╬† Poemas macabros - Goethe ╬†


Catalepsia
Chore, menina, aqui, junto ao túmulo do Amor, 
por nada, porventura aqui ele acabou por tombar. 
Mas estará mesmo morto? Não sei bem dizer. 
Um nada, um acaso às vezes lhe traz o despertar.





A dança da morte
Em meio à noite, um guardião se põe a vigiar
os túmulos da sua hospedaria. 
A claridade da Lua tudo faz iluminar
e a igreja parece banhada pela luz do dia. 

Dos jazigos, um após outro, eles se erguem, 
uma mulher e um homem 
com suas longas mortalhas brancas. 

No estica e puxa, todos só querem diversão, 
balançar os ossos em divertida ciranda,
jovem ou pobre, rico ou ancião, 
mas as barras atrapalham quem anda. 
Como a vergonha é sem cabimento, 
requebram-se e, adiante, na direção em que sopra o vento, 
as vestes estão largadas no chão. 

Então a coxa se levanta, a perna se balança, 
de caretas esquisitas há um mundaréu. 
Rilhando, rangendo, a tropa avança 
e os ossinhos fazem um escarcéu. 
Tudo isso é ridículo para o guardião; 
até que, em seu ouvido, sussurra a tentação: 
Vá, pegue um lençol. 

Dito e feito! E ele foge ligeiro 
para trás das portas sagradas. 

A Lua ainda brilha num luzeiro 
e anima as danças desconjuntadas. 
Um ou outro, por fim, resolvem dar uma parada 
e, vestidos, em fila, batem em retirada. 
Logo, vupt, já estão sob o gramado. 

Exceto uma ossada, que tropeça e cambaleia,
e nas criptas fica a tocar e se agarrar. 
Já sabe que foi vítima de quem não respeitou 
a coisa alheia. 
Ela fareja, segue o cheiro da mortalha no ar. 
Sacode a porta, mas nela encontra resistência. 
Linda e abençoada, do guardião a residência 
reluz com as cruzes de metal. 

Sem descanso, seus trapos ela precisa reaver. 
Não há muito tempo para refletir. 
Nos ornamentos góticos a criatura está a se prender, 
de pináculo a pináculo vai seguir. 
Pobre guardião, seu destino está selado! 
O estranho avança, acelerado, 
tal uma aranha de pernas longas. 

Empalidece, leva um susto o guardião, 
devolver a mortalha, ah, como ele queria. 
Justamente nessa hora - não há mais salvação - 
num gancho de metal a ponta prendia. 
E logo a Lua não brilha tanto 
e o sino bate firme a hora, seu acalanto. 
Cá embaixo, o esqueleto se espatifa.



 

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