Poesia: a moça bonita de Alceu

Difícil ser pernambucano e não conhecer o trabalho de Alceu Valença como cantor/compositor... Mas nem todos sabem de sua faceta como escritor/poeta, embora seus versos cantados sejam por si mesmos pura poesia... O poeta da madrugada foi escrito em 2015 e nos soa como um presente aos fãs de sua música e uma ode à terra abençoada em que vivemos...

Passeando por Lisboa, o artista declama versos que refletem sua saudade das ladeiras olindenses, da Veneza brasileira e das terras cariocas. São poesias profundas, com sabor de nostalgia, tendo a madrugada como inspiradora em suas linhas, e que causam ao leitor profundo estado de contemplação... 

"A solidão é fera, a solidão devora,
É amiga das horas, prima irmã do tempo
E faz nossos relógios caminharem lentos,
Causando um descompasso no meu coração.
A solidão dos Astros, a solidão da lua,
A solidão da noite, a solidão da rua."


Alceu veio do Agreste de Pernambuco, de uma cidade chamada São Bento  do Una. Vivenciando de perto a cultura pertencente ao nordeste, dos aboiadores aos tocadores de sanfona e triângulo, declamadores da literatura de cordel e artistas circenses, ele reproduz ao máximo em suas canções toda a efervescência cultural dessas paragens, tornando sua obra rica e única. Enaltece as tradições, tece críticas aos males da sociedade, dá calor as palavras que soam em suas apresentações... Na poesia de O poeta da madrugada, nada seria diferente...

"Aonde é que tu vais, senhora estrada,
Companheira fiel do meu destino
E do tempo que corre em disparada
Sobre ti e teu solo agrestino?

Onde é que vamos fazer parada?
Pois o sol está quente quase a pino.
Vou deixar o meu tempo de menino
Qualquer dia retorno para casa.
Sob a lua, vamos nós na madrugada,
Sob um sol causticante e cristalino."

O livro se divide em duas partes. Numa delas, há um compilado de poesias com notas autobiográficas, e a segunda é sobre as cidades onde o poeta passou, sobre a solidão, amor, tempo e saudade, elementos presentes ao longo dos textos, escritos em épocas distintas da vida de Alceu...  A fim de finalizar minhas considerações sobre O poeta da madrugada, deixo a vocês parte do poema que mais gostei ao longo da leitura... Ele fala da linda capital pernambucana, com suas dualidades/paradoxos, uma urbanidade tão plena de beleza e encantamento, embora esconda em suas ruas, profunda dor, abandono e melancolia... puro pernambucolismo...

"Açucarada,
Doce e amarga
Em um só tempo.
Como puta de bordel!
De dubio temperamento:
Um dia para a alegria
E outro para lamento.

Por um lado eras Veneza
Com teus canais, tuas pontes,
Mauricéia Portuguesa,
Cidade dos navegantes
Com teus rios, tuas fontes,
Teus sobrados seculares
De um tempo tão distante,
Cheia de encanto e de charme.

Do outro lado, Recífilis,
Pobre, triste, de má fama,
Abandonada ao leu,
Meretriz jogada a lama.

Ainda hoje te vejo,
Tu és partida ao meio,
Teus sobrados,
Teus mocambos
E palafitas tão feios."

9 comentários:

  1. Gente, sou a única do mundo que não tem sensibilidade para apreciar uma boa poesia ? Olha, adorei sua postagem! Mas esse livro não é pra mim. :(

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  2. Olaá Valeria, tudo bem?
    Menina eu conhecia o Alceu cantor e compositor, mas poeta vou ser sincera e dizer que não. Amei os poemas que você postou e vou correndo adquirir a obra e conhecer um pouco mais. Amei a dica. Beijos

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  3. Menina! Eu amo as músicas de Alceu Valença, mas não sabia dessa faceta do cantor e olha que amo poesias. Já vou cantar de natal😁

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  4. Como assim eu não sabia desse livro????
    Já quero para ontem e tenho certeza de que irei ficar muito encantada e apaixonada com a obra.
    amo a primeira citação que você colocou na postagem. Conheço como música e sou completamente apaixonada por ela. Não precisou de mais nada para eu querer o livro!!!!
    Beijinhos,
    Lica
    Amores e Livros

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  5. Oie, tudo bem? Já ouvi falar muito dele, mas não conheço a obra e fiquei muito contente pelo seu post. Ficou muito bom, informativo.

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  6. Oi, Maria ^^
    Confesso não ter mais o costume de ler poesias, ela foi extinta logo no início da época em que comecei a ler livros de ficção. Acho lindas a maneira que certos poetas tem de tocar nossas almas, mas esbarro muito na não identificação com a mensagem passada por vários poemas, sabe. Essa foi a minha grande decepção porque sempre procuro entender os textos e nos poemas vi que nada é escrito às claras, existem muitas mensagens sublinhares, por isso que decidi parar de ler avidamente.
    Fiquei bem surpreso em saber que o Alceu lançou um livro de poesias e fico feliz por você trazer esse tipo de literatura para a blosfera, Maria.
    A capa do livro é muito misteriosa, o capista arrasou.
    Acho lindo quando os autores e poetas conseguem refletir a realidade de suas localidades e seus costumes.
    Parabéns pela resenha, Maria.
    Bjs

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  7. Oie
    muito legal o livro parece ser, eu não tenho o costumo de ler esse gênero mas é algo que quero ter mais conhecimento e adaptação pois acho um tanto inteligente

    Beijos
    http://realityofbooks.blogspot.com.br/

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  8. Oi Maria,
    Mesmo sendo do grande Alceu Valença, não sou muito fã de poesia.
    Beijos,
    André, do Garotos Perdidos

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