Provavelmente nessa data em que vos escrevo, no ano de 1547 nascia em Alcalá de Henares o romancista, poeta e dramaturgo Miguel de Cervantes Saavedra, um dos nomes mais importantes da literatura clássica ocidental. Don Quijote de la Mancha é considerada sua obra-prima, traduzido em diversos países e referenciado em diversas manifestações artísticas que vão de pinturas a cordéis e letras de música...
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minha edição espanhola, comemorativa do IV centenário da obra |
Como uma forma de prestar-lhe homenagem, resolvi reunir nesse post algumas dessas referências à figura do Cavaleiro da triste figura, como também é conhecido o protagonista da mais famosa história surgida na Espanha, baseada em novelas de cavalaria que eram comuns na época em que foi publicado a primeira vez em 1605...
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adaptação em quadrinhos |
Humberto Gessinger da banda Engenheiros do Hawaii traz uma canção intitulada Dom Quixote, em que faz clara alusão ao personagem, com uma letra que fala de luta por ideais, inspirada na figura de Don Quijote, um cavaleiro que almejava ser como os heróis das novelas de cavalaria que ele mesmo lia, e sai pelo mundo lutando com moinhos de vento achando se tratar de dragões, querendo salvar uma donzela que sequer sabia de sua existência, com uma visão sonhadora de seu 'ao redor'...
Dom Quixote
Muito prazer, meu nome é otário
Vindo de outros tempos, mas sempre no horário
Peixe fora d'água, borboletas no aquário
Muito prazer, meu nome é otário
Na ponta dos cascos e fora do páreo
Puro sangue, puxando carroça
Um prazer cada vez mais raro
Aerodinâmica num tanque de guerra
Vaidades que a terra um dia há de comer
Ás de Espadas fora do baralho
Grandes negócios, pequeno empresário
Muito prazer, me chamam de otário
Por amor às causas perdidas
Tudo bem, até pode ser
Que os dragões sejam moinhos de vento
Tudo bem, seja o que for
Seja por amor às causas perdidas
Por amor às causas perdidas
Tudo bem, até pode ser
Que os dragões sejam moinhos de vento
Muito prazer, ao seu dispor
Se for por amor às causas perdidas
Por amor às causas perdidas
A letra é bem politizada e traz uma crítica às sociedades utópicas, apresentando um teor pessimista e sombrio da real condição de desigualdade de classes. Seria o 'amor as causas perdidas' em um dos trechos da canção... Dom Quixote seria o símbolo das causas perdidas, das revoluções de um sonhador, que almeja consertar o mundo mas não é levado à sério pelas pessoas com quem convive. A figura de Sancho Pança é a tentativa de fazer com que o cavaleiro enxergue a realidade e suas reais condições de transformar o mundo...
Além de Engenheiros do Hawaii, a banda inglesa Coldplay presta homenagens ao livro na música Spanish Rain.
Então deixamos La Mancha
Em direção às planícies mais altas
Eu e Sancho Pança
Procurando por aventuras
Rocinante nas rédeas
Para a resposta dos moinhos de vento
Você nunca vai estar sozinho
Você não vai estar sozinho nunca mais
Você nunca vai estar sozinho
Você nunca vai estar sozinho novamente
Ouvi dizer que você nunca se molhou na chuva Espanhola
Então eles mandaram o médico, para examinar meu cérebro
Disse que ele não é tão claro
Oh quando o mundo,
quando o mundo parece apenas, um pouco cruel demais
Vamos deixá-lo melhor
Faça o melhor
Então avise aquela princesa
Avise aquela princesa que desce do trem
Avise aquela princesa
Ela nunca estará sozinha novamente
Ouvi dizer que você nunca se molhou na chuva espanhola
Ooh, ooh
Ouvi dizer que você nunca se molhou na chuva espanhola
Ouvi dizer que você nunca se molhou na chuva espanhola
Woo ooh, Wooh ooh
Ouvi dizer que você nunca se molhou na chuva espanhola
Escritores como Voltaire e Jorge Luiz Borges se diziam identificar em parte com a natureza quixotesca - este último, inclusive, fez um poema em homenagem ao personagem. O homem de la Mancha foi um musical baseado na obra estreado em 1966. Houve também uma versão brasileira desse musical, tendo Paulo Autran encarnando a figura do cavaleiro.
Na literatura, Monteiro Lobato prestou sua homenagem com a obra Dom Quixote das crianças, uma adaptação de 1936 ambientada no Sítio do Pica-pau amarelo. Folhetos de cordel foram impressos no Brasil fazendo alusão às novelas de cavalaria inspiradas claramente na obra de Cervantes. Em 1935 foi lançada uma versão dela por J. Borges, famoso cordelista pernambucano. Na história, Dulcinéa é Maria Bonita, e Quijote luta contra os famosos cangaceiros, que permeiam até hoje a cultura do sertão nordestino. Gregório de Matos tem um poema em que cita o personagem, assim como Machado de Assis que o referencia em Memórias póstumas de Brás Cubas.
José de Alencar faz alusão ao autor Cervantes em Minas de Prata, assim como José Lins do Rego em Fogo Morto, em que o personagem Vitorino, capitão, possui um cavalo que lembra Rocinante e o capitão se envolve em aventuras que em muito lembram Don Quijote.
Na arte, Salvador Dalí e Pablo Picasso pintaram o lunático fidalgo.
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Don Quixote por Pablo Picasso |
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Salvador Dalí |
Entre as duas partes de Don Quijote Miguel de Cervantes escreveu Novelas Exemplares, composto de doze curtas novelas, bastante apreciadas pelo público da época. No teatro, a única peça trágica que sobreviveu aos tempos foi O cerco de Numancia, mostrando o povo ibero resistindo à ocupação romana na cidade.
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minha edição lindinha da Abril em capa dura ♥ |
Em 1616, um ano após a publicação da segunda parte de sua obra-prima, vem a falecer em Madrid, a 22 de abril. É inegável a contribuição de Cervantes à literatura espanhola e mundial. Até os que nunca leram a obra na íntegra conhecem a trama e os personagens, tal sua fama na cultura pop/literária.
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estatueta que ganhei de meu querido amigo Ireno esse ano ♥ |