Semana Especial Claudio Duffrayer - Entrevista Parte I

Olá, queridos leitores. A semana começou de forma bem corrida pra mim, mas estou aqui novamente trazendo mais novidades acerca do autor parceiro Claudio Duffrayer. Para quem está acompanhando os posts divulguei um pouco de seu trabalho e logo haverá sorteio de um exemplar de seu livro Noturna e outros poemas. Mas enquanto o sorteio não sai, confira a primeira parte de uma entrevista com o autor...


Torpor Niilista - O que é a poesia de Claudio Duffrayer?


Resultado da minha necessidade de sobreviver. Resultado da minha busca por vivência, no sentido não ortodoxo do termo(foram muitas noites passadas em claro descobrindo-me na escrita) mesmo que à época (no fim da minha adolescência) eu não soubesse disso. Fruto da minha descoberta de algo que só posso chamar,hoje,após tantos anos,de angústia.Mas também de alegria. Uma sublime alegria. Muitos anos depois de ter passado por um processo de fragmentação (que, por sua vez, levou à nadificação) e depois de deixar de ser intimidado pela obra mais conhecida de Sartre(eu lera um pouco antes “O Existencialismo é um Humanismo”, que não me deu as respostas pelas quais eu 
tanto ansiava, muito pelo contrário) pude não entender,mas interpretar e sentir, de fato, sua palavras.Cito um trecho de sua obra que, hoje, tanto me marca:

 
“O Ser pelo qual o Nada vem ao mundo deve nadificar o Nada em seu Ser, e, assim mesmo, correndo o risco de estabelecer o Nada como transcendente no bojo da imanência,caso não nadifique o Nada em seu ser a propósito de seu ser.O Ser pelo qual o Nada vem ao mundo é um ser para o qual, em seu Ser,está em questão o Nada de seu ser:o ser pelo qual o Nada vem ao mundo deve ser seu próprio Nada.E por isso deve-se entender não um ato nadificador,que requisesse por sua vez um fundamento no Ser, e sim uma característica ontológica do Ser requerido.”


É importante que fique claro uma coisa: não finjo entender sua obra nem conheço alguém que a entenda e é exatamente essa a questão.Li-a e leio-a como poeta.Não sou filósofo. De qualquer forma,o processo de nadificação a que Sartre se refere interpreto como o início do processo de derrocada descrito por Fitzgerald em seu “A Derrocada e outros textos autobiográficos” 


 Discordando respeitosamente de Álvaro Cabral, usarei o termo também usado por Alberto Pucheu em suas aulas de Teoria Literária (que assisti quando era ainda calouro na UFRJ). O termo em questão é fissura,aquilo a que estamos(nós,artistas)especial e perigosamente sujeitos quando não conseguimos lidar com a angústia que descobrimos em nosso íntimo- muitas vezes estreitamente ligada ao nosso talento. Claro que isso não vale somente para o poeta, mas também para o leitor. O talento, a sensibilidade aguçada é, de fato, uma faca de dois gumes. Uma faca sem cabo. Uma faca só lâmina, como diz o poema de João Cabral de Melo Neto (o poema “Uma Faca só Lâmina” foi por muito tempo, para mim, uma verdadeira obsessão). E a fissura é só o primeiro passo de uma longa jornada até o Nada. E de lá não há retorno. Pode-se apenas continuar a caminhada, apesar das feridas- ou mesmo por causa delas.
Sim, é possível, ou melhor, necessário atravessar o Nada. Por isso considero tão importante a mensagem “A possíveis leitores” que abre o romance de Clarice Lispector, A Paixão Segundo G.H:

“Este livro é como um livro qualquer. Mas eu ficaria contente se fosse lido apenas por pessoas de alma já formada. Aquelas que sabem que a aproximação, do que quer que seja, se faz gradualmente e penosamente- atravessando inclusive o oposto daquilo que se vai aproximar. Aquelas pessoas que, só elas, entenderão bem devagar que este livro nada tira de ninguém. A mim, por exemplo, o personagem G.H foi dando pouco a pouco uma alegria difícil; mas chama-se alegria.”

Essas palavras resumem muito bem minha relação com a poesia - especialmente quando eu comecei a descobri-la (e não, eu ainda não estava com a alma já formada, o que foi, de certa forma, um problema, mas não um desastre - e é mais do que óbvio que eu não me comparo à Clarice Lispector em qualquer sentido nem minha obra à sua).
O que quero dizer é que só percebendo a força do Nada percebemos a força do Ser, e só atravessando o Nada é que pude chegar ao Ser. Sempre digo que poesia é angústia, mas uma angústia redentora. A 
redenção (afasto-me agora de Sartre) acontece a partir do contato com o leitor. Através desse contato, a partir desse diálogo, há empatia, comoção; assim a redoma se quebra e percebemos (autores e leitores) que não estamos sós. Minha poesia é, portanto, uma travessia. Um chamado. Uma jornada para o âmago do ser imanente em todos nós,e a partir daí,a possibilidade de redenção.
Uma jornada penosa , que faço com muita alegria.
                 

 TN – Há na sua obra uma relação mítica e mística. Em sua opinião, como elas dialogam e o grau de abstração?

 Não vejo algo de místico,  mas mítico, fruto dos contos greco-romanos que meu pai lia para nós (eu e meu irmão) quando nos colocava para dormir (eu gostava especialmente da história da Guerra de Tróia e ainda mais da história de Teseu e o labirinto, morrendo de medo do Minotauro).
Lembro-me que um dos primeiros autores que li foi Monteiro Lobato. E uma de minhas histórias preferidas do autor é a que Pedrinho encontra o Saci Pererê. Em dado momento, ambos sobem em uma árvore e veem todas as criaturas sobrenaturais do nosso folclore passando, uma por uma. Desde o lobisomem até a mula sem cabeça (pelo menos é disso que lembro, já se vão muitos anos). 

Aquilo só aumentou meu fascínio pelo sobrenatural, o que não era visto com bons olhos pelos meus pais, que me fizeram ler “A Metamorfose” de Kafka para ver se eu “tomava jeito”. Obviamente, o tiro saiu pela culatra. Terminando Kafka, que li não como uma crítica ao capitalismo ou qualquer coisa assim, mas como uma triste história de horror com final mais do que infeliz, parti para “Drácula” de Bram Stoker e “Entrevista com o Vampiro” de Anne Rice (houve uma verdadeira guerra lá em casa para que eu conseguisse acesso a esses livros, mas como eu tinha feito minha parte, meus pais se viram obrigados a ceder; ganhei o romance de Rice como presente de aniversário aos treze anos, e depois li todos os outros- que não chegaram aos pés do primeiro pois não traziam seu pathos, lembrando que isso foi pouco antes do filme ser lançado-ainda hoje rio da polêmica em relação à escolha do elenco). Em algum momento, a autora estadunidense obviamente passou a escrever por questões financeiras; eu fiquei especialmente ofendido muito tempo depois como leitor ao terminar “O Vampiro Armand” (bom, pelo menos o romance em questão curou minha insônia).

Todas essas leituras dialogam comigo hoje não por nostalgia, mas porque por muito tempo foi só o que conheci além do mundo dos gibis e filmes/romances de ficção científica. Houve, após a fissura a que me referi antes, uma sublimação através dessas leituras, o que possibilitou que eu fizesse meu caminho.


---------X---------
Logo vocês terão acesso a mais um trecho dessa entrevista... Espero que tenham gostado... Até o próximo post...


20 comentários:

  1. Ele fala como um filósofo,em cada frase uma reflexão. Fiquei com vontade de ler algo dele só parar ver quão profundo pode ser. Muito boa a estrevista :)

    ResponderExcluir
  2. Oi, Maria
    Ainda não conhecia muito do autor e gostei da entrevista. Como ele, quando pequena um dos autores que tive contato primeiro foi Monteiro Lobato, adorei a comparação.

    livrosvamosdevoralos.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  3. Oiii
    Gostei muito de conhecer melhor o autor e espero um dia poder ler alguma de sua obra, quando eu era pequena gostava muito de Monteiro Lobato.
    Beijão flor

    ResponderExcluir
  4. Muito legal seu post.É muito importante conhecer melhor nossos autores.
    Esperando a parte II.
    Abraço;

    http://estantelivrainos.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  5. Oie
    bem legal seu post, é sempre legal conhecer melhor o autor e ainda não conhecia esse, bela dica

    Beijos
    http://realityofbooks.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  6. Oi Valéria, não conheço autor, e achei a entrevista muito confusa e me perdi em vários momentos nas respostar do autor. Talvez uma coisa mais direta seria mais compreensivo. Sorry. Bjs

    ResponderExcluir
  7. Não conhecia o autor...adoro essas entrevistas!

    Beijokas da Quel ¬¬
    Literaleitura

    ResponderExcluir
  8. Não conhecia o autor, foi uma grande oportunidade de conhece-lo através de sua postagem. Monteiro Lobato é tudo! Espero poder ter a oportunidade de conhecer as obras de Claudio Duffrayer
    Abraço
    Ni
    Cia do Leitor

    ResponderExcluir
  9. Apesar de adorar ler entrevistas para conhecer melhor o autor, achei que foi uma entrevista pouco dinâmica. O autor deixou respostas muito longas e foram apenas duas perguntas. Mas achei intrigante suas obras mesmo assim. Sucesso a ambos!
    Até + ver! Nu.
    As 1001 Nuccias | Curtiu?

    ResponderExcluir
  10. hi baby, tudo bem? gostei da entrevista apesar de achar as respostas muito compridas e monótonas mas não podemos deixar de notar a inteligencia nas palavras. parabéns pela entrevista!

    Lilian Valentim
    http://speakcinema.blogspot.com.br/
    beijinhos

    ResponderExcluir
  11. Sinto que o autor entrevistado, na urgência de parecer muito culto, mostrou o quanto é ignorante.
    Perdeu a chance de conectar-se com o público, perdido numa egolatria prolixa e sem sentido.
    Demonstrou que não sabe comunicar-se e fez com que eu não tenha vontade alguma de passar nem mesmo a quilômetros de sua obra.

    ResponderExcluir
  12. Olá, ainda não conhecia o autor e gostei da entrevista, assim como ele eu também praticamente iniciei minhas leituras como Monteiro Lobato e seu sítio.

    petalasdeliberdade.blogspot.com

    ResponderExcluir
  13. Hey,
    Nossa que entrevista ótima, tão profunda. Não conhecia o autor e gostei muito da chance de fazê-lo.
    Beijos,
    Dois Dedos de Prosa

    ResponderExcluir
  14. Oi! Tudo bem?

    Não conhecia o autor... Adorei a entrevista! Deu para perceber um pouco o estilo de escrita dele. E, cara, que frase linda "RESULTADO DA MINHA NECESSIDADE DE SOBREVIVER". Muito poético! Aguardarei o sorteio.

    Beijos,

    Juliana Garcez | Livros e Flores

    ResponderExcluir
  15. Oi, tudo bem?
    não conhecia o autor, mas achei as resposta muito rebuscadas, para uma entrevista. Achei legal as referências dele, como Bran Stoke e Anne Rice, mas sua linguagem mais densa em uma entrevista, me desanima de encarar uma obra do autor
    beijos
    http://meumundinhoficticio.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  16. Olá, eu não conhecia o autor e nem sua obra, gostei da suas perguntas e apesar de longas o autor as respondeu bem *-* Vou dar uma olhadinha nas outras postagem dessa semana especial e ver se o livro faz o meu estilo *-*

    Visite "Meu Mundo, Meu Estilo"

    ResponderExcluir
  17. Oii,

    Muito bacana essa entrevista.
    Gostei de conhecer mais sobre a escrita do autor e também e como desenvolve suas obras.
    Parabéns pelo post.

    Beijos

    ResponderExcluir
  18. Olá! Muito boa a entrevista com o autor, pois ainda não o conhecia. Fiquei curiosa para conferir a sua obra :D

    umreinomuitodistante.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  19. Eu não sou a maior fã de poesia do mundo, confesso, mas acho a poesia uma forma muito única de expressão, e quando você conhece mais do que está por trás da poesia de um autor, é muito interessante. Parabéns pela entrevista, e eu vou tentar conferir pelo menos um pouco do trabalho desse autor.

    laoliphant.com.br

    ResponderExcluir

De Bukowski a Dostoievski. Ana Cristina César a Lilian Farias. Deleite-se com a poesia de Florbela Espanca e o erotismo de Anaïs Nin...
Aforismos, devaneios, quotes dispersos e impressões literárias...um baú de antiguidades e pós-modernismo. O obscuro, complexo, distópico, inverso... O horror, o amor, a loucura e o veneno de uma alma em busca de liberdade...

Seja bem-indo-e-vindo[a]!

Witches Hat
Tecnologia do Blogger.