quarta-feira, agosto 29, 2018

[HQ] Meu amigo Dahmer

Ainda lembro da primeira vez que vi no noticiário da TV o caso do assassino Jeffrey Dahmer, que teve seu apartamento descoberto pela polícia e nele se encontravam restos de cadáveres de jovens homens desaparecidos. Eu tinha cinco ou seis anos e foi naquele momento que ouvi falar pela primeira vez sobre assassinos em série. Os anos se passaram [27 para ser exata] e cá estou falando sobre um quadrinho que conta um pouco de sua vida, pela perspectiva de um homem que conheceu o assassino e conviveu com ele em seus anos colegiais. 

Derf Backderf fez um trabalho interessante através de sua própria experiência com Dahmer antes dele vir a se tornar um dos maiores criminosos na história da América, remonta a trajetória de vida de Dahmer com base nos depoimentos e documentos/inquéritos da época, a fim de apresentar ao leitor um lado do psicopata que nem todos conheciam. 

Publicada numa edição em capa dura pela Ed. DarkSide books, Meu amigo Dahmer é uma história em quadrinhos que nos revela a infância e adolescência conturbada, marcada por discussões familiares e isolamento social - que - não sendo única causa - acabaram por contribuir para o desencadeamento de fatos que iria transformar Dahmer num adulto frio, sem escrúpulos e meticuloso em suas ações bizarras e perversas.
Derf Backderf estudou com o serial killer, presenciou acontecimentos infelizes da vida de seu "amigo" e reúne todo esse material na construção de uma graphic novel. Trata-se de uma leitura densa, repleta de situações que nos fazem sentir pena pelo jovem Dahmer, mas como o próprio quadrinista coloca em evidência, não há como sentir empatia pelo indivíduo quando ele começa a se entregar à falta de humanidade. 

Das origens da família desestruturada à criação de um "fã-clube" Dahmer, o roteiro parte por uma trilha em que não houve retorno. Derf narra em detalhes a caminhada de Dahmer a passos largos para um precipício. A obra conta ainda material extra, fontes e notas imprescindíveis para melhor compreensão de algumas sequências na história.


Jeffrey Dahmer foi preso em 1991 e condenado pelo assassinato [dentre outras perversidades] de pelo menos 17 jovens. Acabou sendo morto na prisão, três anos depois. Era uma personalidade fria, que não demonstrou arrependimento nenhum por seus crimes, que envolviam, inclusive, atos de canibalismo e necrofilia. Foi entrevistado inúmeras vezes no período em que foi preso e existem vários materiais sobre sua vida e seus crimes pela internet. De tudo o que li sobre ele, até esse quadrinho me chegar em mãos, não senti um relato tão sincero e preciso sobre sua vida antes da primeira morte. 

Em suma, Meu amigo Dahmer é uma ótima pedida para os que se interessam pela temática, para curiosos e para aqueles que sequer ouviram falar sobre o Canibal de Milawaukee. Um relato honesto, cru e visceral sobre um dos assassinos em série mais famosos da história de crimes do século XX. 

quinta-feira, agosto 23, 2018

Fragmentos da obra visceral e perturbadora de Junji Ito

A Darkside Books expandiu seu catálogo com publicações em quadrinhos e foi com acertada decisão que trouxeram um pouco da obra do incrível mangaká Junji Ito para os fãs do horror japonês: Fragmentos do horror é uma coletânea de histórias que possuem como elemento em comum as bizarras e assustadoras aparições que povoam o imaginário coletivo oriental. Perturbações de cunho psicológico, em traços impressionantes, grotescos e viscerais.

São personagens atormentados por situações que fogem totalmente da compreensão e lógica humana. Tratam-se de tramas curtas que independem umas das outras, mas que trazem o que há de melhor na obra de Ito.




A capa é um espetáculo à parte. Fazendo alusão à obra de Edward Munch - O grito - insinua pela referência o que aguarda o leitor que se aventura por suas páginas. Horror, desespero e insanidade são a tríade que compõem a trajetória de personagens que perdem a cabeça [em vários sentidos], mesclando elementos eróticos e escatológicos, indo do visceral ao surreal com doses de comicidade mórbida. 

A editora caprichou na edição em capa dura, digna da coleção de um verdadeiro fã do Terror. Belo e monstruoso. 

terça-feira, agosto 21, 2018

Vem disfarçado

Vem disfarçado de amor,
de silêncio, de quietude,
de ternura, de virtude,
mas aproveita-me o ardor.
A este fogo abrasador
que em meu coração chameja
dá-lhe um motivo que seja
como eterno combustível.
Deus, faze-te já visível!
Que perdes em que te veja?

Vem disfrazado de amor,
de silencio, de quietud,
de ternura, de virtud,
pero aprovecha mi ardor.
A este fuego abrasador
que en mi corazón llamea
dale un motivo que sea
como eterno combustible.
¡Dios, vuélvete ya visible!
¿ qué pierdes con que te vea?


Guadalupe Amor - México.



quinta-feira, agosto 16, 2018

sutil e pungente Norwegian Wood, de Haruki Murakami...

Perguntei-me subitamente quantas dezenas ou centenas de domingos iguais àquele ainda se repetiriam na minha vida. "Domingos silenciosos, pacíficos e solitários", disse em voz alta para mim mesmo. Aos domingos, eu não dava corda em mim mesmo.

Ler Murakami se revela um prazer mesclado em tons de dolorida nostalgia. Fazendo referência à música dos Beatles já em seu título, Norwegian Wood é uma publicação da Ed. Alfaguara e traz a história de Toru Watanabe, ambientada numa Tóquio do final dos anos 1960.



Ele está quase completando 20 anos e vive numa espécie de marasmo existencial, somente relevado alguns anos depois em uma idade já madura do personagem. Toru retorna ao passado para nos contar sobre seus amores, amigos, [falta de] planos em sua vida, sobre pessoas que escolheram a morte para pôr fim às suas angustiadas existências.

Haruki Murakami possui uma escrita capaz de cativar o leitor em poucos parágrafos, e logo nos vemos torcendo por cada passo de Toru, bem como dos demais personagens que fazem parte de seu passado. A construção de tais personagens, tão únicos em seus universos particulares, possuem grande importância dentro do enredo, além de uma sensível capacidade de nos cativar. Incluindo-se aqui aqueles secundários, sem rosto, nome ou retorno à linha narrativa, que fazem com que sintamos empatia por cada um deles.


O livro contém várias referências da cultura pop ocidental, bem utilizadas/contextualizadas por Murakami - afinal - o pós-guerra no Japão foi inundado com a cultura do ocidente. Temas como morte, suicídio, vazio existencial, falta de perspectivas, sexo e adolescência são carregados de um lirismo intempestivo, angústia e sentimentalismo. 

Com ares de romance de formação, essa obra publicada originalmente em 1987 nos parece atual, fugindo do fantasma do anacronismo. Reflete com maestria os pensamentos que perpassam a maioria das gerações na fase final da adolescência para os primeiros anos da vida adulta, sem cair em clichês repetitivos e datados de sempre na maioria das leituras para leitores jovens. 

A construção do romance tem um quê de autobiográfico, amplificando ainda mais o sentimento de identificação do leitor com o autor e sua criação. Apaixonante, Norwegian Wood nos causa enlevo, e uma saudade de dias que - volta e meia nos vêm à memória, como cordas balançando em galhos suspensos... 


O outono estava ficando mais intenso, e durante algum tempo eu não soube se o vazio que sentia dentro de mim era devido à sua ausência ou à mudança de estação.

sexta-feira, agosto 10, 2018

Playlist to indie ♪♫



Olá, pessoas. Aqui estou mais uma vez postando sobre música. Nos últimos meses em que ando meio desligada das redes sociais, venho me concentrando em conhecer novas músicas, e por indicação de um amigo eis aqui uma lista com cinco belas canções recém-descobertas que estão tocando infinitamente em minha jukebox [vulgo Fone de ouvido]...

Aquilo - You There

You there tem uma pegada e melodia melancólicas que muito me lembra o instrumental de Radiohead. Trata-se de um duo britânico que ganhou reconhecimento em 2013 com os singles You there e Calling me, mas apenas cinco anos depois é que eu venho descobrir essa relíquia... 


Seafret - Oceans, Atlantis e Can´t Look way

Impossível escolher apenas uma música desse duo também britânico. Seafret entrou sem sombra de dúvidas para os artistas mais marcantes que eu já ouvi nesses meus 32 anos de vida. De todas as suas composições, as três músicas abaixo são as que mais me encantaram... Tenho sensações inebriantes quando ouço a voz de Jack Sedman aliada aos acordes apaixonantes de Harry Draper








Encerrando a playlist de hoje venho com essa versão acústica de Take your time, de Sam Hunt. O único norte-americano da postagem. Na verdade essa música foi descoberta ano passado mas no momento que ouvi não estava com uma vibe adequada pra ela... Mas nos últimos tempos prestei mais atenção em sua letra, na melodia... e enfim, ela me fisgou...

Take your Time - Sam Hunt 



E então, já ouviram alguns desses artistas e suas músicas? Me contem aí nos comentários. Beijos e até a próxima... ;)

terça-feira, agosto 07, 2018

Horácio - Mãe

Produzida por Fábio Coala, Horácio - mãe é uma graphic Novel publicada pela Panini Comics, e faz parte de uma série de histórias que reinventam os personagens de Maurício de Sousa em roupagens que em nada desmerecem a criação do quadrinista. 

Uma publicação compartilhada por Maria Valéria - TorporNiilista (@valzita1985) em


Horácio é um pequeno filhote de tiranossauro-rex, que é vegetariano contrariando as leis normais da natureza. Ele parte em uma viagem em busca de sua mãe, a quem ele não chegou a conhecer. Ao longo do caminho, ele se depara com situações que ele enfrenta tendo a ajuda de pequenos amigos, indo contra os princípios da natureza animal e mostrando o quanto a solidariedade e pensamento no coletivo podem operar verdadeiros milagres. 


O desfecho da HQ se revela impressionante, ligando-se aos dias atuais - que dá a premissa do enredo. Confesso que chorei com as páginas finais e senti um oco no peito. É uma obra sensível que emociona por sua aparente simplicidade e foi criada com esmero pelo artista Fábio Coala, que recebeu o aval de Maurício de Sousa para fazer a adaptação.

Fugindo de finais clichês, a obra nos ensina a pensar grande mesmo que tenhamos limitações. Valores como coragem, companheirismo e gratidão fazem de Horário-Mãe uma leitura que cativa, emociona e enternece nosso coração. Certamente, um dos melhores quadrinhos que tive o privilégio de contemplar nos últimos meses...

domingo, agosto 05, 2018

Ruas sobre as águas - a história sobre a origem das pontes recifenses

Recife - como dizem os poetas - é cidade de encantos mil. Considerada a Veneza brasileira, em alusão à cidade italiana que impera sobre as águas, possui pontes que remontam ao período da colonização portuguesa. 

Porém, em seu livro Ruas sobre as águas - as pontes do Recife, o autor José Luiz Mota Menezes descreve a influência holandesa na construção da arquitetura da cidade, devido à contribuição destes na construção das pontes que ligam a parte mais antiga de Recife - localizada no istmo - até a parte continental, formada hoje pela região central da capital pernambucana.



As pontes serviam como meio de transporte para os pedestres em geral, que - excetuando-se militares e holandeses - pagavam uma taxa para sua travessia. Devido à invasão holandesa em 1630 na província de Pernambuco, é forte a herança deixada pelos "invasores" no que tange à modificação urbana da paisagem recifense.

Publicado pela CEPE Editora, trata-se de uma obra de grande importância , que cumpre a proposta de desvelar ao leitor informações pertinentes sobre o desenvolvimento de Recife no século XVII. Em suma, uma leitura curiosa, instigante e de grande riqueza de informações sobre nosso passado colonial.

Ponte Maurício de Nassau ao fundo, em um dos meus passeios pela capital do meu coração...

quinta-feira, agosto 02, 2018

Pinóquio, o brinquedo que almejava virar menino...

Escrita por Carlo Collodi, a história do boneco de madeira que crescia o nariz a cada mentira contada, e que tinha o sonho de se transformar em criança de verdade é conhecida por várias gerações, desde que foi criada em 1881. Pinóquio é um dos livros infantis mais lidos do mundo e carrega várias lições ao longo de suas páginas, através das ações do pequeno personagem desobediente, mas de coração bondoso.

O carpinteiro Mestre Cereja encontra um pedaço de pau que ria e chorava como criança, e resolve dar este pau de presente ao seu amigo Gepeto. Gepeto é um senhor habilidoso, que logo constrói um boneco com a madeira, a fim de que ele dance, dê saltos mortais e acaba se afeiçoando a ele, como se fosse seu filho. É por meio de Gepeto que o simpático Pinóquio começa a entender a dureza da vida, principalmente para meninos que não ouvem conselhos de pessoas mais velhas. à medida que a história se desenrola, o boneco conhece outros personagens, alguns bondosos, outros espertos e uns tantos outros mais cruéis, e vai lidando da maneira que pode com cada um deles. Ele, que não quer estudar, se dá conta do quanto o conhecimento é importante para a formação de um indivíduo.



Em suas aventuras [ou desventuras], ele escapa por várias vezes de ser eliminado. Mas ainda há pessoas generosas e sábias no mundo que contribuem para colocar um pouco de juízo na cabeça de madeira deste bonequinho. Pinóquio é uma leitura encantadora, que levanta questionamentos e nos deixa sábias lições. Para crianças e adultos, é uma obra que enternece com sabor de infância...