Fumaça de incenso

Me sinto tão vazia... Estou rodeada de vozes familiares, vozes desconhecidas, burburinhos intermináveis. Nesta sala de aula, só almejo o silêncio, a quietude daquelas tardes...
Minha mente me transporta ao frescor daqueles dias...
O som da tua respiração, teu leve ressonar. Ao teu lado fui mais feliz, penso eu. Feliz com tão pouco, felicidade plena.
Senti ao teu lado o prazer saboroso de tuas idéias, enquanto a fumaça de incenso formava desenhos surreais diante de meus olhos, exalando cheiros e impregnando o ambiente com suas notas suavemente amadeiradas... Seu olhar me revelava coisas que os lábios não precisavam proferir... O suor que escorria pelo teu peito misturava-se aos líquidos de minha boca e de meu corpo... A luz que penetrava no cômodo por uma fresta na porta possibilitava a ambos admirarem a dança dos nossos corpos e suas sombras projetadas na parede, em movimentos cadenciados e arredios, quase selvagens ...Tive prazer com isto. Fui feliz com isto...
Me vêm à lembrança os teus cachos rebeldes,de uma cor de ébano, escuros tal qual a noite misteriosa que nos observava lá fora, que cascateavam teus ombros bem delineados, de uma beleza sublime... em contraste com teus olhos cor de avelãs e tua tez empalidecida como a face da lua cheia num céu pontilhado de estrelas longínquas.
Como és belo, meu souvenir...
Meus olhos presenciaram a personificação da beleza rebelde diante deles: você.
E a única canção que embalava meu torpor eram tuas cordas vocais, proferindo sons agradáveis e ininteligíveis, mas que eu compreendia perfeitamente, tal a doçura de sua entonação...
Meus lábios entreabriram-se, como que suplicando um beijo inefável. E tu prontamente viestes a meu socorro. Suas mãos macias percorriam meus caminhos sinuosos de pele e ossos... Senti minhas entranhas vibrarem ante teu toque mais íntimo... E o enlevo suave foi se intensificando, nossos olhos contemplavam as sombras na parede , que em perfeita sincronia rumo ao êxtase, explodiam juntas num gozo frenético e alucinante.
Estremeci...


E no aconchego dos teus braços, desfaleci o meu corpo...
Horas depois, os raios de sol que penetravam nas grandes janelas entreabertas contemplaram nossas tépidas faces em sua aurora brilhante e renovadora...

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