Inéditos e Dispersos, de Ana Cristina César



Minha linda edição...

Ana Cristina César
foi uma escritora carioca, pertencente à Geração Mimeógrafo, bastante popular na década de 1970. Inéditos e Dispersos é um livro de poemas, que carregam em seus versos uma espécie de sensibilidade crua, dolorida, que muito revela da alma da escritora.

O livro traz sua obra dividida em etapas, dos anos de 1961 até 1983, ano de sua morte. A obra foi organizada por Armando Freitas Filho, amigo de Ana. Ele conseguiu reunir o que Ana Cristina tinha de melhor em seus escritos, numa belíssima edição publicada em 1998, pela Editora Ática... 


"Tenho ciúmes deste cigarro que você fuma Tão distraidamente." abril/68
É possível o leitor sentir identificação com vários trechos ou poemas completos de Ana C. Ela escrevia de forma intensa, há elementos que a convidam para um salto à janela em várias passagens do livro... Premeditação? Quem sabe?

Os poemas possuem uma carga melancólica e ao mesmo tempo, voraz. São textos curtos, porém de uma densidade incríveis... Ana C. toca a alma...

"Sou amativa antes de tudoembora o mundo me condene. [...] Uma lâmpada queimada me contempla. [...]Uma palavra me delineiaVORAZ."setembro/68

Ana C. escrevia desde pequena, e para ela, escrever era uma forma de jogar para fora de si mesma toda a solidão e apreensão de viver. "Angústia é fala entupida." Como afirmava seu amigo e organizador do livro, Armando, ela escrevia versos inquietantes e fora dos eixos. Essa forma de fazer poesia é de uma sensibilidade perturbadora.

A parte final do livro mostra uma pequena biografia de Ana Cristina, bem como fotos de várias etapas de sua vida, desde pequenina, até o ano de seu suicídio, em 1983, quando se jogou da janela do apartamento dos pais, a 29 de outubro... Há também alguns desenhos feitos por Ana C. ilustrando algumas páginas...

É uma leitura que nos põe a divagar sobre vários aspectos da existência...
Abaixo, alguns trechos de Inéditos e Dispersos...


Ana Cristina César...

"perdi-me agora rabiscando-te." setembro/68

"de sonho em sonho o instante está completo:sons se deitam novos sobre dor tão mansa:"22.5.69

"teu gosto, tua cor, teu som, teu meu"15.6.69


"Não sou idêntica a mim mesmo sou e não sou ao mesmo tempo, no mesmo lugar e sob [o mesmo ponto de vista Não sou divina, não tenho causa Não tenho razão de ser nem finalidade própria: Sou a própria lógica circundante." junho/69


"as palavras escorrem como líquidos lubrificando passagens ressentidas."


"imagino como seria te amar: desisto da idéia numa verbal volúpia e recomeço a escrever poemas."


"Não encontro no meio de todas essas histórias nenhuma que seja a minha."

Espero que vocês possam tem a oportunidade de conhecer a obra de Ana Cristina César. Deleitem-se com suas palavras 'inéditas e dispersas...'

3 comentários:

  1. Cara adoro livros assim e tô apaixonada por este graças a sua resenha.. sério! Adorei meeeeeeesmo! Ahh e sobre a máquina do tempo, se quiser tenho um vira tempo :3 kkkkk seria bom se funcionasse de verdade né? rs beijos Val ;*

    Mutações Faíscantes da Porto

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  2. Val esse livro despertou meu interesse, parece ter a típica dialética que me encanta.
    Fiquei supercuriosa Tu sempre com esses teus achados <3

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  3. Olá Val! Parafraseando Renato Russo: " Os bons morrem jovens....." Flor gostei muito da sua resenha. Sabe eu não sou muito de ler livros de poesias, é um hábito que não adquiri e sinto muito por isso. Mas eu gostei dos trechos que você colocou dos poemas da Ana Cristina. Uma pena ela ter partido, porque pelos trechos que e você colocou, teríamos uma brilhante escritora. Me corrija se eu estiver enganada, mas esse livro me parece ser daqueles que nos 'rasgam' enquanto lemos. vou procurar por ele, porque eu gosto de livros que me levam no fundo do fundo de nossos sentimentos. bjs

    Amoras Com Pimenta ❤

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De Bukowski a Dostoievski. Ana Cristina César a Lilian Farias. Deleite-se com a poesia de Florbela Espanca e o erotismo de Anaïs Nin...
Aforismos, devaneios, quotes dispersos e impressões literárias...um baú de antiguidades e pós-modernismo. O obscuro, complexo, distópico, inverso... O horror, o amor, a loucura e o veneno de uma alma em busca de liberdade...

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