quinta-feira, junho 25, 2020

Histórias da Segunda Guerra



Estou participando de um grupo de Leitura Coletiva que consiste em ler uma obra ficcional ou não-ficcional ambientada na Segunda Guerra Mundial a cada mês. O Holocausto Judeu foi um dos episódios mais atrozes da nossa História no século XX e cerca de seis milhões de judeus tiveram suas vidas ceifadas em campos de concentração espalhados pela Europa, sob domínio da SS, os oficiais do exército alemão. 

Esse post tem como propósito apresentar as obras que eu li desde que o grupo foi criado, em abril deste ano [2020], a fim de que vocês possam conhecer algumas histórias/relatos de sobreviventes desse genocídio. 

A série Histórias da Segunda Guerra será dividida em algumas partes, e eventualmente eu virei aqui apresentar mais alguns títulos. Hoje, quero indicar as obras O tatuador de Auschwitz, Os fornos de Hitler e Os meninos que enganavam nazistas

O tatuador de Auschwitz, escrito por Heather Morris conta a história de Lale, que foi enviado ao campo de concentração que dá nome ao livro e lá acabou sendo escolhido para ser o tatuador do campo. A sua função era marcar a numeração de todos os prisioneiros que lá chegassem, a fim de identificação, em virtude deles não serem tratados como seres humanos, indivíduos com personalidade distinta, e sim, como meros objetos que logo seriam descartados das maneiras mais perversas no campo, seja por fuzilamentos, fome, doenças ou às terríveis câmaras de gás. 
 
O livro retrata sua vivência durante aqueles anos de guerra, confinado e sem prever que destino horrendo teria, mas logo conhece uma moça no campo, e a partir daí, ele faz de tudo para sobreviver, protegê-la e também ajudar como puder as pessoas que vivem ao seu redor nos barracões. Ao longo da obra, o leitor se angustia com as passagens que ele apresenta, os sofrimentos e perigos que ele se sujeita para escapar vivo dali.

Em Os fornos de Hitler, de Olga Lengyel, acompanhamos a trajetória de uma judia que vê seus entes queridos sendo enviados para a morte certa, incluído aí algumas por escolhas infelizes da própria protagonista, que julgava estar protegendo seus filhos. Durante o tempo que permaneceu como prisioneira em Auschwitz, trabalhou como enfermeira no 'hospital' montado no campo, que não oferecia conforto ou higiene alguns para os pacientes, que geralmente eram encaminhados para as câmaras de gás, tão logo se notasse o grave estado debilitante em que se encontravam. Ela fez de tudo para minimizar o sofrimento dessas pessoas, enquanto tentava salvar a si própria e reencontrar seu marido, também prisioneiro do mesmo local, mas num setor diferente do que ela se encontrava. 

Os meninos que enganavam nazistas, de Joseph Joffo, conta a história de Joseph e Maurice, dois irmãos de 12 e 10 anos, que precisam fugir para não serem pegos pela inspeção nazista dentro do território francês. Os pais enviam os meninos para uma cidade onde mais dois irmãos esperam por eles, enquanto vivem com documentos falsos tentando esconder que são judeus. Jo e Maurice enfrentam fome, perigos durante o percurso e aprendem desde muito cedo a se virarem sozinhos, amadurecendo antes do tempo para sobreviver...

As obras possuem em comum o fato de terem sido escritas/relatadas por sobreviventes do holocausto, baseados em fatos reais; sendo que os dois primeiros livros se tratam de experiências vividas no mesmo ambiente, o que os diferem da terceira obra, que se passa na França ocupada pelos nazistas, sob a colaboração do marechal Pétain. São testemunhos importantes a fim de desvelar ao mundo os horrores cometidos pelos nazistas durante os anos de 1939 a 1945 em todo o continente europeu. 

Jamais esquecer, para nunca repetir...

domingo, junho 14, 2020

Libertinagem e Estrela da manhã, Manuel Bandeira

Numa edição comemorativa da Nova Fronteira livros - 40 anos, somos presenteados com Libertinagem e Estrela da manhã, do grandioso poeta pernambucano Manuel Bandeira.



A obra contém uma apresentação por Godofredo de Oliveira, que explana um pouco sobre as obras de Manuel, sob um contexto modernista. 

Segundo ele, a poética de Bandeira possui dicção própria, com área burlescos, irônicos, mesclados ao humor, sendo assim, um dos grandes nomes da literatura brasileira.

Em Libertinagem e Estrela da manhã, é possível notar temas sociais e folclore negro em suas estruturas líricas. Seus versos são uma verdadeira construção poética. 

"Uns tomam éter, outros cocaína. 
Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria. 
Tenho todos os motivos menos um
de ser triste."

"A vida inteira que podia ter sido e que não foi." 

"Não quero mais saber do lirismo que não é libertação."

Ler Manuel Bandeira é conectar-se com o mistério, o lirismo e a inquietação do cotidiano. É viajar por entre o decorrer dos dias, enxergando por uma ótica de poeta.

terça-feira, junho 09, 2020

Projeto de Leitura 50 contos de Machado de Assis

Estou participando de um grupo de Leitura Coletiva/Projeto literário elaborado pela Andréa,  do blog Fundo Falso, que tem o objetivo de ler e discutir semanalmente a obra 50 Contos de Machado de Assis. A meta é ler um conto do livro por dia e discutir aos domingos, numa live pelo seu Instagram. Resolvi  falar aqui no blog as minhas considerações acerca desses contos, que tem como elo a já característica ironia refinada do escritor destilada a sociedade em que viveu. 



O conto Inácio reuniu duas paixões: a música/violoncelo e desfechos doloridos/poéticos. Conta a história de um homem chamado Inácio, que desde muito cedo aprendera a tocar rabeca mas após um encontro com um violoncelista alemão, percebeu que seu amor era realmente aquele belo instrumento. O tempo se passou, perdeu sua mãe, casou, e não mostrava ao mundo lá fora seu talento com o Violoncello. Apenas sua esposa Carlota, conhecia suas aptidões graciosas e melancólicas. Inácio a amava, Carlota retribuía esse amor e ambos tiveram um filho, que, segundo o pai, haveria de segui-lo na música... E então, sua arte começa a se fazer ouvida por terceiros, atraindo a atenção de dois jovens músicos, Barbosa e Amaral. Um tocava Machete, e logo a atenção se volta para ele e seu instrumento.. eis o início do fim...

É presente na escrita de Machado um tom coloquial, que transporta o leitor ao Rio de Janeiro do século 19, mesmo que inconscientemente... Dadas suas descrições, há que se visualizar o ambiente, a atmosfera e conveniências sociais que permeiam os seus personagens. Talvez pela verbalidade dos monólogos/diálogos, pelas descrições de cenário/figurino ou pelos sentimentos/pensamentos debulhados ao longo da narrativa essa percepção se faça mais notável...

 O segundo conto é intitulado A arca. Trata-se de uma crítica excelente sobre a ambição humana. Não há limites quando se trata de poder e acúmulo de riquezas. Os laços de sangue não representam nada quando a cobiça é soberana.

O conto faz uma crítica visceral sobre a ambição humana na figura de dois dos três filhos de Noé, que disputam as terras que ainda se encontram submersas pelo dilúvio, a fim de definir quem ficará com a maior parte.


Teoria do medalhão
Nesse conto, Machado apresenta um diálogo entre pai e filho, depois de um jantar para comemorar a maioridade do filho. O pai começa a tecer conselhos de como o filho deve se portar na sociedade a partir dali, ignorando a individualidade do indivíduo e alimentando as convenções sociais, já tão saturadas de senso comum. Não se deve sorrir verdadeiramente, não se deve buscar conhecimento. O filho deveria apenas se atentar a massificação de discursos vazios e prontos, que tão somente vão mantê-lo em pauta notável na sociedade. Machado traz mais um conto repleto de ironia - que se nota pela fala do personagem mais velho - que serve como crítica a uma sociedade engessada, ignorante e que se alimenta de aparência. Curiosa a maneira como ele referencia grandes nomes e obras de pensadores universais, como Voltaire e Maquiavel. 

Certamente, uma leitura breve e brilhantemente mordaz com relação aos costumes de seu tempo. Mais uma vez, se torna atemporal, pela maneira como a sociedade segue seu percurso, quase 150 anos depois..

Algo igualmente relevante a ser considerado é que os conselhos do pai ao filho não passam de uma projeção de suas frustrações, devido ao insucesso de ter alcançado notoriedade em seus jovens anos. Outro ponto que acho válido ressaltar é sobre o trecho que ele fala sobre ambientes como livrarias. Há que se frequentar para aparentar sabedoria, mas sem realmente/verdadeiramente estar ali em busca de conhecimento de fato. Trata-se de uma estrutura social que valoriza o ter em detrimento do ser.

A visita de Alcibíades.
Alcibíades é um personagem grego, que viveu na Antiguidade. E nesse conto de Machado ele tem um encontro com o protagonista e narrador, que fala desse encontro sobrenatural/espiritual numa carta, endereçada a uma autoridade policial. 
A conversa entre os dois se dá partindo da perspectiva do choque cultural, pois o grego nada sabe das mudanças que ocorreram ao longo dos séculos, após a sua morte. O protagonista lhe atualiza dos fatos, e não é sem espanto que Alcibíades repara na indumentária do século 19, tão distinta de seu próprio tempo.

Machado apresenta elementos sobrenaturais a sua trama - a aparição de alguém morto há séculos - interagindo com o narrador, que até então não se dava por convencido do fenômeno, e o autor insere aí como referência Plutarco, por onde se dá esse encontro absurdo, surreal.

Dona Benedita, protagonista do conto que lhe dá nome, é uma mulher que vive afastada do marido, devido a ocupações deste em outro estado, e se sente solitária, apesar de morar com seus dois filhos; um rapazinho e a filha Eulália. Está última, já em idade de casar, é incisiva quando a mãe dá mostras de casá-la com Dr. Leandrinho, filho de dona Maria dos Anjos, que parece ter um grande afeto por Benedita... 

Dona Benedita escreve ao marido pedindo conselhos, e a filha continua firme em sua negação de firmar matrimônio com Leandro. 
Machado nos apresenta duas mulheres de personalidades opostas interagindo no mesmo conto: a objetiva Eulália, que parece sempre saber o que quer e Não quer da vida, e sua mãe Benedita, que a todo tempo se encontra numa corda bamba, ora decide viajar, depois desiste. Casa, não casa. Benedita não passa de uma mulher inconstante presa às convenções sociais burguesas e entediantes. Trata-se de mais uma excelente crítica à sociedade da época, vazia e que vive de aparências...


Eis os contos lidos e discutidos na primeira semana do projeto. Excetuando O alienista, que terá uma postagem em específico para a obra...

Até a próxima...

quinta-feira, junho 04, 2020

Angelina Jolie, uma biografia de Andrew Morton.

 Angelina Jolie é uma das atrizes mais conhecidas do meio cinematográfico. Filha de artistas, desde os primeiros anos teve contato com o cinema. Esse fato acabou influenciando no estilo de vida da pequena menina que se tornou uma mulher, mãe de seis filhos - adotivos e biológicos - ativista e respeitada embaixadora da Boa Vontade da ONU, considerada uma das maiores celebridades do planeta. Teve uma infância repleta de traumas e problemas no seio familiar, conviveu com a doença e morte de sua mãe, a difícil relação com seu pai, o ator Jon Voight, relacionamentos amorosos com artistas com que dividiu a cena, sejam eles homens ou mulheres. 

Angelina tem um passado repleto de polemicas, que vão de um beijo no próprio irmão ao fato de andar com sangue de um dos namorados em um colar no pescoço. Viajou para várias partes do mundo, se solidarizou com a fome de refugiados, chegando a visitar os campos e adotar crianças em países periféricos. 



Andrew Morton, autor Bestseller do New York Times mostra o lado de Jolie que muitos ignoram ao vê-la nas telas em grandes ou medianas produções. Em sua biografia intitulada Angelina, o autor vasculha o passado da atriz, expondo feridas da artista desde os primeiros meses de vida até a idade adulta. 

Publicada pela Novo Século, Angelina possui várias imagens de momentos diversos de sua trajetória e com uma linguagem descritiva que instiga o leitor, mesmo aqueles que não se afirmam como fãs do trabalho da atriz. 

Angelina possui uma contradição intrínseca, talvez influenciada pelo sol em Gêmeos, talvez pela formação como artista e indivíduo. 

A obra conta também com depoimentos e entrevistas de pessoas próximas a Angelina, que acompanharam de perto sua jornada rumo ao estrelato, não sem enveredar-se pelos excessos de sua juventude e - obviamente - até sua carreira consolidada e voltada atualmente para causas sociais, na luta de crianças ao redor do mundo que são vítimas de violência, miséria e minas terrestres sob os pés...