sexta-feira, setembro 27, 2019

50 Poemas - Tomas Transtömer

Nas últimas semanas realizei algumas leituras me aventurando pela poesia de autores que até então desconhecia. Retornando com as postagens do blog [tentando, ao menos], trago para vocês as impressões que tive ao ler  50 Poemas, do sueco Tomas Transtömer.



Tranströmer foi premiado com o Nobel de Literatura em 2011. Com tradução de Alexandre Pastor, os 50 Poemas reunidos nesta publicação bilíngue da Relógio d'água abordam temas como a efemeridade da vida e uma junção do cotidiano com elementos da natureza, numa espécie de mística transcendental da existência.

O leitor que admira poemas mais sensíveis certamente encontrará na métrica de Tomas uma bela construção de poemas tocantes e carregados de subjetividade. Há muito da cultura nórdica inserida em suas composições, com variantes de beleza e obscuridade, irracionalidades e certa ausência do amor, exprimindo talvez, a faceta taciturna e reservada do próprio autor.

Ao sol, damos a impressão de sermos quase felizes e ao mesmo tempo sangramos de mágoas que desconhecemos.

Vi ser nästan lyckliga ut i solen, medan vi förblöder ur sår som vi inte vet om.



sábado, setembro 21, 2019

Poemas, de Giorgos Seféris

Giorgos Seféris, também vencedor do Nobel de Literatura, no ano de 1963, nos brinda com poemas que falam sobre o mistério da vida e da morte, da impossibilidade de resgatar o passado e sobre os absurdos cometidos nas guerras, através de mentiras ideológicas que só servem para alimentar seus algozes.



Nascido em Esmirna em 1900, Giorgos soube exprimir um amargor nos versos que compõem essa obra, através de uma métrica lírica que perambula pelo exílio ao qual foi submetido devido a profissão diplomatica, causando sua ausência da pátria por longos períodos.

Há um que de odisseico na poesia de Seféris, que retrata esse deslocamento por terras alheias com ares nostálgicos. Seus versos conseguem a façanha de capturar com maestria o sentimento de eternidade que permeia a Grécia, ao longo de séculos de arte e História de uma cultura tão milenar que nos chega ao presente...

A eles, nós que nada tínhamos, ensinaremos a serenidade.




terça-feira, setembro 03, 2019

Resenha: Uma solidão ruidosa

 Escrito pelo Tcheco Bohumil Hrabal, Uma solidão ruidosa aborda o cotidiano de um narrador que opera uma prensa hidráulica que compacta papel, entre um copo e outro de cerveja. Hant'a, há 35 anos nesse oficio, descarta todo tipo de papel, incluindo livros clássicos. Entretanto, alguns desses títulos são "salvos" da prensa graças à habilidade de Hant'a em "memorizar" as ideias contidas naquelas páginas.

Em dado momento, não se sabe mais de quem partiu a ideia original - se dos livros ou da mente perturbadora do personagem. A história prossegue para o momento em que Hant'a logo será substituído por operários mais novos e ele se vê ameaçado com pesadelos, em que visualiza a cidade de Praga sendo destruída por uma prensa hidráulica gigante.


Publicado pela Companhia das Letras, Uma solidão ruidosa foi um dos últimos trabalhos do escritor, originalmente lançado em 1976. Analisando o histórico da época, a Tchecoslováquia vivia sob o regime soviético, e a obra seria uma espécie de transgressão ao Estado repressivo. Além do protagonista - narrador, ainda contamos em ver outros personagens que carregam traços de peculiaridade em suas construções sociais. 

As temáticas abordadas mesclam paradoxos como persistência da memória versus efemeridade da literatura, desejo versus burocratas detentores de uma tecnologia que oprime e censura ideologias. O próprio Hrabal chegou a trabalhar com prensa de papéis usados em determinado ponto de sua vida. Morreu no ano de 1997, aos 82 anos. 

segunda-feira, setembro 02, 2019

Mia Couto [Poemas Escolhidos]

Os poemas do moçambicano Mia Couto são dotados de poesia e reflexões filosóficas. Ser. Existir. Dureza do viver. Versos questionadores que incitam no leitor uma inquietação que vai além do momento de leitura. Acompanha-nos por dias. Memória, amor, dor, melancolia e angústia se fazem presentes em suas indagações travestidas de poesia.

Poesia essa que viaja ao passado de semente humana rumo ao encontro do consumo do presente, que vorazmente destrói o fruto. Identidade germinada, queda de máscaras do 'Eu', vaidade desvelada. O tempo se torna aliado na criação de versos. Sua poesia é uma espécie de testemunha das mudanças humanas ao longo do tempo.




Mas o tempo aqui age como ferramenta de desajuste e desconstrução, que remonta origens e nos leva ao fatal beco sem saída das [im]possibilidades. Mia propõe um desaceleramento do existir, em contrapartida a pressa e urgência do Homem lutando contra o tempo. A angústia é colocada como tempero para a busca ao desconhecido, que mesmo realizada com sucesso, ainda nos deixa avulsos na compreensão de tudo.



Mesmo dissonantes, eis que prosseguimos rumo ao desconhecido. Tal crueza nos devora a vida. Mas temos então a poética para nos resignarmos. A poesia entra aqui como bálsamo para nossas incertezas, que nos acaricia em meio a brutalidade e sujeira do mundo. Filhos do imperfeito, somos paradoxos infindos buscando respostas, buscando amor; e sofremos no processo, desde a procura até a descoberta. E nessa cegueira da incerteza, dos questionamentos acerca de tudo que nos rodeia desde o princípio até o misterioso fim, Mia desvela o poder do que desconhecemos. A beleza de seus escritos é nosso consolo.

Eu quero uma tarde onde pousem sombras.