[Crônica] Noite de Natal - Eduardo Galeano

Fernando Silva dirige o hospital de crianças, em Manágua. Na véspera do Natal, ficou trabalhando até muito tarde. Os foguetes esposavam e os fogos de artifício começavam a iluminar o céu quando Fernando decidiu ir embora. Em casa, esperavam por ele para festejar.

Fez um último percorrido pelas salas, vendo se tudo ficava em ordem, e estava nessa quando sentiu que passos o seguiam. Passos de algodão: virou e descobriu que um dos doentinhos andava atrás dele. Na penumbra, reconheceu-o. Era um menino que estava sozinho. Fernando reconheceu sua cara marcada pela morte e aqueles olhos que pediam desculpas ou talvez pedissem licença.

Fernando aproximou-se e o menino roçou-o com a mão: — Diga para… — sussurrou o menino —.Diga para alguém que eu estou aqui.

O livro dos abraços ~

Homens que mudaram a História - Getúlio Vargas

Em mais um volume das publicações da CL Editora, Homens que mudaram a História, dessa vez somos apresentados à trajetória de vida de uma das figuras políticas mais populares da História brasileira. Getúlio Vargas nasceu no RS e desde cedo teve contato contato com a política local, devido à influência de sua família nesse contexto. 

Ingressou muito cedo na Faculdade de Direito, foi marido, pai, deputado federal, e chegou até a presidência. A obra se trata de um breve resumo sobre os fatos mais importantes de sua carreira política e seus primeiros anos, e essa abordagem em sua vida pessoal facilita a compreensão do homem que foi Getúlio.

Conflitos, revoltas, decretos, entre outros elementos foram comuns durante sua liderança política. Em seu governo foi criado o primeiro código eleitoral do Brasil, dando oportunidade para analfabetos e mulheres votarem. Vargas é considerado um populista, devido a uma série de medidas tomadas em seu governo que favoreciam a classe trabalhadora, garantindo o apoio do povo. 

Flertou com o fascismo, foi pressionado por seus opositores, entregou Olga Benário [grávida] aos nazistas [e ela foi morta num campo de concentração]. Implantou uma liderança de caráter ditatorial, tendo aplicado um golpe de Estado, instituindo assim o período histórico conhecido como Estado Novo. 

Seu governo certamente poderia ser definido como polêmico. E sua vida terminou de maneira dramática: suicídio com arma de fogo, depois de escrever uma carta testamento, criticando aqueles que se opunham às suas ideias. Por causa da perda do apoio de importantes setores do exército e da classe trabalhadora, Vargas já previa o caos que viria em seguida e escolheu dar um tiro no coração, no dia 24 de agosto de 1954, "saindo da vida para entrar na História."

Evidentemente entrou para os anais da História, não apenas pelo suicídio em si, mas por toda a carreira política construída ao longo de anos, tendo sido uma das personalidades históricas mais importantes do século XX na Política brasileira.

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Dia do livro nacional, leitura concluída sobre uma figura popular da nossa História... #getúliovargas #homensquemudaramahistória #personalidadeshistóricas #figuraspolíticas #políticosbrasileiros #estadonovo #períodorepublicano #populismo

Uma publicação compartilhada por Valéria /naliteraturaselvagem (@valzita1985) em 29 de Out, 2018 às 5:36 PDT

Piedra de Sol - Octavio Paz

Publicada pela Editora Guanabara, Pedra de Sol é uma edição bilíngue do oeta mexicano Octavio Paz. Trata-se de um poema de amor mas que possui traços marcantes acerca da pátria de Octavio. Ele é um dos poetas e ensaístas mais aclamados. 

Escrito em 1957, o poema Pedra de Sol faz referências ao período em que a intelectualidade mexicana se acentuava no entre-guerras. É uma maneira de escrever sobre a América e seus dilemas, particularidades e povo em si. Há uma cadência densa, rítmica e apurada em cada um de seus versos. Traduzido por Horácio Costa, o texto possui uma dinâmica cíclica, com repetição de versos em seu desfecho e que sugere continuidade, e faz alusão a estela-calendário, monumento importante do país.

O número de versos em Pedra de Sol corresponde ao número de dias que estruturam os anos de civilização meso-americana. Essa alusão à cultura e religiosidade dessas civilizações só tornam o poema ainda mais precioso, devido à essa estruturação e crueza de suas estrofes.

É um simbolismo que faz de Octavio Paz um grande mestre na arte de construir poesia.

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Pra relaxar a mente, nada como um Belo livro de poesia... #pedradesol #piedradesol #octaviopaz #horáciocosta #poesialatina #poesiamexicana #ediçãobilíngue #editoraguanabara #autoreslatinos #leiturafinalizada #lidos2018 #libri #iloveread #naliteraturaselvagem #kaoq29

Uma publicação compartilhada por Valéria /naliteraturaselvagem (@valzita1985) em 5 de Nov, 2018 às 7:23 PST

O ninho da serpente - Pedro Juan Gutierrez

Cuba passa por um grave bloqueio econômico americano. E é nesse contexto que conhecemos Pedro Juan, um rapaz que vê is pais se sacrificarem a fim de sustentar a família. Mas na idade de 15 anos, seus anseios parecem superar tudo isso...

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Me entregando a mais uma obra do meu crush cubano... Se esse homem fizer um livro sobre a origem do papel higiênico, eu vou querer ler... #pedrojuangutiérrez #oninhodaserpente #companhiadasletras #readingnow #leituraatual #literaturacubana #autorescubanos #ficçãolatina #Cuba #literaturalatina #autoreslatinos #leyendo #libri #yoamolibros #ink #tattoodonquixote #ultimasegout1708

Uma publicação compartilhada por Valéria /naliteraturaselvagem (@valzita1985) em 1 de Out, 2018 às 7:30 PDT

Dentro de si existem fantasias sexuais, surtos violentos, uma crescente paixão pela literatura. O cenário é Matanzas, cidade litorânea de Cuba, repleta de miséria, violência e opressão. Pedro Juan vive de bicos, contrabandos, até que é convocado para o serviço militar. Vive bizarras aventuras sexuais com mulheres marginalizadas. Nesse turbulento processo de amadurecimento que Pedro constrói sua perspectiva de mundo, trabalhando inclusive em corte de cana, vendendo sorvetes e se desviando de suas "obrigações" no quartel.

O Ninho da serpente [Companhia das Letras], é o que se pode chamar de romance de formação, e uma espécie de autobiografia do escritor cubano Pedro Juan Gutierrez, apesar das advertências dele sobre a ficcionalidade da obra, mas é praticamente impossível ao leitor desconectar a figura do protagonista com a vida de Gutierrez. 

Numa linguagem crua, - já familiar aos apaixonados por sua narrativa - Gutierrez não se desprende do detalhismo visceral, realista e objetivo em sua prosa. Ame-o ou Deixe-o. Pode não agradar a muitos, mas certamente impacta a todos que se aventuram a conhecer seus protagonistas, cenários e cotidianos desveladamente decadentes e [ir]reais...

[HQ] Cebolinha - Recuperação

A cada leitura que faço da Coleção Graphic MSP eu me encontro cada vez mais encantada com a sutileza que encontro nos roteiros, e na beleza de traços que compõem cada um dos títulos.

Cebolinha: Recuperação surgiu a partir das mãos de Gustavo Borges e nos mostra o lado do Cebolinha que vive de elaborar planos infalíveis e registrá-los em seu caderno. Mas em determinado ponto da história, esses planos precisam se tornar reais a fim de ajudar a sua família, que passa por um momento difícil. Em contrapartida, devido a uma confusão na escola e suas notas baixas, ele precisa fazer uma prova de recuperação, só que haverão alguns empecilhos a cruzar pelo caminho.

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Mais um quadrinho lido dessa coleção, e me vejo cada vez mais encantada. #cebolinharecuperação #gustavoborges #graphicmsp #mauríciodesousa #paninicomics #quadrinhosbrasileiros #cebolinha #turmadamônica #hq

Uma publicação compartilhada por Valéria /naliteraturaselvagem (@valzita1985) em 21 de Out, 2018 às 2:36 PDT

Cebolinha Recuperação tem encanto, doçura, diversão, drama e sabedoria. Nos traz lições que saem de algum plano infalível, bolado por uma criança arteira, e que podemos aplicar sabiamente em nosso cotidiano real...

A HQ é uma ótima pedida para crianças e para os adultos que cresceram lendo a Turma da Mônica. Abençoado pelo próprio Maurício de Sousa, o projeto conta com outros títulos trazendo os personagens principais e também os secundários que fazem parte da turminha da Rua do Limoeiro. Alguns você pode encontrar resenhados aqui no blog...

A besta Humana [Émile Zola]

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Leitura da vez... Meu primeiro contato com o autor foi uns anos antes de ingressar na faculdade, em 2009. Germinal me impressionou bastante, e espero que A besta Humana me cause a mesma sensação... #abestahumana #émilezola #literaturafrancesa #leituraconjunta #confrariacolombo #rougonmacquart #labêtehumaine #literaturaclássica #disaleditora

Uma publicação compartilhada por Valéria /naliteraturaselvagem (@valzita1985) em 22 de Out, 2018 às 6:06 PDT

Um dos nomes mais importantes do Naturalismo, Émile Zola nos apresenta uma obra em que o ser humano é representado de maneira bestial e a máquina se torna humanizada. Traições, assassinato, cobiça e ganância se mesclam numa trama ambientada nas linhas de ferro francesas, onde transeuntes comuns tem suas vidas interligadas à pessoas que trabalham nas estações de trem.

Escrita no final do séxulo XIX, La Béte humaine possui uma narrativa repleta de descrições que envolvem o leitor a cada virar de página. Severine é casada com um homem 15 anos mais velho que ela. Num dos acasos do destino, acaba por revelar ao marido o caso que tinha com seu antigo senhor, que a tinha como filha depois da morte da mãe de Severine, e que chegou a lhe dar um dote pelo casamento com Roubaud.

Tomado pela fúria, o homem toma a decisão de matá-lo e ela precisa ser conivente com o plano. O crime precisa ser bem orquestrado, pois a vítima era uma importante figura da nata industrial, tendo se envolvido em escândalos sexuais abafados pelo status e dinheiro. Parecia ser o crime perfeito, mas alguém parece ter sido testemunha. O casal entra num consenso, Severine vai seduzir o maquinista Jacques Pecqueau, para garantir o seu silêncio durante a investigação.

E aos poucos, a jovem se vê tomada de paixão por Jacques, e este por ela. Mas em seu íntimo, ele carrega uma violência bestial prestes a explodir. Nesse ínterim, o leitor assiste ao assassinato de uma mulher pelo marido, que tomava veneno em pequenas doses ministradas por ele e a deixavam acamada. Mas o triunfo desta é de que ela sabia que seu marido jamais iria encontrar o dinheiro que ela havia escondido. Sua filha, Flore, nutre uma afeição que beira a obsessão por Jacques, e ela fará o inimaginável para tirar Severine do caminho...

Num contexto literário-histórico, a obra pertence a série de 20 romances intitulada Les Rougons-Macquart, sendo ele o de número 17. Explora elementos sobre o impacto da ferrovia e da revolução industrial em seu segundo momento. A força da máquina ligada à destrutividade humana, mergulhando fundo nos anseios bestiais dos indivíduos.

O livro faz parte da lista de 1001 livros para ler antes de morrer. 

Homens que mudaram a História - Che Guevara

Os grandes só parecem grandes porque estamos ajoelhados.

Homens que mudaram a História é uma publicação da CT Editora LTDA. Che Guevara é o volume que dá início à série de publicações nessa temática. Trata-se de uma obra que aborda os primeiros anos da figura mítica que viria a se tornar um dos grandes nomes da História Latina devido às causas que abraçou em seu continente-país.

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Na vibe de ler biografias e afins... #leiturafinalizada #ernestocheguevara #che #cheguevara #biografia #lidos2018 #homensquemudaramahistória #history #historybooks #revolucionários #guerrilheiros

Uma publicação compartilhada por Valéria /naliteraturaselvagem (@valzita1985) em 27 de Out, 2018 às 3:13 PDT

Nascido na Argentina, sofria de asma e desde muito cedo mostrava apreço pelas Letras. Havia em si um instinto aventureiro, e tão logo pôde, saiu pelo mundo, se dando conta do quão sofrido era o povo por causa da miséria incutida pela política. Após a morte de sua avó, optou por estudar Medicina. Viajou numa moto, junto a um amigo, cruzando toda a América do Sul. Cuidou de leprosos, foi pai, conheceu Fidel Castro, lutou pela sua causa durante a Revolução Cubana  para depor Fulgêncio Batista.

Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros.

Sua ideologia era de cunho revolucionário. Apesar de ter conquistado cargos importantes em Cuba, Che deixou tudo para trás a fim de se arriscar em novas guerrilhas. Foi morto na Colômbia após uma emboscada. Havia escrito cartas, se despedindo de parentes e amigos. Sabia em seu íntimo que em algum momento poderia morrer pelos seus ideais. 

Derrota após derrota até a vitória final.

Com sua morte, nascia o mito, um dos grandes ícones do século XX, e seu rosto chegou a estampar pôsteres, canecas, camisas e cadernos. Talvez algo que não viesse a se orgulhar, devido a suas convicções anti-capitalistas...

Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera inteira.

Foi imortalizado na pele de Maradona. Cultuado como santo na região onde foi assassinado. Teve sua história contada em filmes e documentários. Conta ainda com inúmeros 'odiadores' que o enxergam como uma figura déspota, assassina e subversiva. Contrário à cultura americana, lutou avidamente contra seu regime econômico e social.

Che Guevara pode não ser um ídolo por unanimidade, afinal - trata-se de uma personalidade histórica que encontra desagrado em grandes proporções - mas não há como negar a importância de sua existência, que certamente faz jus ao título da Coleção e realmente deixou registrado seu nome na História..

Eles podem até tirar minha vida, mas nunca minha liberdade.

ABCedário da Revolução Pernambucana

A Revolução Pernambucana [ou Republicana], por não ter sido apenas este estado a ter participado de maneira efetiva foi um dos mais importantes acontecimentos de nossa história brasileira. Em 2017, completaram-se 200 anos do ocorrido e a Editora CEPE trouxe títulos interessantes a respeito em publicações como ABCedário da Revolução Republicana de 1817, que consiste numa espécie de dicionário com os principais verbetes a respeito da revolução e elementos característicos dessa época em Pernambuco.

Com pouco mais de cem páginas o ABCedário compreende termos comuns como Liberdade, Escravidão e Academia - todos pela perspectiva do contexto da Revolução - como termos mais direto sobre o fato histórico, como Conspiração dos Suassunas, Governo provisório e Monarquia, além de descrições sobre figuras importantes do movimento, [Frei Caneca, por exemplo], e locais que tiveram sua importância no decorrer da Revolução [Forte das Cinco pontas, Seminário de Olinda e Vila de Santo Antônio do Recife].

O livro conta ainda com belas ilustrações de época, excertos de textos na escrita do período e em seguida na língua portuguesa atualizada. A obra foi constituída por meio de de relatos, testemunhas, dicionários históricos e fontes bibliográficas e documentais. Todas as referências estão presentes ao final do livro, à título de consulta e autenticidade da obra.

Em tempos tão caóticos no cenário político brasileiro, faz-se necessária a leitura de uma obra como esta a fim de entender aspectos históricos que permeiam nossa sociedade até hoje, bem como analisar e comparar eventos e fatos a fim de compreender a sociedade hoje. 

Em suma, trata-se de uma aquisição valiosa e de fácil entendimento.

Mês de Conscientização da AIDS

Hoje é o dia da Luta Mundial contra a AIDS, uma doença que assola o mundo desde a década de 1980 e que por anos estigmatizou seus portadores, e apesar das várias campanhas de conscientização e dos avanços da ciência na pesquisa para uma busca de cura, ainda mata ao redor do mundo milhares de pessoas todos os anos.

Além de pessoas comuns, artistas, escritores - enfim, pessoas públicas - vieram a falecer devido à complicações decorrentes do vírus HIV e ainda hoje, muita gente trata o tema com bastante tabu. Além da importância de se conscientizar as pessoas com relação a prevenir o contágio, é necessário também diluir o preconceito sofrido pelos soropositivos. 

Na literatura, nomes como Caio Fernando Abreu, Isaac Asimov e Michel Foucault vieram a morrer por conta dessa doença, e alguns livros também abordam a temática. Através deste post, venho indicar algumas obras que falam abertamente [ou de maneira mais sutil] sobre a doença... Eis a lista:

•  Filadelfia - Christopher Davis

Este livro fala sobre a homofobia e o preconceito com portadores do vírus HIV. Um advogado é demitido por 'justa causa' mas suspeita que armaram para que ele fosse despedido, pois no escritório onde trabalhava, desconfiaram que ele estivesse contaminado com o vírus da AIDS. Ele então resolve procurar um advogado para cuidar de sua causa, e o advogado que ele encontra é homofóbico. O romance foi escrito baseado num roteiro do filme de mesmo nome, com Tom Hanks no papel do protagonista Andrew Beckett. Já falei sobre ele aqui no blog, e você pode encontrar a resenha com mais detalhes clicando neste link.

• Depois daquela viagem - Valéria Piassa Polizzi

Trata-se de uma obra de não-ficção, pois conta a história da autora sobre sua trajetória, desde o contágio na primeira relação sexual aos 18 anos até o momento em que o livro foi publicado. Valéria está viva até hoje graças à ação da medicina e é um exemplo de garra e perseverança, de que apesar do vírus, é possível ter uma qualidade de vida digna convivendo com a doença... mais detalhes sobre o livro, clica aqui...

• O tribunal da quinta-feira - Michel Laub

Um dos nomes mais impressionantes da literatura contemporânea brasileira, Michel Laub 

traz uma crítica profunda e pungente através da história de um personagem que se vê envolvido num escândalo por causa de e-mails comprometedores dele sendo divulgados. Assim como em Filadélfia, a 'morte social' do indivíduo é pauta dessa obra lançada pela Companhia das Letras e já falada aqui...

• Só Garotos - Patti Smith

Apesar de não ser uma leitura que fale especificamente sobre o tema, traz o relato de Patti Smith falando sobre seu companheiro Robert Mapplethorpe, vitimado pelo vírus no final da década de 1980. Uma não-ficção emocionante, que leva o leitor a conhecer o relacionamento da cantora com o fotógrafo, e de todas as situações difíceis que eles enfrentaram juntos, sem perder o companheirismo, afeto e amor. Falei dele aqui.

• Black Hole - Charles Burns

No quadrinho também se fala da AIDS, embora não se fale diretamente da Síndrome em momento algum da história. Mas é impossível ao leitor não se atentar à referência quando se tem uma trama em que os adolescentes dos anos 1970/1980 se deparam com estranhas deformações pelo corpo, depois do contato sexual com pessoas contaminadas por tais anomalias. A alusão é clara e feita de maneira criativa e surpreendente, numa ambientação mórbida, existencialista e desprovida de boas perspectivas... uma espécie de geração 'perdida'... Mais detalhes -  aqui.

• Girassóis - Caio f. Abreu

É uma metáfora sobre sua brevidade após descobrir-se soropositivo. Resenhei aqui.

Faço menção honrosa ao quadrinho Sandman, do incrível Neil Gaiman. No 9º arco, intitulado Fim dos mundos, ele contém uma 'cartilha sobre AIDS' trazendo a personagem Morte ao final da edição. 

Enfim... o intuito dessa postagem é trazer conteúdo que fale sobre a temática e que possa contribuir de alguma maneira sobre a forma como lidamos com o vírus, com seus portadores e no quão importante é cuidar da nossa saúde, nos protegendo e protegendo também a quem amamos. Usem camisinha. É um ato de amor ao próximo e ao nosso corpo. 

a poética de Sheyla Smanioto em Desesterro

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Leitura da vez... Logo será discutida com meus companheiros de Confraria... #desesterro #sheylasmanioto #leituraconjunta #mulheresnaliteratura #literaturabrasileira #autorasmulheres #confrariacolombo

Uma publicação compartilhada por Valéria /naliteraturaselvagem (@valzita1985) em 31 de Out, 2018 às 8:50 PDT

Sheyla Smanioto entrega ao leitor uma obra pungente, com uma narrativa poderosa, que faz da temática que já beira o lugar-comum - apesar de sua importância em se discutir - um conjunto inusitado de poesia, lirismo e crítica/denúncia social. Desesterro é o grito de Fátimas, Penhas e Marias, sobre a violência sofrida de tantos Tonhos que perpassam o caminho de nós - mulheres - em algum determinado ponto de nossas vidas [infelizmente].

Vai dizer que você não tinha percebido o que vinha?

Sheyla deu voz às mulheres espancadas, entregues à fome e à miséria. A obra foi vencedora do prêmio SESC de literatura em 2015. Possui passagens metafóricas, com imagens fortes entremeadas a frases profundas e de estética apurada. Somos [des]orientados pelos caminhos de sua prosa poética, descortinando horrores, dores, sonho e realidade, um verdadeiro arquétipo sobre uma pátria que confina, esmaga e naturaliza as 'mortes no parto' de tantas mulheres pertencentes à Terra. 

Um relato sincero, comovente, animalesco e cru. Desesterro desfaz o leitor em barro/terra, molda nossos questionamentos enquanto nos estapeia a alma.

[Quotes] Caio f.

Os olhos, ela viu. Os olhos tinham mudado. Estavam parados, com uma coisa no fundo que parecia paz. Ou desencanto.

Caio f.

O novo epicuro: as delícias do sexo

Certamente, O novo Epicuro: as delícias do sexo é uma leitura que põe o leitor numa posição de desconforto, devido ao teor sexual envolvendo pedofilia, narrado em primeira pessoa pelo protagonista do livro, Sir Charles, um nobre que relata através de cartas para suas amantes,  algumas de suas aventuras sexuais, com meninas em idades entre nove e quinze anos.

O livro foi escrito em 1865 e causou grande escândalo na época, por conta do seu teor altamente perturbador. Chegou a ser confiscado em sua primeira edição. Possui descrições detalhadas numa linguagem fluída e impactante.

Edward Sellon teve uma vida breve, porém repleta de aventuras. Assim como em sua obra, nunca se prendeu a convenções sociais. Tanto o autor quanto o seu personagem possuíam como característica o fato de não resistirem a 'diversões', mesmo que estas chocassem a sociedade. Possivelmente, em muito de sua obra estejam relatadas suas próprias experiências, vestidas sob a capa do ficcional.

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No dia do sexo, que tal aquecer com uma Bela Literatura erótica? #edwardsellon #onovoepicuroasdelíciasdosexo #onovoepicuro #diadosexo #literaturaerótica #naliteraturaselvagem

Uma publicação compartilhada por Valéria /naliteraturaselvagem (@valzita1985) em 6 de Set, 2018 às 5:53 PDT

Um ano após a publicação de O novo Epicuro, Sellon deu um tiro na própria cabeça, aos 48 anos de idade, certamente pelo comportamento ultrajante que o levou a um estado de ostracismo imposto pela sociedade rígida inglesa.

A obra faz parte da Coleção Clássicos da Literatura Erótica da Editora Hedra. O novo Epicuro contém cenas eróticas consideradas tabus. Leitura para uns poucos, e mesmo estes poucos irão se chocar com seu conteúdo...

Poesia Galega - das origens à Guerra Civil

Publicado pela Editora Hedra numa singela edição de bolso, Poesia Galega - das origens à Guerra Civil foi traduzida e organizada por Fábio Aristimundo Vargas e compila grandiosos textos da literatura galega, dividida por alguns principais períodos históricos, com poemas que vão das cantigas galego-portuguesas até o período da Guerra civil Espanhola, que durou até 1939.

Os ciclos literários se encontram bem divididos e representados, como o período Medieval, Séculos Escuros, Pré-ressurgimento, Ressurgimento, Intersecular e literatura de Pré-guerra do século XX. É possível para o leitor encontrar nomes como Rosália de Castro, Eduardo Pondal, Amador Montenegro e Federico García Lorca, este último bastante popular e mais conhecido do público não muito familiarizado com a poesia galega/espanhola. 

Durante o período medieval houve um movimento poético em toda a Península Ibérica, tendo o Trovadorismo, a lírica sacra e profana e Cantigas de Santa Maria como principais elementos de sua composição. 

Nos Séculos Escuros praticamente não houve produção literária galega, mas num contexto histórico, os séculos XVI a XVII compreendem substituições da nobreza local por uma castelhana, por motivos políticos. Porém, temos Cura de Fruíme e Xosé Cornide representando a época com suas obras. A partir daí, no Pré-ressurgimento, houve uma recuperação da importância da língua galega, representada principalmente pela obra de Francisco Añon.

Já no século XIX [Ressurgimento] o renascer da cultura e da literatura galega tem como marco inicial a publicação de Rosália de Castro, em 1863, de seus Cantares Galegos. Além dela, despontam Eduardo Pondal e Manuel Curros Enriquez, representando o período. O período Intersecular, do fim do século XIX ao início do século XX, o gênero lírico acaba por entrar em decadência.

A literatura pré-guerra é representada na antologia pela obra de Xoán Vicente Viqueira Cortón, Manuel Antonio, incluindo-se também García Lorca. O livro conta com um apêndice, contendo notas sobre os autores, a grafia na poesia galega, entre ouros pontos interessantes para se conhecer mais a respeito da lingua. 

Pode ser uma leitura que não seja popular, mas possui grande importância àqueles que amam poesia, línguas latinas e afins...

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Adentrando na poesia galega... @editorahedra #poesiagalega #pocketbook #leyendo #readingnow #leggere #leggendo #libro #leituraatual #poesiagalegadasorigensàguerracivil #fábioaristimunhovargas #naliteraturaselvagem

Uma publicação compartilhada por Valéria /naliteraturaselvagem (@valzita1985) em 20 de Set, 2018 às 7:15 PDT