sexta-feira, setembro 29, 2017

Miguel de Cervantes na cultura pop


Provavelmente nessa data em que vos escrevo, no ano de 1547 nascia em Alcalá de Henares o romancista, poeta e dramaturgo Miguel de Cervantes Saavedra, um dos nomes mais importantes da literatura clássica ocidental. Don Quijote de la Mancha é considerada sua obra-prima, traduzido em diversos países e referenciado em diversas manifestações artísticas que vão de pinturas a cordéis e letras de música...

minha edição espanhola, comemorativa do IV centenário da obra

Como uma forma de prestar-lhe homenagem, resolvi reunir nesse post algumas dessas referências à figura do Cavaleiro da triste figura, como também é conhecido o protagonista da mais famosa história surgida na Espanha, baseada em novelas de cavalaria que eram comuns na época em que foi publicado a primeira vez em 1605... 

adaptação em quadrinhos


Humberto Gessinger da banda Engenheiros do Hawaii traz uma canção intitulada Dom Quixote, em que faz clara alusão ao personagem, com uma letra que fala de luta por ideais, inspirada na figura de Don Quijote, um cavaleiro que almejava ser como os heróis das novelas de cavalaria que ele mesmo lia, e sai pelo mundo lutando com moinhos de vento achando se tratar de dragões, querendo salvar uma donzela que sequer sabia de sua existência, com uma visão sonhadora de seu 'ao redor'...



Dom Quixote

Muito prazer, meu nome é otário
Vindo de outros tempos, mas sempre no horário
Peixe fora d'água, borboletas no aquário
Muito prazer, meu nome é otário
Na ponta dos cascos e fora do páreo
Puro sangue, puxando carroça

Um prazer cada vez mais raro
Aerodinâmica num tanque de guerra
Vaidades que a terra um dia há de comer
Ás de Espadas fora do baralho
Grandes negócios, pequeno empresário
Muito prazer, me chamam de otário

Por amor às causas perdidas
Tudo bem, até pode ser
Que os dragões sejam moinhos de vento
Tudo bem, seja o que for
Seja por amor às causas perdidas

Por amor às causas perdidas
Tudo bem, até pode ser
Que os dragões sejam moinhos de vento
Muito prazer, ao seu dispor
Se for por amor às causas perdidas
Por amor às causas perdidas


A letra é bem politizada e traz uma crítica às sociedades utópicas, apresentando um teor pessimista e sombrio da real condição de desigualdade de classes. Seria o 'amor as causas perdidas' em um dos trechos da canção... Dom Quixote seria o símbolo das causas perdidas, das revoluções de um sonhador, que almeja consertar o mundo mas não é levado à sério pelas pessoas com quem convive. A figura de Sancho Pança é a tentativa de fazer com que o cavaleiro enxergue a realidade e suas reais condições de transformar o mundo...
Além de Engenheiros do Hawaii, a banda inglesa Coldplay presta homenagens ao livro na música Spanish Rain. 




Então deixamos La Mancha
Em direção às planícies mais altas
Eu e Sancho Pança

Procurando por aventuras
Rocinante nas rédeas
Para a resposta dos moinhos de vento

Você nunca vai estar sozinho
Você não vai estar sozinho nunca mais
Você nunca vai estar sozinho
Você nunca vai estar sozinho novamente

Ouvi dizer que você nunca se molhou na chuva Espanhola
Então eles mandaram o médico, para examinar meu cérebro
Disse que ele não é tão claro

Oh quando o mundo,
quando o mundo parece apenas, um pouco cruel demais
Vamos deixá-lo melhor
Faça o melhor

Então avise aquela princesa
Avise aquela princesa que desce do trem
Avise aquela princesa
Ela nunca estará sozinha novamente

Ouvi dizer que você nunca se molhou na chuva espanhola
Ooh, ooh
Ouvi dizer que você nunca se molhou na chuva espanhola

Ouvi dizer que você nunca se molhou na chuva espanhola
Woo ooh, Wooh ooh
Ouvi dizer que você nunca se molhou na chuva espanhola

Escritores como Voltaire e Jorge Luiz Borges se diziam identificar em parte com a natureza quixotesca -  este último, inclusive, fez um poema em homenagem ao personagem. O homem de la Mancha foi um musical baseado na obra estreado em 1966. Houve também uma versão brasileira desse musical, tendo Paulo Autran encarnando a figura do cavaleiro. 


Na literatura, Monteiro Lobato prestou sua homenagem com a obra Dom Quixote das crianças, uma adaptação de 1936 ambientada no Sítio do Pica-pau amarelo. Folhetos de cordel foram impressos no Brasil fazendo alusão às novelas de cavalaria inspiradas claramente na obra de Cervantes. Em 1935 foi lançada uma versão dela por J. Borges, famoso cordelista pernambucano. Na história, Dulcinéa é Maria Bonita, e Quijote luta contra os famosos cangaceiros, que permeiam até hoje a cultura do sertão nordestino. Gregório de Matos tem um poema em que cita o personagem, assim como Machado de Assis que o referencia em Memórias póstumas de Brás Cubas


José de Alencar faz alusão ao autor Cervantes em Minas de Prata, assim como José Lins do Rego em Fogo Morto, em que o personagem Vitorino, capitão, possui um cavalo que lembra Rocinante e o capitão se envolve em aventuras que em muito lembram Don Quijote. 
  
Na arte, Salvador Dalí e Pablo Picasso pintaram o lunático fidalgo.
Don Quixote por Pablo Picasso

Salvador Dalí

Entre as duas partes de Don Quijote Miguel de Cervantes escreveu Novelas Exemplares, composto de doze curtas novelas, bastante apreciadas pelo público da época. No teatro, a única peça trágica que sobreviveu aos tempos foi O cerco de Numancia, mostrando o povo ibero resistindo à ocupação romana na cidade.

minha edição lindinha da Abril em capa dura


Em 1616, um ano após a publicação da segunda parte de sua obra-prima, vem a falecer em Madrid, a 22 de abril. É inegável a contribuição de Cervantes à literatura espanhola e mundial. Até os que nunca leram a obra na íntegra conhecem a trama e os personagens, tal sua fama na cultura pop/literária. 

estatueta que ganhei de meu querido amigo Ireno esse ano

terça-feira, setembro 26, 2017

12 Meses de Poe [Poema] - Um sonho dentro de um sonho (a dream within a dream)

"Tome este beijo sobre tua fronte!
E, apartando-me de ti agora,
Permita-me confessar -
Não erras, ao supor
Que meus dias têm sido um sonho;
Ainda se a esperança esvaiu-se
Numa noite, ou num dia,
Numa visão, ou em nenhuma,
Tudo aquilo que vemos ou nos parece
Nada mais é do que um sonho dentro de um sonho.

Permaneço em meio ao bramido
Da costa atormentada pelas ondas,
E seguro em minha mão
Grãos dourados de areia -
Quão poucos! e contudo como arrepiam
Por entre meus dedos às profundezas,
Enquanto choro - enquanto choro!
Oh Deus! não posso eu segurá-los
De punho mais firme?
Oh Deus! não posso salvar
Um único da onda impiedosa?
Tudo aquilo que vemos ou nos parece
Nada mais é do que um sonho dentro de um sonho."

domingo, setembro 17, 2017

Cartas de amor de Fernando Pessoa

"Quem me dera ter a certeza de tu teres saudades de mim a valer. Ao menos isso era uma consolação..."

Organizado por Walmir Ayala, Cartas de amor - Fernando Pessoa é um compilado de cartas escritas pelo poeta dirigidas à pessoa de Ophélia Queiroz, que ele conheceu no dia em que ela apresentou-se na firma onde Pessoa trabalhava como colaborador na redação de correspondência.


A jovem deve ter causado um impacto profundo no poeta, ativando sua veia poética-apaixonada e o resultado disso se vê nessa edição publicada pela Editora Nova Fronteira. Alternando o cotidiano com o mistério, Pessoa revelava-se a cada linha escrita como um homem enamorado, não só por Ophélia, mas pela arte em si de colocar nas cartas seus mais variados pensamentos e emoções...

"O que te aconteceu, amor, além de estarmos separados? Houve qualquer coisa pior que te acontecesse? Por que falas num tom tão desesperado do meu amor, como que duvidando dele, quando não tens para isso razão nenhuma?"

As cartas seguem em ordem cronológica datadas de 01 de março de 1920 até 09 de outubro de 1929. A obra ainda possui uma cronologia do autor e um texto introdutório do organizador Walmir Ayala. Trata-se de uma leitura curta, rápida e que possui certa carga de romantismo e nostalgia. O leitor se sente familiarizado, como se se encontrasse naquelas palavras, ou fosse o destinatário das correspondências... Em suma, Cartas de Amor é uma bela leitura de poucas horas eternizadas em cartas escritas ao longo de quase dez anos...

"Um beijo só durando todo o tempo que ainda o mundo tem que durar, do teu, sempre e muito teu

5.4.1920
Fernando (Nininho)"

[Série] Referências literárias em Quatro Estações em Havana

Há algum tempo vinha com a ideia de falar sobre outros assuntos aqui no blog que não fossem necessariamente sobre livros, mas acho meio improvável não tentar assimilar meu amor pela literatura com qualquer temática que seja... Mas decidi expandir um pouco as coisas por aqui, abordando também sobre séries que tenham me agradado... E por que não fazer 'a ponte' com a literatura?


Recentemente assisti Quatro Estações em Havana [Cuatro estaciones en el Habana] por indicação de um querido amigo Trata-se de uma série original da Netflix que estreou ano passado, e só agora tomei conhecimento de sua existência... São apenas 4 capítulos em uma temporada. Os capítulos são baseados na Tetralogia escrita pelo autor cubano Leonardo Padura

Estrelado por Jorge Perugorría, é ambientada numa Cuba do fim dos anos 1980 e traz todo o clima de suspense noir sessentista que permeia a literatura e cinema. A própria Havana ganha ares de personagem, com uma trilha sonora incrível, fotografia belíssima e enredo bem trabalhado, com atuações simples porém cativantes... Jorge vive o personagem Mario Conde, um policial cinquentão que vive desiludido com a vida, ama jazz e mulheres e possui um espírito sarcástico e inquiridor, além de ser aspirante a escritor. 


O primeiro episódio se passa na Primavera e Conde precisa investigar o assassinato de uma professora, estrangulada em seu apartamento. Drogas e tráfico dominam o cenário e em meio a isso ele conhece Karina, uma misteriosa ruiva que toca saxofone e parece virar a cabeça do tenente pelo avesso... O segundo episódio é sobre o desaparecimento de uma figura importante do Ministério da Indústria. Alguém do passado de Conde ressurge, atordoando os sentidos e tornando a investigação mais delicada... 


Na terceira parte da temporada, um jovem travesti é assassinado num parque, e por ele ser filho de um diplomata cubano, há urgência em solucionar o caso... O episódio que fecha a temporada nos traz um assassinato que tem relações com o passado e a Revolução no país...


É possível conhecer um pouco do ambiente da ilha através do cenário e atuações, bem como a cultura cubana e seus problemas sociais. Corrupção, desigualdades, política e afins se mesclam num ambiente que esbanja sexualidade aflorada através dos personagens ali retratados, em meio a fumaça e neblina, miséria, violência e bolero. E um ponto interessante a ser levado em conta  são as referências literárias encontradas ao longo da trama. 

Consegui encontrar referências aos autores J. D. Salinger, que escreveu O apanhador no campo de centeio, Virgílio Piñera, Ernest Hemingway, Yukio Mishima, Stephan Zweig, George Calverte e Cesare Pavese. Exceto Salinger, os demais são escritores/poetas que possuem em comum o fato de terem se suicidado. Essa coincidência tem importante papel no terceiro episódio...

Aproveitando  referências literárias que encontrei ao longo da série, resolvi procurar obras de tais autores a fim de conhecer sua escrita. Hemingway, Salinger e Mishima eu já conheço, quanto aos outros, nunca li nada deles, mas pretendo mudar isso... 



A série não é composta por uma trama mirabolante, mas faz jus ao papel de entreter os aficionados pelo gênero policial/suspense/noir. A atmosfera do ambiente transporta o espectador para os becos escuros e prédios decadentes da capital cubana, ao som de jazz e fumaça de charutos aliados às cenas de sexo do protagonista com suas amantes, e também de seu amigo e parceiro Manolo, com sua esposa Vilma... Mario Conde personifica o anti-herói de meia idade, latino e charmoso, eficiente à sua maneira para desvendar os casos que lhe caem à mesa... Recomendo dispender umas poucas horas de seu dia para apreciar as [des]venturas de Mario Conde pelas ruas de Havana...


sexta-feira, setembro 15, 2017

Sonetos, de Bocage

Considerado o maior poeta português do século XVIII, Manuel Maria Barbosa du Bocage nasceu em 15 de setembro de 1765, na cidade de Setúbal. Serviu a armada lusitana, foi preso pela Inquisição devido a publicação da obra Pavorosa ilusão da Eternidade, considerada blasfema pela Igreja Católica, e só foi solto porque sua reputação como poeta lhe rendia prestígio na sociedade. 


Muito de sua obra foi publicada postumamente, mas em vida publicou Os idílios marítimos, no ano de 1791 e a trilogia Rimas, de 1971 a 1804. Seus poemas são considerados eróticos com sátiras à igreja, sendo uma figura legendária na poesia obscena e sacrílega. Pertence ao movimento chamado de Segunda Arcádia portuguesa, mas sua ousadia nos versos o faz transcender as convenções do movimento; considerado também um dos precursores do Romantismo.

Ao lado de nomes como Antero de Quental e Luis de Camões, Bocage é um dos grandes representantes da poesia lusitana. Possui sonetos em sua maioria autobiográficos, trazendo o paradoxo entre a elevação moral que desejava e os prazeres mundanos a que sucumbia...

"Razão, de que me serve o teu socorro?
Mandas-me não amar, eu ardo, eu amo;
Dize-mes que sossegue, eu peno, eu morro."

Sonetos é uma publicação da Biblioteca Folha e há alguns anos entrei em contato com os versos de Bocage através dela. Traz um apêndice, notas explicativas e um texto de apresentação sobre a vida do poeta. Os sonetos possuem uma carga de bucolismo e erotismo refinados. Certos tons sombrios e melancólicos podem ser identificados ao longo de toda a obra...

Em suma, Sonetos de Bocage é imprescindível para quem almeja conhecer sua poesia e expressividade. Um libertino incompreendido, ousado para seu tempo e de muitos amores. Enamorado pelas letras, mulheres e de espírito aventureiro...



quinta-feira, setembro 14, 2017

Valsa nº 6

Enquanto executava ao piano a Valsa nº 6 de Chopin, Sônia, uma jovem de 15 anos é assassinada misteriosamente. Na condição de morta, seus monólogos mesclados a diálogos imaginários tentam remontar o que antecedeu seu último suspiro. A garota revela uma verdadeira trama de assassinato, e alucinações que confundem o leitor entre o mundo real e o imaginário.


Publicado pela Editora Nova Fronteira, essa peça de Nelson Rodrigues foi escrita em 1951 e divide-se em apenas dois atos. No primeiro deles, nos deparamos com uma personagem que está sozinha, morta e que ao reviver os momentos de sua vida, acaba por personificar as pessoas que viviam ao seu redor. Sônia não possui mais identidade, sua memória tenta reconstituir isso...

"Noiva, eu?
(interpela a platéia)
Mas de quem?
(dolorosa)
Digam!
(interroga uma espectadora)
Eu tenho a face, as mãos, os olhos de uma noiva?
(ajeita os cabelos)
Há uma grinalda, em mim, que eu não vejo? Nos meus cabelos?"

Sônia não sabe quem ela é. Ela havia despertado para a vida, e a sua vida foi abreviada por alguém. Suas perguntas são obsessivas. O espectador/leitor acompanha a viagem do espírito atormentado de uma adolescente em busca de si mesma e de sua vida. e morte. 

A familia de Sônia vivia confortavelmente. A moça tocava piano, recebia visitas médicas em casa, tinha uma paixão por seu namorado. Mas sua aparência jovial e inocência tornam-se motivos para a tragédia se abater sob seu teto... 

Nelson Rodrigues consolidou o gênero modernista no Teatro brasileiro, usando de ironia fina para tecer críticas aos desvios sociais de comportamento. Ele mesclou o cru e o fantástico, valorizando a liberdade de encenação e a linguagem coloquial. Valsa nº 6 é um monólogo intenso, paradoxal e poético-perturbador...




terça-feira, setembro 12, 2017

Girassóis - Caio f.



"E fui cuidar do que restava, que é sempre o que se deve fazer."
Girassóis é sobre uma flor que encanta com sua formosura, apesar de ter poucos dias de vida, e quando se abre para o sol, em todo seu esplendor, acaba retornando ao húmus da terra, a fim de se tornar pó novamente...

A partir daí, o novo ciclo se inicia, mas ninguém sabe ao certo de que maneira o girassol irá 'retornar'... Se como lírio ou azaleia, ou quem sabe rosa, as raízes abaixo do solo trazem o mistério da renovação... 
"Pois conheço poucas coisas mais esplêndidas, o adjetivo é esse, do que um girassol aberto."

Girassóis é uma obra singular de Caio Fernando Abreu, uma crônica que traz ao leitor uma metáfora interessante sobre a brevidade da vida, através do tempo 'útil' de um girassol... Ao descobrir-se soropositivo, Caio passou a aproveitar seus dias seguintes praticando jardinagem. Voltou à casa dos pais em Porto Alegre. Caio é o girassol, que apesar da pouca vida que lhe restava, resolveu vivê-la em toda sua plenitude, abrindo sua corola para o sol... Apesar dos caracóis, dos ventos e formigas, da chuva tempestuosa que teimava em derrubar seu caule, Caio-Girassol se volta ao sorriso de Buda, à tranquilidade de seu refúgio e ao mergulho de si mesmo...

O livro é classificado como infanto-juvenil, mas toca a criança que habita em cada um de nós. Nas entrelinhas entendemos sua despedida. Foi publicado pela Global Editora pouco tempo depois da morte do autor. E no dia em que faria aniversário, como uma espécie de renascer, Caio-girassol volta sua corola para o astro dourado...


domingo, setembro 10, 2017

Minha 10ª Tattoo - Radiohead

Em 10 de Abril de 2013 eu riscava na pele minha tatuagem de número 10... A ode da vez foi para a banda de alternative rock britânica Radiohead.  Trata-se de uma das minhas bandas preferidas, tanto pela melancolia que carrega em suas canções, quanto pelas letras e todo o experimentalismo que permeia os arranjos e composições... Além do logo, resolvi inserir uma phrase da música Street Spirit, and fade out again... que significa 'e se desvanece novamente...'



A tattoo se localiza em meu antebraço esquerdo. Algumas pessoas chegam a confundir com o Mickey Mouse, mas para os que conhecem Radiohead, logo a identificam como sendo o logo deles... Abaixo segue um live da música Street Spirit... 


A escolha se deu devido a mensagem que a letra me passa, de que tudo é efêmero... tudo tende ao fim. Eis o fado de nossa existência... em movimentos cíclicos, acontecimentos se repetem e se perdem em meio à nevoa da vida... e se desvanece de novo e de novo e de novo... Um paradoxo eternizar o efêmero... e foi o que eu fiz na própria pele... 

Curiosamente a banda surgiu no ano de meu nascimento, 1985, em Oxford. Formada por Thom Yorke [vocalista, pianos], Jonny Greenwood [guitarra], Ed O'Brien [guitarra, sintetizadores], Colin Greenwood [Baixo] e Phil Selway [bateria e percussão]. O primeiro single da banda foi lançado em 1992 - Creep - e o primeiro álbum de estúdio foi lançado no ano seguinte, o The Bends... 

Desde a adolescência as músicas de Radiohead permeiam meus fones de ouvido. Adorava ver os clipes na MTV e até hoje é o tipo de música que não sai de minha jukebox. Quando estou melancólica em demasia, All i need ou How to disappear completely ressoam nos ouvidos... Quando estou 'alegre', toco Go to Sleep ou Paranoid Android. Codex é sensação de despedida da vida. Mas a banda é do tipo que eu escuto pra me deprimir, pra me deprimir mais ainda e pra me tirar do estado depressivo... Confuso, não? hahaha

Radiohead é para quando meu espírito se encontra por demais entorpecido. A voz de Thom Yorke me hipnotiza. Minha natureza se identifica com a morbidez e melancolia/apatia que as letras e melodias representam... Eis o motivo de eternizar na pele e homenagear a banda, tão intrínseca aos meus sentimentos... 



Espírito da rua [Desvanece]


Fileiras de casas todas dirigindo-se a mim
Posso sentir suas tristes mãos me tocando
Todas essas coisas em posição
Todas essas coisas que um dia devoraremos inteiras

E se desvanece de novo
E se desvanece

Essa máquina não comunicará
Esses pensamentos e a pressão a que estou submetido
Seja uma criança do mundo, forme um círculo
Antes que todos sucumbamos

E desvanece de novo
E desvanece de novo

Ovos quebrados, pássaros mortos, gritam enquanto lutam pela vida
Eu posso sentir a morte, posso ver seus olhos redondos e brilhantes
Todas aquelas coisas em posição
Todas essas coisas que um dia devoraremos inteiras

E se desvanece de novo
E se desvanece de novo

Mergulhe sua alma em amor
Mergulhe sua alma em amor


sexta-feira, setembro 08, 2017

Caixa de Correio Agosto/2017


Olá, leitores queridos :D
Dessa vez não demorei demais para trazer as novidades que chegaram pra mim no último mês... Curiosos pra saber das novidades? 

Fiz uma compra na Amazon aproveitando umas promoções e engordei o cantinho beat do meu acervo... Recebi os títulos Pic, Big Sur, Os subterrâneos e Visões de Gerard, de Jack Kerouac, e de quebra ainda adquiri Junky, de William Burroughs. Há anos eu sonhava em ter essa obra na estante, pois tinha lido emprestado na época que resenhei aqui... 



Ainda comprando... Bem, escolhi algumas obras nacionais, que vão do teatro de Nelson Rodrigues à João Ubaldo Ribeiro. Ainda trouxe do sebo do Dedê dois exemplares de Carlos Heitor Cony, um tiro no escuro que espero ter sido certeiro...Quebrando um pouco os nacionais, comprei um latino - Roberto Ampuero. O outro livro que tenho desse autor está em espanhol, então acredito que irei estrear com sua escrita com essa edição em português...



Mais livros adquiridos com amor foram os três títulos abaixo: meu segundo livro de Mario Vargas Llosa, A primavera do dragão - biografia de Glauber Rocha escrita por Nelson Motta e Cartas de amor, de Fernando Pessoa... Paixão por cinema, latinos e correspondência numa imagem só...



Fui presenteada por meu amigo Ireno com uma edição no idioma galego, intitulada Memorias dun neno labrego, do autor Xosé Neira Vilas. Espero não ter dificuldades demais ao fazer a leitura, será um belo desafio... Grata ao meu querido amigo.


Ainda nos presentes, ganhei de Clarita [filha de Ireno], um exemplar de Matisse,  um de meus pintores preferidos... Edição linda, capa dura, de uma coleção da Abril


Ainda ganhei um quadrinho de A espada selvagem de Conan, do meu amigo sebeiro Dedê. E já li. Qualquer hora solto algum post falando sobre minha paixão por esse bárbaro...


Por último, mas não importando menos, ganhei de minha amiga Silvana alguns catálogos de exposições da Caixa Cultural. Duas delas eu cheguei a visitar, inclusive: Ukiyoe - A magia da gravura japonesa e Lula Cardoso Ayres - Arte Região Tempo. Ambas estão maravilhosas e ainda estão sendo expostas no prédio da Caixa no Recife Antigo... 


Alguns deles já foram lidos e aos poucos as resenhas vão saindo por aqui... Tentei não me estender demais na postagem, mas parece que caixas de correio vazias e Valéria não combinam na mesma frase... heheeh sorte a minha...

Beijos e até a próxima caixinha... e não esqueçam de sugerir aqui ou em outras redes sociais do blog quais desses títulos vocês desejariam ver resenhados no TN... A opinião de vocês é muito válida pra mim...


quarta-feira, setembro 06, 2017

Leituras para o Dia do Sexo

Hoje é comemorado o dia do Sexo, e a data traz em si um simbolismo que remete à pratica sexual: 06/09, em alusão à posição 69. Trata-se de uma brincadeira de duplo sentido, e se popularizou graças a uma campanha publicitária para uso de preservativos. O fato é que a ideia 'colou' e hoje em dia não dá pra se ignorar o 'boom' envolta do tema...

'Mas o blog é basicamente sobre livros, porque se falar em sexo?' Alguns podem se perguntar. Oras, existe o nicho da literatura que abarca o tema, e não poderia deixar de falar a respeito por aqui, trazendo algumas dicas de leitura que podem apimentar o seu dia... Seja em poesia, contos, prosa ou até mesmo quadrinhos, a literatura nos contempla com o prazer do sexo escrito, que só as boas obras podem nos proporcionar... E se você não tem com quem comemorar a data, por que não se entregar ao deleite de uma leitura erótica?  


Impossível não falar em erotismo na literatura e deixar de fora o grande nome feminino nesse campo das letras: a escritora francesa Anaïs Nin. Nascida em 1903, viveu durante muito tempo nos Estados Unidos e foi precursora do movimento feminista e da revolução sexual. Com obras como Delta de Vênus, Incesto e Henry e June - este último retirado de seus diários e contando de seu relacionamento com o escritor Henry Miller e sua esposa June - Nin tem uma escrita poderosa e cheia de vigor, que certamente irá agradar aos paladares eróticos mais refinados. Você pode encontrar alguns posts falando mais sobre ela e sua obra aqui no blog...


Ainda na veia clássica dos eróticos, indico o Marquês de Sade que chegou a escrever contos eróticos inclusive quando esteve preso na Bastilha, em 1787. Seus contos são protagonizados por maridos devassos ou corneados, mulheres submissas e lascivas, prostitutas, mocinhas virginais e ardilosas, padres sacanas e afins... Sua literatura também expõe criticas ferrenhas à moral religiosa e a hipocrisia social. Sade escandalizou gerações com seus contos e foi censurado por anos após sua morte. Seu nome gerou o termo Sadismo, foi condenado por sodomia e quase é morto, mas sua condenação foi anulada e ele se refugiou em seu castelo, escrevendo lá 120 dias de Sodoma, obra imortalizada no cinema por Pier Paolo Pasolini, cineasta italiano. Em breve trago algumas postagens mais aprofundadas sobre Sade e sua obra, mas recomendo de antemão A filosofia na Alcova e O corno de si mesmo...


Clássicos libertinos também ganham o ar da graça por aqui. O sofá, Decamerão, Teresa Filósofa e Anti-Justine são recheados de aventuras amorosas e  libertinas, que servem ao mesmo tempo para desmascarar a falsa virtude, vaidade e outros vícios da Humanidade. Incesto, perda da virgindade, prazer feminino, enfim... temas tabus para a sociedade do século XVIII. A luxúria paira sobre as páginas de tais obras. Tem ares de cinismo e são verdadeiras jóias de indiscrição para fazer os leitores mais puritanos corarem...

Na poesia erótica destaco a obra Antologia Pornográfica: de Gregório de Matos a Glauco Mattoso. Tratam-se de poemas escandalosos escritos na língua portuguesa, do século XVII ao século XXI, reunidos no livro através do trabalho de Alexei Bueno. A antologia é um verdadeiro santuário pornográfico, que foge do politicamente correto e da moralidade mascarada. 

"O cono é fortaleza,
O caralho é capitão,
Os colhões são bombardeiros,
O pentelho é o murrão."

Quem aprecia contos pode se encantar com a escrita de Dalton Trevisan em Continhos Galantes. Sua narrativa possui um vigor cru e retrata o cotidiano de maneira seca, objetiva e sem preâmbulos. Com toques mordazes beirando o sujo...

"Te ajudava a baixar essa calça azul. Abria as tuas pernas. E com este dedinho acordava o teu vulcão."

Aos que preferem uma leituras mais contemporânea, podem se envolver com os poemas de Tico Santa Cruz em seu livro Tesão. Ricamente ilustrado, a proposta do cantor foge da poética sedução e se desvela pelo campo do sexo de maneira selvagem, primitiva, condenável e despida de preconceitos... 

"Estou em chamas,estou ardendo de vontade de te agarrar pela cintura e enveredar por entre as suas pernas com meus beijos."

Por fim, indico alguns quadrinhos adultos que podem ser um diferencial para este dia. Nomes como Milo Manara e Guido Crepax que nos presenteiam com roteiros ousados e desenhos magistrais, mostrando o sexo por ângulos incrivelmente sedutores. Manara é um dos principais nomes dos quadrinhos eróticos na Europa, e traz personagens que se envolvem em verdadeiras aventuras sexuais bizarras...  Crepax também é nome tarimbado no gênero, e através de sua personagem Valentina, encanta os aficionados pelo gênero... Além deles faço uma menção honrosa ao francês Frédéric Boilet, que através de um traço no estilo oriental e poucos diálogos, mostra que as imagens por si mesmas tem um poder de envolver o leitor em suas fantasias mais loucas...




domingo, setembro 03, 2017

[HQ] Clube da Luta 2

Publicado pela Editora Leya, Clube da Luta 2 é a continuação em formato de HQ do aclamado sucesso do escritor Chuck Palahniuk, Clube da Luta. Com ilustrações de Cameron Stewart e roteiro do próprio escritor, podemos acompanhar o retorno de Tyler Durden, trazendo à tona toda a anarquia e violência presentes no livro, ambientado para o cinema em 1995. 


Nove anos depois da trama, Marla continua frequentando suas reuniões em grupos de condenados à morte por doenças incuráveis. O casal tem um filho, Junior. Mais uma vez temos o homem comum sendo desumanizado pelas regras e leis caóticas da vida em sociedade, encerrando os indivíduos em celas de alienação cotidiana. 

Tyler Durden ressurge, possivelmente como algo que perpassa gerações, não apenas um devaneio ou alterego do narrador. Ele almeja uma ruptura extrema do sistema: destruir tudo para que o mundo renasça sem o capitalismo que torna os seres humanos em criaturas decrépitas sem vontade próprias, mergulhadas num oceano de consumismo robótico e conformismo-niilista. 

As vidas de Sebastian e Marla continuam sem um sentido aparente. Para conter Durden, Sebastian vive se medicando, mas não percebe que a esposa sabota sua medicação a fim de trazer o insano novamente. Com um incêndio em sua casa e o desaparecimento de seu filho, só resta a Sebastian se candidatar ao Projeto Caos e Destruição a fim de recuperar Junior. Eis um retorno a Paper St. junto a uma horda de homens de diversas idades e funções sociais, em busca do que os faz se sentirem vivos... 

Nessa HQ, a figura de Tyler Durden não se mostra apenas como um 'outro' na mente do narrador, mas traz uma 'tese' diferente: de transtorno mental, Durden se apresenta como um arquétipo que se perpetua geração à geração, e seu fim culmina na figura de Junior. Trata-se de uma ideia que nunca morre, cultivando as pessoas da familia do narrador para continuar existindo...

As ilustrações são um deleite à parte. É um trabalho essencial para os fãs da escrita brilhante de Palahniuk, bem como para aqueles que procuram uma leitura com críticas pesadas e metafóricas acerca da sociedade que beira o doentio. Clube da Luta é sobre quebrar as regras. Mesmo a primeira delas, que é não falar sobre o Clube da Luta...