quinta-feira, setembro 27, 2018

O amor dos homens avulsos, de Victor Herringer

Victor Herringer [falecido ano passado] nos transporta para um romance ambientado num subúrbio do Rio de Janeiro dos anos 1970. O narrador desvela suas memórias, revolvendo no passado sobre a chegada de Cosme em sua casa, quando ainda era adolescente, e que acaba por perder a vida de maneira brutal, devido ao preconceito encrustado em nossa sociedade.
O rapaz, que precisava de muletas para se locomover, tem na morte do garoto Cosme uma lembrança que vai assombrá-lo até os dias atuais. Sua vida se modificou a partir do momento que Cosme adentrou em sua vida, tirando nosso narrador do marasmo monótono que até então se via inserido.

A obra possui uma linguagem fluente com uma bela construção de cenários e personagens. Herringer desenvolve sua trama de maneira delicada, tocante e levemente mordaz com relação à realidade... O amor dos homens avulsos é um misto de crônica saudosista e experimentalismo. Encanta, dando um novo sabor à ficção brasileira. Nascido em 1988, Victor Herringer deixou uma coluna na revista Pessoa, ganhou um prêmio Jabuti pela obra Glória, em 2013. Suicidou-se aos 29 anos...

sexta-feira, setembro 21, 2018

Escritores uruguaios para conhecer

Nos últimos tempos, o Uruguai vem sendo pra mim um palco efervescente de literatura que tem me atraído a atenção, com grandes nomes que pretendo apresentar a vocês através desta postagem. A cultura do país me faz um convite para que eu possa visitá-lo, e o sentimento vem se intensificando ainda mais pelo prazer que tenho ao me deparar com obras escritas por autores do país. Enquanto uma viagem não está sendo viável no momento, ao menos posso me entregar às obras desses escritores, viajando' através de suas histórias encantadoras, poéticas e sensíveis.


Recentemente tive contato primário com a escrita de Inés Bortagaray, escritora de apenas 43 anos, com seu primeiro romance [novela] publicado no Brasil, intitulado Um, dois e já. Além de escritora, ela é também roteirista. Seu primeiro livro foi uma coletânea de contos, publicada em 2001. 


Mario Benedetti foi uma singela surpresa na poesia. Mas fui além e me entreguei a sua prosa, podendo dizer com propriedade que a escrita desse homem deve ser conhecida por todos. Benedetti se sai bem em ambos os estilos, e traz uma carga sentimentalista de enlevar o leitor. Teve uma participação política que o levou a se exilar em dado momento de sua vida. 


Eduardo Galeano é outro nome bastante conhecido pelas suas críticas político-sociais impressas em sua obra. Ficção, jornalismo, História e análise política são elementos vitais em sua composição literária. Galeano fez uma verdadeira ode à América ao longo de sua carreira como escritor. 


Por fim, não poderia deixar de fora dessa lista o uruguaio Horacio Quiroga, mestre nos contos que representam de maneira simbólica as tragédias que assolaram sua vida, inclusive levando-o ao suicídio. Assim como Galeano, foi vítima de câncer e decidiu tirar a própria vida após o diagnóstico terminal...


Existem muitos outros autores com quem venho 'flertando' e faço menção honrosa a Juan Carlos Onetti, a quem já iniciei a leitura de seu livro A vida breve. Logo menos irei falar sobre ele por aqui...


Então, já ouviram falar desses autores? Já leram alguns de seus livros? Me falem aí nos comentários, vou adorar saber a opinião de vocês a respeito disso... 
Beijos e até o próximo post...



quinta-feira, setembro 20, 2018

Hibisco Roxo

Kambili é a protagonista de Hibisco Roxo, da autora nigeriana Chimamanda N. Adichie, e através de sua perspectiva nos deparamos com uma Nigéria dividida entre a modernidade que a colonização capitalista trouxe ao país e um tradicionalismo dos costumes religiosos de seu povo, embora seja cada vez mais difícil mantê-los diante dos efeitos políticos-sociais-religiosos dos colonizadores.

Por ser um romance de formação, acompanhamos o desabrochar da adolescência da protagonista, que em meio à tirania de seu pai violento e cristão, vai descobrindo o amor, as lutas sociais, a pobreza em que se encontra seu país e a convivência com a família de sua tia Ifeoma, mulher que volta e meia entra em conflito com o irmão, devido ao tratamento que ele dispende ao pai deles, avô de Kambili, senhor que se mantém fiel às suas origens e crenças. 

Chimamanda


Censura, opressão política, violência doméstica, catolicismo mesclado à moral fazem da narrativa de Chimamanda uma interessante analogia à própria realidade vivida aqui no Brasil. Hibisco roxo é uma metáfora sobre o desabrochar de um experimento com plantas e simboliza bem a mudança psico-social ocorrida com a protagonista, presa por convenções sociais que insistem em se manter ali, enquanto Kambili luta para se desvencilhar delas. 

Esse foi o meu primeiro contato com a prosa de Chimamanda, e sem sombra de dúvidas tornou-se uma leitura que me levantou questionamentos. Detentora de uma narrativa poderosa e envolvente, a autora apresenta um panorama de seu povo, sua época na Nigéria e de seu cotidiano através de seus personagens, tão bem caracterizados e reais, misturando o cru e o singelo de maneira tocante e complexa...

Uma bela experiência que beirou o sensorial, pois me vi experimentando pratos típicos, andando em estradas de terra batida e tendo um pôr-do-sol africano materializado em minha mente...

segunda-feira, setembro 17, 2018

Amy - Clube dos 27

Amy Winehouse teve uma vida repleta de altos e baixos. Infelizmente sua carreira e vida não durariam muito, mas certamente foi um legado importante na história da música. Assim como ela, outros artistas tiveram uma vida interrompida por um histórico de abuso de drogas e álcool, escândalos e suicídios. 

Amy viria a fazer parte de um grupo que - coincidentemente - todos os membros haviam morrido na idade de 27 anos, vindo a juntar-se com Janis Joplin, Jimi Hendrix, Jim Morrison, Kurt Cobain e Brian Jones, os principais artistas comentados nessa obra: Amy - O clube dos 27.
Howard Sounes traça um perfil de coincidências na vida desses artistas, de maneira cronológica e sucinta. Através de sua obra, viemos a conhecer detalhes das personalidades desses talentos musicais, conturbados e excêntricos, que apresentavam problemas em interagir socialmente e que não souberam lidar com a fama meteórica. 

Muitos outros nomes figuram na lista do 'clube dos 27', mas o autor focou nos 6 acima listados, os mais emblemáticos de suas épocas. Teorias de conspiração, depoimentos contraditórios, coincidências que beiram o macabro... o fato é que com o termo usado pela primeira vez pela mãe de Kurt Cobain, na época de sua morte por suicídio, seu mais novo integrante foi a garota de origem judia, com voz poderosa e vibrante, que ditou 'moda' no Reino Unido, conquistando uma legião de fãs em todo o planeta. 

Amy - o clube dos 27 é uma incrível obra de referência aos fãs desses artistas, prestando uma homenagem sincera a eles, que tiveram suas vidas interrompidas no auge de suas carreiras. Relato sensível, íntimo e melancólico.

quinta-feira, setembro 13, 2018

Ainda - Pablo Neruda

foi meu destino amar e despedir-me.

A poesia de Neruda encanta os cinco sentidos. Ler e recitar os seus versos soa como uma canção aos ouvidos, numa espécie de melodia carregada de simbolismos, contato com a natureza e um verdadeiro passeio pela paisagem de sua terra natal, o Chile.

eu trazia na roupa a tristeza do trem que me trazia.

Ainda é composto de vinte e oito poemas que contam muito da infância e adolescência do menino Pablo. Publicado pela Livraria José Olympio, Aún - Ainda em português - foi um dos últimos livros escritos pelo autor, pouco antes de sua morte, em 1975. 


Pablo Neruda viajou de trem com o pai, maquinista. Rememora o contato com seu avô, já de idade avançada. Através da poesia ele nos revela fatos marcantes de sua juventude. Neruda se doa a todos, desabrocha suas mais intensas emoções e experiências; é poeta vivido, grandioso, lírico e magistral. Carrega um quê de saudoso, enlevante e enraizado em suas origens.

Morreu a solidão aquela vez
ou nasci eu de minha solidão?

Uma publicação compartilhada por Maria Valéria - TorporNiilista (@valzita1985) em

sábado, setembro 08, 2018

O rastro da Alma - Alexandre Apolca

Recebi em parceria com o autor Alexandre Apolca seu segundo livro, intitulado O rastro da Alma, que conta a história de "Clarice", uma garota que desperta numa caçamba de lixo numa São Paulo caótica de 2040, desmemoriada, e que se vê perseguida por desconhecidos até ser salva por um rapaz.

o autor.


Sem saber nada de sua vida, [o nome 'Clarice' ela pegou emprestado], a garota acaba confiando em Elvis, que realmente parece disposto a ajudá-la a recuperar o seu passado. Entre meses de convivência e um elo amoroso se formando entre os dois, Clarice sofre uma terrível perda e logo pontas de seu passado começam a surgir, mas nada parece fazer sentido, e assim ela descobre que sua vida pode ficar ainda pior do que já está...

O romance noir é estreia do autor no gênero, e possui uma linha narrativa repleta e acontecimentos violentos e brutais. Estupros, mortes, perseguições e afins permeiam o universo de O rastro da alma e podem causar desconforto em leitores mais sensíveis. O enredo é frenético e detalhista, conduzindo o leitor por uma teia de acontecimentos que - no devido tempo narrativo - se conectam, por mais absurdos que possam parecer em vários momentos.

Há reviravoltas na história, personagens misteriosos - até um gato sinistro - e algumas referências a obras literárias, elementos que preenchem com presteza o triller de Apolca. Em suma, trata-se de uma leitura eletrizante, misteriosa e sádica, com ares distópicos que utilizam bem o elemento 'tempo'. Enérgico, empolgante e de revirar o estômago. 




quinta-feira, setembro 06, 2018

Na Literatura Selvagem ~

Mudei o endereço do blog... há tempos vinha com a ideia de rebatizar meu espaço... e estou muito contente com a mudança... Torpor Niilista foi um nome que me acompanhou desde os primórdios do fotolog e orkut... e sim, ainda tem uma grande importância para mim, mas meus pensamentos se metamorfosearam, e o atual nome tem algo mais íntimo ao meu eu, hoje

O nome novo ainda fala muito de mim. com a diferença que agora aponta também para o que eu leio.

a referência é clara: Na natureza selvagem foi um divisor de águas em minha vida. Não encontrei melhor maneira de honrar o significado dele pra mim do que batizando meu blog fazendo menção a ele...

Para quem ainda não conhece a história, trata-se de um acontecimento real ocorrido em 1992, quando um jovem foi encontrado morto dentro de um ônibus numa região inóspita do Alasca, e sua história foi contada por Jon Krakauer no livro intitulado Na Natureza Selvagem. Publicado pela Companhia das Letras, a trajetória do jovem Chris MacCandless me causou uma reflexão absurda sobre enfrentar os nossos medos, deixar para trás coisas importantes em prol de algo que buscamos e de que poucos tem coragem de 'meter a cara'. 

Na Literatura Selvagem, além de funcionar como alusão ao livro, mostra um vigor que remete às minhas leituras, pensamentos e afins. É ousado, impetuoso, intempestivo e ao mesmo tempo tem ares de calmaria, como aquela que se sente ao chegar ao topo de uma montanha. De alcançar objetivos. Carrega inquietação e crueza. Força e sensibilidade poética. Fala de meu acervo. Fala de mim. 


Se quiserem saber mais sobre o livro, resenhei ele aqui...

sábado, setembro 01, 2018

[HQ] Penadinho - alma

E mais uma vez me entreguei à uma adaptação das histórias de Maurício de Sousa, que desde a infância povoa meu imaginário através de seus personagens da Rua do Limoeiro. Dessa vez, roteirizada e desenhado pelo casal Paulo Crumbim e Cristina Eiko nos deparamos com a turma do Penadinho numa aventura emocionante, divertida e encantadora. 

Penadinho descobre que sua amada Alminha vai reencarnar em poucas horas, e ele percebe que em tantas décadas juntos, ele nunca declarou o quanto a amava. Agora, ele "vive" uma corrida contra o tempo para dizer à fantasminha o quanto ela significa para ele em sua morte. Porém, Alminha acaba sendo capturada para fins escusos por um homem misterioso e seus asseclas, que moram numa casa abandonada. 


Logo, Penadinho e seus amigos - Zé Vampir, Muminho, Frank e Cranicola - precisam encontrá-la antes que algo terrível aconteça, enquanto o tempo se esgota... De maneira sensível e humorada, temos um belo romance ilustrado em tons de negro, azul e cinza, personagens cativantes e bem construídos vistos de uma maneira distinta das historinhas dos gibis, e que enternecem o coração do leitor. Penadinho - Vida é uma reflexão sobre a amizade, a importância de não adiarmos as coisas, sob o risco de não termos tempo de concretizá-las depois. 

É sobre lutar por quem amamos, mesmo que pareça haver uma eternidade nos separando. Com sensibilidade e leveza, Penadinho - Vida nos deixa absortos, apaixonados e inteiramente encantados...