sexta-feira, dezembro 27, 2019

Nota, Imagem & Letra

Literatura é um universo que nos permite ter experiências que vão além do próprio ato de leitura... Uma das coisas que me deixam ainda mais fascinada pela Arte e Cultura pop em geral, são as referências que uma obra pode fazer de outra, flertando em campos diferentes de sua própria linha. 

Música é outra de minhas grandes paixões. A arte permite que possamos mesclar a música com a literatura. Indo além, o cinema também nos proporciona esse 'movimento sensorial'. Partindo dessa concepção, apresento à partir dessa postagem, a nova coluna do blog - que mescla esses três elementos tão enriquecedores para a Arte e a nossa maneira de apreciá-la.


Pet Sematary - Ramones

faz parte da trilha sonora do filme Cemitério Maldito, baseado na obra de Stephen King, Pet Sematary. Trata-se de um doa grandes sucessos da banda punk.




Heroes - David Bowie

Impossível para aqueles que assistiram Eu, Christiane F, 13 anos, drogada e prostituída, não lembrar da cena icônica da protagonista e seus amigos correndo numa estação de metrô berlinense enquanto fugiam dos guardas, ao som de Heroes tocando ao fundo. Para quem não sabe, o filme foi inspirado na biografia de Christiane, em que é relatada sua infância, adolescência e posterior envolvimento com drogas e sua luta para se livrar do vicio. 




Into the Wild - Eddie Vedder

Eddie Vedder, vocalista da banda grunge de grande sucesso nos anos 1990, Pearl Jam, criou a trilha sonora do filme Na Natureza Selvagem, também baseado na história real de Alex Supertramp/Chris MacCandless, que foi encontrado morto em um ônibus abandonado em uma região inóspita do Alasca, depois de ter deixado sua vida social e família a fim de se aventurar pela natureza... O livro foi escrito pelo jornalista Jon Krakauer, e traz relatos/depoimentos marcantes de pessoas que conviveram com Alex/Chris...



Perfect day - Lou Reed

Por último, mas não menos importante, a música Perfect Day, do artista Lou Reed, que faz parte da trilha sonora do filme Trainspotting, estrelado por Ewan MacGregor, por sua vez baseado no livro de mesmo nome, do escritor Irvine Welsh.



E então, gostaram das referências? Essas obras fazem parte das minhas listas de músicas/filmes/livros preferidos da vida. Acredito que vocês também tenham as suas... Que tal me contar aqui nos comentários? 

Küss Leute! 

sexta-feira, dezembro 13, 2019

Ode sobre a melancolia e outros poemas

 John Keats foi um poeta inglês, pertencendo ao período Romântico como sendo uma das figuras mais emblemáticas de seu tempo. Tendo falecido com apenas 25 anos, vitimado pela tuberculoso, não deixou uma obra extensa, embora seja de suma relevância na poesia britânica. 

Ode sobre a melancolia e outros poemas é uma publicação da Hedra Editora, e com tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos, compila vários poemas do escritor, incluindo os seus mais famosos, como Ode a um rouxinol, Ode sobre a indolência, Hino à tristeza e Ode sobre a melancolia, que dá nome ao livro.

Dói-me o coração, e aflige meus sentidos

Um torpor de sono, como se eu tivesse

Bebido da cicuta ou esgotado há um só instante

Um lânguido narcótico e descido para o Lete:

Não é porque eu inveje a tua boa sorte,

Porém porque me alegro a ver-te assim feliz

Que tu, arbórea Dríade das asas leves,

Em nesga melodiosa

De um verdor de faias e de sombras incontáveis

A plena e fácil voz celebras o verão.


My heart aches, and a drosy numbness pains

My sense, as though of hemlock I had drunk

Or emptied some dull opiate to the drains

One minute past, and Lethe-wards had sunk:

'Tis not through envy of thy happy lot,

But being too happy in thine happiness, - 

That thou, light-winged Dryad of the trees

In some melodious plot

Of beechen green, and shadows numberless,

Singest of summmer in full-throated ease.

Ode to a Nightingale, 1819. 


A edição é bilíngue, e através dos versos originais podemos sentir a força, o vigor de seus versos, tendo influência de grandes autores ingleses em sua produção, como John Milton e William Shakespeare. Conceitos como Beleza e Verdade estão presentes em sua obra, bem como a ideia de amores irrealizáveis. 

La belles dame sans merci é considerado um dos poemas mais célebres da poesia inglesa; Ode sobre uma urna grega traz cenas de violência  numa urna que viaja no tempo, apresentado cenas em que a realidade é idealizada. Hyperion é sobre os Titãs vencidos por Júpiter, e nele vemos influência do épico de Milton no tom e formato dos versos. Ode a um rouxinol [inserida nesse post] fala sobre o canto do pássaro, a tristeza do mundo e a transcendência da mortalidade através do seu canto, beirando o sonho, irreal. 

A obra conta ainda com uma introdução apresentando a trajetória do poeta, desde seu nascimento e origens, até sua morte em Roma, no ano de 1821. Há também várias notas de rodapé a fim de tornar a experiência de leitura mais proveitosa, contextualizando os poemas. 

Em suma, Ode sobre a melancolia é leitura para os amantes da poesia inglesa, dos escritos clássicos e que referenciam a Cultura greco-romana. 

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quinta-feira, novembro 28, 2019

[HQ] Game of Thrones Volume I

 O final da série da HBO, Game of Thrones, baseada na série de livros do escritor George R. R. Martin, foi polêmico. Uma grande parte de seus expectadores se sentiu frustrada com o desfecho de personagens essenciais da trama; outra parte achou satisfatória, alguns outros amaram. Opiniões divididas à parte, dentre os meus personagens preferidos [que não morreram no decorrer da história], três deles tiveram um final digno. 



Me sentindo órfã da produção, decido encarar a leitura da versão em quadrinhos, e com grata satisfação revisitei acontecimentos importantes da história de Westeros. A guerra dos tronos Volume I dá início à saga da família Stark, desde o encontro com os filhotes de lobo até a partida de Ned Stark para King's Landing. Somos apresentados também a Daenerys e Viserys no outro lado do oceano, e a suntuosa e influente família Lannister. A HQ ilustra os patrulheiros da Muralha se encontrando com um mal até então desconhecido, e que avança ameaçadoramente rumo ao sul... 

Daniel Abraham e Tommy Patterson assinam a versão em quadrinhos de uma das histórias do gênero Fantasia mais aclamadas nos últimos anos. Com aprovação do próprio George Martin, o projeto reúne os seis primeiros volumes publicados originalmente nos EUA. 

Aqui no Brasil foram lançados ainda mais 3 encadernados. em suma, a graphic novel possui um trabalho gráfico aprimorado, caracterizando com esmero os personagens iniciais. Vale a pena ter no acervo, principalmente os fãs da franquia...

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terça-feira, novembro 19, 2019

Poesia Espanhola - das origens à Guerra civil

Organizado por Fábio Aristimunho Vargas, Poesia Espanhola - das origens à Guerra Civil é uma obra que reúne textos que remontam a diversos períodos da literatura espanhola, sendo de extrema importância para quem tem apreço pela história da Península Ibérica

Os períodos representados nessa publicação da Editora Hedra são o Século de Ouro, A Ilustração, Medievo, Romantismo e as gerações de 98 e 27. Nesses ciclos literários estão inseridos trabalhos de Gonzalo de Berceo, Garcilaso de la Vega, Santa Teresa de Ávila, Góngora, Lope de Vega [talvez o mais conhecido], Francisco de Quevedo, Calderón de la Barca, Rosalia de Castro e Federico Garcia Lorca [outro nome bastante popular na poesia espanhola]. 

A seleção dos principais nomes de cada escola literária foram feitos com a finalidade de representar ao público leitor os textos mais significativos e emblemáticos. Bem como a tradução acurada, a fim de se preservar elementos a princípio intraduzíveis da língua, tais como ritmo e técnicas. 


Lembra-te da minha vida,
porque viste
meu partir e despedida
ser tão triste.

Recuérdate de mi vida
pues que viste
mi partir e despedida
ser tan triste.
Iñigo López de Mendoza - Marquês de Santillana

 

Já não choro..., e apesar de angustiada
e afligida minha alma, apenas
de seu cárcere estreito e sombrio
ousa abandonar as trevas
para banhar-se nas ondas
de luz que o espaço recheiam. 

Y no obstante, agobiado
y afligido mi espíritu, apenas
de su cárcel estrecha y sombría
osa dejar las tinieblas
para bañarse en las ondas
de luz que el espacio llenan.

Rosalia de Castro

A obra conta ainda com um apêndice apresentando cada um dos poetas que compõem a antologia, além de informações linguísticas pertinentes com os textos. Esse título faz parte de uma coleção composta de 4 livros: Poesia galega, Poesia basca, Poesia espanhola e Poesia catalã. Já falei sobre Poesia Galega neste post

Para adquirir um exemplar de Poesia Espanhola, clique neste link da Amazon, e assim você contribui com o blog. Viele Danke. 


sexta-feira, novembro 15, 2019

Historietas e aforismos de Kafka

 Recebi de uma amiga o exemplar intitulado Contos, fábulas e aforismos, de Franz Kafka, e tão logo me foi possível, dei início à leitura. Publicado pela Ed. Civilização brasileira, trata-se de um conjunto de contos, historietas e "frases de efeito" do escritor tcheco Franz Kafka, falecido em 3 de junho de 1924. 




A obra de Kafka não é gigantesca, mas possui grande relevância na literatura mundial. Criador da célebre obra A metamorfose, Kafka pediu a um amigo que queimasse seus escritos após sua morte, e o amigo testamenteiro não atendeu à sua recomendação [para nossa sorte].

Através desses pequenos textos, o leitor pode descobrir o escritor talentoso e significativo que foi Franz Kafka. Nota-se um teor existencialista e melancólico em sua obra, bem como um apurado senso crítico perante as burocracias e convenções sociais. 

Decerto a cada texto lido, é possível descobrir/desvelar a faceta melancólica e exigente do autor, repleta de inquietações e que desperta reflexões de seu caráter provocativo. 

Eu vivera com prazer, e morria da mesma maneira.


A virtude, num certo sentido, não passa de desconsolo.

A partir de certo ponto não há mais qualquer possibilidade de retorno. É exatamente esse o ponto que devemos alcançar.

quinta-feira, novembro 07, 2019

Tarântula: poesia harmoniosa e surrealista de Bob Dylan

 Bob Dylan foi o ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 2016 e o ocorrido gerou grande polêmica. Entre os que gostaram ou não do resultado, é inegável reconhecer o talento do artista na música, sendo o criador de composições de forte cunho social, que levanta críticas a respeito de temas como racismo, antissemitismo, política e afins.




Tarântula soa como uma espécie de extensão de suas letras no campo da poesia. Contém versos como estruturas alternadas, que vão da prosa poética ao verso, sem lógica aparente. Os textos de Tarântula remontam ao período em que Highway 61 Revisited e onde on Blonde eram lançados na mídia. É possível notar ecos de músicas como Tombstone Blues e Desolation Row na tonalidade de seus devaneios lírico-poéticos. 


Traduzido numa nova edição por Rogério de Galindo e publicado pela Tusquets Editores, Tarântula é um brinde ao reconhecimento dos fãs para com sua obra. e também uma afirmação de seu caráter turbulento-criativo, que permite ao leitor uma viagem pela mente surrealista de Bob, em meio a protestos político-sociais, urbanidade e cotidiano do artista e da sociedade em que estava inserido.



sexta-feira, novembro 01, 2019

[Poemas] - Adonis



Adonis é um dos poetas árabes mais importantes de nossa geração. Considerado por muitos como o maior vivo. Sua poesia é arraigada do modernismo do ocidente, embora possua elementos da cultura árabe invocados através de seus versos. Em Adonis, existe um politeísmo de vários prismas. Sua poesia está em constante mutação, não se prende ao espaço-tempo ou a lugares-comuns. Há espaço para poética e política. Surrealista e revolucionário. Evoca o passado pré-islâmico e pagão.

O que é o anoitecer?
discurso de despedida.

[Poemas], de Adonis - pseudônimo de Ali Ahamed Said Esber - é uma publicação da Editora Companhia das Letras. Reúne seu trabalho desde a década de 1950 até os anos 2000. Viveu no Líbano durante algum tempo e depois na França, se refugiando da Guerra Civil Libanesa. Além de poeta, é ensaísta, tendo vários de seus trabalhos publicados em francês. 




sexta-feira, outubro 04, 2019

Malassombramentos - os arquivos secretos d'O Recife Assombrado

 Recife é uma terra repleta de histórias, causos e figuras folclóricas que há muito povoam o imaginário do cidadão pernambucano. Malassombramentos - Os arquivos secretos d'O Recife assombrado é um compilado de estórias organizadas por Roberto Beltrão, em que nos é apresentado um cenário no soturno repleto de personagens assustadores e icônicos, tais como a Perna Cabeluda, que assombra desde a rua a Aurora à Boa Vista e a loira do Cemitério de Santo Amaro, que seduz os motoristas da linha de ônibus CTTU, em que as garagens ficavam próximas ao Campo Santo. 

Perna Cabeluda


O livro traz relatos pessoas que supostamente tiveram contato com essas - e outras - aparições, e o leitor pode sentir a angústia e pavor entre as linhas, tão bem narradas-escritas. Um dos contos mais famosos é sobre a assombração que "vive" no Teatro Santa Isabel. Possivelmente uma bailarina, com direito a platéia e aplausos invisíveis. 

Destaca-se também a Emparedada da Rua Nova [essa ganhou inclusive um romance escrito por Carneiro Vilela], a velhinha da Caxangá, que "presenteia" passageiros com uma sacola repleta de ossos humanos e o boêmio Boca de Ouro, ser aterrorizante que aborda transeuntes nas vielas e estradas escuras pedindo fogo para o cigarro e que só desaparece quando a vítima desfalece apavorada. 

Boca de Ouro


No ano de 2000, o site Recife Assombrado foi criado e várias dessas histórias foram contadas por lá, sendo posteriormente publicadas em Malassombramentos e em outras duas publicações, intituladas Estranhos Mistérios e Histórias Medonhas

Outros nomes assinam a publicação, além de Roberto. André Balaio, Jaqueline Couto, Sérgio Barza, Geraldo de Fraga e o ilustrador Fábio Rafael. Esse time de pesquisadores possui uma paixão intrigante por lendas urbanas, e o resultado é uma obra vasta de descrições peculiares, de dar arrepios ao leitor igualmente atraído por tais relatos...



sexta-feira, setembro 27, 2019

50 Poemas - Tomas Transtömer

Nas últimas semanas realizei algumas leituras me aventurando pela poesia de autores que até então desconhecia. Retornando com as postagens do blog [tentando, ao menos], trago para vocês as impressões que tive ao ler  50 Poemas, do sueco Tomas Transtömer.



Tranströmer foi premiado com o Nobel de Literatura em 2011. Com tradução de Alexandre Pastor, os 50 Poemas reunidos nesta publicação bilíngue da Relógio d'água abordam temas como a efemeridade da vida e uma junção do cotidiano com elementos da natureza, numa espécie de mística transcendental da existência.

O leitor que admira poemas mais sensíveis certamente encontrará na métrica de Tomas uma bela construção de poemas tocantes e carregados de subjetividade. Há muito da cultura nórdica inserida em suas composições, com variantes de beleza e obscuridade, irracionalidades e certa ausência do amor, exprimindo talvez, a faceta taciturna e reservada do próprio autor.

Ao sol, damos a impressão de sermos quase felizes e ao mesmo tempo sangramos de mágoas que desconhecemos.

Vi ser nästan lyckliga ut i solen, medan vi förblöder ur sår som vi inte vet om.



sábado, setembro 21, 2019

Poemas, de Giorgos Seféris

Giorgos Seféris, também vencedor do Nobel de Literatura, no ano de 1963, nos brinda com poemas que falam sobre o mistério da vida e da morte, da impossibilidade de resgatar o passado e sobre os absurdos cometidos nas guerras, através de mentiras ideológicas que só servem para alimentar seus algozes.



Nascido em Esmirna em 1900, Giorgos soube exprimir um amargor nos versos que compõem essa obra, através de uma métrica lírica que perambula pelo exílio ao qual foi submetido devido a profissão diplomatica, causando sua ausência da pátria por longos períodos.

Há um que de odisseico na poesia de Seféris, que retrata esse deslocamento por terras alheias com ares nostálgicos. Seus versos conseguem a façanha de capturar com maestria o sentimento de eternidade que permeia a Grécia, ao longo de séculos de arte e História de uma cultura tão milenar que nos chega ao presente...

A eles, nós que nada tínhamos, ensinaremos a serenidade.




terça-feira, setembro 03, 2019

Resenha: Uma solidão ruidosa

 Escrito pelo Tcheco Bohumil Hrabal, Uma solidão ruidosa aborda o cotidiano de um narrador que opera uma prensa hidráulica que compacta papel, entre um copo e outro de cerveja. Hant'a, há 35 anos nesse oficio, descarta todo tipo de papel, incluindo livros clássicos. Entretanto, alguns desses títulos são "salvos" da prensa graças à habilidade de Hant'a em "memorizar" as ideias contidas naquelas páginas.

Em dado momento, não se sabe mais de quem partiu a ideia original - se dos livros ou da mente perturbadora do personagem. A história prossegue para o momento em que Hant'a logo será substituído por operários mais novos e ele se vê ameaçado com pesadelos, em que visualiza a cidade de Praga sendo destruída por uma prensa hidráulica gigante.


Publicado pela Companhia das Letras, Uma solidão ruidosa foi um dos últimos trabalhos do escritor, originalmente lançado em 1976. Analisando o histórico da época, a Tchecoslováquia vivia sob o regime soviético, e a obra seria uma espécie de transgressão ao Estado repressivo. Além do protagonista - narrador, ainda contamos em ver outros personagens que carregam traços de peculiaridade em suas construções sociais. 

As temáticas abordadas mesclam paradoxos como persistência da memória versus efemeridade da literatura, desejo versus burocratas detentores de uma tecnologia que oprime e censura ideologias. O próprio Hrabal chegou a trabalhar com prensa de papéis usados em determinado ponto de sua vida. Morreu no ano de 1997, aos 82 anos. 

segunda-feira, setembro 02, 2019

Mia Couto [Poemas Escolhidos]

Os poemas do moçambicano Mia Couto são dotados de poesia e reflexões filosóficas. Ser. Existir. Dureza do viver. Versos questionadores que incitam no leitor uma inquietação que vai além do momento de leitura. Acompanha-nos por dias. Memória, amor, dor, melancolia e angústia se fazem presentes em suas indagações travestidas de poesia.

Poesia essa que viaja ao passado de semente humana rumo ao encontro do consumo do presente, que vorazmente destrói o fruto. Identidade germinada, queda de máscaras do 'Eu', vaidade desvelada. O tempo se torna aliado na criação de versos. Sua poesia é uma espécie de testemunha das mudanças humanas ao longo do tempo.




Mas o tempo aqui age como ferramenta de desajuste e desconstrução, que remonta origens e nos leva ao fatal beco sem saída das [im]possibilidades. Mia propõe um desaceleramento do existir, em contrapartida a pressa e urgência do Homem lutando contra o tempo. A angústia é colocada como tempero para a busca ao desconhecido, que mesmo realizada com sucesso, ainda nos deixa avulsos na compreensão de tudo.



Mesmo dissonantes, eis que prosseguimos rumo ao desconhecido. Tal crueza nos devora a vida. Mas temos então a poética para nos resignarmos. A poesia entra aqui como bálsamo para nossas incertezas, que nos acaricia em meio a brutalidade e sujeira do mundo. Filhos do imperfeito, somos paradoxos infindos buscando respostas, buscando amor; e sofremos no processo, desde a procura até a descoberta. E nessa cegueira da incerteza, dos questionamentos acerca de tudo que nos rodeia desde o princípio até o misterioso fim, Mia desvela o poder do que desconhecemos. A beleza de seus escritos é nosso consolo.

Eu quero uma tarde onde pousem sombras.

terça-feira, agosto 20, 2019

[Arte Selvagem] Bosch

Trazendo aqui para o blog mais uma leitura sobre artistas, o pintor da vez é Hieronymus Bosch, nascido no século XV. De origem holandesa, sua obra é repleta de simbolismos, conceitos místicos e alquímicos. 
O juízo final é um tema sempre recorrente em suas telas. A luta entre o Bem e o Mal trazem à tona o sentimento religioso, representadas por práticas de feitiçaria versus o clero inquisidor. Certamente, sua obra trata de uma das mais fantásticas criações do século XV. Pertencem a Bosch pinturas como A tentação de Santo Antão, com direito a missa negra, incêndios e monstros, mesclados às cenas da Bíblia; O jardim das Delícias, onde temas como sedução são retratados e A epifania, que aparentemente retrata a calmaria de uma paisagem suave, mas que carrega inquietação crescente ao observador mais atento. 


Aos apaixonados pela arte repleta de magia, religiosidade e fantasia surreal, Bosch certamente é o mestre em sua melhor representação. 


(1475-1480] Museu do Prado, Madri.


O juízo Final - A tentação Satânica. Academia de Belas Artes, Viena.


segunda-feira, agosto 19, 2019

Paris é uma festa, de Ernest Hemingway

 Publicado postumamente, Paris é uma festa nos mostra um Ernest Hemingway escritor vivendo na década de 1920, ainda jovem, pobre, mas com uma singularidade para descrever o cenário ao seu redor numa escrita limpa, mas com sutil subjetividade. A obra parece ir na contramão do que já foi escrito até então pelo escritor, onde é mais comum encontrarmos romances e contos sem preâmbulos, numa escrita crua, rígida e desprovida de sentimentalismos.





Em Paris..., nos deparamos com um Hemingway bem-humorado, humano, mordaz e ao mesmo tempo, sentimental. Sua prosa retrata com requinte os cafés parisienses. Contrastando com o ambiente, figuras peculiares como Gertrude Stern, Ezra Pound e F. Scott Fitzgerald, que são descritos de maneira singular e, por que não dizer - honesta? Pela ótica de Hemingway, Pound era uma agradável companhia, um artista modesto e que se preocupava com o sofrimento alheio, era solidário e leal. Fitzgerald é tido como um tipo esquisito, cheio de manias enfadonhas e inconvenientes e Zelda, como uma mulher entregue à insanidade. 

Tendo se suicidado quando revia o texto de Paris é uma festa, Ernest revisitou seus anos de juventude, evocando memórias e aventuras, bem como as dificuldades financeiras que passou ao lado de sua companheira. Havia no escritor da década de 1920 um frescor há tempos perdido, e que nessa revisita ao passado, pudemos conhecer. 

Paris é uma festa é uma obra sensível e melancólica, de encantos e ironias, amores e desafios. É um Hemingway em estado bruto, e trazendo aqui um paradoxo delicado, apaixonante e sem falsos idealismos.



quarta-feira, agosto 14, 2019

Resenha: Dentro de um mês, dentro de um ano, minha estreia na obra de Françoise Sagan

 Dentro de um mês, dentro de um ano é um romance escrito por Françoise Sagan, que conta a história de Bernard em uma viagem rumo ao exterior. Preso a um casamento insípido, ele não consegue esquecer um antigo amor, e eis que Josée ressurge em sua vida, mas esse reencontro não se dá como Bernard gostaria... 





Josée vem lhe comunicar sobre a doença de sua esposa Nicole. Porém, ela resolve poupá-lo de dar-lhe a notícia de imediato, mas ele precisa retornar com urgência a Paris. São inseridos na trama outros personagens, que possuem trajetórias igualmente fatalistas, vazias e de paixões doentias. 

A escrita de Sagan é leve e desperta no leitor reflexões sobre o vazio do 'ser', numa aura existencialista de como as relações podem ser efêmeras. A obra fala de amores que vêm e vão em espaços de tempo que podem ter a duração de alguns meses ou menos, dias e semanas...

É um romance que desnuda as relações/interações sociais, mesclando sentimentos como tristeza, luxúria, solidão e apatia. Françoise Sagan nasceu em 1935, e lançou seu primeiro romance em 1954, intitulado Bom dia, tristeza.