#MLV2017 [A falecida - Nelson Rodrigues]

Participando da Maratona Literária de Verão 2017 trago para vocês as impressões da primeira leitura concluída do desafio: uma peça de teatro apresentada pela primeira vez em 1953. Trazendo um cenário imaginário, a história se passa em três atos e conta a história de Zulmira, mulher amargurada que - sem maiores pretensões na vida - resolve encomendar seu próprio velório. Mas ela não quer poupar dinheiro nesse projeto e vai agir com suas artimanhas para fazer com que um velho conhecido pague pelo enterro.

Ela vive infeliz no casamento e tem tuberculose, sente que seu fim se aproxima... A causa mais evidente para planejar seu enterro luxuoso é provocar inveja em Glorinha, prima que ela suspeita ter um caso com seu marido... Glorinha é uma personagem envolta em mistério. Não se sabe muito dela no início da história, a não ser que ela teve câncer. 

Aos já familiarizados com a ambientação de Nelson Rodrigues em usufruir de elementos de tragédia, ambições, luxúria e ambição, A falecida não se torna exceção, mantendo esse padrão em seu desenvolvimento. Personagens obsessivos, marcados por traumas e desilusões, mistério e cotidiano se mesclam trazendo ao leitor uma carga densa que permite maior contemplação de seu enredo... Em algumas passagens, há certo tom  hilário permeando os acontecimentos...

Zulmira - Foi um altíssimo negócio essa cartomante.Agora eu sei de tudo.Essas dores nas costas... Olha: hoje eu passeio o dia inteirinho com o nariz entupido...
Tuninho - Gripe!
Zulmira - Gripe aonde? (lenta e cava) Macumba!
Tuninho - Sossega!
Zulmira - Sim, senhor! Alguma macumba que essa cara me fez! Aposto!
Tuninho - Mas a mulher é protestante!
Zulmira - "Protestante" diz você! Mas duvido!
Fingimento, máscara!Vou te dizer mais o seguinte: Glorinha tem parte com o demônio!

A falecida é uma leitura rápida, fluída e que carrega em suas entrelinhas uma crítica ácida sobre a preocupação de se viver em função do julgamento alheio, nas tentativas de sair do marasmo através de atitudes mesquinhas e frívolas... Dá um tapa na cara da hipocrisia e dos bons 'costumes' que os personagens insistem em fingir ter. Traz ainda uma reviravolta em seu desfecho, surpreendendo o leitor...


8 comentários:

  1. Oiii Maria, tudo bem?
    Eu apenas conhecia o autor e fiquei tão feliz de encontrar uma resenha assim por aqui, sei que seria uma grande pedida referente ao mistério e ao ser dele mesmo, por precisar até para a faculdade.
    Beijinhos

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  2. Olá,
    Desconhecia a obra e confesso que fiquei bem intrigada para conferir mais sobre essa crítica aos bons costumes que muitos fingem seguir e a hipocrisia contida!
    A premissa é bem interessante e me alegra saber que é uma leitura rápida. Anotei a dica.

    http://leitoradescontrolada.blogspot.com.br/

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  3. Gosto do seu blog porque sempre traz livros diferentes e interessantes!

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  4. Oi, não li este livro ainda, mas deu para perceber que tem todos os parâmetros que Nelson Rodrigues tão bem aborda. Só ele mesmo para criar um enredo onde alguém planeja o próprio funeral querendo que um terceiro pague e de quebra gera inveja a outra pessoas.
    Bjs

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  5. Oii

    Nunca li nada do autor e fiquei bem curiosa. Dica anotada. Boa sorte com a maratona, eu já desisti kkk nunca consigo completar :D

    Beijos
    Lê e ler

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  6. Não conhecia a obra, mas ela me chamou a atenção por ser uma obra com críticas bem elaboradas. Gosto da forma de escrever do autor. Espero gostar da obra.
    Bjim!
    Tammy

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  7. Adorei a dica de leitura! Quero ler e dar de presente para algumas pessoas hahaha

    Bjs
    www.livrosdabeta.blogspot.com.br

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  8. Oie Val!
    Ainda não li nada do Nelso, mas pela sua resenha, acho que gostaria de conferir essa peça. Gostei de saber que ele usa as entrelinhas para trazer essa crítica. Acho que as pessoas se importam demais com o julgamento alheio.
    Um dia ainda leio e confiro essa reviravolta no desfecho!
    Beijos

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