A leveza e crueza de Caio Abreu em Pedras de Calcutá

Caio Abreu dá o ar da graça novamente por aqui. E logo no dia que se completa mais um ano de sua morte. Sendo um dos meus escritores brasileiros preferidos, não é de se estranhar que eu traga mais uma resenha de uma obra sua no blog. Pedras de Calcutá é um livro de contos publicado pela Editora Nova Fronteira. Publicado pela primeira vez em 1977, num período em que o Brasil se encontrava em plena ditadura militar e os artistas sofriam com a repressão e censura, Caio ousou escrevendo sobre temas como paranoia, morte, asfixia, impotência. Medo.


Os contos apresentam personagens desestruturados mental e socialmente, alquebrados e incertos do futuro, que acabavam por destruir-se ainda no tempo presente. Caio mescla o lixo com ouro sem delimitar linearmente suas fronteiras. Há indiferença e frieza em seus escritos, mas o leitor sente entre essa aspereza certos tons de romance e esperança. 

Possuidor de uma sensibilidade quase palpável, Caio despenca quando alcança o alto, conduz o leitor entre os extremos, numa espécie de queda vertiginosa. É fazer doer quando há prazer. É sentir-se feliz pelo fato de poder vivenciar esses paradoxos sentimentais. 

Em Pedras de Calcutá há dores latejantes que tomam grandes proporções. O real se mistura ao imaginário, com notas de lirismo em seu decorrer. É nos limites, nas bordas do intolerável que habitam os protagonistas destes contos. Amor, religião. Sabedoria, insanidade. Crueza e leveza. Encanto e dissabor.

E entendemos enfim que é o que nos resta. Viver "entre os meios." Aproveitar os "entre" das coisas. E no fim, sermos gratos pela grandeza de existir, mesmo que mergulhados em dor...


21 comentários:

  1. Olá, Maria.

    Eu nunca li nada do autor, apesar dele ser muito bem recomendado. Mas o que você disse é a total realidade, no fim temos que sermos gratos por existir. Bom sabe que o autor trouxe personagens mais "humanos" nesses escritos.

    ResponderExcluir
  2. Nunca li muita coisa do autor, apenas alguns contos, mas todos eles falaram comigo de alguma maneira. Pedras de Calcutá me chama atenção, por essa mistura de imaginário e lirismo. Sugestão anotada, quero ler.

    Abraços.

    ResponderExcluir
  3. Oi, Maria!
    Caio Abreu está na minha lista de autores que quero ler há muito tempo, mas que infelizmente ainda não tive a oportunidade. Apesar disso, eu não sabia sobre todas essas temáticas abordadas por ele e sobre essa sensação de opostos sentimentais que seus livros provocam. Fiquei muito interessada por esse livro, pois geralmente gosto bastante de obras com forte aspecto dramático e sua resenha me passou essa impressão sobre ele. Gostei muito do seu texto. Beijos!

    Jéssica Martins
    castelodoimaginario.blogspot.com

    ResponderExcluir
  4. Olá!
    Conheço muito pouco o catálogo da Nova Fronteira, mas gostei das suas considerações sobre essa leitura. Poesias, contos, crônicas tem sido uma das minhas apostas para esse ano e fiquei curiosa com os temas abordados. Cada autor traz sensações diferentes em suas escritas para os diversos sentimentos.
    Acho que vou gostar de conhecer essa leitura.
    Beijos!

    Camila de Moraes

    ResponderExcluir
  5. Adoro livros de contos e confesso que esse chamou demais minha atenção. Espero estar lendo-o em breve, pois estou muito curioso.

    ResponderExcluir
  6. Amei a resenha!

    Eu conheci as obras do Caio Fernando Abreu através de suas crônicas e só elas já me deixaram apaixonada! Meu sonho é comprar aquela coletânea linda da Nova Fronteira. A ver quando conseguirei!rsrs

    Estes contos parecem ser bem fortes, capazes de provocar uma confusão de sentimentos em nós leitores. Mas é esta sensibilidade do autor e esta capacidade de mexer com nossas emoções o que me encanta nos textos dele. Quero ler tudo dele!

    Bjs!

    ResponderExcluir
  7. Eu ainda não li nada do Caio, mas quero muito mudar isso. Adorei a forma como você contou sobre os contos, e tenho certeza de que vou adorar essa leitura.

    Beijos, Gabi
    Reino da Loucura | Instagram

    ResponderExcluir
  8. Oie amore, não conhecia até então, mas gostei do que vi por aqui.
    Não sei se leria nesse momento, por se tratar de contos intensos, mas num outro momento acho que encaro me aventurar.
    Vou anotar a dica por aqui!
    Beijokas!

    ResponderExcluir
  9. Olá Maria, eu quero muito ler os livros do autor *-* Sua resenha ficou bem bacana e os contos do livro pelos seus comentários parece bem estruturados mesclando vários sentimentos e sensações nos leitores *-*

    ResponderExcluir
  10. Oi!
    Até hoje eu tenho dúvida se já li algo pela internet que fosse mesmo do Caio Fernando Abreu (por causa daquela época em que creditavam tudo a ele hah) e só agora me ocorreu que ele tem livros publicados e fiquei doida pra ler e conhecer um pouco do trabalho dele. Adorei suas impressões acerca do livro, me animaram bastante.
    Beijos!

    ResponderExcluir
  11. Olá,
    Nossa, adorei a sua resenha é o que disse do livro, creio que li vários de.seus textos soltos pela internet, mas nunca me vi lendo uma obra sua de verdade. Anotei a sua dica, mesmo achando que ele não seja muito o meu estilo, porem, as vezes é muito bom sair da zona de conforto

    Beijos

    ResponderExcluir
  12. Eu nunca li nada do autor, apenas pego fragmentos de seus textos jogados pelas redes sociais e pelo que tenho visto, acho que vou gostar do que ele escreve.
    beijos

    ResponderExcluir
  13. Já faz um tempo que penso em dar uma chance a literatura clássica nacional, admito que tenho um certo receio de não conseguir me conectar com tais obras e por isso tenho adiado a experiência, no entanto, me propus a pelo menos começar. Adorei suas impressões dessa obra, fiquei encantada com seu teSto que me soa quase poético. Espero um dia conseguir fazer uma análise tão bela quanto essa.

    Abraços!

    ResponderExcluir
  14. Olá! Tudo bom?
    Confesso que ainda não havia ouvido falar deste autor, um erro meu por não pesquisar e me apronfundar ainda mais no universo da literatura nacional. Fiquei extremamente curiosa devido a sua definição de “mesclar lixo com ouro”, acredito que a partir daí já posso esperar boa coisas de seus contos. Anotei a sua dica e espero ter a oportunidade de conhecer o trabalho do autor em breve 💜

    Um beijo,
    Romance Erotic

    ResponderExcluir
  15. Sou apaixonado por esse cara!! Graça a esse blogue, que me deu o prazer de ler uma resenha que era quase uma declaração de amor pra Caio. Obrigado literatura selvagem.

    ResponderExcluir

De Bukowski a Dostoievski. Ana Cristina César a Lilian Farias. Deleite-se com a poesia de Florbela Espanca e o erotismo de Anaïs Nin...
Aforismos, devaneios, quotes dispersos e impressões literárias...um baú de antiguidades e pós-modernismo. O obscuro, complexo, distópico, inverso... O horror, o amor, a loucura e o veneno de uma alma em busca de liberdade...

Seja bem-indo-e-vindo[a]!

Witches Hat
Tecnologia do Blogger.