terça-feira, março 30, 2021

Projeto Primeiros Passos - O que é Cultura / José Luiz dos Santos

De acordo com José dos Santos, o conceito de Cultura está intrinsecamente ligado às vivências  múltiplas e formas de organização social. Daí a importância de levarmos em conta essa riqueza de formas de existência. A cultura revela características de semelhanças e diferenças entre os agrupamentos humanos. 

É necessário compreender a lógica de funcionamento das práticas e costumes que configuram a cultura e suas variantes dentro de um contexto social. À partir da compreensão desses eventos, novas perspectivas surgem a fim de combater a intolerância e preconceitos que advém das ideias limitantes que tratam de classificar e hierarquizar as diferentes culturas existentes, partindo de uma visão - em sua maioria - eurocêntrica, e superioridade civilizatória. 

Ainda, segundo o autor, 

a discussão sobre cultura pode nos ajudar a pensar sobre nossa própria realidade social.

A obra dá exemplos do período em que o nomadismo dá espaço à prática da agricultura e domesticação de animais, onde houveram tendências dominantes, à partir da organização social e conflitos de interesse gerados nesse processo. 

Ela só se tornou viável porque os grupos humanos envolvidos conseguiram reorganizar sua vida social de modo satisfatório, criando novas possibilidades de desenvolvimento, e ao fazer isso conseguiram inclusive alterar as condições dos recursos naturais, como a domesticação de animais e plantas o prova. 

As relações entre culturas também são um fator importante para entender cada história e suas particularidades. Hierarquizando duas ou mais civilizações, o pesquisador pode usar algum critério comparativo, como por exemplo a tecnologia como parâmetro para afirmar que uma cultura é superior a outra. OU pode-se levar em conta que cada cultura possui maneiras diferentes de organização, não havendo necessidade de subjugar uma cultura em relação a outra. A segunda opção se mostra mais acertada.

Durante o século XIX vários estudos foram feitos utilizando-se o critério de hierarquização das culturas existentes, partindo da ideia de evolução humana para justificar tal pensamento.

Todas as sociedades humanas fariam necessariamente parte dessa escala evolutiva, dessa evolução em linha única. Assim, a diversidade de sociedades existentes no século XIX representaria estágios diferentes da evolução humana: sociedades indígenas da Amazônia poderiam ser classificadas no estágio da selvageria, reinos africanos, no estágio da barbárie. Quanto à Europa classificada no estágio da civilização, considerava-se que ela já teria passado por aqueles outros estágios.

Estes estudos revelam uma visão de superioridade europeia em detrimento das culturas do "Novo Mundo" e do continente africano, numa tentativa de validar a exploração a que foram submetidas por parte do capitalismo comercial no período das Grandes Navegações, iniciadas no século XIV, por parte das potências europeias. Além da questão do domínio econômico, embasavam também ideias racistas, que defendiam a inferiorização dos povos não-europeus, a fim de justificar seu domínio.

No que tange ao relativismo, a observação de outras culturas distintas da cultura de quem observa tem por base sua própria perspectiva, a nível comparativo, embora não haja leis naturais ou de verdade absoluta que faça essa distinção hierárquica per si.

O conceito de cultura geralmente é associado à erudição. Em alguns casos, como manifestação artística, mas é notável a assimilação que é feita com meios de comunicação. Outra "definição" de cultura se refere a costumes tradicionais, como festas representativas, idiomas e maneiras de vestir. Entre tantas variações, é curioso pensar que existam tantas delas. 

De origem latina, a palavra cultura significa atividade agrícola, do verbo latino Colere. em Roma, esse sentido foi ampliado. Ao longo do livro temos uma importante inserção nos aspectos culturais que formam o cerne da cultura brasileira, bem como a distinção dos conceitos de cultura popular e cultura erudita. Em suma, José Luiz conclui sua obra mostrando a importância da cultura em seus diferentes aspectos e deixando em evidência o quanto a Cultura é um bem comum para a Humanidade.


Essa leitura faz parte de um Projeto em parceria com o blog Poesia na Alma. ao longo de 2021, iremos apresentar resenhas de títulos da coleção Primeiros Passos. Para saber qual o livro escolhido por Lilian para postagem referente ao nosso primeiro mês de postagem, visite o blog Poesia na Alma. 

domingo, março 21, 2021

Voando dentro do teu próprio corpo / Margaret Atwood #PoesiaRotaMundo





Os pulmões se enchem e se estiram,
Asas de sangue rosa, e teus ossos
Se esvaziam e se tornam ocos.
Ao inspirar, tu subirás como um balão
E o teu coração também é leve e enorme,
Batendo com puro gozo, puro hélio.
Os brancos ventos do sol sopram atravessando-te,
Não há nada acima de ti,
Agora enxergas a terra como uma joia oval,
Radiante de amor e azul da cor do mar.
Somente nos sonhos podes fazer isso.
Ao despertar, teu coração é um punho agitado,
Uma poeira entope o ar que inalas;
O sol é um quente peso de cobre pressionando
Forte na rosada, pensada casca do teu crânio.
Sempre é o instante que antecede o tiro.
Tu tentas e tentas levantar, mas não podes.


Sobre a autora: Margaret Atwood nasceu no Canadá, em 1939, na capital Ottawa. É escritora, romancista, poetisa e crítica literária. Dentre suas obras mais notáveis, destacam-se O conto da Aia, Alias Grace, Cat´s Eye e Oryx and Crake. O poema Voando dentro do teu próprio corpo é parte de um conjunto de oito poemas escritos em parceria com Jake Heggie e Joshua Hopkins, em homenagem às mulheres vítimas de feminicídio, intitulado Songs for Murdered Sisters.  O poema foi traduzido por Lidia Rogatto. Fonte: Pontes Outras. 

O Canadá é um país situado na América do Norte, sendo o segundo maior país do mundo em extensão territorial. Possui dois idiomas oficiais: inglês e francês. Um de seus pontos turísticos mais visitados são as Cataratas do Niágara, limite natural fronteira com os Estados Unidos da América, seu vizinho ao sul. 




A poesia selecionada faz parte do Projeto RotaMundo, em parceria com o blog Poesia na Alma. Neste mês de março teremos poesias dos países que compõem a América do Norte: Canadá, Estados Unidos e México. Para encontrar as demais obras, visite nossas redes [Instagram e Youtube]. Para saber quais os poemas escolhidos por Lilian Farias, visite o blog Poesia na Alma e suas redes sociais. 


segunda-feira, março 15, 2021

Tubarão Blues / Blues de Requin

 O governo de Pernambuco e a Université Clermont Auvergne fizeram uma parceria e dela surgiu a obra publicada em ambos os países numa edição bilíngue intitulada Tubarão Blues  / Blues de requin. Ao longo da obra podemos conhecer os versos de seis poetas brasileiros e franceses. 


edição francesa


A edição brasileira foi publicada baseando-se na edição francesa, lançada em 2017 pela editora La Passe du Vent. A antologia tem como base dois festivais ocorridos em Recife [Festival Internacional de Poesia do Recife] e França [Semaine de la Poésie de Clermont-Ferrand]. Além dos próprios poemas, a edição conta com uma entrevista com os organizadores do livro, e um breve resumo sobre cada um dos poetas contribuintes de Tubarão Blues: Everardo Norões, Jacques Demarcq, Delmo Montenegro, Joel Bastard, Biagio Pecorelli e Olivier Salon

Ainda estátuas/ Encores des statues


Na tv
antigos oficiais alemães
lembram seus homens transformados
em estátuas de gelo
enquanto contemplavam
brancas estepes da Rússia.

No vale de Sidim,
estátuas de sal:
viram, ao longe, os espectros
de Gomorra e Sodoma.

De que matéria
serão feitas as estátuas
dos que avistam
a Faixa de Gaza?

À la telé
d´ancien officiers allemands
se rappellent leurs hommes transformé
en estatues de glace
alors qu'ils contemplaient
les steppes blanches de Russie.

Dans la vallé de Siddim, 
des statues de sel:
elles ont vus, au loin, des espectres
de Gomorre et Sodome.

De quelle matière
seront faites les statues
de creux qui aperçoivent
la bande de Gaza?

Tubarão Blues é poético, ultrapassa fronteiras geográficas e sociais. É uma amostra significativa do que a poesia contemporânea tem de melhor a oferecer. Sem sombra de dúvidas, uma degustação do conjunto da obra dos artistas aqui reunidos. Exuberante, classique. Raffiné.



sexta-feira, março 12, 2021

Poesia Rota Mundo

Em parceria com o blog Poesia na Alma, é com prazer que comunico a vocês um novo Projeto literário, que tem por finalidade dar a volta ao mundo com poesia. Mensalmente iremos disponibilizar um[a] poema/poesia em nossos blogs, contemplando um país, viajando pelas paisagens da poesia através dos continentes.


O Projeto Poesia RotaMundo tem por finalidade levar a lírica de outras culturas até o nosso público leitor. Trata-se de um desafio que propõe imersão em autores/as que - em maior parte - não adentram  nosso espaço literário. 

Para acompanhar nossa viagem ao redor do planeta, não deixe de clicar na #PoesiaRotaMundo 

Quem sabe assim, através desse projeto você possa conhecer o novo e se encantar... Eis o intuito...

Não esqueça de visitar o blog Poesia na Alma para conferir a poesia mensal do projeto. Sempre no dia 21 de cada mês, fazendo referência ao dia internacional da poesia, celebrado no mês de Março.

Até a próxima postagem...


Para conhecer outro projeto com o Poesia na Alma, clique aqui.

quarta-feira, março 03, 2021

Auto do Frade - João Cabral de Melo Neto

O peso do morto é o motor,

porém o carrasco é o operário.



Escrita em 1984, a poesia Auto do frade, de autoria de João Cabral de Melo Neto, é uma trama com fundo histórico a respeito da condenação e posterior fuzilamento de Frei Caneca, importante personagem da História brasileira e de Pernambuco, que participou da Confederação do Equador, no ano de 1825. 

Preso há mais de um ano, o cortejo que leva o réu à forca se dá pelas ruas da cidade de Recife, sendo acompanhado pela população, que assiste ao evento. Foi acusado de querer separar Pernambuco da Coroa Portuguesa e sendo assim, a morte por enforcamento foi a sentença que lhe coube. Porém, em dado momento o carrasco se recusa a executar a sentença e os oficiais precisam encontrar alguém que o faça. 

João Cabral é conhecido por abordar a morte ao longo de sua obra, a partir de contextos sociais. O poema se desenvolve à medida em que o Frei vai se aproximando da praça onde será enforcado. O texto é denominado como Auto, assim como outras obras literárias, que se utilizam desse tipo de construção narrativa para contar uma história. Geralmente eram realizados em ambiente público, e orquestrados por autoridades clericais, punindo prisioneiros revoltosos, envolvidos em conflitos, revoluções e que oferecessem perigo ideológico em que contestassem a autoridade da Igreja. 

Padre existe é para rezar
pela alma, mas não contra a fome.

Certamente uma leitura indispensável para os amantes da História pernambucana, e aos apreciadores da escrita vigorosa de João Cabral.

Para comprar o livro, clique no link abaixo. Dessa forma, você estará apoiando meu trabalho como divulgadora de conteúdo literário.
Viele Danke!