Projeto de Leitura 50 contos de Machado de Assis
Estou participando de um grupo de Leitura Coletiva/Projeto literário elaborado pela Andréa, do blog Fundo Falso, que tem o objetivo de ler e discutir semanalmente a obra 50 Contos de Machado de Assis. A meta é ler um conto do livro por dia e discutir aos domingos, numa live pelo seu Instagram. Resolvi falar aqui no blog as minhas considerações acerca desses contos, que tem como elo a já característica ironia refinada do escritor destilada a sociedade em que viveu.
O conto Inácio reuniu duas paixões: a música/violoncelo e desfechos doloridos/poéticos. Conta a história de um homem chamado Inácio, que desde muito cedo aprendera a tocar rabeca mas após um encontro com um violoncelista alemão, percebeu que seu amor era realmente aquele belo instrumento. O tempo se passou, perdeu sua mãe, casou, e não mostrava ao mundo lá fora seu talento com o Violoncello. Apenas sua esposa Carlota, conhecia suas aptidões graciosas e melancólicas. Inácio a amava, Carlota retribuía esse amor e ambos tiveram um filho, que, segundo o pai, haveria de segui-lo na música... E então, sua arte começa a se fazer ouvida por terceiros, atraindo a atenção de dois jovens músicos, Barbosa e Amaral. Um tocava Machete, e logo a atenção se volta para ele e seu instrumento.. eis o início do fim...
É presente na escrita de Machado um tom coloquial, que transporta o leitor ao Rio de Janeiro do século 19, mesmo que inconscientemente... Dadas suas descrições, há que se visualizar o ambiente, a atmosfera e conveniências sociais que permeiam os seus personagens. Talvez pela verbalidade dos monólogos/diálogos, pelas descrições de cenário/figurino ou pelos sentimentos/pensamentos debulhados ao longo da narrativa essa percepção se faça mais notável...
O segundo conto é intitulado A arca. Trata-se de uma crítica excelente sobre a ambição humana. Não há limites quando se trata de poder e acúmulo de riquezas. Os laços de sangue não representam nada quando a cobiça é soberana.
O conto faz uma crítica visceral sobre a ambição humana na figura de dois dos três filhos de Noé, que disputam as terras que ainda se encontram submersas pelo dilúvio, a fim de definir quem ficará com a maior parte.
Teoria do medalhão.
Nesse conto, Machado apresenta um diálogo entre pai e filho, depois de um jantar para comemorar a maioridade do filho. O pai começa a tecer conselhos de como o filho deve se portar na sociedade a partir dali, ignorando a individualidade do indivíduo e alimentando as convenções sociais, já tão saturadas de senso comum. Não se deve sorrir verdadeiramente, não se deve buscar conhecimento. O filho deveria apenas se atentar a massificação de discursos vazios e prontos, que tão somente vão mantê-lo em pauta notável na sociedade. Machado traz mais um conto repleto de ironia - que se nota pela fala do personagem mais velho - que serve como crítica a uma sociedade engessada, ignorante e que se alimenta de aparência. Curiosa a maneira como ele referencia grandes nomes e obras de pensadores universais, como Voltaire e Maquiavel.
Certamente, uma leitura breve e brilhantemente mordaz com relação aos costumes de seu tempo. Mais uma vez, se torna atemporal, pela maneira como a sociedade segue seu percurso, quase 150 anos depois..
Algo igualmente relevante a ser considerado é que os conselhos do pai ao filho não passam de uma projeção de suas frustrações, devido ao insucesso de ter alcançado notoriedade em seus jovens anos. Outro ponto que acho válido ressaltar é sobre o trecho que ele fala sobre ambientes como livrarias. Há que se frequentar para aparentar sabedoria, mas sem realmente/verdadeiramente estar ali em busca de conhecimento de fato. Trata-se de uma estrutura social que valoriza o ter em detrimento do ser.
A visita de Alcibíades.
Alcibíades é um personagem grego, que viveu na Antiguidade. E nesse conto de Machado ele tem um encontro com o protagonista e narrador, que fala desse encontro sobrenatural/espiritual numa carta, endereçada a uma autoridade policial.
A conversa entre os dois se dá partindo da perspectiva do choque cultural, pois o grego nada sabe das mudanças que ocorreram ao longo dos séculos, após a sua morte. O protagonista lhe atualiza dos fatos, e não é sem espanto que Alcibíades repara na indumentária do século 19, tão distinta de seu próprio tempo.
Machado apresenta elementos sobrenaturais a sua trama - a aparição de alguém morto há séculos - interagindo com o narrador, que até então não se dava por convencido do fenômeno, e o autor insere aí como referência Plutarco, por onde se dá esse encontro absurdo, surreal.
Dona Benedita, protagonista do conto que lhe dá nome, é uma mulher que vive afastada do marido, devido a ocupações deste em outro estado, e se sente solitária, apesar de morar com seus dois filhos; um rapazinho e a filha Eulália. Está última, já em idade de casar, é incisiva quando a mãe dá mostras de casá-la com Dr. Leandrinho, filho de dona Maria dos Anjos, que parece ter um grande afeto por Benedita...
Dona Benedita escreve ao marido pedindo conselhos, e a filha continua firme em sua negação de firmar matrimônio com Leandro.
Machado nos apresenta duas mulheres de personalidades opostas interagindo no mesmo conto: a objetiva Eulália, que parece sempre saber o que quer e Não quer da vida, e sua mãe Benedita, que a todo tempo se encontra numa corda bamba, ora decide viajar, depois desiste. Casa, não casa. Benedita não passa de uma mulher inconstante presa às convenções sociais burguesas e entediantes. Trata-se de mais uma excelente crítica à sociedade da época, vazia e que vive de aparências...
Eis os contos lidos e discutidos na primeira semana do projeto. Excetuando O alienista, que terá uma postagem em específico para a obra...
Até a próxima...
Eu adoro Machado e esse ano eu queria ler muitos textos dele. Espero ainda conseguir, mesmo sabendo que não se pode ler tudo e estou lendo bastante nessa quarentena. Acho que você ganhou um seguidor mesmo, adorei a página!
ResponderExcluirAbraços!
Victor Wallace
http://naliteraturaselvagem.blogspot.com
Eu gostei bastante desse projeto da Deia <3
ResponderExcluirNão consegui participar pq tenho andado bem desmotivada com as leituras e consequentemente caiu o meu ritmo de leitura. Mas estou acompanhando as lives e discussões no insta dela.
Sai da Minha Lente