O pianista, de Wladislaw Szpilman - um doloroso relato de um sobrevivente judeu ao Holocausto nazista...
Como alguns já sabem, eu sou apaixonada por relatos de guerra, em especial da Segunda Guerra Mundial, e a primeira leitura que fiz de O pianista, em 2009, me deixou uma sensação ao fim da leitura [no decorrer também] de que eu estava levando socos e mais socos no estômago. Em alguns trechos cheguei a pausar a leitura, respirar fundo e fechar os olhos pra me acalmar e prosseguir com a obra... quase 6 anos depois, ao [re]ler o livro, a sensação ainda foi a mesma...
Wladislaw Szpilman era um pianista, judeu polonês que vivia com seus pais, irmãs e irmão na Varsóvia dos anos 30. Ele e sua família presenciaram as tropas alemãs invadindo sua cidade, eles viram de perto seus amigos serem espancados, humilhados e despejados de suas casas e empregos apenas por serem judeus. E sendo uma família judia, eles também não escaparam do cerco antissemita que se instaurava na época da guerra, e logo se viram apertados no bairro judeu, como ficou conhecido o Gueto de Varsóvia.
Os primeiros anos de guerra foram difíceis, e eles conviviam com um suspense no ar, uma incerteza sobre como suas vidas se modificariam a partir dali e volta e meia uma ameaça nova se desdobrava. Eram os cupons de racionamento, o limite de zlotys que as famílias deveriam possuir, as prisões na rua sem fundamento aparente, a escassez de comida e água, bem como os fuzilamentos aleatórios que testemunharam. O livro, escrito como uma espécie de diário, narra passagens bem severas e cruéis que Wladislaw passou e presenciou, entre elas uma que me deixou extremamente desconfortável:
"Estava atravessando a praça Bankowa e atrás de mim vinha uma mulher empunhando uma panela embrulhada em jornal. Entre nós arrastava-se um velho lapacz, com os ombros arqueados e tremendo, com sapatos furados e pés roxos de frio. Repentinamente, o lapacz jogou-se para a frente, agarrou a panela e conseguiu arrancá-la das mãos da mulher. Talvez por não ter mais energia, ou então porque a mulher segurava o seu tesouro com muita força, ele não conseguiu segurar a panela, que caiu sobre a calçada derramando uma sopa fumegante sobre a rua imunda. Todos três paramos como estátuas. A mulher ficou muda de espanto, o lapacz olhou primeiro para a panela, depois para a mulher e dos eu peito escapou um soluço que mais parecia um gemido. Depois se atirou no chão e começou a lamber a sopa diretamente da calçada, protegendo-a com as mãos, insensível à reação da mulher que, gritando e arrancando os cabelos em desespero, chutava a sua cabeça."
Noutra passagem igualmente chocante, uma equipe de ronda alemã para no prédio em frente ao que a família Szpielman se alojava e jogaram um senhor idoso numa cadeira de rodas do terceiro andar, enxotando os moradores do prédio para a rua, fuzilando-os em seguida. A violência perpetrada pelos alemães era frequente e os judeus precisavam contar com a sorte para não serem alvejados na rua... Além desse risco, quem ainda tinha 'sorte' era apenas humilhado ou espancado, mas tinha a vida poupada...
Logo o cerco aperta e o inevitável acontece. Os rumores sobre uma deportação em massa para campos de trabalhos forçados [que na verdade eram campos para extermínio judeu] tornaram-se verídicos. A família de Wladek teve o destino selado, e apenas uma de suas irmãs e Henrik, seu irmão, passaram na 'triagem'. Mas no meio das pessoas amontoadas na praça no dia seguinte, eles se juntaram novamente, pois ambos se ofereceram para ficar ao lado dos pais e irmãos, não desejando escapar ao destino cruel que lhes era imposto... A família Szpielman teve então sua última refeição...
Por sorte [?] Wladek consegue escapar de entrar no trem de gado que levou para a morte seus entes queridos. Sozinho e desesperado, ele precisa agora lutar diariamente e contar com uma boa dose de [mais] sorte para escapar das escolhas aleatórias de fuzilamento, dos piolhos e tifo, do frio e fome, a fim de sobreviver. Os anos seguintes até o fim da guerra são sobre os dias que passou trilhando becos e casas abandonadas e sob constante ameaça de invasão alemã, das bombas que caíam dos céus a fim de ceifar o exército alemão, depois que conseguiu fugir das triagens nazistas. Trabalhou para estes, e quando os judeus já não eram mais necessários, eram mortos. Ele escapou de todas...
Adrien no papel de Wladislaw Szpielman |
No fim da guerra, encontrou-se com um soldado alemão e graças a ele pôde sobreviver, muito provavelmente... Mas não vou contar mais detalhes porque vocês precisam ler e conhecer a história desse pianista, que com muita garra conseguiu sobreviver ao horror que a guerra trouxe. De quase meio milhão de judeus que viviam em Varsóvia, alguns poucos milhares conseguiram escapar do Holocausto, mas perderam tudo: família, objetos, casa, trabalho, a sanidade...
Ao fim do livro, há trechos do diário do soldado alemão que o ajudou, Wilm Hosenfeld. No prefácio, seu filho Andrzej Szpilman fala sobre não deixar cair no esquecimento o nome desse soldado que ajudou a salvar a vida de seu pai. Wladek não era escritor mas escreveu sua história assim que a guerra teve fim, ele era um renomado compositor de seu país, e pode-se dizer que a música o salvou... Acompanhamos a trajetória do pianista com um misto de horror e esperança de que ele iria se safar a cada página. É um relato cru e impiedoso de um conflito que matou milhões e destroçou outros milhares. É, acima de tudo, uma herança sobre a memória dos judeus que pereceram nos fornos crematórios e nas câmaras de gás dos campos de concentração... Em suma, uma obra emocionante e que nos permite enxergar por uma perspectiva de alguém que viveu no Gueto de Varsóvia...
Houve uma excelente adapta da obra, dirigida por Roman Polanski, trazendo Adrien Brody no papel de Wladislaw. Papel esse que lhe rendeu o Oscar de melhor ator [mais que merecido]. Confira abaixo o vídeo do momento em que ele é anunciado como o ganhador do Oscar naquele ano de 2003. Sabe aquele choro nervoso, cheio de soluços, que você não consegue controlar e seu corpo responde às lágrimas com espasmos? pois é. Foi o que ocorreu comigo ao ver esta obra-prima...
Espero que tenham curtido a resenha... Já leram ou tem vontade de ler esse livro? O que acharam dele: Me contem nos comentários... Até a próxima postagem...
Oi Val! amora eu também gosto muito de livros que retratam a segunda guerra. eu fio chocada, e o o termo e esse, de coo seres dito humanos, puderam fazer tantas atrocidades com um semelhante. Você já leu Meu coração Ferido, a história de uma media e mãe judia na Alemanha nazista de Hitller? Se tiver oportunidade, leia porque o livro é maravilhoso e real. Vou procurar por O Pianista e tentar ver a adaptação também. Adorei que você trouxe mais esse livro, tão fora dos que 'todo mundo lê". bjs
ResponderExcluirEykler
www.amorascompimenta.com
Ola maria valeria!!Eu já não gosto de livros assim a sensação que descreveu me persegue por dias e me incomoda demais a ponto de não conseguir iniciar uma nova leitura por um bom tempo, sei a importância do período e e as cicatrizes que carregamos até hoje, mas prefiro deixar essas leituras para quando sou obrigada a ler.
ResponderExcluirBEIJOSSsss...
sonhos de leitor
Nossa valéria me pareceu excelente esta obra viu? gostei muito e parabéns pela resenha bjss :)
ResponderExcluirCaraca, forte! Tanto o livro quanto o filme me fazem derramara em lágrimas. super indicado para o âmbito escolar. Utilizo deveras no movimento social... A cena dele com a lata na mão, quando é encontrar não sai da minha cabeça.
ResponderExcluirhttp://www.poesianaalma.com.br/
Eu não cheguei a ler o livro, mas a adaptação para as telonas foi excelente. Pelo que sua resenha mostrou, o livro é forte, como tem que ser mesmo, afinal o período narrado não foi fácil.
ResponderExcluirBjs, Rose