segunda-feira, dezembro 27, 2021

a poesia do Malawi na obra eu destilo melanina e mel, de Upile Chisala

Você é a resposta a uma prece que eu era

muito orgulhosa para fazer.

 Publicado pela Ed. Leya, eu destilo melanina e mel é um livro de poesias da escritora malawuiana Upile Chisala, formada pela Universidade de Oxford. Além de poemas, a obra traz também alguns textos de prosa poética, que desvelam as cores e ancestralidade da escritora por meio de versos singelos e encantadores. 



Agora que conheço 

a magia suave da sua risada

e como o seu corpo se move como arte,

por que eu voltaria atrás?

 O que havia antes de você?

É interessante conhecer a cultura do Malawi por meio dos versos de Upile. Ela põe em pata temas relacionados ao amor, a fronteiras longínquas, ao orgulho e aceitação que a mulher deve ter de suas origens, Exalta a força feminina de maneira sutil, soando ao mesmo tempo vigorosa.


Upile Chisala


O livro se divide em algumas partes, sendo uma leitura breve mas que sucinta uma gama de sentimentos no leitor. Esse misto de emoções deixa a leitura ainda mais envolvente. Decerto um livro para ser apreciado em vários momentos, sob meia-luz e calmaria, despertando memórias e conjecturas...


Conte-me todas as histórias que começam

[no seu sorriso

e terminam nos seus olhos.


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Viele Danke! 

terça-feira, dezembro 21, 2021

Promessa do rio Guayas / Jorge Carrera Andrade #PoesiaRotaMundo






Interminable, estás al mar saliendo,
Río Guayas, cargado de horizontes
y de naves sin prisa descendiendo
tus ¡ibas de cristal, líquidos montes.

Hasta el tiempo en tu curso se disuelve
y corre con tus aguas confundido.
El día tropical que nunca vuelve
sobre tus lomos rueda hacia el olvido.

Los años que se extinguen gradualmente,
las migraciones lentas, las edades
has mirado pasar indiferente,
¡oh pastor de riberas y ciudades!

La nave del comercio o de la guerra,
la de la expedición o la aventura
has llevado mil veces hasta tierra
o has hundido en tu móvil sepultura.

Sólo turba el sosiego de tu vida
algún grito de ti petrificado
o tus sueños: la planta sumergida
y el pez ligero y a la vez pesado.

Mirando sin cesar tus propiedades
cuentas bueyes, haciendas, grutas verdes.
Paseante de tus hondas soledades,
entre los juncos húmedos te pierdes.

¡Oh río agricultor que el lodo amasas
para hacerlo fecundo en tu ribera
que los árboles pueblan y las casas
montadas en sus zancos de madera!

¡Oh corazón fluvial, que tu latido
das a todas las cosas igualmente:
a la caña de azúcar y al dormido
lagarto, de otra edad sobreviviente!

En tu orilla, de noche, deja huellas
la sombra del difunto bucanero,
y una canoa azul pescando estrellas
boga de contrabando en el estero.

¡Memoria, oh río, o soledad fluyente!
Pasas, mas permaneces siempre, urgido,
igual y sin embargo diferente
y corres de ti mismo perseguido.

A tus perros de espuma y agua arrojo
mi falsa y forastera vestidura
y a tu promesa líquida me acojo,
y creo en tu palabra de frescura.

¡Oh, río, capitán de grandes ríos!
Es igual tu fluír ancho, incesante,
al de mi sangre llena de navíos
que vienen y se van a cada instante.


Infindável, pro mar estás correndo,
Rio Guayas, pejado de horizontes
e de ronceiras naus que vão descendo
tuas gibas de cristal, líquidos montes.

Até o tempo em teu curso se dissolve
e corre com tuas águas confundido.
O dia tropical, que nunca volve,
sobre o teu dorso rola para o olvido.

Os anos que se extinguem gradualmente,
as migrações morosas, as idades,
tudo viste passar indiferente,
ó pastor de ribeiras e cidades!

O navio mercante, a nau de guerra,
a nau de expedição, a de aventura,
conduziste mil vezes para terra
ou fundiste em tua móvel sepultura.

Só perturba o sossego de tua vida
algum grito de ti, petrificado,
ou teus sonhos: a planta submergida,
e o peixe, a um tempo lépido e pesado.

Olhando sem cessar tuas propriedades,
contas reses, fazendas, grutas verdes.
Passeante de tuas fundas soledades,
em meio aos juncos úmidos te perdes.

Ó rio agricultor que o lobo amassas
por fazê-lo fecundo em tua ribeira
povoada pelas árvores e as casas
trepadas em seus socos de madeira!

Ó coração fluvial, que o teu batido
dás a todas as coisas igualmente:
dá-lo à cana-de-açúcar e ao dormido
lagarto, de outra idade ultravivente!

Em tua margem, de noite, deixa rastros
a sombra do defunto bucaneiro,
e uma canoa azul, pescando astros,
voga de contrabando pelo esteiro.

Memória, ó rio ou solidão fluente!
Passas, mas permaneces sempre, urgido, 
igual e, sem embargo, diferente,
e corres, de ti mesmo perseguido.

A teus cães de água e espuma lanço, amigo,
minha falsa e forânea vestidura,
e à tua promessa líquida me abrigo,
e creio em tua palavra de frescura.

Ó rio, capitão de grandes rios!
Igual é o teu fluir largo, incessante,
ao do meu sangue cheio de navios
que vêm e que se vão a cada instante.
Jorge Carrera Andrade foi um poeta, diplomata e escritor equatoriano. Nascido em Quito, é considerado um dos poetas vanguardistas de seu país. Utilizou-se do folclore equatoriano para compor haikais, mesclando com elementos da fauna e flora em seus microversos. Além de poesia, também escreveu ensaios, uma autobiografia e um diário de viagens. 
  

O Equador é um país andino da América do Sul. Famoso pelo território das Ilhas Galápagos, é cortado ao meio pela linha do Equador, que divide o planeta em dois hemisférios. A lingua oficial do Equador é o espanhol, juntamente com o Quíchua, Shuar e mais outros onze idiomas. É um dos paises com maior biodiversidade do planeta. 


A composição étnica do Equador é de uma maioria mestiça entre povos espanhóis que colonizaram a região e os nativos que já viviam antes da chegada do europeu ao continente. Com relação a religiosidade, o país é de maioria cristã, com predominância do catolicismo, havendo também um forte sincretismo religioso com as crenças indígenas. Dentre as cidades mais populosas, destacamos a capital Quito, Guayaquil e Cuenca. 







A poesia selecionada faz parte do Projeto RotaMundo, em parceria com o blog Poesia na Alma. Neste mês de julho teremos poesias dos países que compõem a América do Sul: Equador, Venezuela e Colômbia. Para encontrar as demais obras, visite nossas redes [Instagram e Youtube]. Para saber quais os poemas escolhidos por Lilian Farias, visite o blog Poesia na Alma e suas redes sociais.

sexta-feira, dezembro 17, 2021

O misterioso Sr. Quinn - Agatha Christie




Certamente O misterioso Sr. Quinn foi uma das leituras mais peculiares que já fiz da Rainha do Crime. Diferente em vários aspectos do que se conhece pela obra de Agatha Christie, a obra traz uma série de contos protagonizados por um personagem [em alguns momentos como coadjuvante] com ares misteriosos, e que vai se desvelando um ser atípico dos mortais à medida em que o leitor avança na sequencia de contos. Qual a verdadeira identidade do Sr. Quinn? Por que ele aparece em momentos propícios a fim de auxiliar o sr. Satterhwaite em suas aventuras tentando auxiliar pessoas desconhecidas que encontra em sua vida?



Ao contrário de outros títulos de Agatha, aqui não temos a presença de Hercule Poirot ou Miss Marple, já tão recorrentes nas histórias policiais da autora. O sr. Satterhwaite possui um espírito solidário, que - embora aristocrático - se envolve em problemas alheios tentando solucionar e dar desfechos à tais eventos. Em vários pontos, quando parece encurralado em conjecturas ou aparentes 'becos sem saída', surge a figura de Sr. Quinn, que parece 'direcionar' o personagem ao caminho correto para desvelar amores desencontrados, resolver pendências relativas a crimes, vinganças e outras situações mal  resolvidas que se formularam no passado dos personagens. 

A cada aparição, seja num metrô, num jantar de amigos ou conhecidos, ou até mesmo em veredas que culminam em penhascos, a figura de Sr. Quinn parece mais etérea. O modo de trajar-se, como as pessoas costumam visualizá-lo, e vários outros pontos acabam por montar uma espécie de quebra-cabeças e é interessante para o leitor se atentar às minúcias que o compõem.

Em suma, O misterioso Sr. Quinn é uma leitura que foge do lugar-comum e entrega um desfecho encantador; e por que não dizer, fantástico? 


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Vielen Dank Auf wiedersehen!


sexta-feira, dezembro 10, 2021

A extravagância do Morto - Agatha Christie

 Publicado em 1965, A extravagância do morto é um dos mais aclamados romances policiais da escritora inglesa Agatha Christie. Com um enredo deveras inteligente, temos o detetive belga  Hercule Poirot envolvo numa espécie de jogo, a convite de sua amiga escritora Ariadne Oliver, que elaborou um roteiro de caça ao assassino, e que será realizado numa quermesse para grã-finos britânicos.



Poirot aceita o convite meio a contragosto, mas quando o assassinato fictício toma ares reais, Hercule precisa usar de seus artifícios investigativos para desvendar quem matou a pobre garota que foi encontrada numa casa de barcos. A princípio, a presença do detetive se explicaria pelo fato dele ser o convidado de honra que iria entregar o troféu a quem descobrisse as pistas que levariam a solução do 'crime'. Além dele e de Ariadne, contamos com personagens que trazem características que os colocariam numa posição de suspeitos, cada qual à sua maneira. 


A casa de campo onde se ambienta a trama tem em seus arredores construções 'modernas' para os padrões daquela classe social participante da festa. Nota-se em diversas passagens a aversão destes com os frequentadores desses espaços modernizados, que simbolizam bem a nova geração que se segue àquela dos anfitriões e convidados. 


Christie faz uma crítica contundente à maneira como a aristocracia inglesa enxerga os estrangeiros, pessoas de cor e de condição econômica inferior à dos ricos, retratando bem uma geração imperialista, não satisfeita com o 'cessar exploratório de colônias africanas' e afins. Há também diversas passagens misóginas, espelhando bem o pensamento daquele período com relação à conduta feminina, nos modos de trajar, andar e se expressar. Agatha expõe os manjados estereótipos usados para [pre]conceituar as mulheres na sociedade inglesa da metade do século XX, recriminando de maneira mordaz tais comportamentos sociais.


Em suma, A extravagância do morto é uma obra que possui um enredo intrigante, com um desfecho que contempla o leitor com satisfação e ainda carrega reflexões pertinentes ao período em que foi escrita. Uma leitura deveras interessante e de narrativa ágil.



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Vielen dank Auf Wiedersehen!

sexta-feira, dezembro 03, 2021

Sem sangue - Alessando Baricco






Minha estreia com Alessandro Baricco se deu de maneira casual, e acabou me rendendo uma leitura intimista e ao mesmo tempo pungente. Sem Sangue é uma narrativa que insere o leitor em dois blocos temporais. No primeiro deles presenciamos um duplo assassinato, que acaba por deixar vestígios: uma testemunha ocular de toda aquela violência movida a causa político-revolucionárias. 
A perspectiva da cena se dá pelos olhos inocentes de uma criatura enclausurada, exposta, indefesa. 

A história nos transporta para décadas após esse acontecimento, e conhecemos um vendedor de bilhetes de loteria, encontrando - casualmente - com uma senhora que muito diz de seu passado. Os fantasmas de ambos são expostos, como chagas abertas a sangrar ininterruptamente. Os diálogos que se sucedem com os personagens são intimistas, porém lancinantes. As lacunas silenciosas que simbolizam as reflexões e viagens à memória de ambos soam mais altas que as palavras verbalizadas. Há uma linguagem corporal que permeia os objetos, o ambiente que os envolve e a sensação é de sufoco a cada revelação, dada de maneira subjetiva, mas que prenuncia as conjecturas do leitor.


Sua trama se desenrola inicialmente - provavelmente - em meados do século XX, deixando em aberto sua ambientação: Na Itália - nação do escritor - nos conflitos envolvendo fascistas e partigiani, ou na Espanha, na guerra entre republicanos ou franquistas. Os personagens podem pertencer à América Latina, em suas guerrilhas em selvas - verdes ou urbanas - quem pode definir? O ritmo alucinante mesclado a narrativa subjetiva deixam esse pormenor em segundo plano. 

O passado, a dor e os vestígios sangrentos de um conflito - ou vários deles - estão sinalizados nas frases breves, aflitas e no desencadear de seu desfecho. Uma obra que certamente vai deixar quem a ler em estado de torpor suspenso...


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