Minha estreia com Jô Soares: As esganadas

Não falo apenas de livros que me encantaram aqui no blog. Volta e meia me deparo com alguma leitura que, embora famosa ou bem-quista pelo mundo literário, não me empolgou como eu esperava... Expectativa demais em cima do autor/história? Momento não-propício para tal leitura? Não sei responder... mas é verdade que [quase] nunca pego um livro para ler sem vontade, sem que o mesmo me chame da prateleira... enfim...




Há um bom tempo gostaria de conhecer o trabalho literário de Jô Soares, e o título O xangô de Baker Street já havia me fisgado. Quem me conhece sabe que gosto de títulos/capas peculiares, e que por muitas vezes são esses os motivos pra que eu leve uma obra 'desconhecida' para casa, mas como o título de Jô que chegou primeiro às minhas mão foi As esganadas, achei conveniente a curiosidade de ler sem pressa pelo fato de ter o livro em mãos... Pois bem...

O começo do livro me foi fluido, não senti dificuldade na escrita nem em me habituar à história, que trata de um assassino psicopata que mata apenas mulheres gordas, utilizando-se de alguns subterfúgios [bem clichês, eu diria] para 'fisgar' suas vítimas... A identidade do assassino se faz evidente nas primeiras páginas, a narrativa faz com que o leitor acompanhe a maneira como os detetives irão agarrá-lo. 

É nessa parte que a coisa toda descamba para certo mal-gosto. O típico investigador de polícia com jeito de 'já deveria estar aposentado' Calixto, o delegado de polícia Mello Noronha, o detetive  português Tobias Esteves, e além deles uma jornalista de renome, que para fugir da influência de sua família, não assume o sobrenome famoso. O assassino? Um agente de casa funerária, que enterra boa parte de suas vítimas através dos serviços de sua funerária sem que ninguém conheça seu segredo, de aparência sinistra e com uma doença genética que faz com que tenha seus cabelos e unhas enfraquecidos e não possua impressões digitais, dificultando o trabalho da polícia durante a investigação. Até seu nome soa funesto: Caronte - numa alusão ao barqueiro do rio Estige, que tem a tarefa de transportar os mortos para o inferno, na mitologia grega... 



No decorrer da narrativa, me deparo com frases 'de efeito', um humor meio que inadequado para a trama, que - na tentativa de ser engraçada - torna-se forçada demais... O desfecho me surpreendeu um pouco, pois não esperava que o assassino fosse cometer tal 'coisa' [não vou dar spoiler]. Mas posso afirmar que o que me fez continuar a leitura foi tal personagem, o assassino. E apesar de tudo, a escrita não se mostrou enfadonha. Outro fator que poderia considerar inusitado na leitura são as 'vinhetas' de comerciais no meio das notícias trágicas de assassinato, não sabendo explicar bem o porquê, mas nada me soou tão distante da mídia atual, que intercala o trágico ao 'consumo'.

"PRG - 3, Tupi do Rio. - Anúncio fúnebre. deu-se, ontem, no cemitério São João Batista,a inumação das quatro desditosas moçoilas misteriosamente imoladas em nossa cidade. Nosso distinto chefe de polícia, doutor Filinto Müller, garante, contudo, que várias pistas foram encontradas e promete, para breve, a captura do desequilibrado que praticou atos tão ignóbeis", declara Rodolpho d' Alencastro, impostando, num registro grave, sua voz multifacetada. "Esta triste notícia é uma cortesia da Matricária Dutra, a melhor para as gengivas do seu bebê. Se o nenezinho chora quando o dentinho aflora, Matricária Dutra alivia na hora."

As personagens variam de prostituas a freiras e temos até um palhaço anão que se apaixona por uma das vítimas. Ou melhor: por duas delas. É pela boca que Caronte atrai suas vítimas, montando cenários grotescos nas cenas dos assassinatos. Junte ainda à narrativa as piadinhas com gordas e algumas notas sobre o nazismo, em virtude da história se passar nos anos 30, quando o partido nazista ganhava força na Europa e temos um 'excelente prato'.

Ainda assim, apesar do personagem Caronte e do que apresentei de 'bacana' na resenha, As esganadas não é um livro que eu deseje manter na estante... Pesando bem as medidas, foi uma leitura regular, e nada mais. Não ter começado de forma positiva com Jô Soares não me fará desistir de ler O xangô. Agora, mais do que nunca, quero que o autor me convença do contrário - que posso vir a me apaixonar pela sua obra literária... Por vezes, não é a primeira impressão a que prevalece...


As esganadas é uma publicação da Editora Companhia das Letras.

4 comentários:

  1. Olá, nunca li nada do autor, pois nunca me chamou a atenção.
    Que pena que o livro não te surpreendeu..
    Beijos, Tabatha
    http://aproveiteolivro.blogspot.com.br/

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  2. Oie! Nunca li nada do autor. Eu confesso que tenho um certo preconceito quando alguém que é famoso na mídia resolve escrever um livro, vende milhares de exemplares e o livro não é tão bom assim... é só status pelo autor já ser famoso. A primeira impressão que fica é essa, mas vai que algum não me convença o contrário? Como vc disse, nem sempre a primeira impressão que prevalece.
    Beijos

    Academia Literária DF

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  3. Ótima resenha!
    Ao ler sobre a vinheta fiquei pensando como se encaixaria num livro assim - ainda bem que você acrescentou o trecho para ficar mais interessante a resenha.
    Nunca li nada do Jô - quem sabe um dia?
    bjs
    WWW.PAINELPARACONGRESSO.COM

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  4. Olá Val! Nunca li nada do Jô. Adoro o apresentador e o acho de uma inteligencia única, mas o Jô Soares autor não me chamou atenção, gosto também de livros peculiares, capas diferentes, e esse tipo de coisa, mas nenhum do Jô me fez querer ler. Pela sua resenha, vejo que você ainda persistirá nas obras do autor. Vou esperar você ler O Xango, se sua impressão mudar e achar o livro mega, quem sabe um dia eu me arrisco em ler Jô Soares. Bju
    www.amorascompimenta.com

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