Um, dois e já - uma metáfora representativa de uma fuga em meio à ditadura uruguaia

Um, dois e já é daquelas leituras que possuem uma narrativa tão poderosa que fisgam o leitor em poucas linhas. Primeira novela da uruguaia Inés Bortagaray publicada no Brasil pela saudosa Cosac Naify, a obra possui pouco menos de cem páginas, mas que são suficientes para nos tragar ao interior de nós mesmos.



Uma verdadeira viagem pela perspectiva de uma jovem narradora, que nos leva pela estrada junto com sua família, admirando paisagens, pessoas, com sutileza, encanto e nostalgia... Um convite para destrancar um baú de memórias de infância... Com uma narrativa aparentemente simples e sem muita complexidade, o leitor vai percebendo que há algo sutilmente oculto no decorrer das páginas...

Ambientado nos anos 1980, a viagem se desvela num panorama da ditadura uruguaia. Usando de metáforas, a autora apresenta personagens que estão se deslocando de seu lugar de pertencimento rumo ao desconhecido, em que as disputas para ver quem irá à janela, as notícias no rádio ou as brincadeiras para passar o tempo dentro do carro são apenas o pano de fundo para uma possível fuga devido a orientação política da família, que bate de frente com o novo 'regime' implantado no país.

É interessante imaginar que durante esse período, muitas famílias fizeram percursos parecidos, que diálogos semelhantes e paradas para xixi tenham sido feitas, numa verdadeira teia de memórias reais que podem ser comparadas à ficção de Bortagaray - uma obra que reflete em muito a realidade não-escrita de personagens que saem do campo ficcional para inserir-se na realidade, retratados com maestria e delicadeza pelo olhar de uma menina que não passa dos doze anos.

Em suma, Um, dois e já possui uma escrita fluída, carrega uma visão político-histórica de maneira subjetiva e nos encanta pela inocência da protagonista, que apesar de não compreender o real mundo a sua volta, nos apresenta a ele mesmo assim, através de seus sonhos, observações e lembranças distantes...



12 comentários:

  1. oi!
    Eu adorei o livro é maravilhoso :D me fez lembrar de minha infância...

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  2. Oi,tudo bem ?

    Não conhecia a obra, mas é muito bom conhecer através do ponto de vista de quem já conheceu e achei a proposta da obra maravilhosa. Com toda certeza uma ótima indicação.

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  3. Oieee, parece muito bacana a obra. Deve ser mesmo bem interessante conhecer de uma forma tão inocente um pouco do que foi a ditadura uruguaia. Adorei sua resenha, clara e objetiva! Beijinhos! (Garotas Devorando Livros)

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  4. Olá! Ainda não conhecia esse livro, mas fiquei curiosa para saber mais. Gosto bastante de leituras curtas, e essa mesmo sendo curta fico feliz que ela conseguiu ser completa.
    Fico feliz em saber que é uma leitura fluída e que traz uma visão político-histórica, pois com leituras assim sempre aprendo muito.
    Ótima resenha, beijos!

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  5. Amiga, suas dicas são importantíssimas à nossa construção enquanto cidadãos! Um livro tão fino, porém, ao que nos leva a crer em sua resenha tão sucinta, de conteúdo tão rico!

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  6. Eu também curto narrativas poderosas que são capazes de prender o leitor deste as primeiras linhas. Muito interessante essa proposta da metáfora representativa de uma fuga em meio à ditadura uruguaia! Já que eu conheço pouco do assunto, é uma boa. Ótimo que a obra possua uma escrita fluída e que contenha uma visão político-histórica de forma subjetiva através da inocência vinda da parte da protagonista.

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  7. Olá! Achei o tema muito interessante, mas o que me interessou MESMO foi a forma como a história é contada. As metáforas, as lembranças, a forma como tudo é pintado e saturado através da memória... Parece muito artístico! Gostei bastante!

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  8. Oi, tudo bem? Gosto muito de livros que falam sobre períodos históricos. Acredito que sempre temos algo a aprender mesmo que não faça parte da nossa realidade. Não lembro de ter estudado no colégio sobre ditadura em outros países mas se foi semelhante ao que aconteceu no Brasil com certeza há muita história. Não conhecia o livro mas gostei da abordagem. Um abraço, Érika =^.^=

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  9. É uma experiência incrível acompanhar histórias em que as personagens,protagonistas desses momentos históricos, ganham rostos, nomes, manias, cotidiano - se tornam "reais". A obra de Inés é atual e importante em muitos sentidos, ainda mais em um momento no qual somos constantemente assombrados por ameaças de um golpe. Vou conferir a obra. Abs!

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  10. Oi Val! Que saudade da CosacNaify...
    Gostei bastante da indicação. Apesar de ser um livro relativamente curto e com uma narrativa mais sutil e que transparece leveza, ele tem como cenário um período duro e conturbado.
    Me interesso muito por histórias conduzidas dessa forma.
    Bjos

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  11. Ah, que demais essa obra. Eu acredito não ter lido nunca algo de autores uruguaia. Eu achei a obra bastante cativante pelo enredo que você nos narra. Essas viagens são lembranças que quase nós temos. E contextualizar com a história política deve ter sido muito enriquecedor.
    Ah, Cosac!! Saudades.
    Beijocas, Val

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  12. Ahh, que amor de resenha. Achei super interessante, parece bem cru e cheio de sentimento. Eu adoro essas temáticas político sociais, quando envolve a análise de dentro de quem vive a situação, sabe? Curti, obrigada pela dica.

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