segunda-feira, novembro 09, 2020

Poemas Negros - Jorge de Lima

 Lançado em 1947, Poemas negros, do poeta alagoano Jorge de Lima, é uma obra publicada pela extinta Cosac Naify, contendo ilustrações de Lasar Segall e prefaciada por Gilberto Freyre. Nos são apresentados 39 poemas que transitam pelo engenho de açúcar, pelo navio tumbeiro, pelas paisagens inóspitas do nordeste, bem como referenciando o banzo do escravo africano, e seu lamento dolorido em terras alheias na condição de homem que não tem liberdade.


De cunho modernista, a vivência negra é musicada nos versos do poeta, evocando um lirismo em terreiros de Iemanjá ou Xangô, cunhadas pelo período colonial em que se desvela. Manifestações populares-culturais-religiosas são expressas de maneira marcante e significativa. 


Poemas negros tem o caráter de ode ao cenário do nordeste, ao período da exploração açucareira, à inserção da cultura negra no espaço branco/indígena do Brasil Colônia e serve como um apelo/lamento à dor que os ancestrais desse país sofreram ao serem trazidos para estes lados. 

Nascido em 1893, tornou-se médico e chegou a conviver com nomes grandiosos da literatura do período, como José Lins do Rego e Graciliano Ramos, Faleceu no ano de 1953, após a publicação de um de seus poemas mais importantes da Literatura Brasileira, Invenção de Orfeu



Essa leitura foi realizada em decorrência do Desafio 7 livros em 7 dias, e você pode saber mais a respeito dele clicando no vídeo abaixo. Para conferir a resenha de outros títulos, tratam-se das postagens anteriores a este post.



domingo, novembro 08, 2020

Uma antologia de Butler Yeats

 


William Butler Yeats foi um escritor irlandês, vencedor do Nobel Prize em 1923 pelo conjunto de sua obra. Na obra Uma antologia, publicada pela editora portuguesa Assírio & Alvin, o poeta/escritor evoca a tradição irlandesa através de versos sucintos sem exagero lírico. Neste volume, contamos com boa parte de sua obra poética, numa tradução para o português por José Agustinho Baptista

Tratando-se de uma edição bilíngue, Uma antologia conta ainda com uma cronologia acerca da vida de Yeats, que além de poesia, também escreveu peças para o Teatro. Destaca-se em sua bibliografia as obras The wind among the reeds, escrita em 1899, The wild swans at coole, escrita em 1919 e Words for music perhaps, de 1931, sendo alguns dos textos encontrados neste volume. 

Sua narrativa é desprovida de enfeites prolixos, sendo considerado um dos maiores escritores de língua inglesa dos séculos XIX e XX. De poética forte, portentosa e enxuta, Yeats foi um dos grandes nomes irlandeses na literatura universal. 

Amada, não me ames demasiado tempo;
Eu amei tanto, tanto
E fui passando de moda
Como uma velha canção.

Sweetheart, do not love too long:
I loved long and long,
And grew to be out of fashion
Like an old song.



sábado, novembro 07, 2020

Regresso à casa - José Luís Peixoto


 

A embarcação de Ulisses pode ser uma bicicleta ou um táxi, não importa, pode ser um passeio a pé, de mãos nos bolsos. 

Em tempos de pandemia, Peixoto nos presenteia com uma obra em versos que falam sobre confinamento, solidão e memórias evocadas nesses momentos. A lembrança de aromas, família, percepções e vivências, viagens e souvenires. Evoca Ulisses em sua viagem de retorno à pátria, colecionando emoções ao longo da jornada que tem como única finalidade retornar à segurança do lar. 

A casa que o poeta regressa não é necessariamente um lar, no sentido literal, mas uma alusão à literatura, ao poético de seus escritos, após uma lacuna de alguns anos sem publicar poemas. Nessa epopéia-odisséica, voltar para a Ítaca das ideias, dos versos impregnados de paixão, parece uma tarefa simples aos olhos do leitor, mas trata-se na verdade de um relato pungente e introspectivo, que revolve as entranhas de quem o lê, por certamente encontrar-se em condição semelhante; em especial aos aventureiros de espírito livre, que tiveram o prazer do ir e vir negado por uma condição biológica à nível global, que pôs a humanidade do século XXI em estado de lockdown. 

Percorremos o território de Galveias - terra natal do poeta -, China, Tailândia, adentramos em sua casa através de uma janela materializada em nossa mente através de suas descrições íntimas. Viajamos através do espaço-tempo de palavras que se desvelam a cada página em formato de memória, evocação de cheiros e sabores, de livros empoeirados numa estante e chá perfumado, que embala o sono profundo de um cão idoso. 

Ao fim da leitura, sentimos que o retorno à casa é um retorno a nós mesmos, às viagens que também fizemos, aos passeios que planejamos, ao silêncio de nossos quartos, à mesa partilhada com parentes num feriado ou domingo. Não é apenas a casa de José Luís Peixoto, é a morada de tantos outros Josés, Marias, Felipas e Valentinas, Vi[c]tórias e Luíses, Peixotos ou não. Voltar/regressar à casa é um barco velejando à Ítaca/Galveias. Permanecer numa casa em meio ao caos lá fora é parte da aventura de Ulisses...

Acredito que estou aqui, rodeado por mobiliário, volumes de poesia completa nas estantes, um cão velho a dormir profundamente, chá que arrefeceu há muito tempo e se transformou apenas na calma flutuante do seu perfume.






sexta-feira, novembro 06, 2020

A poesia de Carlos Gomes em êxodo,

 





Vencedor do 3° prêmio Pernambucano de Literatura - Poesia, Carlos Gomes estreia com seu livro de poemas, êxodo, publicado pela Editora CEPE. Carlos Gomes já possui um livro de contos intitulado corto por um atalho em terras estrangeiras. Mestre em Comunicação pela UFPE, teve muitas poesias publicadas esparsamente em revistas e sites literários. êxodo, funciona como um compilado de seu trabalho no gênero.

Dividido em capítulos intitulados Partida, Estrada, Luar, Aurora, rosa-dos-ventos, Maravilhas e Chegadas, o autor brinca com as palavras, fazendo com que cada capítulo dê continuidade ao seguinte, ligando as temáticas que vão desde o amor, a estrada, margem, fome, esperança e sangue, entre outros. 

Como numa estrada, o leitor vai seguindo por entre os versos livres, complexos e ao mesmo tempo tão instigantes, como se no decorrer das páginas houvesse um caminho sendo trilhado. A experiência de ler êxodo, beira o odisseico. 

uma flor das redondezas crescia incorrigível
do sol, da tarde, do dia, do vento
de que ali naquela terra
para a esperança de cores ou natureza
deva ser sempre esse retrato sem poses
a face dos homens, a curva das mulheres
o sangue branco, a pele pedra, os dedos podres
os sons? são todos de animais.


quarta-feira, novembro 04, 2020

Quadrinhos já resenhados no Canal

 Hallo Leute. Através dessa postagem venho indicar a vocês as resenhas de três importantes obras em quadrinhos que já li e recomendei no canal. Para quem ainda não se inscreveu por lá, aproveitem pra se inscrever nesse momento e assim, poder acompanhar as novidades que posto semanalmente. 

Abaixo, segue um pequeno resumo desses quadrinhos, mas se você quiser saber de mais detalhes, é só dar clique no Play... 

Era uma vez na América é uma HQ de Walt Disney, que faz um pitoresco tour pela história americana desde o seu período de colonização. Ambientado nesse período e se estendendo até a Era de ouro de Hollywood, traz as figuras de Mickey, Pateta e alguns outros personagens da Disney como coadjuvantes dessa linha cronológica.


Ainda nesse contexto histórico, partimos em direção à Europa, no período da Segunda Guerra Mundial para conhecer a história de um sobrevivente do Holocausto Judeu. A HQ Maus, escrita pelo sueco Art Spiegelman e de caráter semibiográfico, é uma das obras mais aclamadas do gênero, indispensável àqueles que tem interesse pela temática.



Por último, mas não menos importante, falei recentemente sobre a HQ Do inferno, do quadrinista Alan Moore. Ambientada no período Vitoriano, traz uma versão singular a respeito dos assassinatos cometidos por Jack Estripador, um dos assassinos em série mais famosos da história do século XIX. Caso tenha maior interesse em saber do enredo, basta clicar no vídeo abaixo..



Os links de compra das HQS se encontram nas descrições dos vídeos, mas vou deixar aqui caso achem mais prático clicar... 



segunda-feira, novembro 02, 2020

╬† Poemas macabros - Goethe ╬†


Catalepsia
Chore, menina, aqui, junto ao túmulo do Amor, 
por nada, porventura aqui ele acabou por tombar. 
Mas estará mesmo morto? Não sei bem dizer. 
Um nada, um acaso às vezes lhe traz o despertar.





A dança da morte
Em meio à noite, um guardião se põe a vigiar
os túmulos da sua hospedaria. 
A claridade da Lua tudo faz iluminar
e a igreja parece banhada pela luz do dia. 

Dos jazigos, um após outro, eles se erguem, 
uma mulher e um homem 
com suas longas mortalhas brancas. 

No estica e puxa, todos só querem diversão, 
balançar os ossos em divertida ciranda,
jovem ou pobre, rico ou ancião, 
mas as barras atrapalham quem anda. 
Como a vergonha é sem cabimento, 
requebram-se e, adiante, na direção em que sopra o vento, 
as vestes estão largadas no chão. 

Então a coxa se levanta, a perna se balança, 
de caretas esquisitas há um mundaréu. 
Rilhando, rangendo, a tropa avança 
e os ossinhos fazem um escarcéu. 
Tudo isso é ridículo para o guardião; 
até que, em seu ouvido, sussurra a tentação: 
Vá, pegue um lençol. 

Dito e feito! E ele foge ligeiro 
para trás das portas sagradas. 

A Lua ainda brilha num luzeiro 
e anima as danças desconjuntadas. 
Um ou outro, por fim, resolvem dar uma parada 
e, vestidos, em fila, batem em retirada. 
Logo, vupt, já estão sob o gramado. 

Exceto uma ossada, que tropeça e cambaleia,
e nas criptas fica a tocar e se agarrar. 
Já sabe que foi vítima de quem não respeitou 
a coisa alheia. 
Ela fareja, segue o cheiro da mortalha no ar. 
Sacode a porta, mas nela encontra resistência. 
Linda e abençoada, do guardião a residência 
reluz com as cruzes de metal. 

Sem descanso, seus trapos ela precisa reaver. 
Não há muito tempo para refletir. 
Nos ornamentos góticos a criatura está a se prender, 
de pináculo a pináculo vai seguir. 
Pobre guardião, seu destino está selado! 
O estranho avança, acelerado, 
tal uma aranha de pernas longas. 

Empalidece, leva um susto o guardião, 
devolver a mortalha, ah, como ele queria. 
Justamente nessa hora - não há mais salvação - 
num gancho de metal a ponta prendia. 
E logo a Lua não brilha tanto 
e o sino bate firme a hora, seu acalanto. 
Cá embaixo, o esqueleto se espatifa.