Fahrenheit 451 - Ray Bradbury
Em tempos em que o mundo literário sofre um 'boom' de distopias, acabei me rendendo a um título dos mais clássicos, que há tempos desejava ler, mas não tinha tido chance... Reservei esse pequeno deleite para os últimos dias, num momento em que o país vive uma verdadeira luta acirrada e bipolar no campo da política... Afinal, distopias [quase] sempre possuem um governo totalitário como pano de fundo para suas tramas...
Em Fahrenheit 451 conhecemos Guy Montag, bombeiro de uma cidade comum, sem efeitos futurísticos [a história poderia muito bem se passar no tempo presente], que passa por uma crise ideológica. Sua função não é apagar incêndios, mas provocá-los, e o alvo são... LIVROS.
No mundo distópico de Ray Bradbury, livros são itens proibidos. Imagine você, leitor, viver num mundo assim... Eu certamente me desesperaria... ou seria uma traidora subversiva do sistema... Assim como Clarisse, garota que mora perto do protagonista e numa conversa com ela, ele passa a rever os seus conceitos. Clarisse desaparece dias depois dessa conversa... Sua esposa, Mildred, vive anestesiada [outra característica de boas distopias] com suas enormes telas de TV... E quando ela nota uma mudança no comportamento do marido, termina por abandoná-lo... As pessoas vivem alienadas, e o livro traz uma crítica interessante sobre o poder da televisão, que mal dá espaço para o indivíduo se dedicar a leitura de um bom título...
Na sociedade em que Montag vive, ninguém tem opinião própria, não há forma de pensamento crítico e as pessoas não conversam sobre livros. Por serem ilegais, se alguém for pego lendo pode ser punido, e até incendiado junto com suas bibliotecas. A partir da conversa que tem com sua vizinha é que Montag passa a enxergar o caos existente sem névoas anestesiantes impedindo sua visão sobre tudo... Ele acaba respondendo a mais um chamado em seu turno e lá chegando, vê uma senhora que se recusa a deixar seu acervo virar uma pira de fogo. Acaba consumida pelas chamas por sua própria decisão, e Beatty, chefe de Montag não se comove nem um pouco com isso... Mas Montag acaba roubando um dos títulos e o leva pra casa...
Montag se questiona do porquê de alguém se deixar queimar com os livros, se a sociedade imputa que livros não tem serventia alguma. Então ele se lembra de um professor de inglês que encontrou um tempo atrás e o procura, pois ele precisa falar com alguém sobre seus questionamentos; logo eles se tornam amigos, apesar da desconfiança inicial deste em conversar sobre livros com o bombeiro... Nesse meio tempo, seus questionamentos poem em xeque seu casamento, trabalho e conduta...
As ações impensadas de Montag deixam a cidade a beira do colapso e o governo acaba bombardeando tudo. As autoridades o perseguem com um cão mecânico. Faber acaba ajudando o amigo, pedindo que ele encontre alguns homens que são foragidos da polícia, e se tratam na verdade de intelectuais diplomados, que podem ajudá-lo a escapar da prisão. Com esses homens, ele descobre uma forma que eles criaram de perpetuar os livros: decorar obras inteiras e queimá-las logo depois a fim de não serem pegos. Assim, chegaria o momento em que não seriam mais proibidos e poderiam ser escritos e publicados novamente, mas até lá, cada um passaria o legado à geração seguinte...
Um fator interessante que encontrei na leitura foi uma alusão à Guerra Fria [Fahrenheit foi escrito em 1953]. Com o bombardeio, sugere-se que o mundo - ao queimar as ideias e pessoas que pensam e formulam opiniões - acaba por queimar-se e destruir a si mesmo. Talvez daí - como sugere o romance e a conversa de Granger, líder dos foragidos - a nova Fênix ressurja trazendo um mundo livre de proibições...
Em minha concepção, a obra critica a censura [embora o autor tenha dito que não teve essa intenção], a manipulação em massa, os efeitos da mídia na população alienada e condicionada a obedecer sem questionar e a truculência de autoridades para punir os que se recusam a viver nessa cápsula de conformismo ou que defendam uma democracia... Algo bem familiar com o que estamos presenciando no Brasil nesse momento...
Eu colocaria Fahrenheit 451 no mesmo rol de clássicos consagrados do gênero, como Admirável Mundo Novo e 1984. Indispensável para os distópicos...
O título do livro se dá ao fato de 451 ser o número de graus em fahrenheit da queima de papel... Bem apropriado para o que trata o livro, não acham?
Sobre distopias: as atuais nem se comparam com as antigas. Sei lá, sempre me parece que as atuais são deveras sensacionalistas, dando a sensação de terem diversos ornamentos bobos só para chamar atenção, enquanto a premissa inicial de qualquer distopia fica de lado, que é a crítica social.
ResponderExcluirAdmito que Fahrenheit 451 não é a minha distopia favorita, lembro que quando o li (o que já tem muitos anos) eu não curti o jeito que o autor havia escrito, mas ao menos cumpre o seu papel, rs. (sim, eu realmente tenho preconceito com distopias adolescentes, acho uma heresia com o gênero!!! hahaha)
Mago e Vidro
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eu também, visse?
Excluirmuitas eu considero té heresia classificar como distopia'. haahhaahah
Só para avisar aqui também: eu reeditei o post da Maldição lá no blog (já editei ele umas 3 vezes, aff, minha memória é terrível hahaha), e agora o Torpor Niilista também está linkado. <3
ExcluirÉ incrível que para as pessoas serem manipuladas, a primeira coisa que fazem é tirar a leitura, porque assim ninguém teria senso crítico. E pela sua resenha e por outras que já li, parece mesmo uma censura e de como as pessoas podem ser manipuladas. E boa a sua comparação com o que está acontecendo com o Brasil atualmente, as pessoas que fazem alguma coisa atualmente, só estão fazendo por causa da mídia, poucos sabem o que estão fazendo...
ResponderExcluirEnfim, deve ser um ótimo livro e com certeza irei ler o mais rápido possível;
http://blogpausageek.blogspot.com.br/
Ontem mesmo eu estava perguntando sobre resenha desse livro.
ResponderExcluirSua sinopse me lembrou muito um filme que assisti muitos anos atrás, tanto tempo que já não lembro mais do título. Você sabe se existe alguma adaptação cinematográfica do livro?
http://luanebulosa.deviantart.com/gallery
tem sim, Lu. Eu só não assisti ainda mas verei em breve ^^
Excluirpode ter sido ele que tu assistiu...
Você foi amaldiçoada.
ResponderExcluirhttp://lua-literaria.blogspot.com.br/2016/03/voce-foi-amaldicoado.html#.VvbHqNIgvcc
Olá. Nunca li livros desse gênero.
ResponderExcluirAchei sua resenha interessante.
Beijos.
www.meumundosecreto.com.br
Olá :)
ResponderExcluirAchei esse livro bem interessante que inclusive coloquei em minha lista de desejados para que seja uma de minhas futuras leituras.
Abraço
http://interessantedeler.blogspot.com.br/
Valéria, eu não sou de ler distopia, mas essa com certeza me chamou muita atenção.
ResponderExcluirCom certeza seria uma rebelde se vivesse num mundo que não pudesse ter meus amados livros.
Que bom que o personagem mudou de ideia e o fato dos intelectuais terem essa disposição de decorar os livros também é muito interessante.
Quero muito ler.
Lisossomos
Olá Maria, adorei a resenha! Eu não consigo imaginar como seria viver em um lugar onde a leitura fosse proibida, acho que ficaria louca.
ResponderExcluirQuero muito ler esse livro, mas quando ouço a palavra distopia até me dá um arrepio, tenho lido tantas obras que se intitulam distópicas e não cumprem om o propósito que chega a me dar aflição.
Abraços
Literaleitura