Em minhas recentes descobertas literárias, resolvi embarcar na linguagem de Antonio Carlos Viana através de alguns contos que compõem o título Cine Privê, publicado pela Editora Companhia das Letras. A partir de indicações de alguns amigos, e atraída pela capa belíssima da obra, devorei em poucas horas as pouco mais de cem páginas que contem o livro...
Através dos contos de Antonio Carlos visualizei cotidianos de personagens crus, reais, que bem poderiam ser velhos conhecidos meus. A ambientação num espaço-tempo indefinido nos entrega com sutileza pequenas pistas sobre os locais e épocas em que essas histórias ocorreram [no campo ficcional], bem como o coloquialismo de certos diálogos e situações representadas.
Antonio Carlos Viana, autor sergipano. |
Um rapaz mata a mãe e a maior dúvida de seu dia é o que escolher para o desjejum ainda durante a madrugada. Um homem de meia-idade se sujeita a lavar cabines sujas de sêmen, depois de utilizadas por homens que preferem ficar no anonimato, pagando por sexo barato, sujo e quente com mulheres 'da noite'. Um rapaz que de tão tímido e deslocado dentro de seu próprio seio familiar, não suspeita ser o alvo dos anseios de uma prima adolescente que disfarçadamente espia seus trejeitos metódicos e reservados...
Os contos de Viana nos transportam para um universo à parte, em que tomamos o lugar por trás da lente a fim de sermos voyeurs de situações decadentes e/ou degradantes. E pelo reflexo da lente acabamos por enxergar a nós mesmos, em nossas perdas cotidianas, pintados à meio-tom, embaçados pela intimidade supostamente preservada por uma cortina de veludo, nos bastidores de um cine de quartinhos abafados e gemidos latentes...