Você fica tão sozinho às vezes que até faz sentido - Charles Bukowski


lá fora, o tráfego corre pra lá e pra cá, pra cá e pra
lá,
indo a
lugar nenhum.


É com essa sensação de desolamento que a obra de Charles Bukowski nos penetra a existência. Você fica tão sozinho que às vezes até faz sentido é sobre o vazio do ser, uma contemplação existencial que te leva a lugar nenhum, e te imerge em devaneios cinzentos.




Publicado aqui no Brasil pela L&PM Editores, a obra é um dos tantos livros de poemas que o escritor deixou em seu legado literário, mas que em meio a tantos, se sobressai avulsamente pelo sentimento de torpor que envolve os leitores. 

Bukowski desnuda o insosso da vida com uma escrita ágil, feroz, visceral e honesta. Seus versos dialogam com suas vivências de maneira poética, profunda e ao mesmo tempo simples. Parece ser tão fácil lidar com os problemas mundanos, mas é complexo expor num papel preso a uma máquina de escrever. Mas Charles Bukowski o fazia de maneira magistral, envolto em fumaça de cigarros baratos e goles de whisky barato - ou rum vagabundo.

Você fica tão sozinho é uma espécie de ode à apatia, à ironia que carrega as vicissitudes da vida.  É um xingamento aos relacionamentos difíceis e intempestivos, seja com o pai, com as mulheres que passaram por sua vida ou pelas corridas de cavalo perdidas. É uma elegia aos escritores infames que se consagraram e - na concepção de Buk - de nada ou pouca coisa valiam. É - e temos aqui um paradoxo - uma conexão rara com aqueles que se identificam com a solidão de seus escritos. Estar sozinho e fazer sentido, cingir a obra e o sentido de estar sozinho esfacelar...


um dos melhores versos de Lorca
é
"agonia, sempre
agonia..."

pense nisso quando você
matar uma
barata ou
pegar uma navalha para
se barbear

ou despertar na manhã
para
encarar o
sol.

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Um comentário:

De Bukowski a Dostoievski. Ana Cristina César a Lilian Farias. Deleite-se com a poesia de Florbela Espanca e o erotismo de Anaïs Nin...
Aforismos, devaneios, quotes dispersos e impressões literárias...um baú de antiguidades e pós-modernismo. O obscuro, complexo, distópico, inverso... O horror, o amor, a loucura e o veneno de uma alma em busca de liberdade...

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