#LendoSandman - Vidas Breves e Ramadã [8º arco]

imagem do google

Estamos caminhando para a reta final do Projeto de Leitura #LendoSandman, e confesso que o sentimento de tristeza por me despedir desses personagens me invadiu... Mas estou aproveitando cada quadro, cada mensagem que Neil Gaiman nos passa através de personagens tão complexos e extraordinários...

Delírio sai em busca do sétimo irmão, e pra isso pede a ajuda de seus irmãos mais velhos. Depois da recusa de Desejo, Desespero é a próxima consultada, e prontamente lhe diz não. Sem saber a quem mais recorrer Delírio vai procurar ajuda com Sonho... Nesse ínterim, temos um flashback de Desespero com o irmão Destruição em tempos remotos... 

Chegando ao reino do Sonhar, finalmente a pequena perpétua consegue a colaboração de seu irmão, depois de uma conversa deste com Desejo. Alertado por seu fiel Lucien, o bibliotecário, ele alega não estar indo atrás do irmão, mas seria uma espécie de fuga para sua própria tragédia romântica. Sendo assim, ambos partem para Dublin, em busca dos amigos que poderiam saber algo sobre o paradeiro de Destruição... O problema é que em busca de Destruição, coisas e pessoas se 'destroem' pelo caminho... 

Entre esses amigos está a dançarina Ishtar; trata-se na verdade da deusa do amor Astarte, que foi amante de Destruição, e hoje tem um pequeno séquito de clientes que pagam para vê-la dançar numa boate... Interessante encontrar aqui o mito de que os deuses antigos caíram no esquecimento e perderam seu poder e glória porque deixaram de acreditar neles... Depois da conversa com Morpheus, ela vai ao palco para mais uma - a última - apresentação de dança, onde seus clientes sucumbem ao amor fatal... Com isso, ela voltará ao reino do Sonho, como ocorre com os demais deuses há muito esquecidos? Uma referência interessante nesse ponto é o nome da boate: Suffragette City [fãs de David Bowie entenderão...]

Morpheus acaba voltando ao Sonhar, mas antes tranca Delírio em seu próprio reino. Por isso ele recebe a visita de Morte, que não está muito contente com as decisões tomadas pelo irmão... Então ele resolve se desculpar com Delírio e ambos partem novamente em sua jornada por Destruição... Ah, não poderia deixar de mencionar a visita que ele faz a deusa dos gatos, que não sabe onde o irmão dele se refugiou... E assim eles continuam na procura que parece não ter fim... 


Quando enfim conseguem atingir seu intento, a conversa dos três irmãos toma um desfecho de despedida... Uma das partes mais tocantes do diálogo entre Destruição e Morpheus é quando o primeiro fala de uma conversa que teve com Morte tempos atrás, em que ela cita Destino:

"Todos podem saber o que Destino sabe. E mais. Não só podemos saber tudo. Como sabemos mesmo. Só dizemos a nós mesmos que não, para poder suportar."

E nesse clima de despedidas, Destruição manda lembranças a Desespero, dá adeus a Morpheus e Delírio, que se entristece por ver o irmão partir, pois ela queria que ele ficasse com ela em seu reino. Mas ele já havia tomado a decisão e desistido de tudo aquilo...
"Eu gosto das estrelas. Acho que é a ilusão da perpetuidade. Quer dizer... elas estão sempre se queimando, piscando e desaparecendo. Mas daqui, eu posso fingir... Posso fingir que as coisas duram... Posso fingir que as vidas duram mais do que momentos... Deuses vêm e vão. Mortais lampejam, reluzem e se apagam. Mundos não duram. Estrelas e galáxias são coisas transitórias e fugidias que ficam como vaga-lumes e se desfazem em pó e frieza. Mas eu posso fingir.."

A partir daí, confesso que o arco me deixou ainda mais melancólica até a última imagem. Me senti como Morpheus naquela sala, sozinho, lembrando de seu filho e dos acontecimentos recentes com relação a ele... As palavras que ele disse ao filho acabaram servindo para si mesmo... [e para mim, como leitora]...
"Você vai ao funeral e se despede da morta.Você se enluta. Então continua com sua vida. E, às vezes, a ausência dela te atingirá como um soco no peito, e você irá chorar. Mas isto acontecerá cada vez menos com o passar do tempo. Ela morreu. Você vive. Viva. Então viva."


Ramadã é uma história das 1001 noites na visão/versão de Gaiman, se encontra no volume Fábulas e Reflexões. Haroun Al Raschid, depois de melancólica contemplação de sua cidade e ignorando os pedidos de companhia da esposa e amigos, adentra nos confins e masmorras de seu castelo, abrindo portas incrustadas de riquezas, uma após a outra, descendo cada vez mais fundo nas profundezas de seus domínios até chegar a uma sala com fogo, agarrando-se a uma esfera... 

Com ela, o califa resolve convocar o rei dos Sonhos. Dentro dela, há centenas de anos haviam sido aprisionados djins, ifrits e demônios, e ele ameaça soltá-los caso Morpheus não apareça. Quando se vê frente a frente com o Perpétuo, ele propõe uma troca, e prontamente é bem-sucedido... Mal sabia ele qual seria o preço a pagar por tal pedido... A história parece não ter ligação direta com os arcos principais, mas é bacana ver uma mini-trama a parte, mostrando o quanto nossos pedidos podem ter consequências além do que podemos suportar...


O próximo arco a ser discutido é Fim dos Mundos, que compreende as edições 51 a 56. Ainda esse mês eu volto com resenha dele aqui... Aguardem... Beijos e até lá...

9 comentários:

  1. Nossa, já está na reta final???!!! Passou bem rápido. Tenho acompanhado você nesta empreitada e gostado muito das obras resenhadas, e este por enquanto vai ficar entre as preferidas, apesar de você citar que aparentemente não há uma ligação com os arcos.
    Bjs!

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  2. Eu queria ter acompanhado o projeto com a Raquel, mas infelizmente acabei me perdendo no primeiro volume. Admito que em parte foi um preconceito com a arte, mesmo que um dos meus quadrinhos preferidos tenha suas melhores estórias nesse estilo antigo (Hellblazer). De qualquer forma, boa leitura para você do próximo arco, beijos.

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  3. Oiii Maria, como vai garota?
    Acho que eu estou acompanhando desde que você inciou, não me lembro muito bem HUAHUAHAUAHU mas, as que eu li realmente me apaixonei,e confesso que dessa vez não foi anda diferente. Pelas suas resenhas percebo que este autor traz algo na sua leitura que nos fazem pensar e até refletir.
    Beijinhos

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  4. Oi, tudo bem?
    Quase finalizando as leituras, então?
    Tenho, regularmente, acompanhado estas tuas leituras por aqui. E fico feliz que elas tem lhe agradado.
    Boa leitura pra ti!

    Beijinhos...
    http://estantedalullys.blogspot.com.br/
    Ainda não tive a oportunidade de ler nenhuma, mas espero fazê-la.

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  5. Quase acabando hein rsrs, ótimo mas ao mesmo tempo triste :/
    Apesar de estar acompanhando a sua leitura por aqui, infelizmente esse gênero não me atrai :/
    Beijos

    http://blog-myselfhere.blogspot.com.br/

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  6. Val esse foi o momento que eu parei de ler, ou talvez foi um pouco mais pra frente, esse ponto da série é tão melancolico que eu não consegui me desvincular do passado e encarar o novo que se iniciaria.
    Eu amei a forma que Gaiman colocou Astarte na história, acho maravilhoso o respeito que ele dá as religiões antigas e ao mesmo tempo a aproxima da realidade mundana.
    Tem como não amar esse homem???
    Beijos

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  7. Oie
    nunca li nada e não entendo bem mas pelo que você falou parece ser bem interessante hahah boiei mas vou pesquisar mais sobre

    Beijos
    http://realityofbooks.blogspot.com.br/

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  8. Oi Val
    Ainda não li nada do Sandman, mas leio bastantes críticas positivas. E to adorando acompanhar suas leituras.

    Beijos
    http://aventurandosenoslivros.blogspot.com.br/

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  9. Ain, Valéria parece ter sido um arco bem intenso e reflexivo.
    Minha vontade de ficar em dia é grande, mas não consigo.
    Mesmo que o projeto termine continuarei lendo no meu ritmo.
    Sandman ♥

    Lisossomos

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