Escrito pelo Tcheco Bohumil Hrabal, Uma solidão ruidosa aborda o cotidiano de um narrador que opera uma prensa hidráulica que compacta papel, entre um copo e outro de cerveja. Hant'a, há 35 anos nesse oficio, descarta todo tipo de papel, incluindo livros clássicos. Entretanto, alguns desses títulos são "salvos" da prensa graças à habilidade de Hant'a em "memorizar" as ideias contidas naquelas páginas.
Em dado momento, não se sabe mais de quem partiu a ideia original - se dos livros ou da mente perturbadora do personagem. A história prossegue para o momento em que Hant'a logo será substituído por operários mais novos e ele se vê ameaçado com pesadelos, em que visualiza a cidade de Praga sendo destruída por uma prensa hidráulica gigante.
Publicado pela Companhia das Letras, Uma solidão ruidosa foi um dos últimos trabalhos do escritor, originalmente lançado em 1976. Analisando o histórico da época, a Tchecoslováquia vivia sob o regime soviético, e a obra seria uma espécie de transgressão ao Estado repressivo. Além do protagonista - narrador, ainda contamos em ver outros personagens que carregam traços de peculiaridade em suas construções sociais.
As temáticas abordadas mesclam paradoxos como persistência da memória versus efemeridade da literatura, desejo versus burocratas detentores de uma tecnologia que oprime e censura ideologias. O próprio Hrabal chegou a trabalhar com prensa de papéis usados em determinado ponto de sua vida. Morreu no ano de 1997, aos 82 anos.