Resenha: Eugênia Grandet, de Honoré de Balzac


E o Resenha do Mês [post super atrasado, me perdoem os transtornos] é sobre o livro Eugênia Grandet, de Honoré de Balzac. Confesso que foi muito difícil escolher apenas um livro bom, porque em Julho em li muitos títulos bons, mas ter lido essa obra valeu a pena...

Um clássico de 1833, Eugênia Grandet é sobre a história da personagem que dá nome ao livro, e o cotidiano de sua família abastada, numa província francesa. Eugênia é filha única de um rico comerciante avarento, o sr. Grandet. A história se passa na primeira metade do século XIX. O livro é rico em detalhes, tanto na ambientação como nos próprios personagens. Balzac escreve de forma poética os hábitos da sociedade do interior da França, bem com seus costumes tipicamente rurais e econômicos. O pai de Eugênia é a personificação da avareza na terra. Dono de muitas terras, com uma reputação respeitada na cidade, adquiriu fortuna por causa dos vinhedos, algumas terras arrendadas e uma abadia, bem como por ter se casado e ganho o dote de sua esposa. Com um talento exímio em administrar seus negócios, aumentou sua fortuna e vive o tempo inteiro economizando, fazendo contas e cobrando seus arrendamentos.

Por meio de um infortúnio do destino, seu sobrinho, filho de um irmão distante, fica a seus cuidados. E acaba virando alvo de afeição da garota Eugênia. Seu amor por ele não pode ser consumado de forma alguma porque o rapaz agora se encontra pobre, e seu pai nunca aceitaria entregar sua filha [e principalmente sua fortuna] nas mãos de um pobretão. Além disso, há rapazes com muitos bens de olho em Eugênia, embora até pra esses, o tanoeiro se recuse a dar a mão de sua filha. "Estão aqui por causa dos meus escudos. Vêm aborrecer-se de olho em minha filha. Pois bem, minha filha não será nem de uns, nem de outros, e toda essa gente me serve de arpão para a pescaria." 
Seu belo primo precisa partir, e ela oferece sua pequena fortuna para que ele refaça sua vida e volte para desposá-la. Nesse meio tempo, o sr. Grandet descobre que sua única filha deu seu ouro para o rapaz...

Um dos pontos fortes da narrativa está na descrição do pai de Eugênia, um velho sovina, que passa os dias a contar e recontar seus lucros, calculando juros e deixando a família praticamente a passar fome. Age como gago ao fazer qualquer acordo comercial ou quando vende seus produtos, mas em casa fala normalmente. Vive dando uns centavos a esposa, para mais tarde se lamuriar que não tem um tostão, a fim de que ela se compadeça e acabe por lhe devolver o dinheiro que ganhou dele [e sempre consegue de volta]. O tanoeiro Grandet é do tipo de avarento que não desperdiça nem as migalhas que caem de sua mesa... 
Outra personagem bem interessante é a empregada da casa, Nanon, que usa de astúcia a fim de enganar seu patrão e poder colocar comida a mais na mesa de suas patroas... Nanon é uma solteirona do tipo gigante, que cuida da casa e da senhora Grandet com muita dedicação.  Cuidou de Eugênia desde a meninice, e é quase um membro da família, devido a anos de trabalho e zelo com seus patrões. Eugênia a princípio se mostra de um temor demasiado pelo pai, mas com a descoberta do amor, na figura de Carlos, acaba por enfrentar a autoridade do pai. A mãe de Eugênia é de uma fragilidade gritante, retrato da maioria das mulheres da época, submissa e obediente ao seu marido. Não questiona suas decisões, acata suas ordens com um medo de sofrer possíveis represálias, e com a saúde extremamente frágil...O primo Carlos é um rapaz raquítico, sensível, tipicamente um 'mocinho de porcelana', delicado e frágil, que após o terrível destino de seu pai, encontra no afeto de sua prima uma oportunidade de ganhar uns tostões. Não que ele seja vigarista, mas acredita que sua viagem para 'refazer sua fortuna' o fará recuperar os bens de seu pai. No final, demonstra sua verdadeira natureza de rapaz riquinho e mimado...

Outro ponto interessante é a maneira nada encantadora em que termina o romance. Nada de finais felizes, apaixonados e frutíferos [ao menos para nossa protagonista], e sim, um desfecho cru que beira a realidade  de inúmeras Eugênias do 'século romântico'. Abandono, solidão, desilusão... tudo tende ao fracasso de uma vida... Eugênia é do tipo de mulher que "Soube, enfim, encobrir sua desgraça sob o véu da polidez." Em meio a tantos infortúnios, a pose de garota rica e elegante perdura, a despeito de sua tragédia...


6 comentários:

  1. Ótima resenha, este livro não me chamava muita atenção, mas acho que vou procurar para lê-lo ahhaha!

    Já estou seguindo, se puder retribuir...
    Abraçosssssssssssss!
    www.booksever.blogspot.com

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  2. Ótima resenha Val, eu sempre ouvia falar sobre o "Eugênia Grandet" mas não tinha certeza se era o tipo de livro que me despetaria a atenção e sua resenha mudou um pouco essa ideia. Ainda acho que lerei o "Ferragus" do Balzac primeiro, mas esse será o segundo com certeza! ;)

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  3. Olá,

    nunca tinha ouvido falar nesse autor, mas como é um clássico e pela história descrita na tua resenha despertou meu interesse. Ótima resenha, parabéns.

    thesongoftheletters.blogspot.com

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  4. Gosto de ler esses clássicos pq podemos observar como os costumes e cotidiano das pessoas eram diferentes dos nossos. Poxa, a menina não podia casar SÓ pq o cara era pobre. E isso era uma realidade que vemos em muitos livros. E que pai mais mão de vaca =p

    Beijos
    www.procurei-em-sonhos.com

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  5. Está na minha lista dos "Vou ler", só não sei se consigo este ano...

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  6. Quero ler este livro, já li a mulher de 30 anos e achei muito bom.

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Aforismos, devaneios, quotes dispersos e impressões literárias...um baú de antiguidades e pós-modernismo. O obscuro, complexo, distópico, inverso... O horror, o amor, a loucura e o veneno de uma alma em busca de liberdade...

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