Histórias medonhas e Estranhos mistérios d'O Recife Assombrado - Roberto Beltrão
"...Ao caminhar pelos corredores escuros, viu o que não queria: vultos translúcidos apareciam de repente e lhe atravessavam o caminho. Formas difusas percebidas pelo canto do olho, à espreita de uma vítima distraída. Fantasmas saídos de um pesadelo de criança."
Estranhos mistérios possui dezoito contos de terror, entre eles A galega de Santo Amaro, "Cumade Fulozinha", Pegadas de lobisomem e Dinheiro das almas. Para os leigos em causos e lendas urbanas, são personagens da cultura pernambucana que permeiam o imaginário do povo pernambucano, e que são contados de pai para filho, principalmente em rodas iluminadas a luz de velas, nas zonas rurais, em noites de lua em que falta energia elétrica. Tenho 28 anos e boa parte de minha infância era ouvindo esse tipo de relato de meus pais e padrinhos... [bons tempos...], lembro que minha irmã e eu morríamos de medo do lobisomem, de Cumade Fulozinha, das almas desenterrando botijas, entre outros... Mas enfim, voltando das memórias e indo aos livros... *risos*
Esses contos que citei são alguns dos meus preferidos, mas gostei muito também de Afogados em pavor [que se passa no bairro de Afogados, na capital pernambucana], Encontros do Além e Ossadas e Caveiras. Cada conto é único, e alguns trazem elementos do cenário urbano, dos tempos vindouros, preservados por meio dos antigos casarões e construções antigas que embelezam a capital e os interiores do estado. Interiores, porque alguns dos contos se passam na zona da mata, no agreste de Pernambuco, ou em cidades rurais, distantes de Recife.
"Um dia no engenho
Já tarde da noite
Que estava tão preta
Como carvão...
A gente falava de assombração"
Ascenso Ferreira.
O livro traz um prefácio, apresentando o leitor ao que está por vir nas páginas seguintes. Confesso que a leitura dessas obras me deu noites de insônia e medo do desconhecido, além de, claro, fazer com que eu voltasse no tempo, aos primeiros anos de minha infância, me deixando nostálgica e ao mesmo tempo com o coração palpitante ao menor barulho no silêncio da madrugada [melhor hora pra ler esses livros...]
A segunda obra em questão, Histórias medonhas, é dividido em duas partes: Relatos, em que os casos são depoimentos de pessoas que contribuiram com o site do Recife Assombrado, contando suas supostas experiências sobrenaturais, ou que 'ouviram do amigo do padrinho do vizinho', e podemos destacar entre as melhores histórias Casarão de Setúbal, O prédio do Espinheiro, Madrugada no quartel, A mulher do algodão, e talvez o mais famoso caso de assombração de Recife: A perna Cabeluda [que consiste numa perna cabeluda! que não possui corpo e aparece na Av. Conde da Boa Vista, pelas madrugadas, dando chutes em indivíduos solitários que perambulam pelas ruas...].
A segunda parte do livro é de Contos, treze ao todo. Destaco sem sombra de dúvidas, Virgínia, em que um rapaz, após perder sua mãe e visitar seu túmulo aos domingos, se depara com uma lápide com uma fotografia de uma bela jovem de nome Virgínia, e aos poucos ele cria uma obsessão pelo retrato a ponto de ir em busca da história da jovem morta, e quando finalmente descobre como se deu sua morte, acha que enfim pode ficar tranquilo em satisfazer sua curiosidade, mas aí Virgínia passa a 'conviver' com ele em seu apartamento...
Outros contos notáveis são "Monga, a mulher gorila", O pastoril, O amigo de família e Seus serviços não são mais necessários. Ah, não esquecendo de Amor de mula. Uma característica interessante em ambos os livros é que as histórias não procuram nem se baseiam em conhecimentos religiosos ou com foco em estudo no paranormal. Os livros trazem a 'pretensão' de simplesmente deixar registradas muitas histórias contadas 'boca-a-boca', que ao longo dos anos [principalmente com a evolução tecnológica] vão se perdendo. É uma forma de manter viva a tradição das lendas urbanas antigas, que tiveram origem em tempos remotos e sobrevivem nos tempos atuais de forma limitada, quase em extinção. E posso afirmar com convicção que o autor, Roberto Beltrão, cumpre bem esse papel...
As capas, como podem ver nas imagens acima, são lindas e trazem certa carga de mistério e melancolia, um resgate de tradições antigas, de arquitetura 'velha', e por isso mesmo, atrativa, pois tende ao 'decadente', ao antiquado, ao fantasmagórico. Em suma, são duas leituras válidas, que você precisa ter na estante, e ao tirar o pó de suas lombadas, de tempos em tempos, folhear, [re]ler e se 'assombrar'...
Roberto Beltrão |
Roberto Beltrão é jornalista, formado pela Universidade Católica de Pernambuco, e possui pós-graduação na Universidade Federal de Pernambuco. Desde 1991, trabalha como editor. Já foi professor universitário, e de 1997 pra cá, pesquisa sobre assombrações e temas do gênero. No ano de 2000, criou com outras pessoas o site O Recife Assombrado.
Que bacana! Gosto de histórias de terror, mas sabendo que são aqui do Brasil, o medo é dobrado rs.
ResponderExcluirbjuus
http://noitesdeleituras.blogspot.com.br
Gostei!
ResponderExcluirEu fui pro lançamento do site do Recife Assombrado, foi incrível a aura de mistério e malassombro do evento! Realmente sensacional, Val! E sua resenha como sempre maravilhosa, ótima dica de leitura pra mim =D
ResponderExcluirBeijão moça!
Cah
queria muito ter ido, mas o evento que vai ter do novo livro, não vou perder.
ExcluirVocê é corajosa.
ResponderExcluirNunca leria um libro de horror de madrugada e com chuva do lado de fora. Tenho pavor!
Só leria no meio do mercado e em pleno meio dia, que é para dar tempo de esquecer até de noite. rsrsrs
Até o nome dos livros assustam!
Continuo dizendo que você é corajosa. kkkkkkkkkk
bjus
terradecarol.blogspot.com
ahahaha coragem nada, sou afoita, isso sim :P
Excluirbjs, flor.
Eita, Val que me fizesse voltar pra minha infância e modesta parte se tem uma coisa que pernambucano sabe bem é botar medo nos outros com histórias. Nosso folclore é tão rico nessas histórias ♥
ResponderExcluirA perna cabeluda é uma das minhas favoritas e a cumadre fulozinha sempre ouvi falar em casa, meu avô vive dizendo que ela já perdeu ele por aí, rsrsrs
Já li alguns livros de autores pernambucanos que tinha na biblioteca da escola, mas nunca tive a sorte de cruzar com nenhum desses, que pena!
Beijos Val ♥
Conversas de Alcova
Dinheiro das almas em... caramba deve ser show!
ResponderExcluirOnde encontrar Val pra comprar? Tem algum site?