Romanceiro Cigano - Federico Garcia Lorca

 A obra Romanceiro cigano foi publicada pela primeira vez em 1928. O livro é composto de poemas que abordam diversos aspectos da cultura cigana da região de Andaluzia, terra natal do poeta ibérico Federico Garcia Lorca.


Romanceiro foi publicado aqui no Brasil pela Hedra Editora, e consta de 18 poemas, sendo considerada a obra-prima de Lorca. Os poemas possuem algumas distinções em sua métrica - alguns são mais narrativos, outros de composição lírica - muito comuns nos séculos XVI e XVII, mas em ambos os formatos apresentam a figura do cigano inserido em elementos de suas tradições, além de fazer alusões a natureza, figuras da condição gitana, unidas por um forte simbolismo.


Amor, Destino, Tragédia, o mítico e folclórico estão presentes compondo os versos de Romanceiro cigano. A Andaluzia descrita/narrada vai além do flamenco já familiar da cultura, mas é carregada de subjetividade, mistério e ocultismo. 


Forças místicas, o feminino em seu elemento sombrio, anjos, um tom épico na narrativa trágica e por último, uma sequência de poemas históricos formam sua estrutura - corpo/alma da obra. Os poemas são carregados de simbolismos representando elementos da natureza, como a sedução da Lua, um vento perseguidor e, claro, forças universais humanas elevadas ao extremo, tais como a possessão, a paixão obsessiva, o primitivismo em sua mais pura essência. 


No lirismo dos poemas que tem ênfase na condição feminina uma cigana morre à espera de seu grande amor; O proibido/luxúria povoa os pensamentos de uma casta freira encarcerada - desejo de liberdade, fé que condiciona, aprisiona. Resignação pelas sombras em frestas. Em paradoxo, uma mulher infiel que escolhe a liberdade ao invés do claustro social. 


Os anjos são representados pelos poemas que têm como título nomes angelicais, como San Miguel, San Rafael, San Gabriel e que simbolizam cada um, uma cidade da região: Granada, Sevilha e Córdoba. Metafóricos e de difícil compreensão ou significado. Nos relatos pseudo-históricos, temos três poemas encerrando o livro, apresentando personagens marginalizados e perseguidos, que numa leitura atenta mostram-se semelhantes a outros já apresentados nos poemas iniciais de Romanceiro. 


A tradução foi realizada por Fábio Aristimunho Vargas, responsável pelo compilado de poemas ibéricos que formam os livros de Poesia Galega, espanhola, catalã e basca [apenas este último ainda não foi apresentado aqui no blog]. Trata-se de um trabalho impecável e que faz jus às línguas originais e a riqueza de suas métricas/rítmicas. 


Federico Garcia Lorca foi executado durante a Guerra Civil que acometeu a Espanha na década de 1930, morto por nacionalistas que tomaram o poder. Os ciganos descritos no livro são originários da Índia; povo nômade que se espalhou por diversas partes da Ásia e Europa, em que cada grupo carrega tradições específicas de seu meio. No caso dos ciganos espanhóis, há uma possível origem egípcia.

Os seus olhos nas umbrias

se empanam de imensa noite.

Pelas arestas do ar

crepita a aurora salobre.


Sus ojos en las umbrías

se empañan de immensa noche.

En los recodos del aire

cruje la aurora salobre. 


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8 comentários:

  1. Conheço pouco sobre a terra natal do poeta ibérico Federico Garcia Lorca. Na verdade, a menção dele ainda é inédito pra mim.
    Então, achei ótima a proposta do livro por ser composto de poemas que abordam diversos aspectos da cultura cigana da região de Andaluzia.

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  2. "Aspectos da cultura cigana' só precisa dizer isso para saber que é para mim, lógico que o nome do autor tem peso hehehehhe infelizmente, não tenho o livro, mas já está aqui na lista de leitura. Se não for pedir muito, faz uma postagem com as dez melhores poesias do livro, amo ler esse tipo de publicação

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  3. Interessante a temática dessa obra, sempre fui curioso coma vida e costumes dos ciganos, portanto fiquei bem curioso para ler.

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  4. Eu gosto muito desse estilo de capa. Chamou muito minha atenção!
    Sobre a obra, como sempre estou sempre devendo em relação a poemas e poesias. Mas, nunca me privo do tema, somente tenho poucas oportunidades de explorar (e entender) melhor o gênero.
    Gostei muito dos temas que você relatou constar no livro. Eu sempre fico aqui, anotando as dicas, para ver se me deixo experimentar em algum momento oportuno.

    Beijocas

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  5. Eu gosto muito da escrita do Lorca! Faz tempo que não leio nada dele, eu li quando estava estudando literatura hispânica e foi uma experiência riquíssima! E esses temas são abordados mesmo na obra dele, arrasou na resenha!

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  6. Nunca tive o prazer de conhecer a escrita do autor, mas gosto quando tem temas que trabalham a cultura e a história de um país porque me facilitam conhecê-lo!

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  7. Oie,Val! Os poemas nunca fizeram muito parte das minhas listas de leitura, sempre tive um pouco de bloqueio em relação ao gênero. Porém tenho encontrado boas e interessantes dicas aqui com vc, como eh o caso dessa vez. Gostei bastante dos temas abordados e da sua ótima explicação sobre eles.

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  8. Nunca li nada com aspectos da cultura cigana e nem com a mistura de nomes de anjos, achei curioso e diferente do que costumo ler.

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