terça-feira, setembro 29, 2020

3 obras para descobrir John Lennon


Os Beatles revolucionaram a história do rock. Surgiram em Liverpool e durante as décadas de 1960 e 1970 alavancaram multidões por onde passavam. O sucesso foi instantâneo, e os quatro membros tiveram momentos memoráveis na história da música, sendo imortalizados mesmo quando o líder John Lennon decidiu interromper a carreira ao lado de seus companheiros. 

Há três breves leituras que podem inserir o leitor curioso no universo beatlemaníaco. Obras honestas que desvelam uma faceta de Lennon que muitos desconhecem. Através desse post, venho sugerir essas leituras, que podem ser realizadas até mesmo por quem não é fã da banda, mas sente curiosidade de entender e conhecer um pouco sobre um dos grandes nomes da história da música, e sua trajetória na carreira com os Beatles, solo e seu relacionamento com a artista Yoko Ono, até sua infeliz morte em 1980. 

O pensamento vivo de John Lennon é uma edição da Martin Claret, contendo várias entrevistas e depoimentos do cantor, bem como curiosidades acerca de sua vida profissional e pessoal, além de uma cronologia de sua vida desde o nascimento. 

"Eu pensava de verdade que todos nós seríamos salvos pelo amor." 

Em Homens que mudaram a História, há mais alguns fatos interessantes sobre o astro, algumas fotografias de infância e com a banda, e de seu relacionamento com Yoko, que foi motivo de atrito durante muitos anos entre ele e George, Ringo e Paul. Além da carreira solo como músico, Lennon também publicou livros, foi ativista, pai, teve uma infância difícil [de abandono], perdeu a mãe muito cedo.. entre vários outros acontecimentos que acabaram por moldar o indivíduo no qual se tornou. 

"Vivemos num mundo onde nos escondemos para fazer amor! Enquanto a violência é praticada em plena luz do dia." 

O livro-clipping John Lennon por ele mesmo é também uma publicação da Martin Claret, onde encontramos um perfil biográfico, cronologia e a vida do artista a partir da perspectiva de pessoas que conviveram com ele. Trata-se de uma obra ricamente ilustrada. Item essencial na coleção de qualquer leitor de biografias, ou beatlemaníaco. 

As obras aqui mencionadas se completam de maneira indireta. São ótimas opções para quem busca uma leitura breve a título de curiosidade. 
Um belo meio de inserir-se na musicalidade dos anos 1960, através de uma banda que até hoje é reverenciada na indústria musical.

domingo, setembro 20, 2020

Macário, uma peça de Álvares de Azevedo

 Publicada em 1852, a peça Macário, do escritor Álvares de Azevedo, foi uma de suas poucas obras publicadas. Álvares morreu prematuramente, de tuberculose. O movimento literário que vogava na época era o Romantismo, e em sua curta obra permeiam elementos desse estilo.




Dividida em dois atos, no primeiro deles o personagem homônimo chega de viagem e se instala em uma taverna [hospedaria bastante comum na época], e pretende pernoitar por lá. Mas entra em cena um segundo personagem, que se diz Satã, e que pretende levar Macário a uma cidade repleta de devassidão. 

Muitas horas depois, Macário é despertado de um sono profundo pela taverneira, e acredita que sua viagem e diálogo com Satã tenha sido mero fruto da imaginação em seus sonhos; porém, eles encontram pegadas negras no chão do quarto. Mas não são pegadas comuns; mais parecem com as de um animal, como uma cabra. Pegadas queimadas indicando uma visita demoníaca durante sua estadia.

Partimos para outro cenário; dessa vez, Macário se encontra na Itália. Eis o início do Segundo ato. Existem vários personagens, de índole melancólica, apaixonados pela idealização de um amor casto, virginal. Penseroso é um amigo de Macário, e se encontra enlevado pelo espírito do amor. Mas depois do contato com Macário e até mesmo do próprio Satã, que retoma suas 'atividades', tragédias começam a acontecer, e as almas dos rapazes se entregam à devassidão...

O Romantismo tinha como características ideais utópicos, amores trágicos e personagens melancólicos, com ares escapistas. Tais elementos simbolizam bem os personagens e tramas de Álvares de Azevedo, não apenas em Macário, mas nos contos que compõem Noite na Taverna e na poesia de Lira dos vinte anos. 

Álvares foi um sentimentalista, inspirado na obra Byroniana, e pertenceu à Segunda Geração do Romantismo no Brasil, durante o século XIX. 

Para adquirir um exemplar da obra, clique aqui e ajude o blog. 


 

sexta-feira, setembro 18, 2020

O Teatro de Ferreira Gullar: Um rubi no umbigo


Ferreira Gullar foi um poeta/escritor maranhense, e Um rubi no umbigo foi a mais recente leitura dele que fiz. 

A trama é permeada de humor ácido e situações tragicômicas, que de maneira ferina inserem uma alfinetada no corpo da sociedade brasileira.

Everaldo está endividado, não sabe mais como pagar o aluguel e sustentar sua mulher e filho. Vitor tem uma herança estranha deixada em seu umbigo, por sua avó, mãe de Doca, sua mãe. De repouso por ter passado por procedimentos médicos, Everaldo passa a ver a jóia enterrada no umbigo de Vitor como uma possível saída para o pagamento de suas dividas, mas isso pode custar a vida do rapaz.

Doca é a típica mulher submissa que teme a figura autoritária e preguiçosa do marido. Vitor é um jovem frustrado com o emprego numa loja de pregos, descontente da pobreza a qual esta inserido e que pensa em "rotas de fuga" ilegais a fim de escapar da miséria. Everaldo é o pai de família que reclama da sogra morta, que pede dinheiro emprestado a agiotas e desconta no filho e na mulher os desastres financeiros aos quais se submete. Despedido do emprego por desviar dinheiro, planeja enrolar a quem deve através de um golpe que ele considera esperteza; o já conhecido ditado 'confiar nos ovos que ainda não saíram da galinha' é uma boa expressão para definir tal intento... 

Escrita em 1970, Um rubi no umbigo foi escrita em meio à Ditadura militar, episódio nefasto de nossa História política que fez o próprio escritor se exilar do país, embora ele já tenha se envolvido com o Teatro alguns anos antes. 

Vitor é a figura que simboliza a discórdia. A mãe rejeita a ideia por temer pela segurança do filho. Há um paradoxo compondo a vida do rapaz: vida por dividas pagas, morte pela retirada em si do objeto que lhe foi encravado a fim de salvar sua vida. Nesse movimento cíclico, o rubi brilha, a despeito de seus arredores, infestado de personagens divididos entre desespero e esperança...

O desfecho possui ironia, bem como o proprio desenvolvimento. Um rubi no umbigo entrega ao leitor uma complexidade disposta num enredo fluído. 

Pura caricatura da vida carioca, onde se ambienta a trama, e que expõe como ferida aberta os males sociais do cotidiano de uma classe pobre e miserável.



domingo, setembro 13, 2020

O essencial da década de 1970 - Caio 3D



"Tenho achado viver tão bonito, talvez porque ande como nunca perto da ideia da morte."

 Publicada pela Editora Nova Fronteira, Caio 3D - o essencial da década de 1970 traz uma compilação das obras mais marcantes já escritas na língua portuguesa, de autoria do gaúcho Caio Fernando Abreu, nascido num dia 12 de setembro, em 1948. 


Faz parte de uma trilogia de publicações intituladas Caio 3D, que conta ainda com seus escritos dos anos 1980 e 1990, década final de Caio, que faleceu por complicações decorrentes do vírus da AIDS, em 1996. 


Caio foi um escritor brilhante em contos, devaneios, dono de uma prosa que conversa intimamente com o leitor. Sua genialidade é escancarada em títulos como Inventário do ir-remediável [presente nessa obra em questão], além de algumas poesias, cartas destinadas a amigos e conhecidos com quem trocou correspondência ao longo de sua vida e alguns outros contos dispersos por outras de suas publicações..  


Amigo de Hilda Hilst, tinha uma admiração pela escritora que se revela de maneira poética na forma com que se dirigia a ela. Admirador de Clarice Lispector, de plantas e girassóis, vivenciou os anos de chumbo na política brasileira e fez de sua narrativa subjetiva seu próprio campo de lutas e afirmação de identidade. 

Gay, de sorriso sincero e amigo de Cazuza, frequentou o sítio de Hilst em São Paulo, viajou à Europa, voltou a terra gaúcha, morando em Porto Alegre em determinado ponto de sua vida. Trabalhou como autor, ator, escreveu para antologias, críticas em alguns jornais e como redator em outros. 


"O ovo apunhalado", "Triângulo das águas", "Morangos mofados" e "Mel e girassóis". Títulos nada convencionais, poético-profundos em suas construções. 


Do Inventário, "A quem interessar possa", "Corujas" e "Os cavalos brancos de Napoleão". Da solidão, "Itinerário", "Ponto de fuga" e "O coração de Alzira". Seguindo pelas partes Do amor, Do espanto - somos apresentados a situações do cotidiano, ao dolorido-sofrido, ao "Lixo e purpurina" de amores platônicos, intempestuosos, mordazes e melancólicos. 


O 'verbo transitivo' de Caio é 'direto' em meio a tanta subjetividade. É um baque seco no peito de quem o lê; "Press to open".  Desvele Caio. "De várias cores, retalhos."...



sexta-feira, setembro 11, 2020

A poesia persa de Omar Khaiame - Rubaiatas



Rubaia é uma estrofe de quatro versos. Rubaiatas é um livro de poemas do poeta persa Omar Khaiame, nascido em 1040 [possivelmente em 1062, há controvérsias sobre a precisão de datas], e publicado aqui no brasil pela editora Minerva, diretamente do persa pela tradução de Ragy Basile e Christovan de Camargo. 


A literatura do Oriente Médio, em específico a Persa, não é tão comum em terra brasilis. Dado esse fato, é dito que me foi uma extraordinária surpresa e encantamento me deparar com tais versos. Partindo disso, resolvi compartilhar minhas impressões com vocês, leitores do blog. E espero que vivenciem tal experiência. 


Os poemas que compõem a obra foram cuidadosamente traduzidos para o português, e por se tratar de um idioma sintético, há que se entender o grau de dificuldade desse evento. Ragy Basile trouxe uma interpretação vocabular do texto original, e a partir daí Camargo deu início ao seu intento. 


O Leitmotiv de Rubaiatas percorre o nascimento e a tristeza que se carrega pelo ato, indo à extinção da Humanidade, numa espécie de linha cronológica da vida; a precariedade da existência, o Homem como escravo do Tempo, impossível de fugir ao fadado Destino. 

 

Os versos parecem bailar perante os olhos do leitor, numa cadência constante, sobre as agruras da vida, a perda de fé em Alah e em como o vinho embriaga e adia o inevitável fim. A bebida rubra surge como um bálsamo, que surte efeito por simplesmente remediar o que não pode ser mudado. 


A vida passa efêmera, alucinante, rumando a passos largos para o precipício. Sendo assim, há que se viver o presente como sendo o último de nossas vidas. Carpe noctem, Carpe Diem...


Não há um 'depois', nada se perpetua... A única palpável é a brevidade da vida e sua tangibilidade. Nada mais importa, nada mais existe após o 'fim'. 


Na Antiguidade já era comum o uso de elixires que prometiam o torpor/anestesiamento da realidade dolorida e sofrível. Conceito/costume que se perpetua em diferentes fórmulas, algumas físicas, outras psíquicas. A fuga do real se dá por metáforas e drogas. 


A incógnita do Ser tortura. Há impotência no entendimento da vida.   O etílico surge como evasão à angústia que se abatia em sua mente. E paradoxalmente, é um prêmio aos prazeres do Viver.  


Hedonismo versus Existencialismo. Uma dicotomia entre o trajeto nascer/morrer...


Ó Allah,

se me consideras

escravo desobediente,

rebelado,

onde estão,

dize-me,

Tua benevolência 

e Teu perdão?


Uma só taça de vinho

vale as mil promessas

de tôdas as religiões.