sábado, julho 29, 2017

[HQ] Entrevista com o Vampiro - A história de Cláudia

Anne Rice é uma das autoras mais famosas da literatura norte-americana devido ao sucesso da série As crônicas vampirescas, lançada a partir da década de 1970 e que eleva Entrevista com o vampiro ao topo da cultura pop, status ainda mais elevado quando o livro ganhou uma adaptação para o cinema estrelada por grandes nomes como Tom Cruise, Brad Pitt, Antonio Banderas e Christian Slater. Kirsten Dunst estreou como atriz e ganhou grande visibilidade ao dar 'vida' a personagem Claudia, garotinha transformada em vampira por Lestat e Louis, e condenada a passar a eternidade num corpo de criança...


A história é contada pelo ponto de vista do vampiro Louis de Pointe du Lac. Mas existe uma versão contada sob a perspectiva de Claudia, intitulada Entrevista com o vampiro - A história de Claudia. E o mais interessante dessa versão é que ela é em quadrinhos, ilustrada e adaptada por Ashley Marie Witter e publicada aqui no Brasil pela Editora Rocco.

Claro que alguns pontos da trama original não foram inseridos no contexto da HQ pelo fato da personagem Claudia não ter surgido desde o princípio da história. Mas a narrativa em nada é prejudicada devido a esse fator... A existência de Claudia soa a abominação, mesmo entre as criaturas da noite. É uma menina de cinco ou seis anos, que vive ao londo de décadas presa a este corpo infantil, enquanto sua mente se desenvolve a idade adulta, indo além pela sua nova condição [imortal]...

As ilustrações são um banquete a parte, tornando a obra ainda mais requintada. Possui um enredo fluído e até quem não leu o original ou viu o filme vai compreender a história. 


Em suma, é um titulo digno de se ter na estante, principalmente para aqueles apaixonados por histórias de vampiros, contadas com a classe que Anne Rice soube dar a seus personagens... 

sexta-feira, julho 28, 2017

O sobrado, de Amílcar Dória Matos

Trago para o blog as minhas impressões acerca do livro intitulado O sobrado, publicação da Edições Bagaço, escrito pelo autor pernambucano Amílcar Dória Matos. Amílcar discorre em primeira pessoa um tema já meio esgotado no mundo literário, mas que através de uma prosa fluida, acaba compensando esse pormenor...


O sobrado é uma novela narrada pelo protagonista Renê, homem de meia idade que acaba se apaixonando por uma garota de apenas 14 anos, filha caçula de seu grande amigo e vizinho. Ele vai se desvelando ao leitor desde o inicio os seus conflitos morais até o ápice que certamente pode culminar em tragédia. 

Na narrativa de Renê, Olga dá a entender que também o deseja, e ele luta com todas as suas forças para impedir que se dê algum contato físico com a menina. Ela possui duas irmãs, Olívia e Olympia, esta última noiva de Reginaldo, no qual em uma conversa a sós com Renê, acaba lhe revelando o que se passa a vista de alguns... Renê se desespera em saber que seu tão temido segredo possa estar a olhos vistos por todos que frequentam o sobrado da familia de Brivaldo.

O romance proibido é um tema recorrente que certamente encontra entre leitores um público apreciador. O que agrada na escrita de Amílcar, é o ritmo quase cadenciado com que ele desenvolve seu enredo... 

Em suma, O sobrado é uma leitura rápida, que prende a atenção e nos surpreende com um desfecho bem construído e impactante...

"Quem se lançar à irresponsável aventura de pesquisar a fundo os sentimentos humanos, estará fadado à decepção e ao desastre."

terça-feira, julho 25, 2017

Recife - Cidade das pontes, dos rios, dos poetas e dos carnavais

Recife é terra de encantos mil. Eu, como pernambucana, sinto orgulho desse pedaço de terra abençoado e  encantador, que apesar dos inúmeros problemas sociais existentes nos tempos recentes, ainda carrega nas pontes que a enlaçam uma beleza de pôr-do-sol espelhado em suas águas, em contraste com os prédios e sobrados decadentes, deixando a paisagem ainda mais bucólica...


Recife - cidade das pontes, dos rios, dos poetas e dos carnavais é uma obra ricamente ilustrada por Tati Móes, realizada por Lenice Gomes e Hugo Monteiro Ferreira. Trata-se da história da origem da cidade de Recife, desde os primórdios do século XVI em que o Brasil era colônia de Portugal. 

De maneira cronológica, o livro vai avançando ao longo dos séculos, trazendo informações notáveis sobre o desenvolvimento da cidade, como a produção de açúcar que levou a capitania de Pernambuco ao status de mais desenvolvida do período colonial, à invasão holandesa, à presença de Maurício de Nassau em Recife e as 'desavenças' entre a cidade e sua vizinha, Olinda. A obra aborda a importância dos rios para a estrutura física e econômica da cidade, a construção de prédios importantes como o Teatro Santa Isabel e de que figuras ilustres da nossa poesia ela foi berço  [João Cabral de Melo Neto, Mauro Mota e Manuel Bandeira.] 

Por fim, nos apresenta um pouco da cultura carnavalesca pernambucana, o frevo, o maracatu e o bloco do Galo da Madrugada, que atrai todos os anos milhares de pessoas de todo o país, - e turistas estrangeiros também - para prestigiar nossa cultura. 

Em suma, o livro é encantador, e certamente vai causar em todo aquele que não é recifense um sentimento de pertencer à estas paragens... 


segunda-feira, julho 24, 2017

[Poema] Nenhuma outra viajará pela sombra comigo - Pablo Neruda



"Já és minha. Repousa com teu sonho em meu sonho.
Amor, dor, trabalho, devem dormir agora.
Imagem do Google
Gira a noite sobre suas invisíveis rodas
e junto a mim és pura como âmbar dormido…
Nenhuma mais, amor, dormirá com meus sonhos…
Irás, iremos juntos pelas águas do tempo.
Nenhuma viajará pela sombra comigo, só tu.
sempre viva. sempre sol… sempre lua…
Já tuas mãos abriram os punhos delicados
e deixaram cair suaves sinais sem rumo…
teus olhos se fecharam como
duas asas cinzas, enquanto eu sigo a água
que levas e me leva.
A noite… o mundo… o vento enovelam seu destino,
e já não sou sem ti senão apenas teu sonho…"

in Cem sonetos de Amor.

domingo, julho 23, 2017

Uma vez, de Morris Gleitzman

Recentemente a Editora Paz e Terra, do Grupo Editorial Record lançou o título Uma vez, do escritor australiano Morris Gleitzman. Tata-se de uma obra voltada para o público juvenil mas que pode emocionar o leitor mais sensível que aprecie histórias ambientadas na Segunda Guerra Mundial...



Narrado em primeira pessoa na figura de uma criança judia de apenas 10 anos, conhecemos a história de Félix, que não compreende as mudanças que estão ocorrendo ao seu redor, e sente falta dos pais, que o deixaram por tempo indeterminado num orfanato cristão. Imaginando se tratar de alguma brincadeira de fingir, o menino segue as instruções de não falar de sua origem, principalmente na frente dos estranhos homens fardados que volta e meia visitam o local a procura de algo suspeito...

Seus pais eram livreiros e após presenciar livros judeus sendo queimados, o pequeno pressente que sua familia pode estar em perigo e passa a tentar compreender aquele ódio aos livros de seu povo, que provavelmente se estende ao próprio povo... Ele acaba fugindo do orfanato a fim de encontrar seus pais e no caminho encontra cenas desalentadoras, chegando a salvar uma frágil vida de um incêndio... A partir desse momento  ocorre o 'amadurecimento forçado' de uma criança, que passa a enxergar os perigos reais que lhe acometem e que precisa sobreviver em meio a uma terra devastada por falta de comida, mortes, incêndios e perseguições... 

O processo de aprendizado de Félix é doloroso ao leitor, ainda mais por sabermos que esse tipo de situação pode muito bem ter acontecido na realidade naqueles anos sombrios de guerra. A trama escrita por Gleitzman não é baseada numa história de fato real, mas que através dela é possível fazer uma conexão com o passado de muitos judeus que morreram ou sobreviveram aos horrores do Holocausto. Uma Vez é uma espécie de resgate dessas histórias há muito perdidas devido a intolerância humana... Certamente uma leitura que vai emocionar aqueles que se aventurarem por suas páginas...


quinta-feira, julho 20, 2017

Caixa de Correio Junho/2017

Olá, leitores queridos do Torpor... Curiosos pra saber quais novidades andei recebendo durante o mês de Junho? Essa postagem deveria ter saído no começo desse mês, mas acabei protelando, protelando... mas finalmente tô trazendo a vocês os títulos que troquei, ganhei, recebi em parceria e afins... Tem muita coisa, ainda bem que minhas caixas são quase sempre recheadas... E tento trazer conteúdo pro blog a partir dessas aquisições... Vamos lá, sem mais delongas... 

Parceria


Recebi de cortesia do autor parceiro Anderson Henrique seu mais novo lançamento, o livro de contos intitulado Chame como Quiser. Fiz a leitura de alguns dos contos e estou amando... Logo trago resenha dele aqui pra vocês...




Colecionismo

Venho tentando comprar algumas estatuetas da Coleção One Piece da Salvat. Não terei dinheiro para comprar todas as peças mas pretendo completar pelo menos o bando do Chapéu de Palha... Eis a nova aquisição abaixo, o cozinheiro bom de pernas e mulherengo Sanji


compra da Amazon

Não resisti [e quem consegue?] a uma super promoção da Amazon e joguei no carrinho um mangá [Suicide Club], O oceano no fim do caminho, de Neil Gaiman e a HQ Do Inferno, que estava com um super desconto, levando em conta seu preço geralmente salgado... Um pouco caro mas valeu a pena o investimento... Pretendo ler e trazer resenha dele pra cá tão logo possa... 


compras avulsas

Passeando pela Feirinha da Rua do Bom Jesus, no Recife Antigo, me deparo comum sebo móvel, e de cara me deparo com essa edição de Contos de Grimm... Li vários deles quando criança e pela nostalgia resolvi trazê-lo para casa... 


Pela banca de revistas aqui de minha cidade,acabei comprando uma edição de Os anos de ouro de Mickey, além do volume #10 de FullMetal Alchemist e O livro de ouro da mitologia... 




Cartas de Amigos


Recebi da queridona Patricia Costa, do Dose Literária, uma cartinha cheia de panfletos e um catálogo de Conceição Evaristo, das exposições que ela visita e da viagem que fez recentemente ao Uruguai. Fiquei muito grata coma bela surpresa e lembrança... Obrigada, Pathy



Parceria

De parceria e cortesia, chegaram os livros Da poesia - Hilda Hilst, pela Companhia das Letras e Entrevista com o vampiro - Anne Rice, pela Editora Rocco, parceira do Poesia na Alma, em que sou resenhista. Tem resenha dele lá e aqui... O de poesias de Hilda logo terá postagem com minhas impressões aqui no blog... 



Cortesia 


Ainda nas cortesias recebidas para resenhas primeiramente no Poesia na Alma, chegaram os livros da Editora Record: Uma vez, O segredo de Heap House, Belas Maldições e A astúcia cria o mundo


Pela Global Editora, recebi Geografia dos Mitos Brasileiros, de Luis da Câmara Cascudo. Ansiosa para fazer a leitura e certamente irei utilizá-lo em um projeto de pesquisa...


Alguns marcadores da Editora Rádio Londres que Lili gentilmente me cedeu...


Troca de Sebo


Em meus sagrados passeios pelo Sebo do Dedê, em Carpina-PE, fiz algumas ótimas trocas... Alguns já foram lidos e aos poucos vou soltando as resenhas... 
Melhores Poesias de Cecilia Meireles, Concerto para corpo e Alma, Amor e Variações sobre o prazer, de Rubem Alves



Trouxe ainda A república dos sonhos, de Nelida Piñon e outra edição de A lista de Schindler, deixando a minha antiga por lá... E outros títulos trazidos pra casa numa das tardes maravilhosas que passo por lá foram Um brinde de cianureto - Agatha Christie, O terror - Edgar Wallace, Platero e eu - Juán Ramón Jiménez, Thomas o impostor - Jean Cocteau, Mas não se mata Cavalo?- Horace Mccoy, O gato - Georges Simenon, Guerra dentro da gente - Paulo Leminski e O menino do dedo verde - Maurice Druon. 



Presentes que ganhei de Ireno


Esses eu tive que separar numa categoria HAHAHA Tenho um estimado amigo que conheci no sebo que volta e meia me presenteia com livros e quadrinhos... Esse mês acabei ganhando lindas edições e vim compartilhar delas com vocês... Meu muito obrigada pelo carinho e amizade, Ireno.


O alienista em quadrinhos e Na volta da Esquina - Mário Quintana.


uma linda HA de A guerra dos Tronos, do grandioso George R. R. Martin. Logo tem resenha dele aqui também...


Uma edição em espanhol de Misericordia, do escritor Benito Pérez Galdós. Logo com essa capa maravilhosa, um dos meus quadros preferidos [Saturno devorando seu filho, do pintor espanhol Goya]..


Ainda na lista de presentes, umas edições bem antigas de O retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde, Inferno em espanhol, de Dante Alighieri e o volume dois de Madame Bovary...


Risíveis amores, de Milan Kundera, Eu sei que vou te amar, de Arnaldo Jabor e Contos de verdades, de Aldyr Garcia Schlee...


Uma edição bem antiga de A capital, de Eça de Queiroz e Salammbô, de Flaubert. 


Uma edição em espanhol do livro El cuaderno de Maya - Isabel Allende, América - histórias, delirios e outras magias, do historiador Leon Pomer, e acabou saindo na mesma photo uma imagem de uma compra que fiz do livro As independências da América Latina. 



A origem curiosa das palavras, de Márcio Bueno. Ando bem curiosa pra fazer essa leitura...


Para finalizar, mais um título de Rubem Alves e dois livros do autor Jostein Gaarder: Através do espelho e A biblioteca mágica de Bibbi Bokken


Só tenho a agradecer a esses amigos que fazem minha alegria HAHAH
Enfim, finda a caixa de correio... Até eu pensei que não acabaria mais esse post... hehehe...


Beijos e até a próxima, amores... ^.~ 



quarta-feira, julho 19, 2017

A era de Ouro do Pornô na Amazon

Quem acompanha o blog com certa regularidade certamente lembra que uns meses atrás resenhei o livro A era de Ouro do Pornô, do autor parceiro Zeka Sixx. Agora trago uma novidade imperdível. O livro está disponível para venda em formato e-book pela Amazon

Assim sendo, não há mais desculpa para não adquirir seu exemplar e se divertir com as [des]venturas sexuais/amorosas do protagonista Max California, um sagitariano que me conquistou pela sua personalidade bon vivant... heheeh...


Confira a resenha aqui.

Para comprar na Amazon, clique aqui.

terça-feira, julho 18, 2017

Crepusculário - Pablo Neruda...

 "Amor, desfaz o ritmo da minha água tranquila."

Vencedor do Prêmio Nobel de 1971, Pablo Neruda é a grande voz poética do Chile.  Crepusculário foi o seu primeiro livro de poesia escrito. A obra, publicada pela coleção de bolso da L&PM Editores traz a produção poética de Pablito dos seus 16 aos 19 anos, originalmente publicado em 1923.

O título sugere um clima espiritual, místico com os elementos da natureza. A métrica da poesia pós-simbolista permite um ritmo cadenciado em seus versos, rememorando lembranças e devaneios, num ambiente que exala melancolia e suavidade, com um quê de onírico...

O germe de sua poesia está contido nesta edição bilíngue. A natureza, cosmos e o amor tocam o íntimo do poeta  e este se debruçou sobre folhas amareladas presenteando o mundo com seus versos... Sua poesia possui um ar de penumbra, tão comum nas poesias que marcaram o final do século XIX e início do século XX. 

Dentre suas influências na escrita, podemos destacar Ruben Darío, poeta nicaraguense, Santos Chocano, seu predecessor na visão anti-americana e politica, natural do Peru e Walt Whitman, americano. Temos também influência marcante do uruguaio Carlos Sabat Ercasty. 

Pablo foi intenso durante sua passagem nessa terra. E sua intensidade se reflete nos versos que nos legou, levantou bandeiras ideológicas, foi amante, apaixonado e dono de uma poesia digna de ser apreciada pelas mentes mais sensibilizadas com a arte da poética. A poesia de Neruda, tal como o brilho do Crepúsculo, é chama que jamais apaga...

"Pode-se encontrar a poesia das coisas
ou não pode condensar minha vida?
Ontem - olhando o último crepúsculo -
eu era a mancha de musgo entre umas ruínas."



segunda-feira, julho 17, 2017

Estêvão, o desconectado

 

Recebi em parceria com a Editora Hyria a obra Estêvão, o desconectado, da autora Vivian Saad. Trata-se de um livro infanto-juvenil que acaba sendo uma boa reflexão para os leitores adultos, principalmente àqueles que tem filhos pequenos nessa era de tecnologia e modernidade.

Estêvão chorava bastante quando ainda era um bebezinho, e a fim de poupar os ouvidos, seus pais tiveram a ideia de presentear o pequeno com um tablet. Sendo assim, ele passou a se entreter com aquele aparato tecnológico e parou de chorar e irritar seus pais... Ao se deparar com o 'mundo' que o tablet lhe desvelava, ao mesmo tempo Estêvão 'perdia' de enxergar o que o mundo ao redor lhe proporcionava. Os jogos eletrônicos do aparelho vidravam os olhos do menino, e ele acabava se desconectando de tão conectado que estava ao tablet...

Belamente  ilustrado pela própria autora, a história de Estêvão vai sendo contada até sua idade adulta, em que ele perdeu muito do belo que a vida poderia lhe trazer devido ao fato de estar sempre  'conectado'... 

Estêvão, o desconectado, além do entretenimento de se ler, serve também para levantar questões sobre o comportamento dos pais ao lidar com crianças numa geração rodeada de tecnologia. O avanço científico e eletrônico usado de maneira indevida acaba por alienar os jovens desde o berço, minando a curiosidade do saber que todos possuímos durante nosso crescimento. 

Super recomendado para o público jovem, adulto e que busca leituras de fácil compreensão com questionamentos sociais...


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sexta-feira, julho 14, 2017

A jornada de Marjane Satrapi em quadrinhos: Persépolis

Uma das experiências de leitura de quadrinhos mais incríveis que já tive foi ter lido Persépolis, de Marjane Satrapi, publicado pela Ed. Companhia das Letras. Trata-se de uma autobiografia de uma garota que cresceu num país devastado pela guerra, uma das tantas que ocorrem no Oriente médio...



A linguagem do quadrinho é fluída, traz certo tom de 'comédia' ao drama vivido por Satrapi desde a infância. Filha de pais modernos, sofreu bastante pela condição de ser mulher num país em que usar o véu de forma indevida ou pintar de esmalte as unhas do pé podem lhe render castigos...


Além do relato sobre sua infância no Irã, Satrapi nos conta como foi sua estadia na Áustria, por longos quatro anos, longe de sua família, de seus amigos, cultura - cultura esta que ela vai se distanciando cada vez mais a medida que toma decisões que chocam com sua integridade, e com seus preceitos orientais. Ela presencia a morte de perto, vendo pessoas com as quais conviveu sendo presas e mortas porque se opuseram ao regime do Irã, e por isso mesmo é mandada para a Áustria pelos próprios pais, que temem pela sua segurança, devido à forte personalidade que traz consigo...

Um dos pontos mais interessantes na biografia desenhada, é que Marjane Satrapi sempre foi uma garotinha que sonhava em ser revolucionária, almejava um futuro próspero e de paz em seu país e conversava com Deus. Mas a medida em que se tornava uma adolescente, os gostos ocidentais faziam seus pais se arriscarem para comprar um pôster de banda de rock ou algum botton de Michael Jackson pra ela - esses ideais iam se metamorfoseando. Quando ela viveu na Áustria, teve dificuldades com o idioma alemão, se envolveu com pessoas que - se vivessem no Irã, teriam sido mortas por suas peculiaridades. Ela teve o cotidiano invadido pela 'moda ocidental' e por muitas vezes teve sua fé questionada por si mesma, bem como os hábitos de sua religião...



Marjane sofreu algumas decepções amorosas, chegou a se casar, e antes disso, nem podia andar de mãos dadas com seu namorado, sob pena de ser xingada na rua, presa ou coisa pior... O bom de se ler Persépolis, é que a autora sabe tratar de tema tão denso com uma carga de humor na medida certa, sem exageros ou piadas sem sentido. Ela mescla o cotidiano com a situação do Irã de forma a fazer o leitor se encantar e ao mesmo tempo se penalizar pelo tratamento dado à população iraniana, em especial as mulheres durante o regime fundamentalista.

Existe uma adaptação cinematográfica do quadrinho, dirigida por Vincent Paronnaud e pela própria Satrapi, contando a história dela até os seus 21 ou 22 anos, ambientada entre os anos de 1969 e 1990. 
Em suma, é uma obra para ser apreciada, sem dúvida, e que levanta diversos questionamentos, bem como causar certo desgosto pela humanidade ser ainda tão pobre de paz...




quinta-feira, julho 13, 2017

Coisas do Amor, crônicas de Rubem Alves

A Coleção Coisas da Vida traz algumas crônicas do aclamado Rubem Alves. Li recentemente o livro Coisas do amor, em que os textos falam conosco de maneira fluída, divertida e com um singelo toque de reflexão.


As crônicas contidas nesse livro surgiram inspiradas em dúvidas que os leitores enviavam para o autor, por meio de cartas e e-mails, alguns até por telefonema. Rubem transformou boa parte dessa comunicação com o público em histórias de qualidade, que podem nos despertar sentimentos criativos estimulando nossa imaginação...

Ao todo são dez crônicas que compõem Coisas do Amor, e certamente a que mais me impactou foi Esforce-se por se feliz.

"Não sei não, não conheço você, mas tenho suspeitas. Essa contradição, me parece, é sintoma de uma desgraça chamada inveja. A nossa infelicidade nasce da comparação. Comparo-me com uma outra pessoa. Vejo as coisas boas que ela tem ou é. Dou-me conta de que nem sou o que ela é, nem tenho o que ela tem. Aí, olhando para mim mesmo, sinto-me pequeno, empobrecido, feio. E esse olhar, envenenado pela inveja, destrói as coisas boas que sou e tenho. O olhar invejoso está sempre colocado na riqueza do outro que, por meio da comparação,  se transforma na minha pobreza. Ele é rico e bonito: eu sou pobre e feio. Aí o seu amor por você se transforma num amor triste. Sobra, então, a alternativa medíocre de que você lança mão: já que não posso ser objeto de amor pela minha exuberância, ofereço-me à piedade dos outros pela minha miséria. Pelo menos que os outros tenham pena de mim.Muita autocomiseração nasce do narcisismo."

Coisas do Amor trata-se de um livreto, daqueles que se carrega na bolsa para quando precisamos ler alguma coisa bonita [ou necessária]... Rubem cativa o leitor com uma sinceridade em suas palavras que poucos autores ousam utilizar. Nos dá um tapa sem mão dizendo coisas bonitas. E a paixão por sua escrita só aumenta a ponto de mal caber em meu peito... 






terça-feira, julho 11, 2017

Amor que serena termina...



Assim como Pedro Juan Gutierrez, concordo que a beleza do peso-leveza do amor se encontra na euforia de um peito arfando perante a pessoa amada. Na palpitação e estremecer que o contato com a pele de quem amamos nos proporciona... O amor não escolhe em que porta bate e por muitas vezes temos que aproveitar aquilo que nos pode ser oferecido...

Amores serenos e tranquilos findam. Os tempestuosos podem acabar fisicamente mas deixam marcas indeléveis. É na tragédia que mora a beleza, pois é a partir do risco do fim que acabamos valorizando mais cada minuto junto a pessoa amada...

Para mim, amores tranquilos não tem graça, não possuem o poder de arrepiar os ossos ante a presença de nossa metade-ímpar. Ímpar no sentido de avulsa, que pode se encaixar hoje e amanhã ir se encaixar em outras paragens... porque não pertencemos a ninguém além de nós mesmos...

Como Gutierrez, quem sabe é meu carma amar atormentadamente, com sofreguidão, na urgência de que o depois pode não chegar? Viver intensamente cada momento como sendo o último, valorizar o que nos é dado, eternizar o inevitável que é o efêmero da existência... 

Ainda não tenho 62 anos como meu querido escritor cubano tinha ao dar essa entrevista... Mas sigo caminhando, aos trancos e tropeços dos meus 31 amando apaixonadamente o amor, a vida... enquanto ela ainda me resta... num bolero contínuo...



segunda-feira, julho 10, 2017

Quote - Rainer Maria Rilke

"O amor é a ocasião única de amadurecer, de tomar forma, de nos tornarmos um mundo para o ser amado. É uma alta exigência, uma ambição sem limites, que faz daquele que ama um eleito solicitado pelos mais vastos horizontes." Rainer Maria Rilke


sexta-feira, julho 07, 2017

Canção de Amor - Rainer Maria Rilke

"Como hei-de segurar a minha alma
para que não toque na tua? Como hei-de
elevá-la acima de ti, até outras coisas?
Ah, como gostaria de levá-la
até um sítio perdido na escuridão
até um lugar estranho e silencioso
que não se agita, quando o teu coração treme.
Pois o que nos toca, a ti e a mim,
isso nos une, como um arco de violino
que de duas cordas solta uma só nota.
A que instrumento estamos atados?
E que violinista nos tem em suas mãos?
Oh, doce canção."

domingo, julho 02, 2017

Rio-Paris-Rio - e a descoberta de si nos entremeios...

Lançado recentemente pela Editora Rocco, o romance Rio-Paris-Rio da escritora brasileira Luciana Hidalgo nos conta a história de Arthur e Maria, brasileiros que vivem em Paris, fugindo da ditadura que se instalou no país nos anos 1960. Eles se encontram pela primeira vez num momento que a capital francesa está sendo bombardeada por manifestações estudantis no ano de 1968. Maria estuda Filosofia na Universidade de Sorbonne, e Arthur é um artista de rua.


O encontro de ambos se dá em meio a conflitos políticos, e se desenrola para uma convivência repleta de poesia marginal, num ambiente efervescente de cultura, protestos e - num paradoxo - frio como os invernos europeus costumam ser. Se desdobra perante seus olhos uma Paris rica, luxuosa mesclada com a Paris dos boêmios, artistas que vivem embaixo de pontes e revolucionários que - por muitas vezes - não fazem ideia do que clamam, mas ainda assim não se encontram parados no Tempo...

Maria é neta de um militar, desses que transformaram o Brasil num país que se cala pelo medo de represálias. Seus pensamentos são distintos de seu avô. Arthur também tem familia no Rio de Janeiro. Os protagonistas que de inicio eram turistas, acabam se tornando imigrantes na terra francesa. Mas o estado de não-pertencimento se faz presente a todo momento, eles têm consciência de que nunca pertencerão àquela terra, por mais que admirem sua arquitetura, sua música e filosofia...

No fim das contas, não passam de intrusos. Eles acabam lembrando um ao outro do país a que pertencem. São portos-seguros entre si, já que tão cedo não podem retornar a capital carioca... 


A escrita de Luciana Hidalgo tem um quê de poética, mescla bem o romance dos protagonistas com uma excelente ambientação geopolítica e histórica. Sua narrativa é sensível e profunda, envolvendo o leitor e fazendo com que ele se sinta um 'estrangeiro familiar' dentro do enredo... É possível respirar o ar parisiense nas folhas de Rio-Paris-Rio tal a sensação veemente que ela nos passa...

"Tantas estradas retas, curvas, encruzilhadas, tantas peregrinações, solidões, distâncias, e o mundo termina aí, no umbigo de Maria, corpo-cidade, corpo-exílio."




Vencedora do Prêmio Jabuti, Luciana nos agracia com um romance único, que traz peso e leveza, - a liberdade de descobrir juntos o Velho Mundo e o sufoco do exílio, entrelaçados com o sentimento de estar num lugar aonde não pertencem...