Escritores e poetas e suas cartas de amor...
Hoje é dia dos namorados, data comemorada aqui no Brasil em 12 de junho, então resolvi fazer um post temático a respeito. Trata-se de um compilado que fiz de cartas que alguns autores enviaram às pessoas amadas. Então, vamos lá... Escolhi alguns autores que mais gosto.
Fiódor Dostoievski para sua amada Anna Grigórievna Snítkina [1867].
"Bom dia, anjo querido, beijo-te muito. Pensei em ti durante todo o caminho. Acabo de chegar. Sinto-me cansado e instalei-me para te escrever. Acabam de trazer-me chá, e água para me lavar, mas no intervalo escrevo-te umas linhas. (…) Na sala de espera da estação andei de lá para cá a pensar em ti e dizia comigo: mas porque deixei eu a minha Anuska?
Recordava tudo, até ao mais ínfimo escaninho da tua alma e do teu coração. Desde que casámos que descobri não ser digno de um anjo tão doce, tão belo, tão puro como tu – e que crê em mim. Como pude eu deixar-te? Para onde vou? Porquê? Deus confiou-te a mim para que nenhuma das riquezas da tua alma se perdesse – pelo contrário, para que tudo se desenvolva e floresça rica e esplendorosamente. Deus entregou-te a mim para que, por ti, eu resgate os meus enormes pecados, ao apresentar-te a Ele amadurecida, conservada, salva de tudo o que é baixo e ofende o espírito. E eu (…) eu o que faço é perturbar-te com coisas tão estúpidas como a minha viagem a este lugar."
Machado de Assis, para sua amada Carolina de Novais [1869].
"Diz a Madame de Stael que os primeiros amores não são os mais fortes porque nascem simplesmente da necessidade de amar. Assim é comigo; mas, além dessa, há uma razão capital, e é que tu não te pareces nada com as mulheres vulgares que tenho conhecido. Espírito e coração como o teu são prendas raras; alma tão boa e tão elevada, sensibilidade tão melindrosa, razão tão recta não são bens que a natureza espalhasse às mãos cheias (…). Tu pertences ao pequeno número de mulheres que ainda sabem amar, sentir, e pensar. Como te não amaria eu? Além disso tens para mim um dote que realça os mais: sofreste. É minha ambição dizer à tua grande alma desanimada: «levanta-te, crê e ama: aqui está uma alma que te compreende e te ama também».
A responsabilidade de fazer-te feliz é decerto melindrosa; mas eu aceito-a com alegria, e estou certo que saberei desempenhar este agradável encargo. Olha, querida; também eu tenho pressentimento acerca da minha felicidade; mas que é isto senão o justo receio de quem não foi ainda completamente feliz?
Obrigado pela flor que mandaste; dei-lhe dois beijos como se fosse a ti mesma, pois que apesar de seca e sem perfume, trouxe-me ela um pouco de tua alma. Sábado é o dia da minha ida; faltam poucos dias e está tão longe! Mas que fazer? A resignação é necessária para quem está à porta do paraíso; não afrontemos o destino que é tão bom connosco. (…) Depois… depois querida, queimaremos o Mundo, porque só é verdadeiramente senhor do Mundo quem está acima das suas glórias fofas e das suas ambições estéreis. Estamos ambos neste caso; amamo-nos; e eu vivo e morro por ti."
Carta de Fernando Pessoa a Ofélia Queiroz [1920].
"Meu Bebé pequeno e rabino:
Cá estou em casa, sozinho, salvo o intelectual que está pondo o papel nas paredes (pudera! havia de ser no tecto ou no chão!); e esse não conta. E, conforme prometi, vou escrever ao meu Bebezinho para lhe dizer, pelo menos, que ela é muito má, excepto numa coisa, que é na arte de fingir, em que vejo que é mestra.
Sabes? Estou-te escrevendo mas não estou pensando em ti . Estou pensando nas saudades que tenho do meu tempo da caça aos pombos ; e isto é uma coisa, como tu sabes, com que tu não tens nada...
Foi agradável hoje o nosso passeio — não foi? Tu estavas bem disposta, e eu estava bem disposto, e o dia estava bem disposto também (O meu amigo, não. A. A. Crosse: está de saúde — uma libra de saúde por enquanto, o bastante para não estar constipado).
Não te admires de a minha letra ser um pouco esquisita. Há para isso duas razões. A primeira é a de este papel (o único acessível agora) ser muito corredio, e a pena passar por ele muito depressa; a segunda é a de eu ter descoberto aqui em casa um vinho do Porto esplêndido, de que abri uma garrafa, de que já bebi metade. A terceira razão é haver só duas razões, e portanto não haver terceira razão nenhuma. (Álvaro de Campos, engenheiro).
Quando nos poderemos nós encontrar a sós em qualquer parte, meu amor? Sinto a boca estranha, sabes, por não ter beijinhos há tanto tempo... Meu Bebé para sentar ao colo! Meu Bebé para dar dentadas! Meu Bebé para...
(e depois o Bebé é mau e bate-me...) «Corpinho de tentação» te chamei eu; e assim continuarás sendo, mas longe de mim.
Bebé, vem cá; vem para o pé do Nininho; vem para os braços do Nininho; põe a tua boquinha contra a boca do Nininho... Vem... Estou tão só, tão só de beijinhos ...
Quem me dera ter a certeza de tu teres saudades de mim a valer . Ao menos isso era uma consolação... Mas tu, se calhar, pensas menos em mim que no rapaz do gargarejo, e no D. A. F. e no guarda-livros da C. D. & C.! Má, má, má, má, má...!!!!!
Açoites é que tu precisas.
Adeus; vou-me deitar dentro de um balde de cabeça para baixo para descansar o espírito. Assim fazem todos os grandes homens — pelo menos quando têm — 1º espírito, 2º cabeça, 3º balde onde meter a cabeça.
Um beijo só durando todo o tempo que ainda o mundo tem que durar, do teu, sempre e muito teu
Fernando (Nininho)."
Carta de Virginia Woolf para o marido, Leonard [1941]
“Meu Muito Querido:Decerto essa foi uma das mais tristes, por se tratar de uma carta de despedida, pois Virgínia se suicidou logo após...
Tenho a certeza de que estou novamente enlouquecendo: sinto que não posso suportar outro desses terríveis períodos. E desta vez não me restabelecerei. Estou começando a ouvir vozes e não consigo me concentrar. Por isso vou fazer o que me parece ser o melhor.
Deste-me a maior felicidade possível. Fostes em todos os sentidos tudo o que qualquer pessoa podia ser. Não creio que duas pessoas pudessem ter sido mais felizes até surgir esta terrível doença. Não consigo lutar mais contra ela, sei que estou destruindo a tua vida, que sem mim poderias trabalhar. E trabalharás, eu sei. Como vês, nem isto consigo escrever como deve ser. Não consigo ler.
O que quero dizer é que te devo toda a felicidade da minha vida. Fostes inteiramente paciente comigo e incrivelmente bom.
Quero dizer isso — toda a gente o sabe. Se alguém me pudesse ter salvo, esse alguém terias sido tu. Perdi tudo menos a certeza da tua bondade. Não posso continuar a estragar a tua vida.
Não creio que duas pessoas pudessem ter sido mais felizes do que nós fomos.
V.”
Carta de Lord Byron a sua amada Teresa de Guiccioli [1819].
"Meu amor adorado: a tua querida cartinha ao chegar-me hoje às mãos veio dar-me o primeiro momento de alegria desde que partiste. O que eu sinto corresponde exactamente – ai de mim – aos sentimentos que expressas, mas é-me muito difícil responder na tua bela língua a essas doces expressões, que merecem uma resposta mais em actos do que em palavras. Espero, no entanto, que o teu coração seja capaz de sugerir tudo o que o meu gostaria de te dizer. Talvez que se te amasse menos não me custasse tanto exprimir o meu pensamento, pois tenho de vencer a dupla dificuldade de expor um sofrimento insuportável numa língua estranha. Desculpa os meus erros. Quanto mais bárbaro for o meu estilo, mais se assemelhará ao meu Destino longe de ti. Tu, o meu único e derradeiro amor – tu, minha única esperança – tu, que já me habituara a considerar só minha – partiste e eu fiquei sozinho e desesperado. Eis a nossa história em poucas palavras. É esta uma provação que suportaremos como outras suportámos, porque o amor nunca é feliz, mas devemos, tu e eu, sofrer mais ainda, pois tanto a tua situação como a minha são igualmente extraordinárias.
(…) Quando o Amor não é o Senhor de um coração, quando não cede tudo perante ele, quando não se lhe sacrifica tudo, então trata-se de Amizade, – de estima – de tudo o que tu quiseres, mas de Amor é que não.
(…) Antes de te conhecer estava sempre interessado em muitas mulheres, nunca numa só. Agora, que te amo, não existe nenhuma outra mulher no Mundo. Falas de lágrimas e da nossa desdita; o meu sofrimento é interior, não choro.
(…) Meu tesouro adorado – tremo enquanto te escrevo, como treme o mesmo doce bater de coração. Tenho milhares de coisas para te dizer e não sei como dizer-tas – um milhão de beijos para te dar, e, ai de mim, quantos suspiros! Ama-me – não como eu te amo, pois te sentirias muito infeliz; não me ames como eu mereço, pois não seria o bastante – ama-me como te ordena o coração. Não duvides de mim. Sou e serei sempre o teu mais terno amante."
Henry Miller, em carta a Anais Nïn [1932]
"Tudo o que posso dizer é que estou louco por ti. Tentei escrever uma carta e não consegui. Estou constantemente a escrever-te... Na minha cabeça, e os dias passam, e eu imagino o que pensarás. Espero impacientemente por te ver. Falta tanto para terça-feira! E não só terça-feira... Imagino quando poderás ficar uma noite... Quando te poderei ter durante mais tempo... Atormenta-me ver-te só por algumas horas e, depois, ter de abdicar de ti. Quando te vejo, tudo o que queria dizer desaparece... O tempo é tão precioso e as palavras supérfluas... Mas fazes-me tão feliz... porque eu consigo falar contigo. Adoro o teu brilhantismo, as tuas preparações para o voo, as tuas pernas como um torno, o calor no meio das tuas pernas. Sim, Anais, quero desmascarar-te. Sou demasiado galante contigo. Quero olhar para ti longa e ardentemente, pegar no teu vestido, acariciar-te, examinar-te. Sabes que tenho olhado escassamente para ti? Ainda há demasiado sagrado agarrado a ti. "
Gostaria de acrescentar as cartas de Oscar Wilde a seu amante Bosie, mas o post ficaria deveras extenso... então, resolvi postar amanhã apenas sobre os dois, aguardem... ;)
espero que tenham curtido o post e a pequena homenagem aos enamorados...
Olá; gostei muito do post, foi super interessante conhecer um pouco mais sobre os amores dos autores.
ResponderExcluirOi, tudo bem?
ResponderExcluirAchei um post bem diferente mais que tem tudo a ver com o dia dos namorados!
Amei ler as cartas dos autores a suas amadas e a seu amado no caso da Virginia! Gente quanto amor e quanta beleza nessas palavras!
Beijo :*
http://www.livrosesonhos.com/
aai que post lindo, você arrasa sempre nas suas postagens!! ^^ Eu nunca tinha lido algo assim! muito legal mesmo!! <3
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirAdorei o post! Trocar cartas é uma coisa tão romântica e legal, pena que perdemos o hábito nos dias de hoje.
Beijos!
http://www.mademoisellelovesbooks.com/
Uma das coisas mais lindas para mim são cartas e quando as cartas são antigas, é algo extraordinário. É tão puro e bem escrito que você sente o amor saltar de cada palavra, coisa que hoje em dia é dificil acontecer, o amor se tornou muito liquido. Fora isso, antigamente existia aqueles amores proibidos, é muito gostoso ler aquilo, você torce tanto pelo casal que desejava voltar ao tempo e tentar ajuda-los. <3
ResponderExcluirBelo post, ideia brilhante!
http://teoremasdamimosa.blogspot.com.br/2015/06/6-coisas-que-acontecem-em-estreias_12.html
Olá!
ResponderExcluirAdorei o post, mega interessante!
Achei todas as cartas lindas, é tão bonito esse tipo de declaração, tão puro, tão inocente. Prefiro cartas do que mensagens, rs.
A carta que mais gostei foi a primeira <3
Ótimo post!
Beijos!
www.livrosdajess.com
Olá Maria, amei o sua postagem, ela foi bem original e as cartas são lindas *---*
ResponderExcluirVisite "Meu Mundo, Meu Estilo"
ADOREI!
ResponderExcluirQue curiosidade interessante (e um pouco mórbida, no caso de Virgínia). Eu gosto de ver os escritos daquela época, quando os sentimentos eram intensos e sua descrição era tão rica. Amei as seleções. Bebezinho rabino? Haha. Certo... estranho, mas interessante.
Beijos!
http://www.myqueenside.blogspot.com
Adorei seu post, não conhecia as cartas, achei muito interessante, *-*
ResponderExcluirbeijos
www.apenasumvicio.com
Ótima postagem, mesmo.
ResponderExcluirTer acesso a uma carta que Dostoievski mandou à sua gata é demais.
Abraços!
Oie, tudo bom?
ResponderExcluirComo as cartas antigamente eram verdadeiras declarações de amor. Tinham entrega e poesia, algo que não conseguimos alcançar com os e-mails hoje em dia.
Beijos,
http://livrosyviagens.blogspot.com.br/
Porra Val, arrasasse na postagem.
ResponderExcluirFiquei com os olhos cheios de lágrimas e carentona,
Quero um amor Romancista ou Poeta.
Eu não sabia que Henry e Anais eram um affair,
Adorei a carta dele pra ela.
Beijos
Oii, tudo bem com você?
ResponderExcluirGente, post mais romântico que esse não há, sorte delas por terem homens que escrevessem à elas desta maneira, quem não gostaria de receber declarações tão poéticas e lindas como estas? Eu gostaria muito.
Beijos da Jéss ♥
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