sexta-feira, outubro 22, 2021

╬† Os sete dedos da morte - Bram Stoker ╬†

 Quando nos deparamos com o nome Bram Stoker logo nos vêm à mente sua Magnum Opus: Dracula, que seria imortalizada no cinema, e em várias outras áreas da cultura pop. Mas o que alguns desconhecem é que este não foi o único livro do escritor irlandês. Em 1905 é publicado Os sete dedos da morte [The Jewel of seven Stars], uma ficção que traz a história de um colecionador de artefatos egípcios, que se vê diante de um perigo iminente ao ser atacado dentro de sua casa, aparentemente por alguém [ou algo] desconhecido.


Cena do filme Sague no sarcófago da Múmia (1971)
Cena do filme Sangue no sarcófago da Múmia (1971)


Sua filha Margareth logo pede ajuda a um advogado que havia conhecido recentemente e logo ele se junta ao espaço familiar, junto com outros personagens peculiares, a fim de desvendar o mistério, e proteger a vida do senhor Abel Trelawny. Malcom Ross logo se vê enredado numa trama mística, em um ambiente repleto de relíquias arqueológicas, histórias de expedições perigosas e cheias de mistério e cálculos astrológicos de uma cultura milenar.

A obra possui características típicas do período em que foi escrita, como aspectos imperialistas, não apenas na trama em si mas também na caracterização dos personagens apresentados. Há que se levar em conta o contexto histórico da época, mas é difícil não analisar o anacronismo de tais abordagens, numa analogia com nossa era atual. Os capítulos são curtos e ágeis, imprimindo ao leitor a impressão de ter embarcado de fato numa aventura com direito a investigação em paragens britânicas e egípcias.



Percebe-se a tentativa de Stoker em conduzir uma trama que envolve também elucidações científicas entremeadas com aspectos de caráter místico. A ciência estava dando passos importantes naquele período, e é possível encontrar outras obras da época abordando o tema em suas narrativas. 

Publicada pela Editora Nova Fronteira, a coleção Mistério e Suspense tem o objetivo de levar ao público leitor histórias envolventes do gênero a um custo acessível. Além do cuidado na parte visual, as edições contam com um belo trabalho de tradução de títulos já consagrados da literatura clássica de Horror. É possível encontrar tais edições, bem como de sua primeira sequência de seis títulos, em bancas de jornais e lojas Americanas.


Para adquirir um exemplar do livro Os sete dedos da Morte na Amazon, clique no link abaixo e contribua com o funcionamento do blog. 





 

quinta-feira, outubro 21, 2021

Soneto / Francisco Luis Bernárdez #PoesiaRotaMundo

 


Soneto

Si para recobrar lo recobrado
Debí perder primero lo perdido,
Si para conseguir lo conseguido
Tuve que soportar lo soportado,
Si para estar ahora enamorado
Fue menester haber estado herido,
Tengo por bien sufrido lo sufrido,
Tengo por bien llorado lo llorado.
Porque después de todo he comprobado
Que no se goza bien de lo gozado
Sino después de haberlo padecido.
Porque después de todo he comprendido
Que lo que el árbol tiene de florido
Vive de lo que tiene sepultado.


Soneto


Se para recobrar o recobrado
Deve-se perder primeiro o perdido,
Se para conseguir o conseguido
Tive que suportar o suportado,
Se para estar, agora, enamorado
Foi mister haver sido ferido,
Tenho por bem sofrer o já sofrido,
Tenho por bem chorar o já chorado.
Porque depois de tudo hei comprovado
Que não se goza bem o já gozado
Senão depois de havê-lo padecido.
Porque depois de tudo hei compreendido
Que o que a árvore tem de já florido
Vive do que têm já sepultado.


Francisco Luis Bernardéz nasceu em 1900, na capital argentina. Sua lírica carrega inspiração religiosa e amorosa. Algumas de suas principais obras são Orto [1922], Bazar [1922] e Poemas de carne y hueso [1943]. Faleceu em 1979.



A Argentina é um pais pertencente ao sul do continente americano. Sua capital é Buenos Aires, bastante visitada por turistas do mundo inteiro, que apreciam os pontos turísticos e a efervescência cultural do país. Alguns dos locais mais famosos da Argentina são a Casa Rosada, sede do governo argentino, Ushuaia, cidade da província Tierra del Fuego, as estações de esquí em Bariloche, Teatro Colón e o cemitério de Recoleta. Evita Perón, atriz e líder política, está enterrada nesse cemitério.

Cementério de la Recoleta

Patagônia argentina


A poesia selecionada faz parte do Projeto RotaMundo, em parceria com o blog Poesia na Alma. Neste mês de julho teremos poesias dos países que compõem a América do Sul: Argentina, Chile e Brasil. Para encontrar as demais obras, visite nossas redes [Instagram e Youtube]. Para saber quais os poemas escolhidos por Lilian Farias, visite o blog Poesia na Alma e suas redes sociais.

sexta-feira, outubro 15, 2021

╬† Especial Vampiras - Catarse ╬†

 


Hoje eu trago uma novidade do Sebo Clepsidra, em parceria com a Editora Wish.. A campanha de financiamento coletivo das edições Carmilla, de Sheridan le Fanu, e A morta apaixonada, de Teophile Gautier está indo de vento em popa e já ultrapassou a meta principal. Sendo assim, metas estendidas estão sendo liberadas, tornando o projeto ainda mais incrível por trazer melhorias em sua execução. Serão materiais extras, um design gráfico ainda mais caprichado e conteúdo para os apoiadores, com várias opões de apoio. 

Nada como trazer essa dica de Financiamento para vocês no mês do Halloween. Afinal, tratam-se de duas obras clássicas da literatura, que influenciaram posteriormente várias obras ambientadas no universo vampírico. 

Carmilla foi publicada em 1871/1872 e traz um grande apelo homoerótico em sua composição. A morta apaixonada data de 1836, trazendo a história de uma vampira que se 'apaixona' por um padre no dia em que ele se ordena. 

Para saber mais informações a respeito desse projeto, visite a página do Catarse. Ambos os livros serão ilustrados por Caroline Murta. A campanha se encerra em 16/11/2021. 

Espero que tenham gostado da indicação. Já conheciam estas obras? Se ainda não tem no acervo, é uma boa oportunidade de ter duas belas edições na coleção.



sexta-feira, outubro 08, 2021

╬† Curtas animados de Terror para assistir nos mês das bruxas ╬†

 Aproveitando o mês das  Bruxas, resolvi indicar alguns curta-metragens de animação que tenham relação com o tema. As dicas deste post podem ser aproveitadas por crianças e também por adultos, principalmente os saudosos dos antigos desenhos animados que povoaram nossa infância. Segue a lista:


1 - The Haunted House 


Curta dirigido por Walt Disney e lançado em 1929. Mickey Mouse é um dos personagens mais famosos criados por Disney e nessa história ele se vê preso em uma casa mal-assombrada e forçado a tocar música. Elementos como morcegos, aranhas e fantasmas, além de uma figura encapuzada fazem parte de um cenário aterrador e desolado. Os esqueletos dançam ao som da melodia tocada ao piano pelo assustado Mickey, que não vê a hora de sair daquele lugar. 



2 - The Skeleton Dance 




Também lançado em 1929, The Skeleton Dance é um curta-metragem da série Silly Symphonies, em mais uma produção de Walt Disney. Temos quatro esqueletos dançando e criando música tendo como cenário um cemitério. A obra acaba referenciando as danças macabras do período medieval. 



3 - Vincent


Vincent é o primeiro curta-metragem em stop-motion criado pelo Cineasta Tim Burton. Vincent Malloy é um garotinho de 7 anos, e o sonho dele é ser alguém como Vincent Price. Price foi um ator de filmes clássicos de horror, bastante famoso nas décadas de 1940 e 1950. Interessante frisar que em determinado ponto do curta, Edgar Allan Poe é referenciado. 


4 - Frankenweenie 




Claramente uma ode à obra de Mary Shelley, Frankenweenie é um curta-metragem produzido por Tim Burton na década de 1980. Victor é um garoto e ele tem um cachorrinho chamado Sparky. Infelizmente uma fatalidade acontece na rua, durante uma tarde de brincadeiras entre o menino e seu cão. Tempos depois o menino vê uma aula de ciências, onde o professor revive um sapo, e logo Victor tem a ideia de fazer o experimento a fim de reviver o seu querido Sparky...


5 - Emelia: The Five-year old Goth girl 



Emelia é uma garotinha gótica de apenas 5 anos de idade. Como toda gótica, ela também sente dificuldades de expressar seus sentimentos e socializar como as crianças de sua idade. 



Então é isso, espero que tenham gostado dessa seleção. Resolvi pegar obras de diversos períodos do Cinema, a fim de contemplar os mais saudosos e os que apreciam trabalhos mais recentes. Alguns mais clássicos e conhecidos, outros não tão fáceis de encontrar pela internet, mas ainda assim, valiosos... 

Até o próximo post...





















sexta-feira, outubro 01, 2021

╬† 12 Meses de Poe - The Raven ╬†

 



Em certo dia, á hora, á hora
Da meia-noite que apavora,
Eu, cahindo de somno e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta,
Ia pensando, quando ouvi á porta
Do meu quarto um soar devagarinho,
E disse estas palavras taes:
«É alguem que me bate á porta de mansinho;
«Ha de ser isso e nada mais.»

Ah! bem me lembro! bem me lembro!
Era no glacial Dezembro;
Cada braza do lar sobre o chão reflectia
A sua ultima agonia.


Eu, ancioso pelo sol, buscava
Saccar d’aquelles livros que estudava
Repouso (em vão!) á dôr esmagadora
D’estas saudades immortaes
Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora,
E que ninguem chamará mais.

E o rumor triste, vago, brando
Das cortinas ia acordando
Dentro em meu coração um rumor não sabido
Nunca por elle padecido.
Emfim, por applacal-o aqui no peito,
Levantei-me de prompto, e: «Com effeito,
(Disse) é visita amiga e retardada
«Que bate a estas horas taes.
«É visita que pede á minha porta entrada:
«Ha de ser isso e nada mais.»

Minh’alma então sentiu-se forte;
Não mais vacillo e d’esta sorte
Fallo: «Imploro de vós, — ou senhor ou senhora,
«Me desculpeis tanta demora.
«Mas como eu, precisado de descanço,
«Já cochilava, e tão de manso e manso
«Batestes, não fui logo, prestemente,
«Certificar-me que ahi estaes.»
Disse; a porta escancaro, acho a noite somente,
Sómente a noite, e nada mais.

Com longo olhar escruto a sombra,
Que me amedronta, que me assombra,


E sonho o que nenhum mortal ha já sonhado,
Mas o silencio amplo e calado,
Calado fica; a quietação quieta;
Só tu, palavra unica e dilecta,
Lenora, tu, como um suspiro escasso,
Da minha triste boca saes;
E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço;
Foi isso apenas, nada mais.

Entro co’ a alma incendiada.
Logo depois outra pancada
Sôa um pouco mais forte; eu, voltando-me a ella:
«Seguramente, ha na janella
«Alguma cousa que sussura. Abramo
«Eia, fôra o temor, eia, vejamos
«A explicação do caso mysterioso
«D’essas duas pancadas taes.
«Devolvamos a paz ao coração medroso,
«Obra do vento e nada mais.»

Abro a janella, e de repente,
Vejo tumultuosamente
Um nobre corvo entrar, digno de antigos dias.
Não despendeu em cortezias
Um minuto, um instante. Tinha o aspecto
De um lord ou de uma lady. E prompto e recto
Movendo no ar as suas negras alas,
Acima vôa dos portaes,
Trepa, no alto da porta, em um busto de Pallas;
Trepado fica, e nada mais.


Diante da ave feia e escura,
Naquella rigida postura,
Com o gesto severo, — o triste pensamento
Sorriu-me alli por um momento,
E eu disse: «Ó tu que das nocturnas plagas
«Vens, embora a cabeça nua tragas,
«Sem topete, não és ave medrosa,
«Dize as teus nomes senhoriaes;
«Como te chamas tu na grande noite umbrosa?»
E o corvo disse; «Nunca mais.»

Vendo que o passaro entendia
A pergunta que lhe eu fazia,
Fico attonito, embora a resposta que dera
Difficilmente lh’a entendera.
Na verdade, jamais homem ha visto
Cousa na terra semelhante a isto:
Uma ave negra, friamente posta
N’um busto, acima dos portaes,
Ouvir uma pergunta e dizer em resposta
Que este é seu nome: «Nunca mais.»

No emtanto, o corvo solitario
Não teve outro vocabulario,
Como se essa palavra escassa que alli disse
Toda a sua alma resumisse.
Nenhuma outra proferiu, nenhuma,
Não chegou a mexer uma só pluma,
Até que eu murmurei: «Perdi outr’ora
Tantos amigos tão leaes!


«Perdeirei tambem este em regressando a aurora.»
E o corvo disse: «Nunca mais!»

Estremeço. A resposta ouvida
É tão exacta! é tão cabida!
«Certamente, digo eu, essa é toda a sciencia
«Que elle trouxe da convivéncia
«De algum mestre infeliz e acabrunhado
«Que o implacavel destino ha castigado
«Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga,
«Que dos seus cantos usuaes
«Só lhe ficou, na amarga e ultima cantiga,
«Esse estribilho: «Nunca mais.»

Segunda vez, nesse momento,
Sorriu-me o triste pensamento;
Vou sentar-me defronte ao corvo magro e rudo;
E mergulhando no velludo
Da poltrona que eu mesmo alli trouxera
Achar procuro a lugubre chimera,
A alma, o sentido, o pavido segredo
Daquellas syllabas fataes,
Entender o que quiz dizer a ave do medo
Grasnando a phrase: — Nunca mais.

Assim posto, devaneando,
Meditando, conjecturando,
Não lhe fallava mais; mas, se lhe não fallava,
Sentia o olhar que me abrazava.
Conjecturando fui, tranquillo, a gosto,
Com a cabeça no macio encosto


Onde os raios da lampada cahiam
Onde as tranças angelicaes
De outra cabeça outr’ora alli se desparziam,
E agora não se esparzem mais.

Suppuz então que o ar, mais denso,
Todo se enchia de um incenso,
Obra de seraphins que, pelo chão roçando
Do quarto, estavam meneando
Um ligeiro thuribulo invisivel;
E eu exclamei então: «Um Deus sensivel
«Manda repouso á dor que te devora
«D’estas saudades immortaes.
«Eia, esquece, eia, olvida essa extincta Lenora.»
E o corvo disse: «Nunca mais.»

«Propheta, ou o que quer que sejas!
«Ave ou demonio que negrejas!
«Propheta sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno
«Onde reside o mal eterno,
«Ou simplesmente naufrago escapado
«Venhas do temporal que te ha lançado
«N’esta casa onde o Horror, o Horror profundo
«Tem os seus lares triumphaes,
«Dize-me: existe acaso um balsamo no mundo?»
E o corvo disse: «Nunca mais.»

«Propheta, ou o que quer que sejas!
«Ave ou demonio que negrejas!
«Propheta sempre, escuta, attende, escuta, attende!
«Por esse céu que alem se estende,


«Pelo Deus que ambos adoramos, falla,
«Dize a esta alma se é dado inda escutal-a
«No Eden celeste a virgem que ella chora
«Nestes retiros sepulchraes,
«Essa que ora nos ceus anjos chamam Lenora!»
E o corvo disse: «Nunca mais.»

«Ave ou demonio que negrejas!
«Propheta, ou o que quer que sejas!
«Cessa, ai, cessa! clamei, levantando-me, cessa!
«Regressa ao temporal, regressa
«Á tua noite, deixa-me commigo.
«Vae-te, não fique no meu casto abrigo
«Pluma que lembre essa mentira tua.
«Tira-me ao peito essas fataes
«Garras que abrindo vão a minha dor já crua.»
E o corvo disse: «Nunca mais.»

E o corvo ahi fica; eil-o trepado
No branco marmore lavrado
Da antiga Pallas; eil-o immutavel, ferrenho.
Parece, ao ver-lhe o duro cenho,
Um demonio sonhando. A luz cahida
Do lampeão sobre a ave aborrecida
No chão espraia a triste sombra; e fóra
D’aquellas linhas funeraes
Que fluctuam no chão, a minha alma que chora
Não sai mais, nunca, nunca mais!