"Eu pensava de verdade que todos nós seríamos salvos pelo amor."
"Vivemos num mundo onde nos escondemos para fazer amor! Enquanto a violência é praticada em plena luz do dia."
"Eu pensava de verdade que todos nós seríamos salvos pelo amor."
"Vivemos num mundo onde nos escondemos para fazer amor! Enquanto a violência é praticada em plena luz do dia."
Publicada em 1852, a peça Macário, do escritor Álvares de Azevedo, foi uma de suas poucas obras publicadas. Álvares morreu prematuramente, de tuberculose. O movimento literário que vogava na época era o Romantismo, e em sua curta obra permeiam elementos desse estilo.
Dividida em dois atos, no primeiro deles o personagem homônimo chega de viagem e se instala em uma taverna [hospedaria bastante comum na época], e pretende pernoitar por lá. Mas entra em cena um segundo personagem, que se diz Satã, e que pretende levar Macário a uma cidade repleta de devassidão.
Muitas horas depois, Macário é despertado de um sono profundo pela taverneira, e acredita que sua viagem e diálogo com Satã tenha sido mero fruto da imaginação em seus sonhos; porém, eles encontram pegadas negras no chão do quarto. Mas não são pegadas comuns; mais parecem com as de um animal, como uma cabra. Pegadas queimadas indicando uma visita demoníaca durante sua estadia.
Partimos para outro cenário; dessa vez, Macário se encontra na Itália. Eis o início do Segundo ato. Existem vários personagens, de índole melancólica, apaixonados pela idealização de um amor casto, virginal. Penseroso é um amigo de Macário, e se encontra enlevado pelo espírito do amor. Mas depois do contato com Macário e até mesmo do próprio Satã, que retoma suas 'atividades', tragédias começam a acontecer, e as almas dos rapazes se entregam à devassidão...
O Romantismo tinha como características ideais utópicos, amores trágicos e personagens melancólicos, com ares escapistas. Tais elementos simbolizam bem os personagens e tramas de Álvares de Azevedo, não apenas em Macário, mas nos contos que compõem Noite na Taverna e na poesia de Lira dos vinte anos.
Álvares foi um sentimentalista, inspirado na obra Byroniana, e pertenceu à Segunda Geração do Romantismo no Brasil, durante o século XIX.
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"Tenho achado viver tão bonito, talvez porque ande como nunca perto da ideia da morte."
Publicada pela Editora Nova Fronteira, Caio 3D - o essencial da década de 1970 traz uma compilação das obras mais marcantes já escritas na língua portuguesa, de autoria do gaúcho Caio Fernando Abreu, nascido num dia 12 de setembro, em 1948.
Faz parte de uma trilogia de publicações intituladas Caio 3D, que conta ainda com seus escritos dos anos 1980 e 1990, década final de Caio, que faleceu por complicações decorrentes do vírus da AIDS, em 1996.
Caio foi um escritor brilhante em contos, devaneios, dono de uma prosa que conversa intimamente com o leitor. Sua genialidade é escancarada em títulos como Inventário do ir-remediável [presente nessa obra em questão], além de algumas poesias, cartas destinadas a amigos e conhecidos com quem trocou correspondência ao longo de sua vida e alguns outros contos dispersos por outras de suas publicações..
Amigo de Hilda Hilst, tinha uma admiração pela escritora que se revela de maneira poética na forma com que se dirigia a ela. Admirador de Clarice Lispector, de plantas e girassóis, vivenciou os anos de chumbo na política brasileira e fez de sua narrativa subjetiva seu próprio campo de lutas e afirmação de identidade.
Gay, de sorriso sincero e amigo de Cazuza, frequentou o sítio de Hilst em São Paulo, viajou à Europa, voltou a terra gaúcha, morando em Porto Alegre em determinado ponto de sua vida. Trabalhou como autor, ator, escreveu para antologias, críticas em alguns jornais e como redator em outros.
"O ovo apunhalado", "Triângulo das águas", "Morangos mofados" e "Mel e girassóis". Títulos nada convencionais, poético-profundos em suas construções.
Do Inventário, "A quem interessar possa", "Corujas" e "Os cavalos brancos de Napoleão". Da solidão, "Itinerário", "Ponto de fuga" e "O coração de Alzira". Seguindo pelas partes Do amor, Do espanto - somos apresentados a situações do cotidiano, ao dolorido-sofrido, ao "Lixo e purpurina" de amores platônicos, intempestuosos, mordazes e melancólicos.
O 'verbo transitivo' de Caio é 'direto' em meio a tanta subjetividade. É um baque seco no peito de quem o lê; "Press to open". Desvele Caio. "De várias cores, retalhos."...
Rubaia é uma estrofe de quatro versos. Rubaiatas é um livro de poemas do poeta persa Omar Khaiame, nascido em 1040 [possivelmente em 1062, há controvérsias sobre a precisão de datas], e publicado aqui no brasil pela editora Minerva, diretamente do persa pela tradução de Ragy Basile e Christovan de Camargo.
A literatura do Oriente Médio, em específico a Persa, não é tão comum em terra brasilis. Dado esse fato, é dito que me foi uma extraordinária surpresa e encantamento me deparar com tais versos. Partindo disso, resolvi compartilhar minhas impressões com vocês, leitores do blog. E espero que vivenciem tal experiência.
Os poemas que compõem a obra foram cuidadosamente traduzidos para o português, e por se tratar de um idioma sintético, há que se entender o grau de dificuldade desse evento. Ragy Basile trouxe uma interpretação vocabular do texto original, e a partir daí Camargo deu início ao seu intento.
O Leitmotiv de Rubaiatas percorre o nascimento e a tristeza que se carrega pelo ato, indo à extinção da Humanidade, numa espécie de linha cronológica da vida; a precariedade da existência, o Homem como escravo do Tempo, impossível de fugir ao fadado Destino.
Os versos parecem bailar perante os olhos do leitor, numa cadência constante, sobre as agruras da vida, a perda de fé em Alah e em como o vinho embriaga e adia o inevitável fim. A bebida rubra surge como um bálsamo, que surte efeito por simplesmente remediar o que não pode ser mudado.
A vida passa efêmera, alucinante, rumando a passos largos para o precipício. Sendo assim, há que se viver o presente como sendo o último de nossas vidas. Carpe noctem, Carpe Diem...
Não há um 'depois', nada se perpetua... A única palpável é a brevidade da vida e sua tangibilidade. Nada mais importa, nada mais existe após o 'fim'.
Na Antiguidade já era comum o uso de elixires que prometiam o torpor/anestesiamento da realidade dolorida e sofrível. Conceito/costume que se perpetua em diferentes fórmulas, algumas físicas, outras psíquicas. A fuga do real se dá por metáforas e drogas.
A incógnita do Ser tortura. Há impotência no entendimento da vida. O etílico surge como evasão à angústia que se abatia em sua mente. E paradoxalmente, é um prêmio aos prazeres do Viver.
Hedonismo versus Existencialismo. Uma dicotomia entre o trajeto nascer/morrer...
Ó Allah,
se me consideras
escravo desobediente,
rebelado,
onde estão,
dize-me,
Tua benevolência
e Teu perdão?
Uma só taça de vinho
vale as mil promessas
de tôdas as religiões.