Carta sobre a Felicidade (A Meneceu) - Epicuro

 


Então, o mais terrível de todos os males, a morte, não significa nada para nós, justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. A morte, portanto, não é nada, nem para os vivos, nem para os mortos, já que para aqueles ela não existe, ao passo que estes não estão mais aqui. E, no entanto, a maioria das pessoas ora foge da morte como se fosse o maior dos males, ora a deseja como descanso dos males da vida.



 Nascido em 341 a.C. na ilha de Samos, na Grécia, Epicuro iniciou seus estudos com o acadêmico Pânfilo, filósofo platônico. Ao mudar-se para Atenas, vai encontrar-se com os principais filósofos em atividade, como Teofrasto e Liceu. Alexandre Magno falece em 322 e os colonos atenienses acabam sendo expulsos da cidade, incluindo a família de Epicuro. 

A partir disso, se inicia no pensamento de Demócrito. Tenta fundar sua própria escola e conquista alguns adeptos, como Colotes, Pítocles e Heródoto. Conhecido como o filósofo de jardim, por ter adquirido uma casa em sua volta para Atenas com um amplo jardim, onde começa a lecionar para pessoas vindas de variadas regiões. 

Carta sobre a Felicidade é um documento importante onde Epicuro quebra a ideia de que sua filosofia se remete apenas ao gozo dos prazeres mundanos sem moderação. Há testemunhos de que no Jardim de Epicuro, não apenas o mestre, mas também seus discípulos viviam de maneira modesta, consumindo o que cultivavam, sem exageros ou coisas supérfluas. Sendo assim, a comparação ao Hedonismo não se sustenta. Seus valores prezavam pelo bem coletivo e uma maneira de vida comedida. 

Outro ponto errôneo que costuma-se atrelar a Epicuro seria a ideia de que o filósofo imitava Demócrito, considerado pai do Atomismo. De acordo com o pensador do século XIX Karl Marx, em A relação entre a Filosofia de Epicuro e a de Demócrito, do ponto de vista filosófico, Demócrito seria considerado fatalista/determinista. Epicuro repremia essa linha de pensamento, embora aceitasse a teoria partindo do ponto de vista referente ao comportamento da matéria. Carta sobre a Felicidade deixa explícita essa aversão ao pensamento de Demócrito. 

A teoria de Demócrito se embasa na crença de causa e efeito/natureza ou homem. Epicuro buscava preservar a vontade humana e liberdade individual, tanto em sociedade como a prórpia consciência moral. Vários desses aspectos podem ser considerados fortes influências na formação do persamento marxista. 

Sêneca e Cícero foram dois filósofos que perpetuaram o pensamento de Epicuro na Antiguidade. Carta sobre a Felicidade trata da conduta do homem que busca alcançar a saúde do espirito. Algumas das características encontradas na obra são a busca pela felicidade, vencer o medo da morte e controle do corpo e espírito. 

Segundo o pensamento Epicurista, 

o que importa não é a duração, mas a qualidade da vida.

O domínio do corpo e espírito não deixam de ser uma forma de se alcançar a felicidade, de prazer, que não deve ser buscado de maneira indiscriminada, pois pode causar dor no processo. E em paradoxo, nem sempre devemos evitar a dor, ela própria podendo resultar em prazer. O homem deve ter a liberdade de escolher seu Destino, controlando a vontade de cometer excessos, chegando enfim ao equilíbrio. 

A edição da Editora Unesp é em formato de bolso, bilíngue [portugês e grego] e entrega ao leitor um texto reflexivo e abrangente no tocante a filosofia dos prazeres moderados. 

De fato, só sentimos necessidade do prazer quando sofremos pela sua ausência.

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Um comentário:

  1. Eu ainda tenho um looongo caminho na filosofia. Aprendi horrores aqui nesse seu post.
    E achei muito interessante você comentar a respeito de como mestre e discípulos viviam. Muita falácia acaba caindo por terra.

    Boa semana, Val. Beijocas

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