quarta-feira, janeiro 31, 2018

a lucidez sem remédio de Antonio Carlos Viana em Cine Privê

Em minhas recentes descobertas literárias, resolvi embarcar na linguagem de Antonio Carlos Viana através de alguns contos que compõem o título Cine Privê, publicado pela Editora Companhia das Letras. A partir de indicações de alguns amigos, e atraída pela capa belíssima da obra, devorei em poucas horas as pouco mais de cem páginas que contem o livro...

Através dos contos de Antonio Carlos visualizei cotidianos de personagens crus, reais, que bem poderiam ser velhos conhecidos meus. A ambientação num espaço-tempo indefinido nos entrega com sutileza pequenas pistas sobre os locais e épocas em que essas histórias ocorreram [no campo ficcional], bem como o coloquialismo de certos diálogos e situações representadas. 

Antonio Carlos Viana, autor sergipano.

Maridos desprezados, miséria permeando infâncias, violência e pedofilia, desilusões amorosas são panos de fundo do espetáculo que se estende ao leitor-espectador de um verdadeiro cine privê, em que temos o olhar sob uma perspectiva direta que se desvela à nossa frente. 

Um rapaz mata a mãe e a maior dúvida de seu dia é o que escolher para o desjejum ainda durante a madrugada. Um homem de meia-idade se sujeita a lavar cabines sujas de sêmen, depois de utilizadas por homens que preferem ficar no anonimato, pagando por sexo barato, sujo e quente com mulheres 'da noite'. Um rapaz que de tão tímido e deslocado dentro de seu próprio seio familiar, não suspeita ser o alvo dos anseios de uma prima adolescente que disfarçadamente espia seus trejeitos metódicos e reservados... 

Os contos de Viana nos transportam para um universo à parte, em que tomamos o lugar por trás da lente a fim de sermos voyeurs de situações decadentes e/ou degradantes. E pelo reflexo da lente acabamos por enxergar a nós mesmos, em nossas perdas cotidianas, pintados à meio-tom, embaçados pela intimidade supostamente preservada por uma cortina de veludo, nos bastidores de um cine de quartinhos abafados e gemidos latentes...




segunda-feira, janeiro 29, 2018

A garota da banda, autobiografia de Kim Gordon


"Eu também adorava "I love You Golden Blue", embora ficasse frequentemente à beira das lágrimas sempre que cantava. É uma canção sobre alguém que acredita que não pode se mostrar ao mundo. Achando que apenas destruirá as pessoas com quem se importa, ele evita qualquer intimidade. Ele está preso. Eu não podia deixar de pensar que aquilo era verdade em relação a muitos homens-meninos que eu havia conhecido na vida."

A garota da banda é um relato sincero e casual de uma das artistas mais conhecidas do Rock Alternativo Underground -  a baixista da banda Sonic Youth, Kim Gordon. Kim foi uma das fundadoras da banda e passou trinta anos de sua vida compondo, tocando e cantando canções que se imortalizaram na cultura da vanguarda pop juntamente com Thurston Moore, seu até então marido. Ironia ou coincidência ambos acabaram no mesmo período: a banda e seu casamento com Thurston. 



Sem pieguismo, A garota da banda é uma espécie de diário onde Kim tece toda sua vida, dos pontos mais relevantes aos mais triviais, e que no fim das contas acabam tendo importância dentro de seu contexto. Numa linguagem simples e sem preâmbulos, Kim nos conta como foi sua infância, as brigas com seu irmão que posteriormente foi diagnosticado como esquizofrênico, sua adolescência na California, com um pai erudito e uma mãe criativa e ao mesmo tempo frustrada por não ter ido além do 'lar'. 


Kim desvela no palco verbal que é o livro tudo o que ela não revelava no palco dos shows do Sonic Youth, conta as origens da banda, como os membros se conheceram, os artistas famosos e ambientes frequentados por essas pessoas em Nova York. O leitor aos poucos vai adentrando em sua intimidade e se sente familiar da artista visual no fim das contas. Algo como um papo de pub acompanhado de um café...

Alguns capítulos são destinados a falar sobre seu relacionamento com Thurston, desde que se conheceram até o momento que decidiram morar juntos, a rotina quebrando a relação e o nascimento de Coco, filha do casal. Após descobrir uma traição, Kim colocou um ponto final no casamento, e o fim da banda foi apenas uma consequência de tal acontecimento...


Um ponto interessante pela perspectiva de Kim é como a mulher era vista num espaço dominado pelos homens, e de como ela construiu sua própria identidade musical sem ser ofuscada pelo machismo presente nos bastidores. O Sonic Youth abriu caminho para bandas de peso que surgiram depois dela, como o Nirvana e o Smashing Pumpkins.



A garota da banda é uma autobiografia descrita como um romance de formação, mas pode ser tratado como um libelo feminista, relatado por um ícone indie que deixou seu nome registrado na música e na Arte. A narrativa de Kim é cheia de insights, que afloram as emoções cruas de suas memórias... Para fãs, um belo souvenir a fim de se matar a saudade da sonoridade indie de suas composições... 


sexta-feira, janeiro 26, 2018

Minha estreia com Carlos Heitor Cony em A volta por cima

Entrei em contato recente com a escrita de Carlos Heitor Cony, infelizmente depois que ele faleceu há poucos dias,  mas a leitura de A volta por Cima foi realizada brevemente, por se tratar de uma obra juvenil de apenas 96 páginas...

A história fala sobre uma garota chamada Gilmara, que desde muito cedo sofre com o tratamento diferenciado que recebe em casa por parte de sua familia, por ser a única filha que 'destoa' das duas mais velhas, não apenas por não ser uma 'Maria' como a Lourdes e do Carmo, mas também por ser a filha gorda da casa, em contraste com suas mimadas irmãs, que recebem força da mãe para o balé e outras atividades corriqueiras... 


Ela sofre por nunca se encaixar no padrão cobrado pela sociedade, e mesmo quando seu pai ascende socialmente e se muda para um bairro mais desenvolvido ela ainda sente que é o 'peixe fora d´água' por não ser aceita no círculo social de suas irmãs. 

O romance ainda conta com o velho elemento clichê do rapaz popular que desperta interesse nas garotas ao seu redor e que possui um certo ar de 'revoltado' que não se deixa seduzir por nenhuma delas mas acaba por ter sua atenção voltada para a garota que colocou na cabeça que precisa emagrecer para se sentir bem consigo mesma e passa a fazer dieta e exercícios para alcançar seu intento...

Apesar da escrita fluída e de fácil compreensão, confesso achar meio perigosa essa abordagem acerca do tema num livro voltado para o público adolescente, ainda mais por se tratar de uma publicação recente [data de 2014], em que já existem diversas discussões a respeito de autoaceitação, estima e publicidade sobre o 'corpo perfeito'. 

Cony não se revelou para mim como um autor a quem devo evitar após o contato inicial, mas espero ter melhores visões de suas outras obras... 



quarta-feira, janeiro 24, 2018

o horror Cósmico de Lovecraft em A cor que caiu do espaço

Servindo como marco para a inserção de H. P. Lovecraft no rol do gênero ficção científica, A cor que caiu do espaço [1927] é sobre a história de um vilarejo próximo a Arkham que se vê ameaçado por um perigo vindo dos céus; um estranho meteoro cai no terreno de um fazendeiro e com ele traz uma aberração inimaginável que acomete toda a fauna e flora de maneira inexplicável. 

Com o decorrer do tempo, a área inicial atingida pelo meteoro vai se avolumando e em seu lugar resta apenas uma terra infértil, cinza, estéril. O narrador vai até a cidade a fim de fazer uma pesquisa sobre a área, que em breve será inundada para a construção de uma represa. Durante sua estadia, ele ouve histórias horripilantes sobre o ocorrido muitos anos atrás e compreende que ali não é um local agradável para se permanecer...


Considerado pelo próprio autor seu melhor conto, A cor que caiu do espaço é a mescla de horror e sci-fi escrito com esmero. Posteriormente, suas obras passariam a possuir essa marca registrada no gênero. O conto chegou a ser recusado mas em 1927, o editor de uma revista resolveu dar uma chance para o escrito. 

A edição publicada pela Editora Hedra possui ainda um apêndice com ensaios escritos por Lovecraft e um artigo em que ele faz uma dura crítica sobre os clichês da Ficção Científica. O suspense de A cor que caiu do espaço não dá brechas para pausas. A narrativa conduz o leitor de maneira alucinante pelos mórbidos acontecimentos que causaram horror aos personagens que vivenciaram aquele estranho incidente quatro décadas atrás...

Sem sombra de dúvidas, é um excelente título para dar o pontapé inicial nas obras do autor.

"As árvores próximas eram doentes e retorcidas, e muitos troncos mortos apodreciam ao redor. Enquanto caminhava às pressas, percebi as pedras e os tijolos desabados de uma velha chaminé e de um porão à minha direita, bem como a bocarra escancarada de um poço abandonado cujas emanações pútridas criavam reflexos singulares quando iluminadas pelos raios de sol. Até mesmo a caminhada pelo longo e escuro bosque mais além pareceu bem-vinda em comparação, e assim compreendi os sussurros temerosos dos habitantes de Arkham."



segunda-feira, janeiro 22, 2018

Creepshow - Stephen King


Publicado no Brasil pela Editora DarkSide Books, Creepshow é uma HQ roteirizada pelo aclamado mestre do terror Stephen King, com direção de George A. Romero e ilustrada por Bernie Wrightson. Esse trio de monstros nos proporciona uma leitura prazerosa de apenas 64 paginas, que traz 5 contos horripilantes contados por um narrador repleto de piadas sarcásticas e ácidas, bem no estilo Contos da Crypta

Na primeira história uma familia aguarda a visita de uma parente no feriado de Dia dos Pais. Durante a espera, uma conversa frívola acontece na sala da residência, e o alvo das fofocas é a Tia Bedelia, que está para chegar a qualquer momento. Só que algo acaba saindo do comum e logo essa familia vai se surpreender com quem bate à porta...


Creep, nosso querido guia emenda uma segunda história, em que passamos a conhecer Jordy Verril, um homem simples que acaba presenciando algo no céu que vai modificar completamente sua vida a partir dali... É incrível observar a inserção de elementos de ficção científica no horror, dando um quê a mais na narrativa...

A Caixa é o terceiro conto aterrorizante dessa HQ, sobre o perigo que se esconde dentro de uma caixa num antigo porão do Edifício Amberson. O que quer que esteja ali escondido, deveria permanecer ali, se não fossem os indivíduos curiosos que resolvem abrir pra ver o que tem dentro... O resultado disso beira o hediondo...


Indo com a maré é o caso típico de casal descoberto em adultério que acaba caindo nas garras vingativas do homem traído... O destino cruel se estende não apenas à mulher e seu amante, mas ao próprio algoz... Horripilante...

Ainda no campo da vingança, Vingança barata é sobre um ricaço com mania de limpeza que se vê atordoado com baratas [olha o trocadilho] percorrendo seu apartamento... o que parecia um pequeno incômodo logo se revela um terror para Upson Pratt... 

Creepshow é uma ode aos quadrinhos de terror dos anos 1950, tão populares e assombrosos em sua época e que hoje possui uma espécie de status cult underground no universo de HQs. É uma Graphic novel que certamente vai agradar ao fã mais nostálgico, que viveu décadas atrás e se deliciava com programas de fim de tarde tendo uma caveirinha de piadas prontas apresentando contos perturbadores, com efeitos hoje considerados obsoletos mas que possuem certo charme, bem como inserir o novo leitor que deseja adentrar nesse universo bizarro e cretino...


domingo, janeiro 21, 2018

Provocações, com Antônio Abujamra




Exibido pela TV Cultura de 06 de agosto de 2000 até 28 de abril de 2015, Provocações foi um programa de TV apresentado pelo ator e diretor Antônio Abujamra, em quadros de duração média de 25 minutos, em que ele entrevistava artistas de vários nichos e por vezes recitava textos e poemas. 



Provocações possuía formato de Talk Show, e era televisionado às terças-feiras no horário noturno, tendo reprises nas madrugadas de quinta-feira. Tomei conhecimento desse programa através de um amigo e logo meu interesse cresceu em assistir alguns episódios, devido ao fato de vários entrevistados serem pessoas que admiro ou sinto curiosidade em seus trabalhos, bem como pela parte literária apresentada, críticas tecidas durante as entrevistas e ainda pelo quadro "Vozes da Rua", onde o público explanava sobre vários assuntos. 



Personalidades como Karina Buhr, Rubem Alves, Mário Prata, Fabrício Carpinejar e Elke Maravilha passaram pelo programa. Abujamra declamou Fernando Pessoa, Viviane Mosé, Cecilia Meireles e Elizabeth Bishop. Foi de Alberto Caieiro a Walt Whitman, de Ortega y Gasset a Drummond. Com uma interpretação de encher os olhos, extasiava o leitor, enlevando-o a um estágio de lirismo e plenitude, sensibilidade e reflexão...




sexta-feira, janeiro 19, 2018

A môça possessa, um mistério da série Carter Brown

Nascido na Inglaterra e tendo vivido na Austrália, Carter Brown é um dos pseudônimos literários de Alan Geoffrey Yates, um escritor famoso por seus livros policiais de ficção. Chegou a escrever western e ficção científica usando outros pseudônimos, mas foi com o nome Carter Brown que passou a ser mais conhecido, escrevendo uma série de histórias de Mistério e Crime com ambientação noir dos anos 1950/1960. 


Al Wheeler é um dos personagens que protagonizam seus livros, e em A môça possessa, ele está a investigar um caso de assassinato de uma mulher encontrada morta na área externa de uma clinica psiquiátrica. Seguindo as poucas pistas que possui, Al acaba descobrindo a verdadeira identidade da vítima e se depara com um caso repleto de intrigas, dinheiro roubado e até um culto satânico.

A trama é ambientada em Pine County, na California e a narrativa é recheada de diálogos sarcásticos típico de tiras e capangas. Os estereótipos comumente apresentados em livros do gênero estão inseridos de maneira que - para os padrões atuais - podem parecer datados, mas que certamente na época em que foram escritos, justificam a alta vendagem dos títulos em vários países. 

Com poucos capítulos distribuídos em pouco mais de 100 páginas, A môça possessa cumpre bem a sua proposta de entreter o leitor entregando uma trama limpa, com dosagens acertadas de mistério, aventura e sensualidade. A ambientação dá um clima ainda mais entorpecente aos personagens e suas ações, deixando-nos em suspenso, ávidos pelo desfecho que se revela satisfatório ao que se propõe. 

Ideal para os amantes do gênero, que certamente vão se deliciar na tentativa de descobrir junto com o detetive Wheeler a solução deste crime...




quarta-feira, janeiro 17, 2018

Quote - Ciranda de Pedra / Lygia Fagundes Telles


"devia ser fácil desfazer-se também das sucessivas Valérias nas quais se desdobrara desde a infância, desfazer-se da menininha, principalmente da menininha de unhas roídas, andando na ponta dos pés. Agarrar-se só ao presente, nua de lembranças como se acabasse de nascer. Via agora que jamais poderia se libertar das suas antigas faces, impossível negá-las porque tinha qualquer coisa de comum que permanecia no fundo de cada uma delas, qualquer coisa que era como uma misteriosa unidade ligando umas às outras, sucessivamente, até chegar à face atual. Mil vezes já tentara romper o fio, mas embora os elos fossem diferentes, havia neles uma relação indestrutível. E o fio ia se encompridando cada dia que passava, acrescido a cada instante de mais uma parcela de vida. Chegava a senti-lo dando voltas e mais voltas em torno do seu corpo numa sequencia sem começo nem fim..."


p.s: [só troquei a Virgínia do texto por Valéria...]


segunda-feira, janeiro 15, 2018

A metamorfose de Kafka por Peter Kuper

Recentemente adquiri um quadrinho que já havia lido uns anos atrás, em tempos de visita à biblioteca da faculdade, e finalmente possuo agora um exemplar em meu acervo. Trata-se de uma adaptação da obra mais famosa de Franz Kafka, feita em quadrinhos pelo americano Peter Kuper

Dono de um traço vigoroso e em preto-e-branco, cheio de sombras e contrastes que tornam a obra ainda mais sombria, a própria trama tem ares mórbidos ao retratar um diferente amanhecer na vida de Gregor Samsa, que seria a partir dali um divisor de águas em sua existência vazia: a manhã que ele acorda transformado num inseto. 

Uma publicação compartilhada por Maria Valéria - TorporNiilista (@psychokillerstrange) em

Achando ser um pesadelo, lentamente ele começa a perceber sua nova condição e logo o desespero lhe bate à porta, acompanhada do gerente de seu emprego, que foi a sua procura a fim de saber o motivo do atraso do caixeiro viajante. Sua família se atordoa ao descobrir a nova condição daquele que provem o sustento da casa e a partir desse episódio, as coisas se modificam de maneira drástica e infeliz em sua agora [?] insignificante vida. 

A metamorfose retratada por Kuper tem ares do expressionismo alemão, aliado ao estilo norte-americano das graphic novels. O conto é considerado a obra-prima de Kafka e merecia uma adaptação à altura, conseguido com grande talento pelo quadrinista. 

Interessante apontar que a obra pode agradar tanto aqueles que já leram a história original quanto aqueles que se sentirão despertados em conhecê-la após a leitura do quadrinho...


É uma história bizarra, que beira o horror mas que traz uma reflexão profunda acerca de nossa condição como humanos em sociedade, o quanto somos úteis e até que ponto servimos ao nosso 'ao redor'. Trata do abandono, da futilidade da existência e dos questionamentos que fazemos a nós mesmos sobre a rotina que esmaga nosso dia-a-dia, em profissões vazias, em relacionamentos supérfluos e seios familiares repletos de falsas convenções. O horror perante o diferente. A aceitação-negação das aparências que fogem ao comum... 

A metamorfose foi brilhantemente trabalhada em formato de HQ, tornando real nossa visualização mental ao longo da leitura...

sexta-feira, janeiro 12, 2018

Trocando olhares: a poesia dolorida de Florbela Espanca

Florbela Espanca é um dos grandes nomes da poesia lusitana do século XX. Tendo uma vida atribulada, soltou em pilhas de versos suas dores mais profundas, criando com maestria sonetos que conduzem o leitor por uma trilha de desalento, poética e melancolia...


Cantada até pelo artista Fagner, Florbela nasceu em 1894 e viveu apenas 36 anos, morrendo no dia de seu aniversário... Teve alguns casamentos conturbados, era filha ilegítima de seu pai, teve um irmão que faleceu poucos anos antes dela vir a deixar o mundo... Sua produção literária não é tão vasta, mas tornou-se imortal pelo poder de suas palavras. 

Trocando olhares é uma publicação da Editora Martin Claret, e reúne os poemas de Florbela do início de sua produção poética. Trocando olhares é uma espécie de alicerce do que viria a ser escrito posteriormente, como Livro de Mágoas e Charneca em Flor. Os poemas contidos nessa edição datam entre 1915 e 1917. 

"Escreve-me! ainda que seja só
Uma palavra, uma palavra apenas,
Suave como o teu nome e casta
Como um perfume casto d'açucenas!

Escreve-me! Há tanto, tanto tempo
Que te não vejo, amor! Meu coração
Morreu, já e no mundo aos pobres mortos
Ninguém nega uma frase d'oração

"Amo-te!" cinco letras pequeninas,
Folhas leves e tenras de boninas,
Um poema d'amor e felicidade!

Não queres mandar-me esta palavra apenas?
Olha, manda então...brandas... serenas...
Cinco pétalas roxas de saudade..."

Ao final da edição, ainda temos alguns dados biográficos sobre a poetisa, bem como algumas fotografias dela e seus parentes. O manuscrito Trocando olhares foi comprado por um empresário português, que publicou as obras completas de Florbela, além de um acervo contendo cartas, postais e afins. Contudo, o manuscrito acabou sofrendo alterações. 




quinta-feira, janeiro 11, 2018

Retrospectiva Musical 2017



Não costumo falar muito sobre música por aqui, mas resolvi mudar um pouco isso e vezemquando trazer pro blog o que eu ando ouvindo, já que algumas pessoas se mostram curiosas sobre meu gosto musical... Então, resolvi fazer uma retrospectiva das músicas/artistas que descobri em 2017 que não saíram da minha playlist... 

Acho pertinente comentar que não foram apenas essas músicas que ouvi repetidamente, mas foram artistas que descobri no decorrer do ano, e ouvi outras canções deles, embora tenha me fixado nessas que estou listando abaixo...

L'amore esiste, da cantora italiana Francesca Michielin. Conheci esta artista por causa de uma música que Amy Lee lançou em fevereiro, em homenagem ao Dia dos Namorados. Curiosa, fui ouvir a versão original em italiano e simplesmente me apaixonei. Ouvi até o play dar ERROR#31



Por indicação de um amigo, escutei Sign of the times do Harry Styles já no final do ano, e nem sabia que se tratava de um ex-membro da banda One Direction. Também não sabia que a música era parte da trilha sonora de 13 reasons why. A letra é maravilhosa e envolvente. Não canso de ouvir.



Já quase entrando em 2018 descubro a voz da incrível Bárbara Eugênia, fazendo um cover de uma música que gosto bastante, tocada nos anos 70 [da artista Diana]... Por que brigamos? ganhou uma roupagem maravilhosa por parte de Bárbara e não canso de colocar no repeat...



Living on the Outside é a música que tocava nas sugestões do Spotify e eu não sabia que se tratava de um cantor brasileiro, Bruno Martini. A pegada 'baladinha' me encantou... 



Dope Lemon foi uma descoberta psicodélica enquanto eu procurava vídeos do Velvet Underground no youtube... Uptown Folks tem uma sonoridade deliciosa, que remete os anos do Woodstock...



Conheci uma cantora turca através do twitter que um garoto falou a respeito do som, que era viciante. Curiosa como toda boa sagitariana, lá estava eu após alguns minutos dançando ao som de Bangir Bangir, um hit delicioso que faz qualquer um remexer as cadeiras... Pena que eu não sei pronunciar o nome da cantora - Gülşen - e não dá pra cantar as músicas, porque turco né, pessoas? TURCO. hahahaha



Então, essas foram algumas das descobertas musicais de 2017 que entraram definitivamente em meu apurado gosto musical... Gostaram do post? Querem ver mais sobre minhas preferências musicais por aqui?  


Me sigam pelo Last.fm ou no Spotify... 


quarta-feira, janeiro 10, 2018

as 13 melhores leituras de 2017...

Cá estou trazendo para vocês uma lista que fiz dos melhores títulos lidos no ano de 2017. Fiz muitas leituras interessantes, mas algumas delas me impactaram de maneira espetacular...


Minha estreia com o autor  Eduardo Galeano se deu da melhor maneira. O livro dos abraços foi uma das leituras iniciais do ano, ainda durante minhas férias... Fiz resenha dele aqui.

Ainda no campo dos escritores latinos, minha surpresa com o autor Carlos Fuentes e seu livro Aura me fez querer ler mais de sua obra. Também resenhei por aqui...

Para encerrar os latinos, nada como um Gabo para chamar de meu. Memória de minhas putas tristes foi lido durante o feriado de Finados, e que narrativa deliciosa e envolvente. Gabriel García é um dos meus preferidos da vida... ♥

Uma leitura que dou destaque no gênero teatro, e foi uma das últimas do ano foi com o livro Adultérios, do cineasta Woody Allen. A obra me rendeu boas risadas, certo amargor e me fez levantar questionamentos... A escrita de Allen em muito se assemelha aos diálogos construídos nos roteiros de seus filmes, e confesso que visualizei cada conto do livro de maneira pitoresca, divertida...

Amor foi uma leitura de pequenos devaneios do escritor Rubem Alves, numa edição daquelas que carregamos à tiracolo quando queremos ler algo que nos conforte. Sempre me pego revisitando suas páginas, relendo meus muitos grifos...

Li alguns quadrinhos interessantes, mas nada se compara a crueza de Joe Sacco em Reportagens, que recebi em parceria com a Editora Companhia das Letras e uma leitura que fiz online do título Criaturas da Noite, de Neil Gaiman. Me impressionaram pelo traço, pela narrativa, enfim... o conteúdo completo. Para mais detalhes, é só clicar nos nomes e vocês serão encaminhados para as postagens em que falo a respeito de ambos...

Muitos sabem que meu ponto fraco são as leituras de horror. E ainda representando os quadrinhos lidos, destaco Creepshow, de Stephen King, publicado recentemente pela Editora DarkSide Books. Em breve haverá resenha dele no blog, a postagem já foi programada... Fiquem de olho... 

Ainda sobre King, destaco a leitura que fiz de Cujo. Conhecia a história através de sua adaptação dos anos 1980 e aproveitei a nova edição pela Suma de Letras para solicitar e apreciar à história... Mais uma vez, o autor se mostrou genial em conduzir uma trama que nos leva a um desfecho de nos deixar boquiabertos. Cliquem no título do livro pra ler a resenha ;)

No rol do horror, ainda menciono o clássico Carmilla, de Sheridan le Fannu. Um intrincado relato vampírico que não fica atrás do consagrado Dracula, tendo servido inclusive como inspiração para certos elementos do mesmo...

Comecei [e não concluí] um projeto de leitura com a série Livros de Sangue, de Clive Barker. Apesar de eu ter fracassado na leitura de todos os volumes, ainda li os dois primeiros, e minha menção honrosa vai para o livro 1, que já deu mostras do poder que a escrita de Barker possui...

Sobre as lendas pernambucanas, li duas edições interessantes sobre o tema: Almanaque pernambucano dos causos, mal-assombros e lorotas, de Roberto Beltrão e Rúbia Losso e a edição que ganhei de um amigo Assombrações do Recife Velho, de Gilberto Freyre. 



Li outros títulos que me agradaram, mas não poderia aumentar a lista, embora tenha falado de vários deles ao longo do ano... Ademais, foram leituras que me enriqueceram, me deixaram reflexões, me encantaram, assustaram e fascinaram. Ok, chega de adjetivos...

Que agora em 2018 fique ainda mais difícil reunir 13 bons títulos, pois haverão de ser mais que esse número para me deixar de queixo caído ao virar de páginas...


Uma publicação compartilhada por Maria Valéria - TorporNiilista (@psychokillerstrange) em



sábado, janeiro 06, 2018

Histórias Extraordinárias de Poe


Possuo uma edição ilustrada da Editora Melhoramentos que contém alguns contos famosos do escritor estadunidense Edgar Allan Poe. Ganhei a edição de um amigo há alguns meses e só recentemente fiz a leitura dele, e confesso que foi um prazer revisitar as já conhecidas histórias apreciando o traço de Poly Bernatene, responsável pelas ilustrações que deram um toque ainda mais sombrio ao livro...



Histórias Extraordinárias - Edgar Allan Poe traz quatro contos famosos: A máscara da morte vermelha, O coração revelador, O gato preto O retrato Oval. Cada um deles é contado de maneira sucinta com uma linguagem acessível a leitores de qualquer idade. 







"Eu ainda possuía um tanto do meu velho coração, de modo que lamentava a evidente repulsa que causava numa criatura que já me amara tanto."
O gato preto. 













O leitor se vê cada vez mais enredado nos contos, que carregam os elementos primordiais encontrados na narrativa de Poe: medo, loucura, o sobrenatural e o mistério. Histórias Extraordinárias pela Ed. Melhoramentos serve mais como um petisco para quem sente interesse em adentrar no universo fantástico e perturbador de um dos maiores escritores do horror na literatura americana. Um belo souvenir para se ter na estante...






quinta-feira, janeiro 04, 2018

Caixa de Correio Dezembro/2017

Minhas caixas de correio de dezembro sempre são as mais esperadas, pois é o mês do meu aniversário e eu sempre me dou livros de presente. Aproveitando ainda a semana da Black Friday no final de novembro, acabei fazendo uma primeira compra na Amazon, e exatamente no primeiro dia de dezembro os livros chegam. Foram eles:


Dia 03 de dezembro teve evento da Feira Japonesa do Recife lá na Praça do Arsenal e Rua do Bom Jesus. Aproveitando a feirinha de lá, comprei alguns dvd's de filme pra aumentar o acervo da minha DVDTeca, e uns mangás de Vagabond para preencher minha coleção... 






Ainda nas barracas expostas acabei comprando as edições que me faltavam de O fotógrafo [volumes 2 e 3] e uma versão de A metamorfose de Kafka em quadrinhos... Na barraca do "Adote um Livro" encontrei um título de Gabriel García Márquez e Nada de novo no Front, de Erich M.  Remarque.


Recebi cartinha da queridona Mara Vanessa, com um lindo cartão de natal e um bloquinho com estampa de corujas. Nem preciso dizer o quanto amei, não é?


Em parceria com a Companhia das Letras recebi o clássico Doutor Jivago. Edição linda, em capa dura e que logo será lida e resenhada por aqui. Aguardem!



Acabei fazendo duas compras no site da Editora Hedra, e o primeiro pacotinho especial Lovecraft [comprado em outubro] chegou atrasado,  mas com três títulos maravilhosos do mestre do horror cósmico, e logo vocês verão resenhas deles por aqui...



No dia do meu aniversário trouxe do sebo três títulos que logo vou colocar na pilha de leituras finalizadas... Hemingway porque nunca é demais, Nelson Rodrigues e a biografia de Liv Ullmann, musa do diretor sueco Ingmar Bergman...


Grandes vozes líricas hispano-americanas acabou vindo no pacote, não poderia deixar um livro como esse dando bobeira pra outra pessoa comprar. Ele tinha que ser meu...


E quando chego em casa tem pacote da Hedra me esperando. Foram 13 títulos por metade do preço. Adivinha quem abriu o maior sorriso do dia com essa bela surpresa?


Ganhei de um aluno uma HQ de presente, sobre Joaquim Nabuco e a abolição. Uma linda edição em capa dura pela Editora Massangana...


Em mais uma visita ao sebo trouxe Ziraldo, Mary del Priore, José Murilo de Carvalho e Ferreira Gullar...


O oitavo e nono anos me presentearam com dois livrinhos que há tempos eu namorava. Recebi o pacote da Estante Virtual em meados de dezembro... 666 - limiar do inferno, de Jay Anson e Outsiders - Vidas sem rumo, de Susana E. Hinton. Ambos valem uma relida para resenhar no blog...


Na terceira visita ao sebo do Dedê [sim, eu frequento semanalmente], trouxe os títulos Pátria uruguaia Maldita Guerra e Coração andarilho.


Ainda consegui trocar uns livros pelas belezinhas abaixo...


Não resisti à capa dessa edição em inglês de Dracula.


Pessoas me invejaram porque eu trouxe Minha Luta pra casa... u.u [risos]. Além dele, vários títulos sobre Guerra, minha área acadêmica é História, então tá explicado o fascínio pelo tema...


E para me ajudar com a prática de italiano, adquiri essa gramática em dois volumes, além de um Guia de conversação...


Ainda recebi carta de Patti, do Dose Literária. Ela me mandou um livro com cartinha que é só amor... e o título é bem polêmico, do jeito que eu gosto e que choca a familia tradicional brasileira HAHAHAAAH Obrigada, Patti
Para encerrar o mês, a última troca no sebo, e ainda ganhei uma edição de presente do meu amigo sebeiro. Primeiras Viagens serviu como base para o filme Diários de Motocicleta, contando parte da trajetória de Che Guevara antes da Revolução cubana... O Medicina indígena na Mesoamérica foi o presente de D. Meu muito obrigada!


E então, gostaram das minhas aquisições? Algumas já foram lidas e teremos posts programados ao longo de todo o mês de janeiro... Se eu der uma sumida daqui por uns dias, é porque meu sobrinho Nicholas nasceu... Falem ai nos comentários quais livros vocês querem ver sendo comentados por aqui...

Antes de finalizar o post, gostaria de informar que eu tentarei fazer postagens de Caixa de correio em 2018 em formato de vídeo, lá no Canal [aproveitem para se inscrever ;)]. Para isso, vou contar com a ajuda de minha amiga Glenda... 

Beijos e até logo! ...