Ainda lembro da primeira vez que vi no noticiário da TV o caso do assassino Jeffrey Dahmer, que teve seu apartamento descoberto pela polícia e nele se encontravam restos de cadáveres de jovens homens desaparecidos. Eu tinha cinco ou seis anos e foi naquele momento que ouvi falar pela primeira vez sobre assassinos em série. Os anos se passaram [27 para ser exata] e cá estou falando sobre um quadrinho que conta um pouco de sua vida, pela perspectiva de um homem que conheceu o assassino e conviveu com ele em seus anos colegiais.
Derf Backderf fez um trabalho interessante através de sua própria experiência com Dahmer antes dele vir a se tornar um dos maiores criminosos na história da América, remonta a trajetória de vida de Dahmer com base nos depoimentos e documentos/inquéritos da época, a fim de apresentar ao leitor um lado do psicopata que nem todos conheciam.
Publicada numa edição em capa dura pela Ed. DarkSide books, Meu amigo Dahmer é uma história em quadrinhos que nos revela a infância e adolescência conturbada, marcada por discussões familiares e isolamento social - que - não sendo única causa - acabaram por contribuir para o desencadeamento de fatos que iria transformar Dahmer num adulto frio, sem escrúpulos e meticuloso em suas ações bizarras e perversas.
Derf Backderf estudou com o serial killer, presenciou acontecimentos infelizes da vida de seu "amigo" e reúne todo esse material na construção de uma graphic novel. Trata-se de uma leitura densa, repleta de situações que nos fazem sentir pena pelo jovem Dahmer, mas como o próprio quadrinista coloca em evidência, não há como sentir empatia pelo indivíduo quando ele começa a se entregar à falta de humanidade.
Das origens da família desestruturada à criação de um "fã-clube" Dahmer, o roteiro parte por uma trilha em que não houve retorno. Derf narra em detalhes a caminhada de Dahmer a passos largos para um precipício. A obra conta ainda material extra, fontes e notas imprescindíveis para melhor compreensão de algumas sequências na história.
Jeffrey Dahmer foi preso em 1991 e condenado pelo assassinato [dentre outras perversidades] de pelo menos 17 jovens. Acabou sendo morto na prisão, três anos depois. Era uma personalidade fria, que não demonstrou arrependimento nenhum por seus crimes, que envolviam, inclusive, atos de canibalismo e necrofilia. Foi entrevistado inúmeras vezes no período em que foi preso e existem vários materiais sobre sua vida e seus crimes pela internet. De tudo o que li sobre ele, até esse quadrinho me chegar em mãos, não senti um relato tão sincero e preciso sobre sua vida antes da primeira morte.
Em suma, Meu amigo Dahmer é uma ótima pedida para os que se interessam pela temática, para curiosos e para aqueles que sequer ouviram falar sobre o Canibal de Milawaukee. Um relato honesto, cru e visceral sobre um dos assassinos em série mais famosos da história de crimes do século XX.