História da Eternidade - Jorge Luis Borges

Meu primeiro contato com Jorge Luis Borges se deu na faculdade em meu segundo período, em 2009, quando pagava uma cadeira de Análise do Discurso, onde tínhamos que ler algumas obras literárias clássicas estipuladas no início do semestre pela professora e resenhá-las, uma por semana... Entre os autores da lista, pude conhecer alguns autores fantásticos pelos quais me apaixonei, outros nem tanto e Borges era o último da lista... Então, tive que ler a obra Ficções em pdf porque não tinha o livro físico, às pressas pois já estava no final do período, e fiz uma resenha um tanto medíocre, [Como um amigo meu diria, 'feita nas coxas']

Não preciso dizer que o contato foi desastroso, e apesar de ser um livro curto, não me senti apegada a escrita de Borges, mas não quis desistir dele, e uns anos depois compro uma edição de Ficções a fim de dar uma segunda chance. Mas recentemente ganhei o livro História da eternidade, que é na verdade uma espécie de ensaio crítico sobre a eternidade, dividida em alguns capítulos e por se tratar de um livro curtinho, resolvi ler. Adianto que a leitura de Jorge Luis Borges é complexa, difícil, cheia de termos metafísicos e afins, então li calmamente, sorvendo a leitura em pequenos goles...



O livro inicia com uma introdução sobre a obra de Borges, e de um prólogo, já dando ao leitor um aperitivo do que estaria por vir. Inicialmente, ele aborda a História da eternidade, dando ênfase às suas opiniões, embasadas em escritos de filósofos da Antiguidade, como Platão e Plotino, sobre o Tempo, elemento sempre presente na Humanidade. Discute sobre a Santíssima Trindade do Cristianismo e cita Agostinho em seus escritos.

A seguir, ele traz um capítulo falando sobre as Kenningar da poesia islandesa e outro falando sobre a metáfora, ainda abordando a obra literária da Islândia. Logo após, ele faz uma crítica a teoria do Eterno Retorno que Nietzsche defendia, segundo alguns acreditam. Confesso que nessa parte do livro me senti perdida conjecturando sobre isso, pois tinha com essa Lei do Eterno Retorno boa parte de minha filosofia pessoal. Não me senti agredida pela opinião de Borges, e sim como se ele estivesse quebrado vários dos meus dogmas, me deixando aturdida, como se tivesse perdido a conexão com 'algo' que não sei explicar... 

"O número de todos os átomos que compõem o mundo é, embora descomunal, finito, e só capaz, como tal, de um numeroso finito (embora também descomunal) de permutações. Num tempo infinito, o número das permutações possíveis deve ser alcançado, e o universo tem de se repetir. Novamente nascerás de um ventre, novamente crescerá teu esqueleto, novamente chegará esta mesma página às tuas mãos iguais, novamente percorrerás todas as horas até a de tua morte incrível." 

Diz ele que essa assertiva é a ordem 'habitual desse argumento, do prelúdio insípido ao enorme desenlace ameaçador' atribuído no caso, a Nietzsche. 

Não me considero uma estudiosa profunda do Eterno Retorno nem conhecedora da obra de Nietzsche, tampouco da extensa obra Borgiana, mas pelo pouco que entendi desse assunto relevante a mim, consultando umas opiniões alheias e baseadas até em Teosofia, não concordei com a forma simplória como Borges nomeou a lei do Cíclico. Mas admirei como ele elucidou argumentos que me deixaram num estado de reflexão acerca do tema, e me mostrou que preciso me aprofundar mais em estudos que tratem da temática, seja os que defendem a teoria, como aqueles que a criticam negando sua existência...

Ao longo do Ensaio o autor argumenta usando Cícero, Tácito e Schopenhauer. Encerrando o livro, ele fala sobre os tradutores do clássico As mil e uma noites, e como essas histórias chegaram até nós, aqui no Ocidente. Interessante salientar que ao fim dos capítulos, ele sempre expõe as obras lidas e pesquisadas a fim de emitir sua opinião sobre tais assuntos. 

História da Eternidade é uma publicação da Editora Globo. Espero que tenham gostado e/ou entendido algo do post, e se ficaram confusos com relação a algo que eu citei, me falem nos comentários... Vezemquando é bom flertar com algo mais complexo e metafísico, obras assim 'fazem pensar', e ao menos pra mim, é uma ótima forma de sair da 'zona de conforto'...

"Imortal o instante. [...] Por esse instante eu suporto o Regresso."



12 comentários:

  1. Oiee Val, eu não sou uma das pessoas mais fãs do de filosofia do mundo.
    Acho legal e super respeito as pessoas que gostam, mas definitivamente
    não é pra mim. Por isso não leria o livro, não teria paciência, rsrsrs
    Porém não poderia deixar nunca de mais uma vez elogiar a expansão de horizontes
    que tu proporciona aqui no Torpor Niilista, não canso de dizer e vc sabe o quanto eu respeito seu trabalho por isso.
    Beijos

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  2. Olá, esse livro é muito interessante, li ele ano passado!
    adorei o post!
    beijos

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  3. Olá!
    Não conhecia este livro, porém já gostei muito da forma que você falou dele...amo filosofia e acho que iria me encantar com esta escrita. Beijinho

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  4. Olha, confesso que o livro realmente não faz em nada meu estilo. Mas eu sempre percebo (apesar de não ter visitado muito nos últimos tempos) que seu blog sempre traz estilos de leitura diferentes e isso é muito legal.
    www.belapsicose.com

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  5. Meu primeiro contato com ele também foi na faculdade, sua escrita densa me fascinou, apesar de na época, sentir certa dificuldade com algumas de suas poesias, isso foi em 2007. A disciplina de A.D. foi para fazer artigo e detonar com a Vejabosta, coisa que mais amo fazer hahahahahahaha, o autor conheci na cadeira de Teoria Literária. Tu sabes que ele se tornou meu amorzinho, porém, nunca chega dinheiro para comprar os livros dele. Conheço esse livro, mas não o li, infelizmente, mas ainda terei a obra completa dele.

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  6. Olá!
    Confesso que não é o meu tipo de leitura, não sou adepta a livros de poesias, filosofia, prosas... Não que eu não goste de pensar, analisar, expandir, só não tenho paciencia mesmo. Por essa razão, com certeza não leria esse livro. Mas, admito demais quem aprecia esse tipo de leitura, parabéns por esse achado.
    Abs
    Nizete
    Cia do Leitor

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  7. Oiee
    Achei sua resenha bem bacana. Vc transmite realmente as emoções que sentiu ao ler esse livro. Parabéns.
    Porém, devo confessar que não é uma leitura que me agrada muito. Acabo não dando espaço a esse gênero. Li alguns na faculdade e acredito q foram suficientes... rssrrs questão de gosto.
    Bjo

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  8. Oi tudo bem? Infelizmente essa obra não me chamou tanta atenção, mas ótima resenha continue assim quem sabe um dia não me surja a oportunidade e eu não curta a leitura.

    Atenciosamente Um baixinho nos Livros.

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  9. Oi!!
    Filosofia não é o meu forte, mas a tua resenha me deixou bem tentada a conhecer esse livro, é sempre bom lermos algo diferente.
    Beijão!

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  10. Oi Maria,
    Muito legal mesmo sair da xona de conforto e aventurar-se em um livro tão diferente como este. Queria muito ter essa coragem no momento, mas como o livro trata de muitos temas relacionados a filosofia, o assunto em que sou péssima, eu deixarei a leitura para depois.
    Vi como você gostou do livro e do autor, mas acho que no momento seria uma leitura muito complexa para mim, preciso abrir minha mente primeiramente.
    Beijos
    Blog Relicário de Papel

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  11. Eu adimiro muito quem ler esses livros... mas com certesa esse livro nao é pra mim! Assim como nao sou muito fã de biografias, não tenho paciência com filosofias! Nao quero desmerecer a obra! Mas acho que não e pra mim mesmo!

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  12. Olá Val, tudo bem?
    Owm eu adoraria ler esse livro.
    Analise do discurso foi uma das cadeiras que paguei também. Além de complexa é uma disciplina estimulante. EU adorei
    Sobre o livro, sua resenha me deixou bastante curiosa, vou fazer a leitura sim e quem sabe até analisa-lo.
    Beijos

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