quarta-feira, dezembro 02, 2020

Um parque de diversões da cabeça - a poética de Lawrence Ferlinghetti

 


Lawrence Ferlinghetti é o poeta beat mais longevo: estamos em 2020 e ele ainda é vivo, tendo mais de cem anos de idade. Foi contemporâneo de grandes nomes da Geração Beat como Jack Kerouac, Neil Cassady e Alen Ginsberg, e chegou a publicar deste último a sua obra-prima Uivo, que acabou sendo censurada por muitos anos nos Estados Unidos, por ser 'subversiva'. Ferlinghetti foi processado pela publicação.

Ele foi responsável pela publicação da poesia beat através de seu trabalho editorial e sua livraria, em funcionamento até hoje. Gravou trabalhos com artistas de Jazz, pintou quadros além de escrever  poemas. Dentre seus trabalhos literários mais famosos, destaca-se Um parque de diversões da cabeça, publicado aqui no Brasil pela L&PM Editores

Um parque de diversões... possui uma poética envolvente, delicada e um ritmo melodioso, cadenciado. O título é uma referência à obra de Henry Miller, Into the Night Life. Divide-se em três partes: Um parque de diversões da cabeça, Mensagens orais e Retratos do mundo que se foi. Através de seus versos surreais, percorremos uma 'galeria de arte' referenciando artistas e suas pinturas, e alusões a guerra. Em seguida, o leitor se depara com frêmitos psicodélicos, apropriados para recitar em voz alta. 

O desfecho pode ser considerado o 'topo da montanha'; o momento em que nos pomos em reflexão acerca da existência, particular ou como objeto social. Notam-se nuances críticas sobre a massificação capitalista e industrial, opostas ao que a contracultura da qual Lawrence faz parte - representa. 

E são aquelas mesmas pessoas
apenas mais distantes de casa
e em estradonas de cinquenta pistas
num continente de concreto
demarcado por pencas de cartazes 
que ilustram ilusões imbecis de felicidade
A cena mostra menos carretas para a forca
mas muito mais cidadãos mutilados
em carros pintados
que têm placas estranhonas
e motores
que devoram a América.

They are the same people
only further from home
on freeways fifty lanes wide
on a concrete continent
spaced with bland billboards
illustrating imbecile illusions of hapiness
The scene shows fewer tumbrils
but more maimed citizens
in painted cars
and they have strange license plates
and engines
that devour America.