda. Seus versos são construídos com toda a carga de romance que a época carregava... Metáforas com notas fantasmagóricas...
"E quando teu coração achar enfim repouso,
Enterrado na igreja sob a lousa profunda,
Então terei tempo para gemer à vontade,
E te deixarei todas as horas para ficar sozinha..."
A maioria dos poemas escritos por Emily só foram publicados depois de sua morte, graças a uma de suas irmãs, Charlotte, que editou os poemas em 1950, dois anos depois da morte de Emily. As duas e uma outra irmã, usaram pseudônimos para escrever outras publicações. A escrita de Brontë é carregada de poder na poesia inglesa do século XIX. O místico permeia seus versos, além de uma visão de mundo extremamente negativa... Talvez por influência do local onde morava, uma região desolada e selvagem, que pode ter servido de inspiração também para a ambientação de O morro dos ventos uivantes...
Não há 'lugar-comum' na escrita da autora/poeta. Mesmo fazendo parte do Romantismo, e possuindo características líricas, a poesia de Brontë se sobressai as suas contemporâneas. Elementos como morte, solidão e noite são descritos de forma magistral, como poucos de seu tempo conseguiram...
"Diante de mim a noite se torna mais escura,
As rajadas do vento são mais frias e selvagens.
E eu,aprisionada a este sortilégio,
Não posso mais partir.
Gigantes, as árvores se arqueiam,
Galhos nuns sob a pesada neve;
Já a tempestade inclina mais baixo a sua fronte,
Por isso não posso mais partir.
Sobre mim o espaço e as nuvens;
Os desertos deságuam aos meus pés.
As solidões não me comovem mais;
A vontade se acha extinta,
Não posso mais partir."
Outro fator importante que não posso deixar de citar: a obra é bilíngue. Além da excelente tradução de Lúcio Cardoso, o leitor pode contemplar os poemas em sua língua original, tornando a leitura mais prazerosa. Não há como deixar de se encantar com suas rimas cadenciadas, cheias de lirismo e tons sombrios... Aos fãs da boa poesia, O vento da Noite é uma dádiva...
"Sou solteiro e quero casar-me com alguém do sexo oposto. Sou sensível, adoro ouvir música. Sou alegre e sempre passeio aos domingos de manhã, adoro pescar e passear na relva úmida nas manhãs. Sou carinhoso e adoro sussurrar aos ouvidos de quem amo, que amo. Tenho um bom humor, mas também choro. Escuto sempre o canto dos pássaros e não me importo de dormir ao relento numa noite de lua. Sempre me pego caminhando nas estrelas. Adoro tomar banho de chuva, sonhar acordado, principalmente quando o céu está azul. Importo-me com os segredos do riacho, mas não com o marulho do mar. Gosto de bife com feijão, mas prefiro Peru com maçã. Sim, tenho os pés quentes e adoro andar de barco. Amo amar e jamais puxarei as cobertas de noite. Não sou rico, não tenho uma boa aparência, não entendo de Kafka também não entendo de conserto de eletrodoméstico, mas gosto muito de oferecer flores de vez em quando!"
Paródia do sonho feminino, do livreto Palavras para amar e Outras pulsações, pelo poeta Joel Marcos. [Pernambuco, 2016]
"O meu nome é Severino,
não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias."
Eis que dessa maneira dá-se início a saga de Severino, um retirante que vai narrar a trajetória de sua labuta pela terra pernambucana na poesia de João Cabral de Melo Neto, na obra intitulada Morte e Vida Severina, escrita em 1956 e publicada recentemente numa edição especial para comemorar 60 anos da primeira edição, pelo Selo Alfaguara da Editora Companhia das Letras...
Severino é o símbolo de tantos Severinos filhos de Marias e Zacarias, que desde cedo sentem os rigores de viver numa terra inóspita, de perambular em meio a terra seca lutando por um pedaço de pão. Severino retirante narra a vida difícil, de gente humilde que cruza seu caminho e que espera a morte chegar mais cedo, por falta de oportunidades na vida...
"Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina: [...]
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
algum roçado da cinza."
Da caatinga do Sertão ao rio Capibaribe que deságua no litoral, Severino passa por vários lugares, e se depara quase sempre com o assombro da morte, reclamando os seus de volta ao pó da Terra... Ela ronda os que tem fome e sede, mas principalmente, aqueles que lutam pra defender seu pedaço de terra rachada...
" - Dize que levas somente
coisas de não:
fome, sede, privação."
A obra contem uma crítica social profunda à situação do homem do nordeste, que sofre por perder seu lugar de origem para a modernidade das usinas, para o latifundiário ambicioso e para o sol escaldante que torna difícil a lavoura vingar... No período da ditadura militar, a obra chegou a ser proibida, bem como a peça que havia sido adaptada. Na poesia de João Cabral, havia um grito lamentoso de que o país não estava às mil maravilhas, como os militares faziam o mundo acreditar...
Morte e Vida Severina certamente é uma das obras mais ricas da cultura pernambucana, que deve ser lida por todos. Uma história atemporal, que - escrita há tantos anos - não deixa de soar contemporânea aos tempos em que vivemos... Uma obra-prima. Morte e Vida. Vida Severina...
É sempre com um sentimento intitulado prazer que venho falar mais uma vez de Manoel de Barros aqui no Torpor Niilista. Há exatos dois anos ele nos deixava... O selo Alfaguara da ed. Companhia das Letras anda publicando alguns de seus títulos e mais uma vez solicitei a poesia de Maneco. ♥ Trata-se do Livro sobre Nada, obra escrita em 1996, que possui puro encantamento com a maneira peculiar de Manoel em brincar com as palavras...
O livro possui quatro partes e em seus versos iniciais, percebemos a habilidade do poeta em tornar profundo o ilógico, absurdo...
"Ele tinha uma voz de harpas destroçadas."
A segunda parte do livro é tomada de um lirismo que preenche o 'eu'. O 'eu' 'lê avencas e Proust','ouve aves e Bethoveen'. A presença da natureza e da cultura se fazem presentes nos versos que compõem tais páginas, bem como elementos do sonho, numa cadência que reverencia a terra de Manoel, o Pantanal mato-grossense...
"Nasci para administrar o à toa
o em vão
o inútil.
[...]
Retiro semelhanças de pessoas com árvores
de pessoas com rãs
de pessoas com pedras..."
A terceira parte é constituída por frases curtas que soam como uma ode a sabedoria, na forma de aforismos...
"O meu amanhecer vai ser de noite."
A quarta parte apresenta um Manoel íntimo da arte e da escultura contemporânea. Seus versos neste ponto exploram as dimensões da memória, da inovação das palavras, da loucura e sonho... Ele resgata personagens já conhecidos de outrora. Sua [meta]poesia enleva o leitor, como a passear por recantos alagados de suas terras, tornando-nos cúmplices da beleza que a natureza nos proporciona...
Ler Manoel de Barros é entregar-se ao abandono dentro de nós mesmos, numa viagem lírica e fantástica ao Livro sobre Nada, que é sobre tudo, menos o nada que ele propôs ser...
Não é novidade que Leonardo DiCaprio é o meu crush eterno, embora ele nem saiba de minha reles existência... Acompanho seu trabalho desde a febre Titanic em 1998, no auge dos meus doze anos e de lá pra cá, meu afeto por esse ator só cresce... Vi praticamente todos os filmes em que ele atua, acompanho suas causas ambientais pelo perfil de seu twitter, facebook, instagram e afins... Colecionava [e até hoje tenho uma pasta guardada] com photos de pôsteres e revistas, assisti inúmeras vezes vários dos filmes... torci feito louca desesperada pra que ele ganhasse um Oscar, enfim... sou uma Dicapriólatra... hehehe
Não sou de falar muito em filmes aqui no blog, embora volta e meia apareça uma postagem sobre tal... O fato é que resolvi unir a paixão por ambas as coisas - livros & filmes - num TOP5 de personagens literários interpretados pelo meu amor do Cinema... Vamos lá?
Diário de um Adolescente - The Basketball Diaries [1995]
Esse filme é baseado no livro do poeta/músico/escritor Jim Carrol, falecido em 2009... Carrol tinha problemas com drogas e a biografia retrata parte de sua vida numa trajetória para abandonar o vício, além de sua adolescência, sexualidade, paranóia com a Guerra Fria e o movimento de Contracultura que permeava a época... O livro foi escrito em 1978 e o filme foi lançado em 1995...
Eclipse de uma Paixão - Total Eclipse [1995]
Num dos filmes mais polêmicos na carreira do ator, DiCaprio dá vida ao poeta francês Arthur Rimbaud, e o período que o filme dá mais enfoque é em seu apadrinhamento pelo também poeta Paul Verlaine. Ambos tiveram um relacionamento conturbado e nesse filme, dirigido por Agnieszka Holland, acontece o primeiro beijo gay do ator com David Thewlis, que interpretou Verlaine...
Romeu+Juliet [1996]
Ao lado de Claire Danes, Leo interpreta Romeu numa adaptação bastante singular da peça clássica de William Shakespeare. Numa Verona futurista, o casal Romeo e Julieta não podem viver seu amor - proibido pelo fato de suas famílias serem rivais. O desfecho se dá de maneira poética e brutal, dirigido por Baz Luhrmann. O filme rendeu a Leo um prêmio no Festival de Berlin [melhor ator]...
O grande Gatsby - The Great Gatsby [2013]
O Grande Gatsby é um clássico escrito por F. Scott Fitzgerald. Nick Carraway tem como vizinho um bilionário que adora dar festas em sua mansão, situada no outro lado da baía de Long Island... Jay Gatsby ganha vida através de Leonardo DiCaprio. A trama é ambientada numa época em que o jazz estava em alta, o contrabando corria solto e Nova York vivia sob a Lei Seca, que proibia bebidas alcoólicas de serem comercializadas... Leo ganhou importantes prêmios pelo papel, como o AACTA Awards e People's Choice Award.
O lobo de Wall Street [2013]
Ainda em 2013, Leo participou de outra produção adaptada do livro homônimo. O lobo de Wall Street é uma autobiografia de Jordan Belfort, em que ele narra desde sua ascensão ao poder no mundo dos negócios a sua derrocada devido ao uso de drogas, gastos excessivos com viagens, festas e afins, bem como seu tempo na prisão devido à fraudes em sua empresa... O papel de Jordan Belfort rendeu indicações ao BAFTA e Globo de Ouro, levando o prêmio neste último como melhor ator...
O regresso - The Revenant [2016]
O filme que rendeu [finalmente] o Oscar de melhor ator para Leonardo DiCaprio é baseado no livro intitulado O regresso, escrito por Michael Punke, em que Hugh Glass é atacado por um urso e gravemente ferido, acaba abandonado por seus companheiros caçadores... Ele se recupera a muito custo, e jura vingar-se do homem que o deixou para morrer, matando também o seu filho... Dirigido por Alejandro Iñarritu, o filme foi gravado em condições climáticas difíceis e o discurso de Leonardo atenta para as mudanças climáticas do planeta, e para a conscientização do governo mundial a fim de conservar a Terra, e também dando ênfase na questão de terras indígenas, exploradas pelo homem branco desde os tempos de colonização...
Vocês podem ver o discurso dele no vídeo abaixo...
Eu falei que seriam 5 títulos mas acabei falando de 6... Seria impossível excluir algum da lista...
Então é isso, pessoal... Espero que tenham gostado da postagem, e que Leo faça mais 42 anos,e depois mais 42... e por aí vai... Esse homem poderia ser eterno... É pedir demais? ♥
Tive contato com a escrita de Rachel de Queiroz uns anos atrás, quando me deleitei com a leitura de O Quinze, um de seus títulos mais famosos... Recentemente ganhei de um amigo o livro João Miguel, e resolvi me entregar a leitura sem saber muito da história... Mas se tratando de Rachel, já previ uma narrativa intensa e fluida...
João Miguel se envolve numa briga e o resultado dela é a prisão, depois de ter matado seu oponente... Houve um crime num ambiente ruralista e o drama surge daí. João precisa aprender a lidar bem com seu tempo na cadeia, a preencher as horas ociosas, e vendo seu relacionamento com Santa ir minguando com o decorrer dos meses...
A autora usa de elementos como traição, solidão, e toda uma ambientação no nordeste cearense para criar um enredo simples e ao mesmo tempo envolvente... Elementos como religiosidade, cultura sertaneja, fatalidade e labuta do homem nordestino se mesclam entre jogos de bicho, cachaça na cela da cadeia - típica de cidade de interior - e orfandade, onde a miséria permeia a vida do protagonista e de outros personagens, que contribuem na trama com suas características estereotipadas...
Temos a mocinha virginal filha do coronel, preso por assassinato. O delegado que se impõe mas na verdade sente pena de seus presos. O soldado sossegado que se envolve com a mulher de João Miguel, a mulher bêbada e sofrida que serve comida na cadeia, e adora um mexerico. A bebida em si carrega a relevância de ser um personagem. É graças a ela que João mata no início do livro, é ela que o alivia quando o desespero da solidão e da liberdade privada lhe atormentam, é a cachaça que fez parte de sua vida desde a mais tenra infância, quando se viu sem a mãe - morta desde muito cedo - e é ela que em determinado momento, aviva seus sentimentos de vingança para com Santa e o soldado Salu. Mas a figura de Angélica e de outro preso o demovem de atentar contra a vida de Salu.
O protagonista é um homem comum, sofrido e que por uma decisão tomada pelo calor da bebida, acaba por transformar sua vida por completo, a partir dali. Durante os primeiros dias na cadeia, ele remói suas culpas e angústias. Durante todo o livro é quase palpável o sofrimento de Miguel a fim de livrar-se da sensação de que é um assassino, quando antes era apenas um homem de bem, mas que atribuiu a bebida todo seu infortúnio. É possível sentir pena pelo seu destino, e você acaba torcendo pra que ele encontre em sua penitência um final feliz...
Obra escrita com a maestria pertencente a um dos grandes nomes da literatura brasileira, João Miguel é pertencente ao movimentoModernista de 1930. É um livro que aponta as agruras do nordestino e a aridez do ambiente compondo um quadro de crítica social com linguagem tipicamente brasileira. Linguagem essa que tem o papel metafórico de passar ao leitor a ressequidão do ambiente sertanejo. Sem sombra de dúvidas, recomendo.
Pedro Juan Gutiérrez é um dos nomes mais benquistos em meu Acervo Particular... Ler algo que ele escreve é como acariciar uma bomba prestes a explodir. Choca, perturba e me deixa inquieta. Sempre. E pra ser bem sincera, adoro a sensação...
Sobre Fabián e o caos, sua mais recente obra publicada pelo Selo Alfaguara da Companhia das Letras, preciso dizer algo: dilacerante. Me senti em pedaços, juntando cacos de vidro entre lençóis, ao concluir suas quase 200 páginas...
Fabián desde muito cedo aprendeu que ser o que desejava poderia lhe trazer problemas. Não apenas pela sua orientação sexual: um gay na década de 1960 numa cuba revolucionária, como pelo fato de adorar tocar piano, chegando a ganhar uns trocados durante o auge do regime político cubano. Herdou essa paixão e vigor pelo instrumento devido à sua mãe que o pariu tardiamente, com mais de 50 anos, para assombro de seu marido que nunca desejou filhos pois o gasto seria demais, e ele vivia de contar moedas, e nunca gastar: um típico sovina. Mas a revolução veio e confiscou seus bens...
"Fabián começou a ouvir a música do piano quando ainda era um feto boiando na barriga da mãe. Todo santo dia. Ele nunca chegou a saber, mas aquelas canções infantis tão simples ficaram gravadas no seu subconsciente para o resto da vida."
Pedro Juan não queria trabalhar, não era de estudar e desde muito cedo aprendeu a se defender na escola, quando os meninos maiores tentavam lhe bater. Gostava de brigas, aventurar-se pelas ruas da cidade, e quando descobriu o sexo, com uma garota mais velha, percebeu que não queria outra coisa na vida. Seu destino cruzou com o de Fabián, mas depois de uma discussão se separaram por anos...
Ainda jovem Pedro se sentia deslocado das convenções religiosas impostas pela sociedade, perdia-se em devaneios e procurava fugir da espiritualidade. Não havia limites para sua impetuosidade e seus caminhos se tornavam mais e mais tortuosos a medida em que crescia e sentia o cheiro de liberdade.
"Meu projeto de vida era antagônico à religião."
Ao longo da narrativa de Gutiérrez, Fabián e Pedro Juan viviam em mundos particulares e paralelos até que o regime de Fidel Castro os coloca frente a frente, trabalhando numa fábrica de enlatados. A amizade entre os dois é fortalecida. Buscam apoio e tentam sobreviver numa pátria que não aceita suas condições 'peculiares' com relação ao restante dos cidadãos cubanos. A 'perversão' do sexo não é bem vista, foge aos padrões ideológicos do país e vivendo como párias, eles buscam liberdade, cada qual à sua maneira.
Ao longo da narrativa há várias cenas descritas com extrema escatologia, que vão do abate de animais ao sexo agressivo, entremeando com os problemas existencialistas e familiares dos protagonistas. As relações de amor que dão errado, as que dão certo por algum tempo, a hipocrisia justificada pela religião, personagens imersos na lama da mesmice e miséria, banhados pela loucura [suas e alheias]. Indivíduos sem perspectivas, inertes à espera da morte que não se apressa em chegar. Mas diferente de Fabián, Pedro Juan ainda luta contra esse marasmo...
Ambos os protagonistas são opostos, uma espécie de paradoxo do caos e tédio. Visões diferentes que compartilham da mesma repressão; polos positivo e negativo da sordidez das ruas mal-cheirosas de Cuba... O autor ainda tece críticas às instituições religiosas, simbolizando arquétipos dos sete pecados em vários momentos da narrativa ou em características de alguns personagens. Entretanto, sua narrativa consegue ser direta, sem preâmbulos - apesar de tamanho simbolismo. Os personagens são figuras desgastadas pelas agruras do tempo e se conectam num cenário inóspito do regime político da época... A sexualidade é aflorada e perversa, mas possui notas de melancolia...
O impacto corrosivo-poético que me afetou ao longo da leitura se fez cruel em seu desfecho. Ao virar a última página me vi perdida, devaneando, engolindo em seco a fim de digerir a ideia de me encontrar solitária nesse vasto mundo... Descrever numa metáfora a sensação que a história me causou ao fim dela seria como visualizar um adeus em meio a pingos de chuva...
Olá, pessoal. E vamos a mais uma caixa de correio do Torpor Niilista... Em outubro não comprei muita coisa,mas troquei e recebi um monte de livros... Na primeira visita do mês ao sebo, acabei trocando alguns livros e voltei com esses da photo pra casa... Alguns eu já tinha lido,outros já foram lidos recentemente... Eis a lista:
Eneida - Virgilio
A insustentável leveza do ser - Milan Kundera
O tartufo / A escola de mulheres / O inglês fidalgo - Molière
Câmera na mão, o Guarani no coração - Moacyr Scliar
Pregos Vermelhos - Robert E. Howard
A mão misteriosa - Agatha Christie
Os trabalhos de Hércules - Agatha Christie
2 quadrinhos Tex
Meu amigo Antonio me enviou mais alguns quadrinhos de Conan, Preacher e um da DC. Já li todos. Inclusive duas mini-sagas de Conan, o Cimério: Os demônios de Khitai e Os hinos dos mortos... Quem me conhece sabe o quanto sou louca pelo bárbaro, então imaginem a festa que fiz quando abri o pacote que o carteiro me entregou...
Em visita ao Museu do Homem do Nordeste, numa excursão com uma de minhas turmas, acabei comprando na loja do museu o título Almanaque Pernambucano dos causos, Mal-assombros e lorotas, organizado por Roberto Beltrão... Em breve será lido...
Da Editora Novo Conceito recebi dois lançamentos: Pokemon Go e Três Vezes Nós. Este último será lido e resenhado, o primeiro tem resenha aqui.
Ganhei um exemplar de Sejamos todos Feministas, de Chimamanda Ngozi. Foi uma leitura bem rápida e cheia de reflexões...
Recebi as cortesias da Editora Rocco e da Editora Record: Criaturas Estranhas e Pompéia. Ambos serão lidos esse mês e as resenhas saem no Blog Poesia na Alma e posteriormente aqui. Estou com boas expectativas com as duas leituras...
Ganhei brindes das amigas e autoras parceiras Lilian Farias e Magali Polida. Se quiserem conhecer mais sobre o trabalho delas, visitem suas FanPages aqui e aqui.
Os livros são meramente ilustrativos, pois eu já tinha os meus... De Lilian ganhei um chaveiro, mousepad, marcador e ecobag do livro Mulheres que não sabem chorar... de Magali ganhei o chaveiro do livro Bichomemulher...
Chegou a cortesia de Agosto da Companhia das Letras para ser resenhado no Dose Literária: Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto. Em breve sai resenha por aqui também...
Mais uma troca no sebo e acabei trazendo pra casa os livros A Torre Negra IV [Stephen King], Branca de Neve [Paraíso da Criança], os infantis Cabe na mala,Sapato Furado e Cururu virou pajé. Como água para chocolate foi um achado, acabei trazendo também...
As duas últimas compras do mês foram FullMetal Alchemist #4 e A saga do Monstro do Pântano, mas só li o mangá... Em breve lerei o quinto volume da HQ de Alan Moore...
Recebi da parceria com a Ed. Companhia das Letras o livro Trabalho urbano e conflito social, do historiador Boris Fausto. Em breve sairá resenha dele por aqui... O livro é um lançamento de setembro...
Fechando bem o mês, recebi os livros do Projeto Itaú Leia para uma Criança, Poeminhas da Terra e Selou e Maya/Maya e Selou. São dois livros lindos, dos melhores que já recebi até hoje do projeto...
Então é isso... Espero que tenham gostado da minha caixinha, que veio recheada e logo vou compartilhar as impressões de alguns títulos com vocês... Até a próxima... Beijos... ^.~
Olá, queridos leitores. Trago para vocês a resenha de mais um título da editora parceira Novo Conceito. Trata-se de Pokémon GO: De treinador a mestre. Um guia não oficial desenvolvido por Emanuel Hallef e que conta a todos nós um pouco do fenômeno que conquistou o mundo meses atrás.
Dificilmente alguém aqui não vai saber do que se trata o anime Pokémon. Foi um desenho que marcou toda uma geração e que vem atravessando os anos sem perder por completo o pique. E o que antes vivia no campo da imaginação, através de um aplicativo de celular fez com que realizássemos o sonho de capturar nossos bichinhos virtuais.
O livro é curto e pode ser lido em poucas horas, mas para aqueles que vão seguir as dicas que nele contém, será um belo livro de consulta. Traz dicas de como capturar pokémons raros, aumentar seu nível de experiência, como se dar bem em batalhas, chocar seus ovos, liderar um ginásio ou tratar de seu bichinho enfraquecido. Tudo com uma linguagem acessível até para aqueles não tão familiarizados com o jogo...
A edição está linda, bem amarelinha como um Pikachu [companheiro inseparável de Ash no anime]. Diagramação com algumas pegadas dos monstrinhos, pokebolas e caldas do Pikachu [mesma ilustração da capa]. Tem um ou outro errinho na revisão, mas nada que prejudique a leitura do mesmo... Pokémon GO foi publicado pelo Selo #Irado da editora, que possui um perfil mais juvenil. Mas pode ser apreciado sem problemas por um público mais adulto...
O livro ainda possui tabelas de pontuação, dados dos pokémons e um FAQ ao final da edição, com perguntas frequentemente formuladas por quem ainda é iniciante na onda aventureira. Para os fãs e jogadores, é imprescindível ter na estante... Aos leigos, vale pela nostalgia da infância...
Olá, amigos... Ainda tentando 'tirar o atraso' nas postagens do Desafio 12 meses de Poe, trago para vocês a resenha do conto de outubro, O caixão quadrangular... É uma história curta que fala sobre uma viagem a Nova York, onde o narrador se depara com uma estranha bagagem trazida por um amigo seu, que viaja com a mulher e suas irmãs.
O que deixa o narrador curioso é o fato de que esse estranho caixão tem um formato quadrangular e está acomodado na cabine de seu amigo, Cornélio Wyatt. Os dias passam e ele começa a especular o que é levado naquele caixão... A descoberta o deixa estarrecido...
Do princípio ao desfecho a atenção do leitor é voltada para desvendar o que é carregado naquela bagagem, e em momento algum Poe dá pistas do que viria a ser... O que posso falar a respeito é que nada é o que parece e a curiosidade pode nos levar a pensamentos tortuosos e extremos...
Tomara que tenham curtido a postagem... Ainda esse mês virei com a resenha do conto de novembro, penúltimo nesse desafio, e espero que aguardem ansiosos pelas minhas impressões...